quinta-feira, 16 de maio de 2024

FALA, "GAROTO"!

 
Minha mulher diz que eu falo demais, que tenho uma língua nervosa que não consegue ficar quieta na boca. Um dos meus filhos disse uma vez  que meu superego estava soltinho, soltinho. Disse também que eu estava naquela fase "Não gostou, me processa". Outro filho disse rindo que não vai demorar para que eles me interditem. Veja você!
 
E eu cheguei à conclusão de que realmente falo demais. Mas não com parentes e amigos. Quando os encontro, geralmente fico mais calado, meio sem saber "o que dizer, o que calar", como cantou o Gilberto Gil.
 
Hoje eu sei que falo demais, mas meu alvo são os médicos e dentistas a quem procuro e, principalmente, pessoas desconhecidas - caixas de supermercado, balconistas de farmácia, motoristas de taxi ou uber, pessoas que esperam atendimento em uma clínica ou hospital, manobristas de estacionamento e até mesmo pessoas "em situação de rua" que  pedem alguma ajuda ou que tentam encontrar algum material reciclável no lixo que acabei de por do lado de fora para ser recolhido.
 
Nesses momentos eu conto histórias, anedotas, arregalo os olhos, faço trejeitos e expressões faciais caricatas, falo mal de mim mesmo, reclamo das mudanças climáticas provocadas pelo homem, falo de livros que li ou estou lendo e despejo todo tipo de cultura inútil em cima de minha "presa".
 
Pior que isso são as frases que inadvertidamente vou soltando. Como aconteceu recentemente na padaria onde compro o pão matinal. Sem perceber que estava sendo atendido por uma moça de cabelo curtíssimo semi-escondido por um boné, vestida com uma blusa larga que disfarçava os quase inexistentes seios, já mandei um "Fala, garoto!". Mesmo que a moça seja lésbica, pegou mal, por parecer que eu a estava ironizando.
 
Em outra ocasião (já narrada aqui), subi em uma balança ao lado do caixa da farmácia onde tinha ido comprar algum medicamento e saiu este diálogo com a esposa do proprietário. Ao ver os mais de cem quilos que o visor denunciava, reclamei:
 
- Esta balança só me dá tristeza!
 
E a moça, ligeiramente acima do peso ideal, comentou:
 
- Pois hoje eu fiquei muito feliz com ela.
 
Comentário do idiota aqui:
 
- Por que, estava desligada? 
 
Antes de sair, percebi na proprietária um sorrisinho de quem estava se segurando para não morder minha carótida.
 
Então é isso, eu realmente falo demais. Mas percebi que não estou interessado em ouvir o que me dizem. Meu desejo é só escutar o que minha voz está dizendo para pessoas que na maioria das vezes não estão interessadas na minha tagarelice.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ANIME-SE, JOTABÊ!

  Fiquei muito feliz depois de publicar o primeiro e-book com 60 poesias escritas ao longo de 10 anos de blog, pois tinha passado de bloguei...