Em muitos dos textos que escrevo, Belo
Horizonte – cidade onde nasci e de onde nunca saí – é citada. Por
isso, minhas referências sempre surgem desse e nesse pedaço de chão. Mesmo que não consiga
decifrar a associação que fiz um dia, minha cidade lembra “O
rio da minha aldeia”: interiorana, sem mar, sem o charme das cidades
históricas.
Não sei dizer se acontece o mesmo nas capitais
de outros estados, mas aqui é comum ver gente muito, muito pobre e andrajosa
perambulando pelas ruas e remexendo o lixo ainda não coletado em busca de
latinhas de alumínio, garrafas pet e todo tipo de material que revendido a
preço de banana possa ser reciclado por empresas elegantes e distintas.
Às vezes eu me sinto
como esses catadores de latinha, sempre pronto, sempre de olho em alguma “latinha literária", digital, para revender, para publicar aqui no blog. Basta às vezes ler um título,
uma frase, ouvir um pequeno comentário para que eu corra/recorra à internet tentando
encontrar o texto escrito por quem realmente domina a arte de escrever bem e
encantar.
Isso aconteceu ontem, ao ver de
relance um trecho de uma entrevista antiga do Pedro Bial com a
cantora Marina Lima e seu irmão, o poeta e acadêmico Antonio Cícero, recentemente
falecido. Nos breves minutos em que fiquei em frente ao televisor, ouvi o irmão
da Marina declamar seu poema “Guardar”. Nem esperei terminar e já saí à cata
dessa latinha preciosa, que transcrevo a seguir.
Infelizmente, não sei como o poema foi
publicado, quantas estrofes tem e nem como foi pensada a divisão dos versos.
Por isso, a formatação é igual à que encontrei. Gostaria de saber escrever
assim!
Guardar uma coisa não é escondê-la ou
trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la
por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela
iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer
vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar
acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por
isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que
guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Ei Jotabê,
ResponderExcluirDevia deixar seu comentário
lá no Espelhando
Pois toda ConVersa entre
Amigos, deve ter espaço
para os prós e os contras.
Ainda não vim ler
suas postagens, estou
atrasada, faltam
muitas a serem lidas
e não gosto de perder
nenhuma, confesso .
Mas virei ainda
está semana.
Abraço, em Vc e na sua Família.
CatiahôAlc.
Se realmente deseja isso, deixarei, mas é longo e depressivo. No Blogson será publicado à meia noite de hoje.
ResponderExcluirNão conhecia o autor mas o poema é ótimo!!
ResponderExcluirAntonio Cícero é o letrista inspirado de músicas compostas por sua irmã Marina Lima. Foi assim que eu tomei conhecimento dele. Depois, li na antesala de um médico que iria consultar um de seus poemas no jornal O Globo, que me fez até salivar de vontade de publicá-lo no blog. Infelizmente o jornal não era meu e eu nunca mais consegui descobrir o poema. Só sei que era sofisticadíssimo, surpreendente e com um raciocínio, uma lógica tal como este poema Curar, mas mais anabolizado. Mas só conheço dele o que encontro na internet, pois não compro mais livros (grana). Ele era “imortal” da ABL.
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