Sou
a maior velhice da América Latina. Já me confessei uma múmia, com todos os
achaques das múmias.
Toda
oração é linda. Duas mãos postas são sempre tocantes, ainda que rezem pelo
vampiro de Dusseldorf.
O
grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota
Na
vida, o importante é fracassar.
A
Europa é uma burrice aparelhada de museus.
Hoje,
a reportagem de polícia está mais árida do que uma paisagem lunar. O repórter
mente pouco, mente cada vez menos.
Daqui
a duzentos anos, os historiadores vão chamar este final de século de a mais
cínica das épocas. O cinismo escorre por toda parte, como a água das paredes
infiltradas.
Sexo
é para operário.
Subdesenvolvimento
não se improvisa. É obra de séculos.
As
grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
Todo
tímido é candidato a um crime sexual.
Todas
as vaias são boas, inclusive as más.
O
presidente que deixa o poder passa a ser, automaticamente, um chato.
Não
gosto de minha voz. Eu a tenho sob protesto. Há, entre mim e minha voz, uma
incompatibilidade irreversível.
Sou
um suburbano. Acho que a vida é mais profunda depois da praça Saenz Peña. O
único lugar onde ainda há o suicídio por amor, onde ainda se morre e se mata
por amor, é na Zona Norte.
O
adulto não existe. O homem é um menino perene.
Não
vou para o inferno, mas não tenho asas.
O óbvio também é filho de Deus.
Na
mulher interessante, a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável.
A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num
insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher,
anunciando: - Ser bonita não interessa. Seja interessante!
O
ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo
proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de
nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de
cena e anunciar, de testa erguida: - Senhoras e senhores, eu sou um canalha.
Tarado
é toda pessoa normal pega em flagrante.
Muitas
vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura,
política e futebol com bons sentimentos.
Ou
a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.
Dinheiro
compra tudo. Até amor verdadeiro.
Só
não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos
salva.
No
Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.
A
morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com
o passado ficam alteradas.
Deus
só frequenta as igrejas vazias.
Copacabana
vive, por semana, sete domingos.
Não
ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!
A
fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.
Todo
ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias
e coroinha na cabeça. Como um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e
um passarinho em cada ombro.
A
verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
No
passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de
estrebuchar na página do jornal.
Não
reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro
sem erro de concordância.
Nossa
ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães
Rosa, uma só curra.
Os
magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro.
O
cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou
melhor: - dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses
Não
há ninguém mais vago, mais irrelevante, mais contínuo do que o ex-ministro.
Nunca
a mulher foi menos amada do que em nossos dias.
O
Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um
orçamento.
Enquanto
um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o
pré-Brasil.
Se
eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: - não façam literatice.
O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.
Qualquer
menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.
Desconfio
muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro
do erro e da obtusidade.
Acho que você poderá gostar do blog desse cara, dá uma olhada nessa história:https://amansim.blogspot.com/2024/12/xv-interacao-de-natal-entre-blogues.html?sc=1733670439645&m=1#c8746482905997248739
ResponderExcluirRapaz, achei sensacionais algumas ideias do texto, boas mesmo. Só achei desnecessário nome do imperador, pois inseriu a política em um texto meio delirante e muito bom. Talvez, sem se dar conta disso, datou um texto que tinha tudo para ser atemporal.
ExcluirAcho que não será um texto datado, apenas perderá esse ponto de graça daqui a um tempo. Aliás, o próprio Cristo é datado, demorará ainda alguns milhares de anos, se a espécie humana ainda durar tanto.
ExcluirTem razão! Muitas vezes o melhor humor, o mais engraçado está vinculado a um personagem, a uma época. Eu percebi isso com nitidez quando comecei a selecionar textos para os livros de humor (já imagino você falando "- lá vem ele de novo com esse assunto!"). E o que percebi foi que ótimos trocadilhos e piadas infelizmente estavam vinculadas, tinham sido criadas a partir de personagens ou cenários agora totalmente irrelevantes e até sem sentido (as piadas com o Temer, por exemplo). Mudando de assunto: já começou a selecionar sem pressa e sem pressão material para o(s) próximo(s) e-book(s)?
ExcluirBeeeeeem sem pressa...
ResponderExcluirTentei escolher a melhor frase mas é impossível.....todas são igualmente boas.
ResponderExcluirO André Mansim é meu chapa blogueiro há anos( dos tempos dos meus finados primeiros blogues), gente muito boa, excelente escritor, tem dois livros publicados, inclusive estou lendo o mais recente (junto com vários outros, inclusive os seus).
Sugiro que siga seu blogue e tenho certeza que ele também gostará de ler você. Ah, ele também é chargista
Vou seguir sua sugestão.
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