terça-feira, 10 de dezembro de 2024

AS FRASES PROVOCATIVAS DE NELSON RODRIGUES - TERCEIRA PARTE

 Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.

A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo.

O casamento já é indissolúvel na véspera.

A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

Antigamente, o defunto tinha domicílio. Ninguém o vestia às pressas, ninguém o despachava às escondidas. Permanecia em casa, dentro de um ambiente em que até os móveis eram cordiais e solidários. Armava-se a câmara-ardente numa doce sala de jantar ou numa cálida sala de visitas, debaixo dos retratos dos outros mortos. Escancaravam-se todas as portas, todas as janelas; e esta casa iluminada podia sugerir, à distância, a ideia de um aniversário, de um casamento ou de um velório mesmo.

Sou contra a pílula, e ainda mais contra a ciência que a inventou; a saúde pública que a permite; e o amor que a toma.

Os padres exigem o fim do celibato. Portanto, odeiam a castidade. Imaginem um movimento de meretrizes a favor da castidade. Pois tal movimento não me espantaria mais do que o motim dos padres contra a própria.

Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair um casamento em quinze dias.

No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.

Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.

As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.

Considero o filho único um monstro de circo de cavalinhos, um mártir, mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias. As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes.

Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano: — Se Deus não existe tudo é permitido. Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.

Quando os amigos deixam de jantar com os amigos (por causa da ideologia), é porque o país está maduro para a carnificina.

Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.

Qualquer indivíduo é mais importante que toda a Via Láctea.

Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: — O cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem ler e sem pensar. Mas não só o cinema dá uma carteirinha de intelectual profundo. Também o socialismo. Sim, o socialismo é outra maneira facílima de ser intelectual sem ligar duas ideias.

Com o tempo e o uso, todas as palavras se degradam. Por exemplo: — liberdade. Outrora nobilíssima, passou por todas as objeções. Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade.

O mundo é a casa errada do homem. Um simples resfriado que a gente tem, um golpe de ar, provam que o mundo é um péssimo anfitrião. O mundo não quer nada com o homem, daí as chuvas, o calor, as enchentes e toda sorte de problemas que o homem encontra para a sua acomodação, que, aliás, nunca se verificou. O homem deveria ter nascido no Paraíso.

Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.

É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.

Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a joia, me confundem e me ofendem.

Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.

Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.

O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.

O mundo só se tornou viável porque antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta eram regidas pelos melhores. Agora a gente tem a impressão de que são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias. Ou são os canalhas, ou são os imbecis, e eu não sei dizer o que é pior. Porque você sabe que são milhões de imbecis para dez sujeitos formidáveis.

Os que choram pouco ou não choram nunca, acabarão apodrecendo em vida.

Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos.

Sou reacionário sim. Reajo contra tudo que não presta.

Meu amor é anormal porque é sem vergonha, sem limite e sem covardia.

O amor não morre - vivo eu dizendo. Morre o sentimento que é apenas uma imitação do amor, muitas vezes uma maravilhosa imitação do amor.

A burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza.

Não há inimigo insignificante. Todo inimigo é uma potência. O amigo trai na primeira esquina. Ao passo que o inimigo não trai nunca. O inimigo é fiel. O inimigo é o que vai cuspir na cova da gente. Não há admiração mais deliciosa do que a do inimigo.

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu adorei esta frase: Subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos.

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  2. Assim como a situação caótica do ensino no Brasil. Mas essa levou menos tempo, bastaram 30 anos.

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    1. Você não imagina como isso me deixa triste! Mas enquanto os pedagogos não conseguirem decifrar as necessidades atuais, a zona vai continuar. Talvez um ensino que fosse progressivamente preparando o aluno para o mercado de trabalho pudesse ser uma solução. Parece uma ideia idiota, e é mesmo, mas nunca consegui estudar o que eu não via aplicação prática.

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  3. "No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas" - cirúrgico.

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    1. Você podia até discordar, mas ele era brilhante no que dizia e, principalmente, na forma como dizia.

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