quarta-feira, 27 de novembro de 2019

CAFÉ GOURMET


Lendo "21 Lições para o Século 21", livro do israelense Yuval Noah Harari, encontrei uma informação surpreendente e até perturbadora. Tão inesperada que não resisti à tentação de transcrevê-na neste blog de Terceiro Mundo. Antes, preciso fazer uma declaração: Yuval, você escreve bem demais! Dito isso, vamos ao trecho que fez meu queixo cair:

"Atualmente judeus ultraortodoxos banem imagens de mulheres da esfera pública. Outdoors e anúncios dirigidos a judeus ultraortodoxos exibem apenas homens e meninos - nunca mulheres e meninas.

Em 2011 um escândalo irrompeu quando um jornal ultraortodoxo do Brooklyn, Di Tzeitung, publicou uma foto de membros do governo norte-americano assistindo à captura de Osama bin Laden - mas apagou digitalmente todas as mulheres da foto, incluindo a secretária de Estado Hillary Clinton. O jornal explicou que fora obrigado a fazer isso devido às “leis de recato” judaicas. Escândalo semelhante aconteceu quando o jornal HaMevasser removeu Angela Merkel da fotografia de uma manifestação contra o massacre do jornal francês Charlie Hebdo, O editor de um terceiro jornal ultraortodoxo, Hamodia, defendeu essa política explicando: "Estamos fundamentados em milhares de anos de tradição judaica"

Em nenhum lugar a proibição de olhar para mulheres é mais rigorosa do que numa sinagoga. Nas sinagogas ortodoxas as mulheres são cuidadosamente segregadas dos homens, e têm de se ocultar atrás de uma cortina, de modo que nenhum homem veja acidentalmente o vulto de urna mulher enquanto ele pronuncia suas preces ou lê as escrituras. Embora isso se baseie em milhares de anos de tradição judaica e em leis divinas imutáveis, como explicar o fato de que quando arqueólogos escavaram em Israel sinagogas antigas do tempo da Mishná e do Talmude não encontraram sinal de segregação de gênero, e em vez disso descobriram belos chãos de mosaico e pinturas em paredes que retratam mulheres, algumas delas bem pouco vestidas? Os sábios que escreveram a Mishná e o Talmude oravam e estudavam regularmente nessas sinagogas, porém os atuais judeus ortodoxos as considerariam blasfemas profanações de antigas tradições".


E eu achando que nos dias de hoje só a religião islâmica faz essa separação! Outrra coisa que me espantou foi a remoção digital da Angela Merkel, “para que sua imagem não despertasse quaisquer pensamentos libidinosos nas mentes de leitores religiosos”. Com todo respeito, se a chanceler alemã conseguir despertar pensamentos libidinosos em judeus ortodoxos, fico imaginando o que um varal de roupas femininas esvoaçantes não provocará! Mas o tema de hoje não é este. O papo é sobre fundamentalismo e radicalismo.

Já disse e reafirmo que tenho pelas ideias, comportamentos e pessoas fundamentalistas apenas os sentimentos de pena, surpresa, raiva ou desprezo. Nunca nenhum tipo de identificação ou aprovação. Um episódio que reuniu em mim todos esses sentimentos foi o “- Bom dia, presidente Lula!” que um bando de malucos acampados no entorno da carceragem onde estava o ex-presidente gritava todas as manhãs. Se eu fosse o Lula, responderia de volta: “- Vão gritar na puta que o pariu, pois eu quero dormir!”

Mas um episódio recente, acontecido com uma pessoa muito próxima, me fez realmente ficar estarrecido – e consternado. Estávamos conversando sobre o FestCafé - International Coffee Meeting, evento de negócios que aconteceu em Beagá, quando uma moça delicadíssima disse que tinha ajudado a puxar uma vaia dirigida ao barista vencedor de um mini torneio do evento - não por ter ganho sem merecer, mas por ser bolsonarista(!!!). Não contente com isso, comentou não mais comprar café em uma loja especializada em cafés gourmet, pelo simples fato de o dono também ser bolsonarista. Ouvindo essas sandices, fiquei pensando: o que o cu tem a ver com as calças?

Que mundo estranho esse em que estamos vivendo, onde pessoas deixam de satisfazer seus desejos ou terminam amizades por culpa de visões ideológicas ou religiosas radicais, preconceituosas ou obscurantistas, atitudes tão equivocadas quanto a recusa em permitir transfusões de sangue ou aplicação de vacinas. Com essa história da compra do café gourmet, descobri que há "testemunhasdejeová" ideológicas. E isso é muito medieval para meu gosto!


3 comentários:

  1. Vi mesmo, dia desses, em um desses telejornais matutinos - acordo às 5 da manhã, quando dou sorte - sobre esse encontro de cafés gourmets em BH. Lembrei que você tb foi no ano passado e teve que tomar café sem açúcar e sem afeto.
    Agora, esse boicote político-ideológico é mesmo coisa de jumento. Trabalho com um professor de História, gente boa pra caralho, um cara divertidíssimo, mas que, quando o assunto é política, se transforma, tipo Jekyll e Hide. Ele adora o Chaves, mas de uns tempos para cá se priva desse prazer por um boicote ao SBT, pois o Silvio Santos apoia o Bolsonaro.
    Burrice pura, meu caro, nem Bolsonaro nem Lula nenhum desses caras sabem que existimos. Tenho muito medo de para que lugar esse tipo de atitude vai conduzir o país nos próximos anos.

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    1. Rapaz, eu nem me lembrava de ter ido no ano passado! Mas este ano eu não fui. Quanto ao seu colega, diga a ele que o Chaves hoje é atração no Multishow (se não me engano). Evocê tem razão, é muito estranho observar esse tipo de comportamento. Vê lá se eu vou me privar de alguma coisa de que goste muito só pelo fato de o vendedor ser dessa ou daquela opinião! É ruim!

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  2. " "Estamos fundamentados em milhares de anos de tradição judaica"" - tomara que não sejam as tradições erradas

    "E isso é muito medieval para meu gosto!" - pobre da era medieval, tinha muita gente esclarecida nessa época ;)

    se quiser um livro, tem esse: https://autoeducacao2001.blogspot.com/search?q=medieval

    abs

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