Recentemente, graças aos comentários agressivos de uma rediviva Suzana Flag, ou melhor, de uma Suzana Flag do Paraguai – pois a verdadeira, a original, morreu em 1980, já que era um dos pseudônimos de Nelson Rodrigues, incensado jornalista e teatrólogo, considerado o mais influente dramaturgo do Brasil.
Sou
um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci
menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha
ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino).
A
melhor maneira de não ser canalha é ser reacionário.
Sou
um obsoleto, um carcomido, porque coloco a questão da liberdade antes do
problema do pão.
Eu
me interesso por novela justamente porque ela atinge aquela zona de puerilidade
que é eterna no ser humano.
A
morte de um amor é pior do que a morte pessoal e física.
Sou
um homem que chora. Meu sentimentalismo é meu ponto forte.
Minha
inspiração é a soma de todas as vidas que tive, através de todas as eras, todas
as idades.
Todos
nós falamos igual, o que muda é a melodia.
O
socialismo ficará como um pesadelo humorístico da História.
O
sujeito que não for pelo menos um dia Flamengo, não viveu. O Flamengo é uma
força da natureza. Quando o Flamengo espirra, é o futebol brasileiro que fica
resfriado.
Há
vezes em que ações certas envolvem consideráveis riscos
Nós
estamos piorando cada vez mais e eu considero o ser humano um caso perdido. E
falo isto com a mágoa de quem queria ser um santo. O único ideal que eu teria
na vida, se fosse possível realizá-lo, era ser um santo. Eu queria ser um
sujeito bom. A única coisa que eu admiro é o bom, fora disto não admiro mais
nada.
Certos
pundonores, certos brios, exigem um salário e as três refeições.
Enquanto
o homem não amar o outro para sempre, continuaremos pré-históricos.
Cada
um de nós está sempre a um milímetro da depressão, a um milímetro da euforia.
Que
fazer se, por toda a parte, recebemos uma saraivada de idiotas? Não há opção à
vista. Cada um tem de se tornar idiota para sobreviver.
A
nossa língua tem sido uma boa desculpa para os que a assassinam.
A
imparcialidade só merece a nossa gargalhada.
Ai
do escritor que não usa, de vez em quando, um mínimo de cafonice.
Só
os imbecis têm medo do ridículo.
A
arte está cheia de equívocos.
Pior
que o traidor, pior que o venal, pior que o inimigo – é o revolucionário burro.
O
canalha nunca se acha canalha, se acha de uma bondade inexcedível.
Atrás
de todo paladino da moral, vive um canalha.
Não
há pior degradação do que viver pelo hábito de viver, pelo vício de viver, pelo
desespero de viver.
Os
idiotas perderam a modéstia, a humildade de vários milênios. Eles estão por
toda parte. São os que mais berram.
A
vida do sujeito é um interminável adultério.
Quero
crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: - a nossa.
Um
filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho,
melhora.
Na
vida, o importante é fracassar.
Há
coisas que o sujeito não confessa ao padre, ao psicanalista, e nem ao médium,
depois de morto. Uma delas, certamente, é a inveja.
Nada
nos humilha mais do que a coragem alheia.
A
prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que,
devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável
fronteira.
A
ideologia que absolve e justifica os canalhas é apenas o ópio dos intelectuais.
O que me importa são os atos, e mais que os atos, os sentimentos. É a alma que está em questão.
Ótima escolha! Rodriguez é um tipo de intelectual que faz falta no Brasil de hoje.
ResponderExcluirAtrás de todo paladino da moral, vive um canalha.
Fato.
As frases ditas ou escritas pelo Nelson Rodrigues transitam entre a seriedade e a galhofa (antiga esta!), justamente pelo tom confessional misturado com ironia e pelo uso inesperado de palavras pouco comuns. É assim que eu as vejo e é isso que eu curto.
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