No post
anterior a este eu publiquei um texto muito engraçado, equivocadamente
atribuído a Luis Fernando Verissimo. Desta vez, entretanto, a coisa muda de
figura: minha mulher compartilhou no Facebook um texto do gaúcho originalmente
publicado n'O Globo, com o selo de qualidade que toda a sua obra possui. Eu
sempre digo que ele e o Millôr fazem parte da santíssima trindade do humor
brasileiro. O filho do Érico é fera demais! Por isso, que me perdoem "O
Globo" e o Veríssimo, mas não resisti. Copiei o texto compartilhado
para guardá-lo no blog, lugar onde ninguém mexe (e quase ninguém vê). Isto sim
é texto de qualidade! Olhaí.
Bolsonaro e Lula se xingaram de “canalha”
mais de uma vez nos últimos dias. O que sugere que teremos um conflito verbal
entre os dois no mínimo repetitivo. Para ajudá-los a fugir do lugar-comum e
para poupar nossos ouvidos de insultos recíprocos e reincidentes, me senti na
obrigação de tentar enriquecer o debate.
Para começar, fiz uma lista de termos que
devem seguir “canalha” para a lata do lixo. São insultos comuns como “burro”,
“idiota”, “babaca”, “imbecil”, “filho de uma égua”, “jumento”, “besta”, “besta
quadrada”, “feioso”, “cretino”, “cagão”, “asno”, “asnático”, “débil mental”,
“patife” e outros.
Existem insultos pouco usados que podem ser
resgatados da obscuridade, com a vantagem adicional de revelarem para a
população a beleza escondida da língua de Camões e Alexandre Frota. Imagine
Bolsonaro e Lula se tratando não de “palerma”, mas de “cacóstomo” (pessoa com
má articulação). Ou de “biltre” (vil, abjeto), em vez do corriqueiro
“bobalhão”.
As alternativas são infinitas. E podem ser
introduzidas em qualquer ponto do bate-boca. Por exemplo:
“Estafermo” (sem préstimo, em vez de inútil).
“Sacripanta” (pessoa desprezível).
“Energúmeno” (endoidado, possesso).
“Enxacoco” (pessoa com dificuldade para falar
outra língua).
“Farola” (contador de vantagens).
“Obnóxio” (pessoa que aceita desaforo e,
presumivelmente, o leva para casa).
“Dendroclasta” (destruidor de árvores,
adjetivo que Lula poderia usar contra Bolsonaro se o assunto fosse o
desmatamento na Amazônia).
“Bonifrate” (fantoche, boneco manipulável, servil).
“Lorpa” (grosseiro, boçal).
“Alimária” (animal de carga).
Ouviríamos, em vez do batido “canalha”,
Bolsonaro chamando Lula de um enxacoco estafermo e Lula chamando Bolsonaro de
farola bonifrate, o que não resolveria nenhum problema nacional, mas pelo menos
melhoraria o nível do discurso público no país. Sonhemos.
"da língua de Camões e Alexandre Frota". Muito bom!
ResponderExcluirMas parece, pelo pouco que leio de política, que o bad sênior Frota está se saindo melhor que a encomenda como parlamentar, já tendo conquistado elogios a respeito de suas habilidades de articulador de Rodrigo Maia e outros que tais. Se bem que elogio de político...
Essa capacidade de surpreender é que me torna fã do Veríssimo. Quanto ao Frota, em princípio, não tenho nada contra. Parece que não tem medo de dizer o que pensa.
ExcluirTambém não tenho nada contra ele, não. Mas não lhe dou as costas de jeito nenhum.
ExcluirAhahah
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