sexta-feira, 14 de novembro de 2014

MESA DE SOM

Dia desses, na missa de domingo, não ouvi nem as leituras nem a homilia (sermão) do padre, de tão agitado que estava. Estava totalmente disperso. O jeito teria sido usar a receita que uma pessoa  admirável me ensinou: “se for bom, amém”, mas nem isso eu me lembrei de fazer.

Estava pensando que nosso corpo é como um quadro de disjuntores: de repente, ocorre um curto circuito e uma chave desarma. Passa algum tempo,  outro curto circuito acontece e é outra chave a desarmar. E assim, os disjuntores vão sendo desligados um a um.

Depois da missa, ainda pensando nessa imagem, cheguei à conclusão que não era uma boa analogia, pois o envelhecimento é uma coisa gradativa. Aí surgiu a ideia que nosso corpo é como uma mesa de gravação, daquelas com oitenta canais e controles deslizantes. No início, o som está equalizado, perfeito. Quando vai chegando a velhice, os controles começam a abaixar o “volume” ou a dar maior destaque a algum "instrumento" . 

Começa, por exemplo, com a audição, que diminui até quase acabar completamente. Em compensação, o "som" dos joelhos aumenta. Ou então são as pernas que começam a ficar pesadas e a doer. Daí a pouco o andar fica lento, mais um pouco e os passos ficam trôpegos, até esse canal ser completamente desligado. E assim, os diversos “canais” – olhos, ouvidos, articulações, rins, fígado,  coração, etc. – vão aos poucos ficando com o "som" cada vez mais inaudível. E a música finalmente termina.


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