quarta-feira, 13 de maio de 2020

OS PSICANALISTAS E O PRESIDENTE


Recentemente li um livro que é a transcrição de um relatório ou análise psicológica feita à distância por um psiquiatra renomado sobre o comportamento de Adolf Hitler. O detalhe é que o alemão ainda estava vivo e a encomenda partiu do exército americano. É muito interessante e traz um comentário feito pelo psiquiatra que o elaborou. Segundo ele, uma análise psicológica à distância não seria tão confiável quanto uma realizada de forma presencial, olho no olho. Mas ele acertou que o Hitler cometeria suicídio.

O Bolsonaro adota comportamentos tão assustadores, condenáveis ou, no mínimo, discutíveis, que muita gente já duvidou de sua sanidade mental. Seria razoável, portanto,  o desejo de conhecer um pouco da mente do atual presidente. Suas atitudes destemperadas seriam apenas uma forma bizarra de marketing pessoal? Curiosamente, recebi cópia de um artigo publicado na Folha de São Paulo quando o Mandetta ainda era ministro da saúde e quando o Covid-19 só tinha atingido a marca de “centenas de mortos”. Guardei com carinho o artigo da Folha, mas infelizmente não sei quem o escreveu. É o resultado de uma solicitação desse jornal a psicanalistas de diferentes correntes e abordagens profissionais “para que comentassem aspectos recentes do comportamento do presidente da República”. Por ter recebido esse artigo na forma de imagem (cada trecho era um "print screen"), resolvi fazer uma digitação seletiva do que li, deixando apenas parte da introdução e as opiniões de psicanalistas sobre o comportamento de nosso - infelizmente – primeiro mandatário. Aplica-se aos comentários dos profissionais o mesmo raciocínio do relatório sobre o Hitler: não é a última palavra sobre a mente do “mito”, mas deve estar bem próximo disso. Olha aí.


A crise do coronavírus, que já deixou centenas de mortos no país, tornou mais evidente a inconstância e ambiguidade do comportamento do presidente Jair Bolsonaro no exercício do cargo.
Da decisão de se manter em confronto permanente com variadas forças políticas, mesmo em momento de comoção social, à arriscada iniciativa de se expor ao contato público apesar do risco de infecção, as atitudes do presidente provocaram o afastamento de antigos aliados e intrigaram inclusive colaboradores próximos.
Lógica paranoica, messiânica e delirante, demonstrações de fragilidade e onipotência são alguns dos elementos nos discursos de Bolsonaro das últimas semanas identificadas pelos especialistas. Eles fizeram a ressalva de que as observações sobre suas declarações e atitudes, feitas à distância, não constituem um diagnóstico profissional.
Um dos pontos que mais chamam a atenção dos entrevistados pela reportagem é a necessidade de manter posição agressiva recorrente ante adversários e mesmo apoiadores – caso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a quem Bolsonaro acusou na semana passada de falta de humildade.
Para o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, o bolsonarismo tem na criação de inimigos o mecanismo de seu funcionamento. “A pandemia viola muito fortemente essa lógica. Porque aí é um inimigo que não foi você quem criou, portanto não é você quem manipula”, afirma Dunker.
Ao se dar conta disso, diz o professor, Bolsonaro tentou negar a gravidade do vírus. “A negação é uma atitude psíquica, a mais simples diante do desconhecido”, diz.
Para a professora Miriam Debieux Rosa, da USP e da Rede Interamericana de Psicanálise e Política, Bolsonaro tenta agora transpor para a gestão política sua “lógica de guerra”, de respostas violentas a problemas, que defendia enquanto deputado. O resultado disso são crises incessantes.
“É uma cultura que não admite desaforo. O que o outro diz e que é contra o que eu estava pensando já é considerado uma ameaça.”
O psicanalista e escritor Mário Corso vê nas reações exacerbadas contra os mais variados atores uma consequência de um sentimento de fragilidade.
“Ele se sente inferiorizado e ataca. Sai em ataque de tudo, mas justamente pela fraqueza intelectual dele. Quando não tem argumento, troca de assunto chutando as canelas do adversário. Ele não faz discussão nenhuma. Só ataca o adversário porque ele é consciente de sua fragilidade intelectual”, afirma.
Diariamente. Bolsonaro vai à portaria do Palácio da Alvorada tirar fotos com fãs que vão a Brasília de diversas partes do país. O contato com simpatizantes e as manifestações de apoio costuma ser publicadas em suas redes sociais.
“Pessoas onipotentes se expõem mais. Faz parte de quem tem poder se sentir acima dos mortais, de que as coisas não acontecem com ele. É um predestinado da natureza, não vai pegar doença”, diz Mário Corso.
Outra das marcas do comportamento do presidente na pandemia foi a defesa da hidroxicloroquina, medicamento ainda em fase experimental no tratamento para a Covid-19.
Desde o início da crise, ele já mandou o Exército produzir mais doses da substância, postou em redes sociais um vídeo falando sobre a “possível cura” e mencionou o medicamento em reunião do G20.
Para Dunker, a insistência tem raízes na formação do discurso messiânico. “É dele que tem que vir a palavra: ‘A cura está aqui’”.
Sérgio de Castro, diretor geral da Escola Brasileira de Psicanálise, considera que o presidente busca demonstrar que “não vacila” e não abre “nenhuma brecha para se questionar”. “Isso tudo é perfeitamente articulado com um narcisismo desmedido”, afirma.
Levado ao extremo, esse funcionamento psíquico faz uma pessoa direcionar toda a sua energia para si próprio. O narcisista acaba inapto para reconhecer as necessidades e desejos do outro.
A convicção em seu projeto de poder, afirma Castro, é quase delirante. Análise com a qual Tales Ab’Sáber, professor da Universidade Federal de São Paulo, concorda.
“O delírio é a construção de um campo de sentidos particulares que a relação com o outro e com a linguagem não reconhece. Você está em um polo em que a realidade é inteiramente o que você concebe”, afirma. “Ele cria uma política do eu sozinho contra o seu próprio governo, contra a sociedade, contra o país.”
Para Marcelo Galletti Ferretti, professor da Escola de Administração da FGV (Fundação Getúlio Vargas), “O impulso de colocar na conta da loucura as idiossincrasias dele tira a discussão do campo político para o campo psicopatológico.”
A professora Tânia Coelho dos Santos, do programa de pós-graduação em teoria psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vai em direção diversa da de seus colegas e considera que o presidente tem uma personalidade teatral e histérica, que faz com que possua grande habilidade em conquistar o interesse das pessoas devido à sua espontaneidade. Não o vê tomado de um sentimento de inferioridade.
 “Ele é tão colorido em matéria de sentimentos que vai ter raiva, vai ter ressentimento, afeto. Ele é muito espontâneo. Não dá para dizer que é um ressentido crônico, de jeito nenhum.”

PSICANALISTAS E O COMPORTAMENTO DE BOLSONARO
Aspectos mencionados por parte dos especialistas acerca das atitudes do presidente

INSEGURANÇA
Menções frequentes a seu poder no cargo ecoam uma sensação de inferioridade ao exercer a Presidência
“Não se esqueça que sou o presidente” na terça (31) sobre a manutenção das recomendações de isolamento de Mandetta

ONIPOTÊNCIA
A ida a uma manifestação a seu favor, no último dia 15, e o passeio a pé por Brasília, no domingo passado, apontam despreocupação com os riscos da Covid 19, o que indica uma sensação de ser inatingível pela moléstia
“Não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar” no dia 20 sobre a possibilidade de ter contraído Covid 19 em viagem aos EUA

LÓGICA PARANOICA
A relação de confiança é rara e vinda basicamente da família; mesmo aliados são vistos como adversários em potencial. Fenômenos de fora da política são vistos como meios para prejudicá-lo
Em 2009, 2010, teve crise semelhante, mas, aqui no Brasil, era o PT que estava no poder e, nos Estados Unidos, eram os Democratas, e a reação não foi nem sequer perto do que está acontecendo” em entrevista sobre o coronavírus no último dia 15

MESSIANISMO
A insistência nas menções ao tratamento com hidroxicloroquina indica uma tendência a querer ser aquele que vai apresentar a cura para a moléstia
“Graças a Deus, Deus é brasileiro, a cura tá aí” sobre hidroxicloroquina em giro por Brasília, no dia 29.03

ESTILO NARCÍSICO
A oposição veemente a um movimento global de combate à doença e a recomendações de todas as autoridades de saúde sugere uma valorização exclusiva da própria opinião
“Não é tudo isso que dizem. Até que na China já está praticamente acabando” no dia 16, sobre a Covid 19.

E agora, caro visitante, qual é sua opinião sobre essas opiniões? Concorda em discordar? Discorda em concordar? Está pouco se lixando?


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