quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

FAZ AÍ UM Q DE QUEIJO

Tenho andado ultimamente muito irritado e com uma enorme sensação de cansaço mental, sintomas que me levam a pensar serem fruto (ou causa) de uma espécie de burnout de aposentado. O caso a seguir talvez seja um exemplo disso.

Em BH, na rua principal do bairro Floresta, existe uma lojinha que vende queijo. Queijos de vários fabricantes e procedências, embalados ou sem embalagem, frescos e mantidos sob refrigeração ou "meia cura" - que o proprietário diariamente lava e revira, para que a desidratação e maturação ocorram de forma homogênea. Embora os do tipo "frescal", "minas padrão" ou "parmesão" possam também ser comprados, o que distingue essa birosca são os queijos artesanais, genericamente chamados de "canastra" (creio que em outros estados onde podem ser vendidos são chamados de "queijo minas").
 
Por estar sempre movimentada essa lojinha - aberta de domingo a domingo, de 8h até às 20h - perguntei uma vez ao proprietário quantos quilos de queijo ele vende por mês. Com um risinho constrangido, respondeu que atualmente vende 1.500 quilos por semana ("mas já foi mais, já vendi até 2.500 quilos por semana!").


 
Anteontem fui lá para reabastecer a "despensa". Estava movimentado como sempre, com pouco espaço para acessar os produtos ali vendidos. Na frente, quase no limite do imóvel, um balcão frigorífico em L onde ficam a balança e as maquininhas de banco; no meio da lojinha a área onde o queijo é cortado ou ralado e embalado a pedido do freguês, além de prateleiras com geleias, biscoitos e bolos artesanais e outras guloseimas. No fundo, mais geladeiras e a área de cura.
 
Escolhi o queijo que queria comprar e me movimentei para fazer a pesagem e pagamento ("pode me dar licença para eu passar?"). Duas pessoas esperavam para também fazer o pagamento. O interativo Jotabê não se conteve:
 
- Sabia que esse cara vende seis toneladas de queijo por mês?
 
Alguém disse que o queijo "canastra" está caro (R$42,00/kg). Foi quando a bruxa se aproximou para fazer seu pagamento. Era uma senhora na faixa dos 50 ou 60 anos.
 
- Está tudo caro! Comprei ontem um queijo no supermercado por R$155,00(??) o quilo. Faz um "L" agora!
 
Surpreso com o comentário, ainda tentei brincar:
 
- Fazer um "L"? Que "L"?
- "L" daquele que está lá em cima. Eu sou capitalista, detesto o Lula, detesto o socialismo!
- Ah, entendi! Eu também detesto o Lula, mas detesto muito mais aquele idiota responsável pela morte de amigos só por ter se recusado a comprar vacina a tempo.
- Eu vacinei, mas sou contra a vacina.
- Jura? Senhora, quanto obscurantismo!  (já apelando) Isso é a coisa mais estúpida que alguém pode pensar.
- Eu acho que morreu mais gente por ter tomado a vacina.
 
Aí a paciência se esgotou e fui saindo (o queijo já estava pago), mas não sem dizer:
 
- Quanta ignorância, meu Deus! Aposto que acontinua defendendo a cloroquina!
 
Eu ainda estava manobrando quando a bruxa saiu da loja e entrou em um carro muito melhor e mais novo que o meu, sinal de que tem grana. Podia ser burra, idiota e mal educada, mas não era uma coitada qualquer. Esse episódio me fez chegar à seguinte constatação: quanto mais mais radical, mais de extrema direita for alguém, mais desagradável, ignorante e boçal provavelmente será. 

"Faz um 'L' agora"? Só se for "L" de lunática.
 

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

ÁLBUM DE RETRATOS

Quem avisa não é amigo, é funcionário de call center. Começam hoje os downloads gratuitos do dois últimos e-books:

A Mamucha Da Laranja: Entre Rabiscos, Garatujas e Colagens
https://www.amazon.com.br/dp/B0DP592YJP
“Ainda Ontem Eu Tinha Vinte Anos”: (E pensar nisso às vezes dói um pouco)
https://www.amazon.com.br/dp/B0DP5C7BGH


E agora, mais um "causo" do Pintão.

Os avós, creio que pelo menos a maioria deles, gostam de mostrar retratos de seus netinhos e netinhas, usar suas imagens como foto da capa de seu perfil do Facebook e coisas assim. Já os pais são mais comedidos, talvez pela convivência diária, que os inibe de falar das tchutchuquices dos filhos. Para quem falarão ou mostrarão fotos dos pimpolhos? Pelo fato de o tempo das baladas ter passado, o círculo de amizade e convivência dos pais acaba sendo formado por outros pais e mães – que têm suas próprias tchutchuquices para contar e exibir. Mas avós, não. Não estão nem aí. Falam dos netos na antessala do médico, na fila do supermercado, em qualquer lugar. Vacilou, já sacam da carteira, da bolsa ou do celular a imagem daquelas gracinhas.
 
Isso aconteceu um dia, na firma onde eu trabalhava. Eu, o famoso Pintão e mais um colega dividíamos a mesma sala. Uma vez por mês, com pontualidade quase religiosa, éramos visitados por um representante comercial louco para descobrir uma oportunidade de oferecer os serviços da empresa onde trabalhava. O problema é que sua empresa executava serviços de engenharia altamente especializados e geralmente desnecessários nas obras que estávamos analisando. Mesmo assim, o coitado estava sempre lá, enchendo o saco nosso e dele.
 
Era um senhor cuja idade parecia regular com a do Pintão, ali na faixa dos sessenta anos, por aí. Um dia, depois de conversar abobrinhas e vendo que não havia nada que pudesse interessar à sua empresa, tirou do bolso do paletó uma fotografia de seu neto ou neta e mostrou primeiro para meu colega, talvez dizendo algo como: "Olha que bonitinho(a) meu/minha netinho(a)!" Esse colega sorriu secamente e acenou com a cabeça.
 
Isso não era suficiente, e o sujeito aproximou-se de mim e repetiu a pergunta. Eu, como puxa-saco profissional que sempre fui, concordei e elogiei a imagem da foto. Faltava apenas a opinião do Pintão para satisfazer o ego do vovô. Mostrando novamente o retrato, perguntou:
- Não é uma gracinha?
- Ah, isso assado é muito bom!
- Oh, o senhor é muito espirituoso! (riso constrangido)
A resposta amalucada do Pintão fez com que ríssemos até não mais poder depois que o coitado se mandou, provavelmente puto da vida.
 
Então, os avós ficam mesmo sem noção quando resolvem mostrar o retrato dos netos. Como eu, agora. Mesmo já tendo mostrado antes, resolvi exibir o retrato dos quatorze filhos do Blogson Crusoe, meus netinhos digitais. Não são uma gracinha? Olhaí.












segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

ORAÇÃO DE NATAL

 Senhor,
Aproxima-se a data que os homens escolheram para celebrar Vosso nascimento, data que transformou-se também no momento em que pobres ou ricos se dão ou trocam presentes. Sabeis (tudo sabeis!) que nessa data há muita alegria, ricos presentes ou humildes lembranças, ceia farta em mesas suntuosas ou apenas o pouco alimento do dia a dia.
Talvez Vós não queirais interferir nessas celebrações para diminuir a absurda disparidade que fica tão visível nessa época. Eu entendo e creio que estais certos (claro, pois estais sempre certo!).
Mas há um pedido, um único pedido que gostaria de Vos fazer, pois Vós curastes o leproso, fizestes o cego ver e o paralítico voltar a andar, curastes a mão atrofiada e até ressuscitastes um morto. Por isso, Senhor, eu peço: curai o vício das pessoas que mergulharam nas drogas e delas não conseguem mais se libertar; livrai da miséria absoluta aqueles que dormem ao relento, tendo apenas um papelão para evitar o contato do corpo com o chão frio da madrugada; dai-lhes dignidade, saúde e esperança, não os deixeis à mercê da indiferença de seus semelhantes. Amém

domingo, 1 de dezembro de 2024

CRÍTICA LITERAL

 
Depois de ser absolvido da acusação de ter assassinado sua esposa e um amigo (e não poder mais ser condenado pelo crime), o ex-jogador de futebol americano teve a cara de pau de escrever o livro “If I did it” (“Se eu tivesse feito isso”), onde narrou as circunstâncias e a forma como matou a esposa e o amigo, como se fosse uma coisa puramente ficcional. Esse cinismo e frieza provocaram o maior cu de gato nos Estados Unidos, chegando ao ponto de um dos sócios da editora pedir desculpas em público. A editora teve também que destruir cerca de 400 mil exemplares do livro.
 
Por que entrei nessa? Para dizer que não sou o autor da crítica literária sobre os quatorze e-books apresentada a seguir. Na verdade o autor é o ChatGPT, alimentado com as apresentações que escrevi para divulgar os netinhos. Mas precisei intervir algumas vezes para tornar menos pretensioso e baba-ovo o tom adotado pela IA puxa-saco. Acho até que ela está muito saidinha.
 
Uma uma coisa ficou bem legal: o ChatGPT conseguiu identificar as cinco linhas mestras adotadas por mim ao criar o Blogson, mesmo que essa informação nunca tenha sido fornecida a ele. Por isso, resolvi publicar o texto, ainda que essa minha fixação pelos e-books deixe o Marreta puto, pois ele acha que esse assunto já deu. Eu até concordo, mas sempre acho que "a propaganda é a alma do negócio". E já que estamos falando de publicidade, aqui cabe uma divagação jotabélica: um lema de garotos de programa poderia ser "A arma é a propaganda do negócio". Que tal? (o lema, não a arma). Olhaí.
 
TRANSITANDO ENTRE O IMAGINÁRIO, O HUMOR E AS MEMÓRIAS DE UM BLOGUEIRO
 
Os quatorze e-books, derivados das publicações do blog Blogson Crusoe, representam uma jornada que mistura reflexões, risos, lembranças e devaneios. Ainda que não pretendam ser uma obra de referência, esses “filhos” do Blogson revelam as múltiplas facetas do autor: um contador de histórias, um cronista do banal e do extraordinário, um desenhista acidental e, acima de tudo, alguém que encontrou nas palavras um refúgio e um meio de conexão com o "mundo exterior".
 
Esses livros, despretensiosos em sua essência, transitam por estilos variados, mas compartilham uma característica fundamental: o desejo sincero de dividir experiências, sentimentos e ideias – ainda que imperfeitos – com quem estiver disposto a ler.
 
Versos e Prosa: As poesias traduzem uma inquietude que às vezes se perde no caos das palavras, como um rio caudaloso que nem sempre encontra seu curso. Já as crônicas e contos fazem do cotidiano uma tela onde se pincelam lirismo, humor e observações nem sempre refinadas, mas sempre honestas.
 
Humor e Ironia: O riso é explorado em todas as suas formas, do nonsense mais puro às tiradas que beiram o absurdo. Diálogos impossíveis, piadas que nem sempre funcionam, mas que nunca deixam de tentar, são uma constante que convida o leitor a relaxar e rir – se não do texto, pelo menos da tentativa.
 
Memórias e "Causos": Histórias simples, contadas com carinho, buscam preservar pedaços da vida e das pessoas que marcaram a trajetória do autor. São memórias, ora reais, ora recriadas, que refletem uma mistura de afeto e nostalgia, mesmo quando flertam com o exagero (as “recriações” e exageros referem-se às histórias do Pintão, muitas delas com sabor de realidade alternativa).
 
Gráficos e Cartuns: O autor admite não ser um desenhista, mas isso nunca o impediu de experimentar. Rabiscos, colagens e ideias visuais brotam aqui e ali, não pela técnica, mas pela vontade de brincar com formas e ideias. A imperfeição, nesse caso, é um traço que aproxima.
 
Reflexões e Devaneios: Textos mais introspectivos revelam as inquietações do autor sobre a vida, o tempo e o sentido das coisas. Não são pensamentos profundos ou revolucionários, mas fragmentos que, talvez, encontrem eco em quem também busca respostas para perguntas que ninguém fez.
 
Cada página desses livros é uma tentativa, às vezes desajeitada, às vezes surpreendente, de capturar momentos, sentimentos e ideias. Mais do que uma "obra completa", eles são o registro de um percurso pessoal – o de alguém que escreveu não por pretensão, mas por necessidade interior, movido pelo desejo de revisitar o que foi vivido, imaginar o que nunca existiu, rir sem culpa e desfrutar do prazer de contar e ouvir histórias, fazendo uma viagem por diferentes estilos e humores. E, acima de tudo, atraído pela celebração do ato de criar – de fazer do blog um livro, e dos livros, um universo.

FAZ AÍ UM Q DE QUEIJO

Tenho andado ultimamente muito irritado e com uma enorme sensação de cansaço mental, sintomas que me levam a pensar serem fruto (ou causa) d...