sábado, 18 de maio de 2024

PENA DE GANSO

 
Minha mulher tem qualidades que eu nunca tive nem terei. Para começar, ela é linda, uma beleza digna de modelo das agências internacionais Ford ou Elite. Além disso é extremamente criativa, entusiasmada, proativa, generosa e solidária. Já foi capaz de pedir para parar o carro só para consolar uma criança de uniforme,  que aparentemente não tinha conseguido pegar o ônibus escolar que a levaria de  volta para casa. Ou seja, em tudo diferente de mim.
 
E sem falar no TOC bastante acentuado que tem, o que a faz guardar as suas e as nossas roupas separadas por tamanho, estilo, modelo e cor, deixando-me louco quando reclama que guardei uma de minhas roupas fora do lugar correto.
 
Esse preciosismo aliado à criatividade e a um entusiasmo pela celebração da vida fizeram com que ela tivesse um comportamento muito interessante nos aniversários de 50, 60 e 80 anos de suas irmãs e da mãe. Como presente a ser guardado com muito carinho, ela resolveu criar cadernos de recordações para a pessoa que estivesse aniversariando.
 
A primeira coisa foi encomendar capas duras, forradas com imitação de couro e personalizadas com o nome da homenageada escrito em letras douradas. As folhas do caderno, de várias cores, deveriam ser utilizadas para que parentes, amigos e convidados presentes à festança escrevessem o que quisessem sobre e para a aniversariante - sentimentos, lembranças, mensagens, desenhos, o escambau. Além disso, saía à cata de fotos antigas em casas de parentes e amigos, que mandava copiar e ampliar para depois espalhar em ordem cronológica pelas paredes do local da festa. Obviamente, todas impressas em papel couchê no formato A4, para que a aniversariante as guardasse (se quisesse).
 
Então, em 2002, no aniversário de 50 anos de uma de suas irmãs, ela fez um desses cadernos, a que deu o título de “A Festa de Bebeth”, numa divertida referência ao filme “A Festa de Babette”.
 
Para encurtar a conversa, ela resolveu escrever sua mensagem à irmã contando as lembranças de sua infância e juventude, tempo compartilhado e vivido com a aniversariante e com o restante da família e amigos.
 
Graças à sua prodigiosa memória escreveu dezessete páginas em papel ofício onde recordou pessoas falecidas, brincadeiras de infância, roupas utilizadas, lugares visitados, amigos, guloseimas prediletas e desaparecidas, antigos vizinhos e casos engraçados.
 
No recente Dia das Mães essa irmã fez um almoço para irmãos, sobrinhos e cunhado. Papo vai, papo vem, lembrei-me do caderno e o pedi emprestado, pois queria digitar a mensagem escrita por minha mulher em 2002.
 
Na verdade, depois de ter descoberto uma ferramenta existente nos celulares, que transforma uma mensagem de voz em texto escrito – e esta é a dica que me fez escrever este texto – o que eu queria mesmo era testar esse aplicativo. Se funcionasse, bastaria copiar a mensagem recebida, colar no Word, acrescentar vírgulas e outros sinais gráficos, corrigir e formatar o texto. Trabalhinho mamão com açúcar, muito melhor que digitar 17 páginas manuscritas em papel ofício.
 
E funcionou! Com minha voz de locutor de rádio de zona, durante três dias ditei o texto de 2002 calma e pausadamente. Foi emocionante perceber que muitas dessas lembranças eram como flashes que iam se sucedendo e iluminando uma época e uma história de vida. Adorei a experiência, que resultou em seis páginas em formato A4, fonte Arial 12. Gostei tanto que repeti a experiência com este post, pois fiquem sabendo que 80% do que vocês estão lendo é uma mensagem de voz convertida para texto.
 
O caminho das pedras é o seguinte:
Você acessa o whatsapp e escolhe alguém para enviar uma mensagem. Ao clicar em "Mensagem" aparecem as opções de mandar por escrito ou gravar um áudio. Mas o caminho das pedras é logo abaixo (ou do lado): aparece um pequeno microfone, menor que o ícone do microfone normal que está na tela. Ou seja, na mesma tela ficam visíveis dois microfones. Clique no menor e aparecerá uma mensagem tipo: "comece a ditar". E o texto começará a surgir na tela à medida que for falando. Clique de novo no microfoninho para encerrar a gravação. O passo seguinte é enviar a mensagem para alguém. Eu fiz isso, usando para ditar o celular da minha mulher, e o meu, para receber o texto escrito. Olha imagem do meu celular aí.



Ficamos assim então: eu sei que isso não deve ser novidade para os jovens, mas para gente que talvez ainda use pena de ganso para escrever os textos que transcreve para o computador e depois publica em seu blog, esta é uma dica de ouro. Se você pegar o celular de sua mulher (por exemplo), e mandar através dele uma mensagem para o seu celular utilizando essa técnica, acabou! Você terá um texto escrito, pronto para ser revisto e corrigido, obtido numa rapidez absurda. Ou seja, você vai sair da Idade da Pedra para a modernidade. Mas não se esqueça de apagar as putarias transformadas em texto no celular da patroa, pois essa ferramenta não é o caretão ChatGPT. Se não tem ponto nem vírgula, também não tem censura. “Dale, Marreta!”

2 comentários:

  1. Festa de Bebeth... até sua esposa, você contaminou com o vírus do trocadilhismo. Mas o dela é bom. Sacanagem.
    E qual o nome desse aplicativo?

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    Respostas
    1. Eu não sei, mas incluí o roteiro e a imagem do meu celular. Creio que agora é tranquilo.

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