Creio ter sido o Chico Buarque quem disse que
“a inspiração é uma dádiva da juventude”.
Outros já disseram coisa semelhante, mas não consigo me lembrar de nenhum. Talvez
a criatividade e a inspiração tenham a ver com o inconformismo e a rebeldia inerentes
aos jovens. Pode ser. O que sei é que minha inspiração para dizer alguma coisa
que tenha pelo menos uma molécula de relevância foi para o espaço, mais ou
menos o que aconteceu com a atmosfera de Marte. Por isso, o máximo que consigo
é ler e concordar ou discordar do que intelectuais de renome escreveram em
algum momento.
Isso aconteceu recentemente enquanto
procurava frases e aforismos para publicar aqui no Blogson. Agindo como um gigolô
intelectual, acabei descobrindo um texto interessantíssimo escrito em 2012 pelo
poeta Ferreira Gullar, que é muito a minha cara. O que mais me encantou foi ver um ex-comunista escrever
isto:
(...) toda sociedade é, por definição, conservadora, uma vez
que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio
social. Uma comunidade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria
caótica e, por isso mesmo, inviável.
A seguir exemplos do
pensamento lúcido e moderado do poeta, que em uma entrevista também disse isto:
O
capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso,
uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O
capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos
instintos do ser humano. Por isso ele é invencível.
A força
que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora
mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de
ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo
um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não
tem cabimento.
Depois desse tira-gosto
inicial, trechos do texto encontrado, totalmente em ressonância com o que penso
sem saber como dizer:
Certamente porque não é fácil compreender certas questões, as
pessoas tendem a aceitar algumas afirmações como verdades indiscutíveis e até
mesmo a irritar-se quando alguém insiste em discuti-las. É natural que isso
aconteça, quando mais não seja porque as certezas nos dão segurança e
tranquilidade. Pô-las em questão equivale a tirar o chão de sob nossos pés.
Não necessito dizer que, para mim, não há verdades indiscutíveis,
embora acredite em determinados valores e princípios que me parecem
consistentes. De fato, é muito difícil, senão impossível, viver sem nenhuma
certeza, sem valor algum.
No passado distante, quando os valores religiosos se impunham
à quase totalidade das pessoas, poucos eram os que os questionavam, mesmo
porque, dependendo da ocasião, pagavam com a vida seu inconformismo.
Com o desenvolvimento do pensamento objetivo e da ciência,
aquelas certezas inquestionáveis passaram a segundo plano, dando lugar a um
novo modo de lidar com as certezas e os valores.
Questioná-los, reavaliá-los, negá-los, propor mudanças às
vezes radicais tornou-se frequente e inevitável, dando-se início a uma nova
época da sociedade humana. (...)
Naturalmente, essas mudanças não se deram do dia para a
noite, nem tampouco se impuseram à maioria da sociedade. O que ocorreu de fato
foi um processo difícil e conflituado em que, pouco a pouco, a visão inovadora
veio ganhando terreno e, mais do que isso, conquistando posições estratégicas,
o que tornou possível influir na formação de novas gerações, menos resistentes
a visões questionadoras.
A certa altura desse processo, os defensores das mudanças
acreditavam-se senhores de novas verdades, mais consistentes porque eram
fundadas no conhecimento objetivo das leis que governam o mundo material e
social.
(...) Igualmente significativas foram as mudanças nos
terrenos econômico e político, resultantes da crítica ao capitalismo e da luta
dos trabalhadores em defesa de seus direitos.(...)
Todos esses fatos – que são apenas uns poucos exemplos do que
tem ocorrido – tornam indiscutível a tese de que a mudança é inerente à
realidade tanto material quanto espiritual, e que, portanto, o conceito de
imutabilidade é destituído de fundamento.
Ocorre, porém, que essa certeza pode induzir a outros erros:
o de achar que quem defende determinados valores estabelecidos, em
contraposição a outros considerados inovadores, está indiscutivelmente errado.
Em outras palavras, bastaria apresentar-se como inovador para
estar certo. Será isso verdade? Os fatos demonstram que tanto pode ser como
não.
Mas também pode estar errado quem defende os valores
consagrados e aceitos. Só que, em muitos casos, não há alternativa senão
defendê-los.(...)
Por outro lado, como a vida muda e a mudança é inerente à
existência, impedir a mudança é impossível. Daí resulta que a sociedade termina
por aceitar as mudanças, mas apenas aquelas que de algum modo atendem a suas
necessidades e a fazem avançar.
O capitalismo é a versão humana da seleção natural, da competição que privilegia os mais fortes; o socialismo é a fake news dos incapazes, dos menos aptos, que dizem que todos somos iguais, que todos merecemos os mesmos créditos, mesmo uns sendo muito menos produtivos que os outros.
ResponderExcluirVotaste num presidente perpetuador desse absurdo antinatural.
Concordo com quase tudo o que disse, mas pode acreditar, se um dos dois candidatos do segundo turno tiver um perfil semelhante ao do provável psicopata de extrema direita que foi derrotado na última eleição eu votarei no oponente sem nenhuma dúvida. Votarei mil vezes contra os candidatos de extrema direita ou extrema esquerda, pois como já disse inúmeras vezes não tenho nada contra a direita ou a esquerda, mas sou radicalmente contra a extrema direita e a extrema esquerda.
ExcluirVocê continua insistindo que o Lula é um moderado?
ResponderExcluirSendo mais que o Bozo já está bom. Lembrando, eu não votei no Lula, eu votei CONTRA o Bolsonaro. Foi uma escolha sofrida, uma espécie de "Escolha de Sofria".
ExcluirE quando foi que Bolsonaro falou em censura, por exemplo? Gosto muito de você, mas como vc não consegue enxergar que Bolsonaro pode ser, sim, um projeto de ditador, mas que Lula, certamente, é um ditador com um projeto?
ResponderExcluirÉ só uma pergunta retórica. Não há necessidade de respondê-la. Não para mim, pelo menos.
E no ano que vem quero ser convidado para as celebrações de suas bodas de ouro. Tomaremos umas Belohorizontinas juntos. E falo sério.
Já disse que sou um ignorante político - e sou mesmo . Talvez eu não saiba definir ou perceba o que é censura e autoritarismo, mas consigo presentir sua ameaça. Em todo o tempo em que a dupla Lula/Dilma permaneceu no poder eu nunca vi ameaças reais de venezuelar o Brasil. Não gosto do Lula e menos ainda do PT, mas nada se compara à rejeição que sinto pelo Bozo. Quanto às bodas de ouro espero que não aconteça com essa data o que aconteceu com a Belorizontina, que acabou.
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