Por conta de um comentário feito pelo
excelente poeta português Ryk@rdo no post "ECA!",
resolvi expandir o que seria minha resposta e transformá-la em nova publicação, seguindo a trilha de
Lavoisier quando disse: "Na natureza
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
A história é a seguinte: por morar em uma rua
que dava acesso a bairros mais distantes, uma rua com grande movimento de bicicletas, ônibus, automóveis, bondes (creio que em Portugal
são chamados de “elétricos”) e pessoas indo ou voltando a pé do trabalho, meus pais morriam de medo que acontecesse alguma coisa comigo. Por isso, fui mantido "prisioneiro" dentro de casa até os onze
anos de idade. Só podia brincar com meu irmão e com dois primos que semanalmente
visitavam meus avós. A alternativa a isso era buscar diversão em outra família:
os personagens dos livros infantis escritos por Monteiro Lobato.
Na companhia de Dona Benta, Pedrinho,
Narizinho, a boneca Emília, da quituteira Tia Nastácia e do Visconde de
Sabugosa – um sabugo de milho que usava cartola, eu viajei pela Via Láctea,
visitei a Grécia antiga e sua mitologia, morri de medo do Saci e da Cuca, tive
aulas de história, geografia, português, matemática e noções sobre exploração
de petróleo, e delirei com a reforma da Natureza e com o fim das guerras
provocado pelo encolhimento das pessoas.
Esse universo riquíssimo e divertido foi
descortinado através da leitura de dezenove livros originais, três recriações
de histórias mundialmente conhecidas e seis traduções de fábulas de Esopo e La
Fontaine. Só para registro, os 22 que li durante minha “prisão dourada” são estes: Reinações
de Narizinho, Viagem ao Céu, O Saci, Caçadas de Pedrinho (o primeiro livro
que li, talvez com sete anos), Hans
Staden, História do Mundo para as Crianças, Memórias da Emília, Peter Pan,
Emília no País da Gramática, Aritmética da Emília, Geografia de Dona Benta,
Serões de Dona Benta, História das Invenções, Dom Quixote das Crianças, O Poço
do Visconde, Histórias de Tia Nastácia, O Picapau Amarelo, A Reforma da
Natureza, O Minotauro, A Chave do Tamanho, Fábulas e Os Doze Trabalhos de
Hércules (em dois volumes).
Para mim, indiscutivelmente, os melhores são O Saci, A Reforma da Natureza, A Chave do
Tamanho e os que me apresentaram à mitologia grega: O Sítio do Picapau Amarelo, O Minotauro e Os Doze Trabalhos de
Hércules. Mas, talvez, o de maior significado para mim seja O Poço do Visconde, por trazer logo na
folha de rosto esta dedicatória:
AO
QUERIDO FILHINHO JOSÉ O PAPAI OFERECE ESTA LEMBRANÇA
28-10-59
AMYNTHAS
Eu tinha apenas nove anos...
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