quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

HISTÓRIA DE UM MACHADO

Já publiquei aqui um post com o título “Histórias de canivete”. Hoje, depois de ter lido um artigo sobre os “gênios pré-históricos” que desenvolveram e criaram as primeiras armas e artefatos usados para cortar, furar, caçar, matar e outras finalidades semelhantes, lembrei-me de um micro-caso, um nano-caso de infância envolvendo uma linda pedra polida. E esse é o caso de hoje. O título (já lido) não poderia deixar de ser “História de um machado”. Bora lá.
 
Quando eu era criança, surgiu um dia na casa de minha avó uma pedra polida de cor marrom escuro, com uma quase inequívoca aparência de machado. Tinha um formato ovalado, com uma superfície arredondada de um lado e uma parte mais plana no lado oposto. Além disso, uma das pontas tinha um formato de cunha, ou melhor, possuía uma borda mais fina, mas nada que indicasse ser ela capaz de cortar alguma coisa. Além disso, para uma criança, não havia sinais de ter sido utilizada para arrebentar o crânio de algum inimigo.
 
Não sei quem a trouxe e vivia displicentemente jogada para lá e para cá, sem que ninguém se importasse com ela nem mesmo para jogá-la no lixo. Só sei que às vezes eu imaginava colocar nela um cabo, para transformá-la em machado de índio (americano, naturalmente), pois gostava muito dos filmes de faroeste em que aconteciam aquelas batalhas entre soldados brancos e índios com belos cocares, calça de couro e montados em cavalos sem arreios. E sempre tinha um machado na mão de algum índio - que logo tomava um tiro e despencava do cavalo. Era emoção pura para uma criança! Mas nunca consegui prender a pedra pesada em um pedaço de cabo de vassoura. Neste ponto preciso fazer um pequeno parêntese:
 
Quando meus filhos eram pequenos e estavam comigo dentro do carro, às vezes eu mexia com o volante e dizia brincando que iria atropelar uma lata de lixo, cachorro ou até mesmo algum idoso que estivesse pensando em atravessar a rua. Mais ou menos como eu me sentira ao ver as cenas emocionantes de batalha e com as palavras de sonoridade mais complexa ainda sendo aprendidas, um dos filhos se entusiasmava com a sugestão e dizia:
- “Tupela, pai!” O que significa “Atropela, pai!”. Hoje, é um pacifista em tempo integral e totalmente do bem (mesmo que o pai sem noção continue idiota como sempre). Fechado o parêntese, continuemos.
 
O tempo passou, eu me casei, minha mãe guardou os poucos brinquedos identificados como brinquedos mesmo, a casa foi vendida, a família mudou-se para Lagoa Santa e muitas coisas sem valor econômico guardadas ou esquecidas durante décadas na casa de minha avó talvez tenham sido jogadas fora quando a mudança foi feita.
 
O que poderá ter acontecido com uma pedra polida, brilhante e sem sinais de uso, que poderia ser utilizada como peso de papel, calço de porta, (improvável) enfeite de mesa ou machado pré-histórico? Só Deus sabe! Perguntei à minha irmã (onze anos mais nova que eu) se dava notícia disso e ela respondeu não saber nem do que eu estava falando. Talvez meu irmão tenha ficado com ela, talvez seja o responsável por seu descarte.
 
Lembrei-me disso ao ver a foto de um machado de pedra. E a pedra da foto é “exatamente” igual à pedra da casa de minha avó. Não faço ideia de sua origem, talvez seja apenas uma pedra que alguém achou bonita, talvez tenha sido utilizada por algum de nossos indígenas para fazer um machado ritual. Mas prefiro pensar em um artefato pré-histórico - que provocou a maior dor de corno por não ter me apoderado dela quando ainda podia. Olha um machado "igual" aí.



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