Acabei
agora de ler no portal da “Isto É” o texto transcrito a seguir. Fiquei tão
entusiasmado por ver que alguém pensa como eu (mesmo que meu estilo tosco esteja
a quilômetros de distância da elegância do autor), que resolvi postar alguns
trechos (a transcrição integral não pegaria bem!) neste anêmico blog, não para
que “milhares” de pessoas o leiam, mas para tê-lo à mão para uma sempre bem
vinda releitura. É tudo o que eu adoraria ter escrito se tivesse capacidade e clareza de raciocínio para tanto. Olhaí:
A polarização assume ares de guerra de rua.
Ressurgiu afinal a cara da oposição ao governo e, por mais surpreendente que
possa parecer, isso é bom para o irascível Bolsonaro e sua tática de manter o
País em constante conflito. Ele sabe disso. No fundo gostou da notícia. Tanto
que não mexeu uma palha, não se pronunciou contra, fez ares de paisagem, apesar
do incômodo e da revolta que o evento “Lula solto” criou inclusive entre seus
apoiadores. Bolsonaro, na prática, também não vai se indispor com a tropa do Supremo
que tem sido tão receptiva a seus interesses. (...)
Menos de onze meses depois de assumir sob a
bandeira do combate implacável à corrupção, o capitão de convicções
claudicantes logo se postou do outro lado do muro. Também pudera! O mesmo mito
que se dizia veementemente contra o mecanismo da reeleição, e que prometia
cumprir um único mandato para depois cair fora, em poucos meses de mandato já
estava falando em reeleição. Nem bem esquentou a cadeira, se encantou pelo
poder, pelos rapapés e vantagens do cargo. É típico. O arquirrival Lula seguiu
roteiro semelhante e deu no que deu. Criou a sua teia de influência, aparelhou
o Estado e acabou no Mensalão. Bolsonaro vai a sua maneira aparelhando a
estrutura do poder com os seus cupinchas. Aqueles que o contrariam, que falam a
favor da democracia e de práticas republicanas, por exemplo, são postos para
fora aos pontapés. Mesmo os que cumprem estritamente seu trabalho, caso dos
presidentes de instituições como o Inpe, Coaf e IBGE, foram banidos,
despachados apenas por informar números e dados verdadeiros que contrariavam o
intento ideológico do capitão.
É a isso que o País parece condenado nessa
polarização extremada de ideias. Dois vértices de um mesmo jogo que muito se
parecem estão no tabuleiro dando as cartas. Bolsonaro, no poder, vai também
fazer o diabo — como já disse Lula no passado — para se manter, talvez até se
perpetuar, lá. Esquematiza estratagemas via difamação de adversários, cria rede
ilegal de produção de desinformações dentro do próprio Planalto e sai ameaçando
empresários que não embarcam no seu projeto de dominação da Nação. Agora lançou
até o próprio partido, o “Aliança pelo Brasil”, que lembra, na essência, sem
nenhuma vontade de disfarçar, a antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), com
seus pendores reacionários, montada para dar sustentação à ditadura militar.
Personalista, populista e integrada por familiares e mais chegados do capitão,
a legenda não esconde a vertente autoritária, defendendo a ditadura e mesmo a
torturadores – general Brilhante Ustra à frente. Bolsonaro queria um partido para
chamar de seu e fazer com ele as vontades, tal qual Lula, que reconfigurou o PT
à sua imagem e semelhança. Vivemos tempos sombrios, com ânimos exaltados e com
duas figuras que seguem destruindo a índole naturalmente pacífica do povo. No
cabo de forças do atraso o risco de saídas antidemocráticas para tolher a
ideologia adversária aumenta. Interessa aos dois, ao projeto de poder de cada
um e aos respectivos exércitos que os acompanham, a escalada retórica da
existência do inimigo a ser abatido. Um como espantalho do outro. Não dá liga
nesse ambiente o amálgama da boa convivência. Nas trincheiras, seguidores se
alvoroçam. Movem-se ao bate-boca. Em certos casos, às vias de fato. Atiçar,
tripudiar, desqualificar quem pensa diferente virou patologia em ascensão. O
sobranceiro atrevimento com o qual Lula e Bolsonaro se lançaram a campo, de
posse da habitual verborragia – na base de um “patife” aqui, um safado acolá-
no esforço de angariar simpatizantes, antecipando indevidamente a campanha
eleitoral, só demonstra o absoluto descompromisso de ambos com as soluções do
País, mais preocupados que estão em se aboletar indefinidamente e aos seus
apaniguados no poder. Os dois pensam a mesma coisa. Sonham com o mesmo
objetivo. Se locupletam. Se retroalimentam. Verso e reverso da mesma moeda. E o
Brasil que fique relegado ao radicalismo extremo e perverso.(...) A rinha
incessante do bolsonarismo versus o lulismo tende a acentuar nossas angústias.
Os dois, quase ao mesmo tempo, se lançaram a agendas populistas, numa espécie
de road show pelo Nordeste, para ver quem domina parte maior daquela que
consideram uma estratégica massa de manobra. (...) Se apresentam e se vendem
como salvadores da pátria e são assim dignificados. Tratados como ídolos pelos
adoradores.
De um lado, o “mito” Messias, que veio para
varrer do mapa as práticas imorais, os desvios endêmicos, a politicagem de
paróquia, restabelecendo os valores morais da família e da dignidade. Fez isso?
O golden shower, o laranjal dos filhos e o combate à operação Lava Jato que o
digam. Do outro, aquele que era, nas suas palavras, tão inocente como Jesus,
alguém que acreditava piamente ter se convertido numa ideia, o próprio Deus do
Povo. Que falem por ele as suas seguidas condenações de formação de quadrilha,
propina em série, processos de toda ordem, numa folha corrida extensa. Nas mãos
e no balanço de manipulações retóricas de Messias e do demiurgo de Garanhuns
parece estar lançado o destino do Brasil. (...)
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