O
"causo" de hoje começa assim: minha avó materna nasceu no interior, provavelmente na fazenda de seu pai. Essa origem rural deve ter determinado seu desejo
de, sempre que possível, tentar recriar o ambiente onde cresceu. O significado disso era a criação de galinhas, plantio de legumes, hortaliças e cultivo de árvores frutíferas onde fosse possível.
Sua casa, onde morei até me casar, possuía um
quintal minúsculo, ridiculamente minúsculo. Apesar disso, lembro-me de ter ali existido
um galinheiro, bananeira, mamoeiro, limoeiro e sei lá que mais. Quando os filhos começaram
a se casar, todos os espaços disponíveis iam progressivamente sendo ocupados por edículas destinadas à moradia dos
novos casais. Que não demoravam a se mudar dali, graças à convivência pouco amistosa
de minha avó com as noras. Eu era ainda adolescente quando me dei conta de morar
em um ninho de cobra, pois para ela todas as suas filhas eram "muito bem casadas", já os filhos...
Deixando de lado as quizilas familiares, o que sei é que minha avó resolveu um dia comprar um terreno de um de seus sobrinhos. Aparentemente,
a experiência de ter sido espoliada por seus irmãos na partilha da herança de meu
bisavô não deixou maiores sequelas em sua mente. Iniciadas as negociações, foi-lhe
oferecida a compra de (creio) um alqueire, uma minúscula parte da fazenda de seu sobrinho.
Quando foi lavrada a escritura (ou depois dela ter pagado a importância acertada),
descobriu-se que o sobrinho filho da puta tinha vendido para sua tia não um "alqueire
mineiro", mas um "alqueire paulista"
(apesar de o terreno estar localizado em Minas Gerais). Para quem não sabe a diferença,
um alqueire mineiro corresponde a 48.400 m² de terra. Já o alqueire paulista equivale
a apenas 24.200 m² de terreno, metade do mineiro, Eu mesmo não sabia, só me lembro
do bate-boca tempestuoso entre vendedor
e compradora e a consequente crise nervosa (mais uma) que derrubou minha avó
em uma cama.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022
COMPRANDO UM TERRENO
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