Minha mulher diz que eu falo demais, que
tenho uma língua nervosa que não consegue ficar quieta na boca. Um dos meus
filhos disse uma vez que meu superego estava soltinho, soltinho. Disse
também que eu estava naquela fase "Não
gostou, me processa". Outro filho disse rindo que não vai demorar para
que eles me interditem. Veja você!
E eu cheguei à conclusão de que realmente
falo demais. Mas não com parentes e amigos. Quando os encontro, geralmente fico
mais calado, meio sem saber "o que
dizer, o que calar", como cantou o Gilberto Gil.
Hoje eu sei que falo demais, mas meu alvo são
os médicos e dentistas a quem procuro e, principalmente, pessoas desconhecidas
- caixas de supermercado, balconistas de farmácia, motoristas de taxi ou
uber, pessoas que esperam atendimento em uma clínica ou hospital,
manobristas de estacionamento e até mesmo pessoas "em situação de
rua" que pedem alguma ajuda ou que tentam encontrar algum material
reciclável no lixo que acabei de por do lado de fora para ser recolhido.
Nesses momentos eu conto histórias, anedotas,
arregalo os olhos, faço trejeitos e expressões faciais caricatas, falo mal de
mim mesmo, reclamo das mudanças climáticas provocadas pelo homem, falo de
livros que li ou estou lendo e despejo todo tipo de cultura inútil em cima de
minha "presa".
Pior que isso são as frases que
inadvertidamente vou soltando. Como aconteceu recentemente na padaria onde
compro o pão matinal. Sem perceber que estava sendo atendido por uma moça de
cabelo curtíssimo semi-escondido por um boné, vestida com uma blusa larga
que disfarçava os quase inexistentes seios, já mandei um "Fala, garoto!". Mesmo que a moça seja lésbica, pegou
mal, por parecer que eu a estava ironizando.
Em outra ocasião (já narrada aqui), subi em
uma balança ao lado do caixa da farmácia onde tinha ido comprar algum
medicamento e saiu este diálogo com a esposa do proprietário. Ao ver os mais de
cem quilos que o visor denunciava, reclamei:
-
Esta balança só me dá tristeza!
E a moça, ligeiramente acima do peso ideal,
comentou:
- Pois
hoje eu fiquei muito feliz com ela.
Comentário do idiota aqui:
- Por
que, estava desligada?
Antes de sair, percebi na proprietária um
sorrisinho de quem estava se segurando para não morder minha carótida.
Então é isso, eu realmente falo demais. Mas
percebi que não estou interessado em ouvir o que me dizem. Meu desejo é só
escutar o que minha voz está dizendo para pessoas que na maioria das vezes não
estão interessadas na minha tagarelice.
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