Belarminda e
Agenor eram vizinhos e conviviam desde a infância, há tanto tempo que diziam
ter-se conhecido antes de Cabral descobrir o Brasil. Pela intimidade
chamavam-se de Bela e Geno, que ele tentava sem sucesso corrigir para Gênio.
Brincaram as brincadeiras normais da infância e que se brincava quando ainda não havia nem mesmo televisão em suas casas. Como estavam sempre juntos, as mexeriqueiras da vizinhança os provocavam dizendo que eram namoradinhos, só para ver a reação irada de Belarminda:
- Nós não somos namoradinhos, o Geno é meu irmão! E ele concordava, sorrindo um pouco constrangido.
A puberdade aconteceu para os dois de forma não sincronizada, como é normal acontecer. Para surpresa de Agenor, Belarminda começou a ficar mais alta que ele, o corpo começou a arredondar nos quadris, relevos e vales nunca observados antes começaram a surgir e – o que mais o intrigou – ela não se interessava mais em jogar bola na rua nem brincar de pegador. A amiga de infância era agora uma quase desconhecida, um enigma, um mistério, enquanto ele continuava a ser o mesmo menino bobo que sempre fora.
Mas esse foi um tempo "que afinal passou como tudo tem de passar", pois os hormônios logo começaram também a agir em Agenor. O corpo deu um estirão, alguns pelos começaram a surgir em seu rosto (disputando espaço com a tempestade de acne que o atingiu), o pomo de Adão ficou visível no pescoço e a voz começou a alternar tons graves e agudos, provocando risos em Bela.
Para encurtar a conversa, entraram os dois na adolescência, mas cada um a seu modo. Belarminda tornou-se uma moça que fazia jus ao apelido de infância, alegre, desinibida, de riso fácil e que deixava todos os marmanjos babando por ela. Agenor tornou-se um jovem introspectivo, apagado, que não atraia a atenção de nenhuma garota. Ainda conversava com Bela de vez em quando, mas não tinha como acompanhar sua vida social e afetiva. Mesmo assim, às vezes ouvia da amiga as confissões mais desconcertantes, como da vez em que ela confessou ter desencaminhado e desencorajado um seminarista do desejo de ser padre.
Brincaram as brincadeiras normais da infância e que se brincava quando ainda não havia nem mesmo televisão em suas casas. Como estavam sempre juntos, as mexeriqueiras da vizinhança os provocavam dizendo que eram namoradinhos, só para ver a reação irada de Belarminda:
- Nós não somos namoradinhos, o Geno é meu irmão! E ele concordava, sorrindo um pouco constrangido.
A puberdade aconteceu para os dois de forma não sincronizada, como é normal acontecer. Para surpresa de Agenor, Belarminda começou a ficar mais alta que ele, o corpo começou a arredondar nos quadris, relevos e vales nunca observados antes começaram a surgir e – o que mais o intrigou – ela não se interessava mais em jogar bola na rua nem brincar de pegador. A amiga de infância era agora uma quase desconhecida, um enigma, um mistério, enquanto ele continuava a ser o mesmo menino bobo que sempre fora.
Mas esse foi um tempo "que afinal passou como tudo tem de passar", pois os hormônios logo começaram também a agir em Agenor. O corpo deu um estirão, alguns pelos começaram a surgir em seu rosto (disputando espaço com a tempestade de acne que o atingiu), o pomo de Adão ficou visível no pescoço e a voz começou a alternar tons graves e agudos, provocando risos em Bela.
Para encurtar a conversa, entraram os dois na adolescência, mas cada um a seu modo. Belarminda tornou-se uma moça que fazia jus ao apelido de infância, alegre, desinibida, de riso fácil e que deixava todos os marmanjos babando por ela. Agenor tornou-se um jovem introspectivo, apagado, que não atraia a atenção de nenhuma garota. Ainda conversava com Bela de vez em quando, mas não tinha como acompanhar sua vida social e afetiva. Mesmo assim, às vezes ouvia da amiga as confissões mais desconcertantes, como da vez em que ela confessou ter desencaminhado e desencorajado um seminarista do desejo de ser padre.
Bela começou a namorar e trocava de namorado com muita rapidez - até conhecer o Tales, por quem se apaixonou. Agenor, que acompanhava de longe o frenesi amoroso da amiga, ainda tentou sugerir que fizesse uma mudança de rota:
- Bela, você precisa escolher melhor seus namorados, você parece só gostar de gente errada, de quem só está interessado no seu corpo!
- Ah, Geno, não acho graça em rapaz muito certinho, eu sou do signo de escorpião, talvez seja essa a minha sina. Lembra da história do escorpião e da rã atravessando o rio?
Mas era tarde para conselhos. Naquela época, quem engravidava casava. E assim, Belarminda entrou na idade adulta. Parou de estudar, casou-se com Tales e encadeou dez gravidezes no espaço de quinze anos.
Agenor, ao contrário, permaneceu sozinho, transformando-se em um solteirão solitário e quase sem amigos. Conseguiu um bem remunerado emprego no governo federal e até mudou-se para a capital. Às vezes voltava à cidade onde nasceu e tentava rever sua amiga, agora já meio velhusca, com aparência bem diferente da beleza que fez virar a cabeça de muitos jovens.
Para surpresa de Bela, ele passou a chamá-la de Dona Belarminda.
- Geno, você está ficando louco? Eu sou sua amiga Bela, está lembrado?
- Sim, mas toda mulher casada precisa ser tratada com respeito.
- Você está cada dia mais sistemático e antiquado, só falta usar fraque e cartola! Mas como eu gosto de você, o "senhor" pode me chamar do jeito que quiser. E contra atacou, passando a chamá-lo entre risos de "Seu Agenor".
E o tempo continuou a passar, cada vez mais rápido, "como tudo tem de passar". Agenor aposentou-se com salário integral e resolveu morar de novo no bairro onde tinha nascido. E o motivo foi ter ficado sabendo da recente viuvez de Belarminda, finalmente livre daquele escroto do Tales.
- Por que você chama o Tales de escroto?
- Porque ele é. Um sujeito que fez a senhora embarrigar dez vezes é um escroto de carteirinha.
- Seu Agenor, Seu Agenor! Acho que o "senhor" começou a caducar com vinte anos!
Resolvido o problema da moradia voltou a chamar a amiga pelo apelido antigo.
- Ué, Seu Agenor, o senhor está muito moderno!
- Ah, Bela, para com isso! É que agora você é novamente uma mulher livre para se relacionar com outros homens.
- Geno! Você está se insinuando para mim?
- Claro que não!
Mas, mesmo sem admitir nem para si mesmo, estava. O problema era o período de luto a ser respeitado. E foi durante esse tempo que ele começou a mudar. A primeira providência foi se matricular em uma academia, "para perder esta barriga". De forma planejada e programada, começou também a ter aulas de dança de salão - uma das melhores formas de iniciar um processo de conquista e sedução, no seu entendimento.
Belarminda, por sua vez, começou a sentir saudade do toque de pele, do calor do corpo balofo do falecido. Ainda sem saber o que fazer, começou a brincar com um elefante de louça que ficava sobre a mesinha da sala, presente de Tales em algum aniversário de casamento, pois enxergava uma sensualidade oculta naquelas curvas esmaltadas.
Para Agenor, um
período de luto adequado deveria durar um ano. Por isso, nesse meio tempo, um
dia avisou Belarminda de que iria levar uma pizza a palito para petiscar enquanto
conversassem sobre os velhos tempos, a Vida, o escroto do Tales, qualquer coisa
que desse vontade. Belarminda achou ótima a ideia, pois morava sozinha agora,
já que a filharada toda tinha se casado e se espalhado por vários lugares,
cidades e até no exterior, pois uma das gêmeas morava em Portugal.
E Agenor continuou pacientemente a executar sua programação. Um dia, a pretexto de estar cansado de encomendar e receber pizza fria, convidou Belarminda para jantar fora.
- Você precisa sair mais, se divertir.
- Tem razão, às vezes eu me sinto muito só. Ainda bem que tenho sua companhia.
Ir a uma pizzaria aos sábados à noite tornou-se rotina para os dois. Até o dia em que Belarminda comentou:
E Agenor continuou pacientemente a executar sua programação. Um dia, a pretexto de estar cansado de encomendar e receber pizza fria, convidou Belarminda para jantar fora.
- Você precisa sair mais, se divertir.
- Tem razão, às vezes eu me sinto muito só. Ainda bem que tenho sua companhia.
Ir a uma pizzaria aos sábados à noite tornou-se rotina para os dois. Até o dia em que Belarminda comentou:
- Anteontem completou um ano do falecimento do
Tales.
- Eu sei.
- Sabe? Acho que vou te designar para o cargo de minha agenda oficial!
- Eu sei.
- Sabe? Acho que vou te designar para o cargo de minha agenda oficial!
- Eu sou um homem de muitas qualidades
insuspeitadas.
- Você está me saindo melhor que a encomenda! E ficaram rindo da bobagem.
Na semana seguinte, Agenor avançou mais uma casa em seu jogo de sedução. As muitas aulas de dança e a malhação na academia já tinham apresentado significativo progresso.
- Bela, é o Geno. Estava pensando em fazer hoje um programa totalmente diferente.
- Você está me saindo melhor que a encomenda! E ficaram rindo da bobagem.
Na semana seguinte, Agenor avançou mais uma casa em seu jogo de sedução. As muitas aulas de dança e a malhação na academia já tinham apresentado significativo progresso.
- Bela, é o Geno. Estava pensando em fazer hoje um programa totalmente diferente.
- Espero que não seja ver televisão!
- Não, estou te convidando para um jantar dançante.
- Uau! Você sabe dançar? Eu nunca imaginaria isso! Você sempre foi tão tímido e introspectivo...
- Eu sou cheio de mistérios.
- E aonde iremos?
- Não, estou te convidando para um jantar dançante.
- Uau! Você sabe dançar? Eu nunca imaginaria isso! Você sempre foi tão tímido e introspectivo...
- Eu sou cheio de mistérios.
- E aonde iremos?
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