Escanear os maços da minha velha coleção fez
com que eu me lembrasse de um caso acontecido no início da década de setenta.
Eu e minha Amada estávamos estudando na biblioteca da antiga Faculdade de
Filosofia da UFMG, que ficava na Rua Carangola, em Beagá. Aí bateu aquela vontade de
fumar (nessa época, eu e ela fumávamos). Não sei bem porque, não tínhamos
cigarro e não havia lugar perto para comprar. Resolvi fazer uma “inspeção”
entre as pessoas que ali estavam, todas elas absortas em seus estudos e leituras.
Lá
longe, em uma das extremidades da biblioteca, vi um sujeito fumando (na época,
podia). Pelo tipo e pela roupa, tinha cara de universitário pobre e “revoltado
com o sistema”. Apesar dessa impressão, não titubeei: cheguei perto com meu
melhor sorriso, pedi desculpa por incomodá-lo e perguntei se poderia me dar um
de seus cigarros. O olhar que ele me dirigiu foi meio assustador, mas enfiou a
mão no bolso e me deu. Era um Continental sem filtro (!!!). Quase recusei, de tão
ruim que esse cigarro era. Ainda mais sem filtro. Bom, aí já não tinha mais
jeito. Pedi para acender, agradeci imensamente (sou um puxa-saco com
pós-graduação) e voltei para junto do meu Amor.
Mas não tinha como fumar aquilo: o fumo se
soltava e agarrava no lábio, na língua. E como era forte! Aí, me ocorreu uma
ideia brilhante: com a ponta do lápis (rombudo), furei alguns buracos ao redor
da ponta não acesa. A ideia era de que ao aspirar a fumaça (fumante diz “dar uma tragada”), o ar também fosse
sugado através desses buracos, suavizando e esfriando a fumaça. O “projeto” era
bom, mas a execução ficou uma merda. Creio que nem terminamos de fumar aquela
coisa. Ficamos que nem o Bill Clinton, quando perguntaram se ele tinha fumado
maconha. A resposta que ele deu foi do tipo “me engana que eu gosto”: “Fumei, mas não traguei”. Mas isso é
outra história.
Pois bem, o tempo passou e um dia eu vi a
propaganda de um novo cigarro (“Charm”)
destinado ao público feminino, que alardeava a elegância de seu formato – mais
fino que os demais, mais longo que a maioria e, claro, muito suave. Detalhe:
imediatamente após o filtro, havia um “anel” de microfuros, cuja função era a
mesma que eu tinha imaginado alguns anos antes para conseguir fumar aquele
Continental. Fiquei todo orgulhoso, mas continuei pobre como sempre, pois nunca imaginei que aquela ideia pudesse valer alguma coisa.
Deixando a conversa mole de lado, mais imagens para curtir (mesmo que isso aqui não seja um Feicebuque):
Lembrei-me de uma propaganda cantada nas rádios: "Beverly é um cigarro castelão... e tem qualidade e bom paladar... Beverly, aqui, Beverly, ali, em todo lugar, Beverly vamos fumar..." Como nunca fumei, não sei se eram assim mesmo, o nome do cigarro e a propaganda...
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Não sei também, pois comecei a fumar com dezenove anos. Talvez nem existisse mais o Beverly.
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