Por isso, encarei a internet para tentar esclarecer minha dúvida. Além de não descobrir a frase tal como a conhecia, ainda descobri que o provável autor de uma frase semelhante foi Otto Lara Resende, outro mineiro, um dos “quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse” (como ele mesmo definiu) vindos de Minas Gerais. Os outros eram Helio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.
Lembro-me de que meu amigo Pintão não gostava muito deles, por achar que havia muito corporativismo na amizade dos quatro escritores, sempre um elogiando a obra do outro. Penso que havia nessa depreciação uma ponta de despeito ou inveja, pois creio que meu amigo conhecia o quarteto. Pouco importa.
Minha pesquisa indicou também que o provável autor da tal frase era um especialista na arte da conversa e excelente frasista. Tanto que Nelson Rodrigues teria dito que "A grande obra de Otto Lara Resende é a conversa; deviam pôr um taquígrafo andando atrás dele e vender suas anotações em uma loja".
Minas está onde sempre
esteve, com seu passado, seu presente e seu futuro.
Minas está onde sempre
esteve. (Ao definir a posição do governador Magalhães Pinto, em 1961, na crise
da renúncia de Jânio).
A
grande contribuição de Minas Gerais para a cultura universal é a tocaia. A
tocaia é uma homenagem à vítima. Morre sem aviso prévio, delicadamente, se
possível desconhecendo o autor da cilada.
A
tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.
Devo
ter sido o único mineiro que deixou de ser banqueiro.
Tenho
para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de
qualquer assunto.
Sou
versátil, o que é a melhor maneira de nada saber. Sou jornalista, especialista
em assuntos gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.
O
sujeito humilde cuja sogra tem reumatismo deformante vê logo que eu sou o
confidente ideal, me envolve, me mobiliza.
Há
um lado pobre-diabo em mim. Os pobres-diabos logo farejam e se irmanizam, me
perseguem, não me largam.
Positivamente,
não posso ser apresentado a Satanás: como André Gide, sofro a tentação de
entender as razões do adversário.
O
mineiro só é solidário no câncer
A psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar as pessoas a odiar o pai, a mãe e os amigos.
O
homem é um animal gratuito.
O
analista é uma comadre bem paga.
De
que nos serve a posteridade, se não seremos contemporâneos dela?
Não
sou homem de ter uma opinião no bolso e outra na lapela.
Política
é emboscada. Esperar o cavalo passar arreado na ponta, como dizia o Getúlio,
grande político.
Sou
autor de muitos originais e nenhuma originalidade.
Sou
feito à imagem e semelhança da mulher de trottoir: eu paro com um assobio!
O
homem é dramático porque morre.
A
morte é o clube mais aberto do mundo.
Para
mim é absolutamente fundamental que o espetáculo não termine aqui embaixo, na
Terra.
Há
em mim um velho que não sou eu.
A
Europa é uma burrice aparelhada de museus.
Abraço
e punhalada a gente só dá em quem está perto.
Como
pai, me considero, modéstia à parte, uma mãe exemplar.
Sou
um falante que ama o silêncio.
Todo
mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino.
Deus
é humorista.
Ultimamente,
passaram-se muitos anos.
Sou
um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.
Texto
de jornal é estação de trem depois que o trem passou. Deixou de ter interesse.
A
morte é noturna. À noite, todos os doentes agonizam.
Leio
muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia.
O
mineiro seria um cara que não dá passo em falso, é cauteloso. Em Minas Gerais
não se diz cautela, se diz pré-cautela...
A
morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.
Escrever
é de amargar.
O
poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê.
Nossos
olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o
monstro da indiferença.
Da
discussão, nascem os perdigotos.
O
único erro humano que merece pena capital é o de revisão.
Sou
exatamente o menino que aos nove anos foi declamar um verso de Antero de
Quental e se perdeu.
Para
mim, domingo sem missa não é domingo.
Não
quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável sentimento de
simpatia, que me domina, por todos os decaídos.
Quem
me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística da mortalidade
infantil?
Escrevemos,
escrevemos, escrevemos. Clamamos no deserto. O clube do poder tem as portas
lacradas e calafetadas.
Política
é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem
desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.
Intelectual
na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço
para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as
alternativas.
Aproximei-me
do espetáculo político pelo que há nele de fascínio humano. A política talvez
seja uma forma de tentar driblar a morte.
A
ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar,
esmagar, matar, aniquilar o inimigo.
Não tenho direito de enjoar a bordo do Brasil.
Devemos
a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos
chatear pelo telefone.
É
a morte que nos leva a desejar a imortalidade impossível. (Ao aceitar concorrer
a uma vaga na ABL).
Patrão de esquerda só é bom até o dia do pagamento.
Não
sou alegre. Sou triste e sofro muito. Dentro de mim há um porão cheio de ratos,
baratas, aranhas, morcegos, escuro, melancolia, solidão.
O
humour é a grande expressão, o melhor canal para dar notícia da vida, da nossa
tragédia interior e exterior.
Sou leitor atento da página fúnebre. Tem mais gente conhecida nossa do que a coluna social.
Depois dos cinquenta, a vida precisa de um anestésico.
Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).
Eu
escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que
mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer. (Essa pergunta ele não conseguiu responder, pois morreu aos 70 anos em consequência de uma embolia pulmunar)
A do mineiro que só é solidário no câncer é bem conhecida, não sabia que era dele. Gostei bastante também das : sou autor de vários originais e sem nenhuma originalidade; Deus é humorista; Não sou alegre. Sou triste e sofro muito. Dentro de mim há um porão cheio de ratos, baratas, aranhas, morcegos, escuro, melancolia, solidão; Leio muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia; e claro : Patrão de esquerda só é bom até o dia do pagamento.Patrão de esquerda só é bom até o dia do pagamento.
ResponderExcluirTodas muito boas, mas a mais divertida foi dita pelo Nelson Rodrigues sobre ele, a do taquígrafo. Fica uma sugestão: você tem um humor super afiado, sarcástico até mandar parar. Você poderia começar a pesquisar em suas centenas ou milhares de textos e fazer uma (ou várias) lista de "desaforismos". Seria super legal.
ExcluirRapaz, agradeço o humor super afiado. Mas acho que eu não tenha o talento da concissão de expressá-lo em uma frase. Sou mais prolixo, faço questão de explicar tudo nos detalhes, talvez uma herança maldita de minha profissão. Tenho bons parágrafos, bons textos irônicos, mas não sei se tenho boas frases. Acho que sou o boxeador que leva a luta até o último round e, em grande parte das vezes, a vence por pontos. Mas não creio que eu seja um nocauteador. A boa frase, feito as do Otto, são nocautes já no primeiro assalto.
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