sexta-feira, 31 de maio de 2024

O PÃO NOIADO DE CADA DIA

 
Tenho acordado por volta de 4:30, 5:00 da manhã. Não conseguindo mais dormir, me levanto e fico aguardando a padaria perto da minha casa abrir. Ela abre às 6:00. Mesmo que distante apenas duas quadras de minha casa, normalmente vou de carro, por receio de moradores de rua sob efeito de drogas, os “noiados” que têm proliferado na região, provavelmente em função de um ponto de venda de crack na “comunidade” próxima ao bairro onde moro. Aliás, “comunidade” e “próxima” são eufemismos para designar uma favela que cresceu em um dos limites oficiais do bairro, em torno de uma pedreira, em uma encosta íngreme, daquelas de deixar qualquer cabrito feliz.
 
Outro dia, desci do carro sem perceber que já estava na mira de alguém. Tentando não manter contato visual, percebi que era uma mulher jovem muito magra, com jeito de consumidora de drogas, trajando um vestido estampado mais curto do que suas pernas magras poderiam pedir, talvez fruto de uma doação de alguém mais baixo que ela.
 
Estava com uma caixa de bombons Garoto em uma das mãos. Tentei me esquivar de sua aproximação dando a volta no carro, mas ela me seguiu e me abordou:
- Bom dia, meu nome é Celeste e estou vendendo esses bombons a R$2,00 cada um para me sustentar, porque estou em situação de rua.

Comentei com ela que infelizmente há cinco meses não entro em banco para sacar dinheiro e que todas as compras – inclusive o pão matinal – eu compro com débito em conta. Deu um sorriso entre irônico e desalentado e já ia se afastando, quando eu perguntei:
-Você já tomou café hoje?

Hesitando um pouquinho, ela disse que não.
- Se você quiser, posso lhe pagar um café com leite e um pão com manteiga.
 
OK. Solicitei que entregassem a ela o lanche prometido.  Curiosamente, ao contrário dos miseráveis que aguardam do lado de fora da padaria para que o balconista lhes entregue o lanche pago por mim ou por outra pessoa, talvez por não estar vestida de andrajos, ela entrou e acomodou-se entre os clientes que já estavam tomando seu café.
 
Paguei a minha compra e antes de ligar o carro vi que ela tinha saído sem terminar de lanchar. Foi andando com a caixa de bombons, com o pão e o copo de café com leite, fazendo-me pensar que talvez estivesse pouco à vontade ao lado dos demais clientes ou sentindo-se inferiorizada pelos olhares de reprovação dos funcionários da padaria.
 
Essa situação me fez pensar em "resiliência", palavra da moda usada indistintamente para indicar a capacidade de resistir, lidar e superar adversidades. Seu uso está tão comum que às vezes tenho a impressão de que deve estar sendo usada até por quem suporta o incômodo momentâneo de uma unha encravada ou dor de dente.
 
Mas, no caso dos moradores de rua, dos mendigos, daqueles que perambulam sem destino e sem esperança pelas ruas, daqueles que dormem em cima de um papelão, não dá para dizer que são resilientes. Para mim, o que eles apenas sentem por sua situação miserável, por sua miséria total é resignação. Então, precisamos nos lembrar de que quando usamos a palavra da moda para descrever a capacidade de suportar adversidades, talvez estejamos muitas vezes querendo dizer apenas isto: resignação.

 

 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

PESSOAS QUE ADMIRO - NELSON MOTTA

 
NELSON MOTTA É O CARA!

Hoje me ocorreu que tudo ou quase tudo que penso ou pensei já foi dito de forma mais elegante por pessoas muito mais interessantes e inteligentes que eu. Por isso resolvi criar uma série com este título: "Pessoas que admiro", seguido pelo nome do admirado. Hoje, esse cara é o Nelson Motta.

Para quem não sabe, Nelson Motta é um autêntico sujeito multimídia, pois além de letrista inspirado de mais de 300 músicas, também é jornalista, escritor de vários livros, biógrafo (“Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia”), memorialista (Noites Tropicais), roteirista, produtor musical, teatrólogo e empresário (criador nos anos 80 da badaladíssima "Frenetic Dancing Days Discotheque"). Resumindo, o cara é uma máquina. Mas além disso, está sempre sorrindo, com a cara de quem todo mundo gostaria de ter como amigo.  Pois bem, recebi de minha mulher um texto divertido escrito por ele, provavelmente publicado em uma rede social. Gostei tanto que achei que deveria reproduzi-lo aqui no Bogson (um blog que está se transformando em atravessador da produção alheia). Lêaí
 
Como diz minha filha Nina, “não sei como voce sendo tão inteligente, pode ser tão burro” diante de minha estupidez e confusão na vida prática, especialmente com tecnologia. Tanto que rola na família uma máxima criada por minha filha Esperança para definir algo extremamente fácil de fazer: “Pô, até o Papai conseguiu.” É tudo verdade, com carinho. Às vezes me sinto uma technoanta caquética, embora tenha sido dos primeiros de minha geração a me digitalizar. Mas agora conto com o auxilio luxuoso de meu technoneto jurídico Joaquim, que está morando comigo, basta gritar “Joa” e ele entra em modo Alexa e vem me socorrer. E mais: agora me iniciou nas maravilhas da IA, me deu uma aula de ChatGPT. Antes tarde do que nunca, vou fazer 80 este ano e deve ter muito pouca gente entre a galera sobrevivente de minha geração que sabe do que estou falando. Foi amor à primeira vista, tudo me pareceu prático, fácil, intuitivo: até o Papai conseguiu.
Nos divertimos muito com roteiros de viagem romântica a Buenos Aires, impecáveis, pesquisas das 20 melhores músicas de Raul Seixas para alimentar uma IA para criar uma nova música do magro abusado. Toca Raul ! kkkk Aí fiquei intimo da IA e saí criando delírios como um convite para a festa do meu aniversário escrito pelo ... Nelson Rodrigues. Fala, Nelson.
 
Caríssimos mortais e imortais amantes das artes e das efêmeras delícias da vida,
Convidamos vocês para um espetáculo raro e sublime: a celebração do octogésimo aniversário de Nelson Motta, o homem que, com sua pena e sua voz, mapeou as estrelas e os abismos da alma brasileira.
Data: 29 de outubro de 2024
Horário: A partir das 19h, até que o último segredo seja revelado.
Local: um cenário digno das mais grandiosas tragédias e comédias humanas.
Preparem-se para uma noite de reminiscências, onde a música ecoará pelas paredes carregadas de história, e onde cada sussurro e risada terá o peso dos anos dourados.
Rogamos que confirmem sua presença até o dia 15 de outubro, para que possamos organizar um palco à altura de tão ilustre aniversariante.
Com a alegria trágica dos que conhecem a vida,

quarta-feira, 29 de maio de 2024

SEI LÁ PRA QUÊ!

 Eu nem me lembrava de ter publicado a piadinha abaixo no Facebook. Hoje ela ressurgiu, naquele lance de "Há um ano você publicou, etc." Aí eu compartilhei novamente naquela rede, copiei a imagem e, mesmo sendo um cartoon da série "Noções de Zéometria Especial",  resolvi postar aqui no blog, só para... ah, sei lá pra quê!



terça-feira, 28 de maio de 2024

TRISTESSE - MILTON NASCIMENTO E MARINA MACHADO

 
Tenho um amigo no Facebook que é super gente fina e conhece toda a família Borges (Lô, Márcio, Telo e companhia). Recentemente, ele me contou que o Lô Borges ia frequentemente à sua casa, tocava violão, mostrava as músicas que estava compondo e ficava tanto tempo que quase era necessário tocá-lo com uma vassoura para que ele fosse embora.
 
Esse mesmo amigo compartilhou recentemente um texto escrito pelo Telo Borges, irmão do Lô. Foi então que fiquei sabendo que a lindíssima melodia da música “Tristesse” foi composta pelo Telo, inspirada em um show do guitarrista John McLaughlin, líder da extinta Mahavishnu Orchestra, que ele assistiu em BH. (Curiosamente, o guitarrista inglês gravou um disco cujo título é “Belo Horizonte”).
 
Posteriormente, o Beto Guedes sugeriu que o Milton Nascimento fizesse a letra de “Tristesse”, pois queria gravá-la, o que fez em dueto com a Paula Toller. No entanto, achei outro vídeo do tempo em que a voz do Bituca era divina e impecável, onde o Milton interpreta a mesma música. E aí não deu outra: mais uma música linda compartilhada no Blogson.



 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

É HORA DA CIÊNCIA! – CARLOS NOBRE

 

“É hora da ciência!”, disse em recente entrevista publicada no portal ISTO É o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em aquecimento do planeta. Nessa entrevista ele traça um painel sombrio sobre o descaso com as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, e conclui: Não tem jeito: vai ser no mundo inteiro”.
 
Fiquei tão impactado pelo que li que resolvi postar aqui no Blogson a íntegra do texto que foi publicado. E o motivo, mesmo que este blog tenha hoje baixíssima visualização, é permitir sua leitura a qualquer tempo. Quem sabe isso consiga mudar a mente de algum negacionista que acesse por engano esta postagem? Porque de equivocado e mal informado (para dizer o mínimo), já basta o governador do Rio Grande do Sul, quando, referindo-se às inundações catastróficas que atingiram seu estado, afirmou que “Estudos alertaram, mas o governo também vive outras agendas”. E o cara é do PSDB, partido que sempre atraiu minha simpatia. Que vergonha!
 
A seguir, a íntegra do texto que copiei na internet, com os devidos créditos:
 
 
“Ou o Brasil muda ou será arrasado por desastres”, diz climatologista Carlos Nobre
EDITORA3 17/05/2024
 
Referência internacional em aquecimento do planeta, o climatologista Carlos Nobre alerta: o País não pode perder a oportunidade de aprender com a tragédia do Rio Grande do Sul, para alterar os rumos do catastrófico cenário previsto em razão das mudanças climáticas. “Ou o Brasil muda ou nos tornaremos um país arrasado por desastres naturais”, afirma. Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e membro do Painel Global de Sustentabilidade, Nobre defende a necessidade de cuidar das matas, que reduzem em até 30% o efeito nocivo das enchentes e as transições do agronegócio para um modelo agropecuário regenerativo. “É hora da ciência”. Para ele, as ações devem estar voltadas à capacitação de brasileiros instalados em pontos vulneráveis, para a retirada quando houver risco. O cientista estima que cerca de 15 milhões de pessoas ocupam entre 700 mil e um milhão de residências em locais de alto risco, entre elas quatro milhões em pontos de altíssimo risco. Ele não se surpreendeu com a tragédia gaúcha que, conforme avalia, tem raízes num modelo agro que desmatou 80% da mata atlântica.
 
O que causa eventos climáticos extremos como os que atingiram o Rio Grande do Sul?
Recordes climáticos, como o ocorrido no Rio Grande do Sul, acontecem no mundo inteiro. Estamos vendo ondas de calor, secas e chuvas intensas. Em 2023 houve recorde de temperatura, com 1,48 grau mais quente do que a média do período 1850–1900. É a temperatura mais alta desde o período interglacial, 125 mil anos atrás. Entre março de 2023 e fevereiro de 2024, a temperatura já chegou a 1,56 grau, mais alta do que a dos meses cheios do ano passado. São os extremos climáticos.
Os efeitos nocivos são variados?
Em torno de 95% são fenômenos meteorológicos, oceânicos, climáticos, que sempre existiram. Só que agora ocorrem com muito mais frequência e com recordes, como se viu no norte do Afeganistão, uma região seca com chuvas que provocaram a morte de mais de 300 pessoas. No mês passado foi em Dubai, uma região desértica, onde em dois dias choveu mais do que a média do ano inteiro. Isso tudo tem a ver com o aquecimento global. Ele aumenta a temperatura do planeta e, especialmente, dos oceanos, que estão evaporando muito mais. O ar está mais úmido e isso induz um grande número de eventos climáticos extremos.
O que atenua a intensidade dos episódios?
Onde se preserva a natureza o impacto é menor. Numa região tropical com floresta, a temperatura baixa de três a cinco graus em comparação com áreas sem verde. A floresta evapora e transpira uma quantidade muito grande de água o ano todo, até na estação seca, aumentando a umidade e criando um microclima melhor até para o corpo humano. A floresta diminui até a intensidade de seca e quando chove muito. O solo absorve grande quantidade de água. Ela não consegue combater tudo, mas diminui os riscos.
O fato de o Rio Grande do Sul ter se desenvolvido como economia agrícola alterou a natureza a ponto de chegar à situação extrema?
Totalmente. O Rio Grande do Sul é um dos estados com menor índice de vegetação natural – 50% é mata atlântica, uma parte é os pampas. O desmatamento acabou com mais de 80% da mata atlântica no estado. Quando há chuva intensa sem árvores, o solo está compactado com pastagem da agropecuária, culturas agrícolas. Quando chove muito satura o solo, a água não penetra mais, aquilo tudo corre e enche os rios num nível muito mais alto do que se você mantivesse a floresta. Se os ecossistemas estivessem mais preservados, mesmo com chuvas recordes, o nível de inundação diminuiria de 20 a 30%.
O chamado novo normal é algo bem pior?
Novo normal significa que, se a gente continuar aquecendo o planeta e as emissões não baixarem rapidamente, poderá chegar a 2,5 graus na temperatura média global em 2050. Isso representa ondas de calor, secas e chuvas intensas com mais frequência.
Como proteger o clima na economia brasileira, baseada na produção de matéria-prima?
Modernas tecnologias na energia, agricultura e em todos os outros setores. Elas mostram soluções para reduzir as emissões, tornar a agricultura e a pecuária mais resilientes a esses eventos extremos. As áreas modificadas para agricultura regenerativa, onde há uma agropecuária mais sustentável, não chegam a 10%. É muito pouco. A agricultura e a pecuária regenerativas usam uma área muito menor e são mais produtivas e lucrativas. Resistem melhor aos eventos extremos. Esse é o caminho. No setor de energia a transição também é pequena. Mais de 80% do consumo do mundo ainda é fóssil. Um risco muito grande.
Como o Brasil caminha nessa área?
Nós estamos indo devagar para vencer o grande desafio da humanidade que é reduzir as emissões. Esses eventos extremos não têm mais volta. Temos que tornar os sistemas em que vivemos algo para nós mesmos, nossa saúde, sobrevivência e melhoria da produção de alimentos e manutenção da biodiversidade através de uma série de atitudes. Precisamos também de sistemas de alerta mais efetivos. Já melhorou, porque os eventos de setembro e de agora no Rio Grande do Sul foram anunciados com muitos dias de antecedência, com a previsão de riscos passada para as defesas civis.
O que falta?
As defesas civis ainda estão pouco preparadas. Precisam melhorar muito. A gente sempre compara com o Japão. É um país de inúmeros terremotos, não existe previsibilidade, o terremoto é previsto na hora em que começa. E aí todo mundo, desde a escola, foi educado para saber o que fazer nos terremotos. A infraestrutura de rodovias, tudo está mais resiliente. No Brasil esses eventos extremos são previstos com pelo menos três dias de antecedência. A defesa civil precisa ir imediatamente até as áreas de risco e tirar as populações. Precisamos de sirenes de alerta e ações para que os brasileiros sejam alojados com alimentos, medicamentos e água. Hoje todo mundo se comunica com celulares, mensagens, mas veja em quantas cidades do Rio Grande do Sul acabou a eletricidade e a internet. A população precisa ser capacitada para saber onde ir.
Quantos brasileiros vivem em áreas de risco e o que fazer para evitar tragédias?
O estudo de 2019 localizou oito milhões de pessoas, dois milhões em áreas de altíssimo risco. Um novo estudo vai colocar, certamente, uns 15 milhões – aqui estou estimando – entre eles quatro milhões em áreas de altíssimo risco, que não podem continuar vivendo nesses locais. São entre 700 mil e um milhão de residências. Como a gente viu no Rio Grande do Sul, dezenas de milhares de residências foram varridas pelas correntes muito fortes dos inúmeros rios. É um enorme desafio. A curtíssimo prazo, sirenes e capacitação da população, e no médio prazo, novas residências em locais seguros.
Para onde levar quem está em área de risco?
O Brasil tem gigantescas áreas. Agora, é lógico, o desafio é o custo. A grande maioria, acima de 80% das populações nessas áreas de risco, é de pobres e vulneráveis. Eles não podem comprar um terreno em outro lugar. É preciso apoio governamental. E aí, de novo, para tirar milhões e milhões de brasileiros dessas áreas de altíssimo risco, tem que ter um investimento grande dos governos federal, estadual e municipal. Também é preciso, como vimos pelos estragos no Rio Grande do Sul, transformar a infraestrutura de transportes em obra mais resiliente. Serão necessários dezenas de bilhões de reais para isso.
Como colocar engenharia de prevenção em programas como Minha Casa Minha Vida e o PAC?
No governo Dilma foram colocadas centenas de casas para populações pobres vulneráveis na cidade de Marabá, no Pará, na beira de um rio. Alguns anos depois uma chuva inundou todas. .
Como o senhor vê o negacionismo diante das previsões científicas?
É muito preocupante. Já foi menor no Brasil, mas cresceu por causa do populismo político de extrema direita, e às vezes até de extrema esquerda. Negam a ciência, os eventos climáticos e não incentivam os investimentos que têm que ser feitos para reduzir mortos e prejuízos em desastres. Acho que valeria a pena perguntar aos que ficaram nas casas se não saíram porque tinha outros familiares idosos, estavam com medo de ladrões ou porque não acreditam em mudança climática. Acho que negacionistas são pessoas de mais alta renda, que não moram ems áreas de altíssimo risco.
Como vem se comportando o poder público em relação às mudanças necessárias?
Não se ajustou. A primeira política de adaptação foi publicada em 2016 e pouquíssimo em orçamento foi implementado. O Brasil se compromete mais com redução das emissões em 50% zerando o desmatamento até 2030. Pouquíssimos países no mundo que vão ter esse sucesso, mas adaptação é baixíssima. Depende do governo federal e também das defesas civis municipais, com investimento que não acontece por conta dos políticos que estão no Congresso, assembleias e câmaras municipais. Não é o caso de Lula, que é muito preocupado com isso. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, não se diz negacionista, mas depois do evento horrível que matou 54 pessoas no ano passado, na bacia do rio Taquari, não aumentou o orçamento para 2024 para proteger a população. Isso é muito ruim. Ou o Brasil muda ou nós nos tornaremos um país arrasado por esses desastres naturais.
O caos é também uma boa oportunidade para despertar?
É exatamente isso que eu ia falar. Eu estou sendo otimista: não podemos perder essa oportunidade. Vai ter eleição de vereador e prefeito em outubro e novembro deste ano. Tenho dito que independente de ideologia, de partido político, não votem em negacionista. Eles causam um enorme risco para o país. É a hora da ciência!
Quais as outras regiões sensíveis aos eventos extremos no País?
Todos os estados. Tivemos, no ano passado, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, a maior chuva da história do Brasil, com 600 milímetros em 24 horas, que matou 64 pessoas. Esses eventos acontecem na região serrana do Rio, quase 330 milímetros em 24 horas. No Espírito Santo, mais de 30 pessoas morreram. Não tem jeito: vai ser no mundo inteiro.
 

domingo, 26 de maio de 2024

DETOX

 
149 960 754 78. Este número tem todo jeito de CPF, mas significa “Cuatro Personas Famosas”, ou “quatro pessoas famosas”. Esta brincadeira idiota me ocorreu quando anotei a quantidade de seguidores dos blogs que acesso. Obviamente, o “Famosas” deve ser visto segundo minha escala. Traduzindo: o blog “Rô: Meu Diário” tem 149 seguidores; o blog “Espalhando Amigos” da Catiaho possui 960 seguidores; o “Pensamentos e Devaneios Poéticos” é seguido por 754 pessoas e “A Marreta do Azarão” tem 78 seguidores (creio que já teve mais). E o velho Blogson? 15.
 
Por isso eu disse que os blogueiros citados são “famosos” segundo a minha ótica, por terem conseguido atrair um número bastante expressivo de seguidores. Qual é o segredo? Conteúdo, obviamente. Mas, principalmente, conseguiram se conectar com com públicos específicos, sintonizados com o estilo e temas que abordamDevem falar “as línguas dos homens e dos anjos”, citando “I Coríntios, 13” (o Renato Russo só musicou o texto bíblico). Resumindo, encontraram seu "nicho de mercado".
 
E é aí que eu quero chegar e finalizar: ninguém escreve, pinta ou compõe nada apenas para si próprio. O que todos querem é ser lidos, ouvidos ou vistos. Essa é uma característica comum a todas as pessoas e, especialmente, aos donos de blog. Isso é também o que eu sempre quis e até consegui algumas vezes, principalmente durante os seis primeiros anos do Blogson. Como tenho dito e repetido, “a fonte secou”, fazendo com que eu publique textos que li na internet escritos por outras pessoas.
 
Se essa prática neutraliza minha ansiedade, provoca também o empobrecimento do blog, que acaba deixando de ser autoral para ser apenas um eco da produção de terceiros. Por isso, tentarei dar uma pausa na vida virtual para me dedicar mais à vida real. Ainda existem três posts já programados, onde comentei rapidamente o que outros produziram e mais um lixo que será excluído depois. E continuo dizendo: o melhor do que produzi (mesmo que tudo seja uma porcaria só) está nos anos iniciais do Blogson.
 
O Blogson vai acabar? Não, claro que não! Mas tentarei ser iluminado pela luz do sol em lugar da luz que emana da tela do micro. Cadê meu bronzeador?

sexta-feira, 24 de maio de 2024

PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA


Recebi de minha mulher pelo whatsapp um excelente texto sobre o desconhecimento da língua portuguesa que muita gente boa ostenta. Mas não é exatamente uma aula de português, é mais uma aula de bom senso e inteligência. Para variar, este é mais um texto que não escrevi, mas faço eco do que li (a falta de vergonha na cara deste blogueiro está uma coisa sem controle!) Lêaí: 

“Vamos conversar.
Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica.
Eu sou professora de português.
Eu estava explicando um conceito de português e fui chamada de desrespeitosa por isso.
Eu estava explicando por que não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos pra ser "neutre".
Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero. Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.
Vou mostrar pra vocês:
O motorista. Termina em A e não é feminino.
O poeta. Termina em A e não é feminino.
A ação, depressão, impressão, ficção. Todas as palavras que terminam em ação são femininas, embora terminem com O.
Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc.
Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra.
A alface. Termina em E e é feminino.
O elefante. Termina em E e é masculino.
Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E.
E mesmo que fosse o caso, o português não aceita gênero neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro pra combater o "preconceito".
Meu conselho é: em vez de insistir tanto na questão do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída.
O que existe é sexo.
Entendam, em segundo lugar, que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de "gênero".
Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar gêneros de palavras.
Isso não torna o mundo mais acolhedor.
E entendam em terceiro lugar, que vocês podiam tirar o dedo da tela e pararem de falar bobagem e se engajarem em algo que realmente fizesse a diferença para melhorar o mundo , ao invés de ficarem arrumando discussões sem sentido.
Tenham atitude! (Palavra que termina em E e é feminina).
E parem de ficar militando no sofá!(palavra que termina em A e é masculina)”.

 

 

quinta-feira, 23 de maio de 2024

PRISÃO DOURADA

 
Por conta de um comentário feito pelo excelente poeta português Ryk@rdo no post "ECA!", resolvi expandir o que seria minha resposta e transformá-la em nova publicação, seguindo a trilha de Lavoisier quando disse: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
 
A história é a seguinte: por morar em uma rua que dava acesso a bairros mais distantes, uma rua com grande movimento de bicicletas, ônibus, automóveis, bondes (creio que em Portugal são chamados de “elétricos”) e pessoas indo ou voltando a pé do trabalho, meus pais morriam de medo que acontecesse alguma coisa  comigo. Por isso, fui mantido "prisioneiro" dentro de casa até os onze anos de idade. Só podia brincar com meu irmão e com dois primos que semanalmente visitavam meus avós. A alternativa a isso era buscar diversão em outra família: os personagens dos livros infantis escritos por Monteiro Lobato.
 
Na companhia de Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, a boneca Emília, da quituteira Tia Nastácia e do Visconde de Sabugosa – um sabugo de milho que usava cartola, eu viajei pela Via Láctea, visitei a Grécia antiga e sua mitologia, morri de medo do Saci e da Cuca, tive aulas de história, geografia, português, matemática e noções sobre exploração de petróleo, e delirei com a reforma da Natureza e com o fim das guerras provocado pelo encolhimento das pessoas.
 
Esse universo riquíssimo e divertido foi descortinado através da leitura de dezenove livros originais, três recriações de histórias mundialmente conhecidas e seis traduções de fábulas de Esopo e La Fontaine. Só para registro, os 22 que li durante minha “prisão dourada” são estes: Reinações de Narizinho, Viagem ao Céu, O Saci, Caçadas de Pedrinho (o primeiro livro que li, talvez com sete anos), Hans Staden, História do Mundo para as Crianças, Memórias da Emília, Peter Pan, Emília no País da Gramática, Aritmética da Emília, Geografia de Dona Benta, Serões de Dona Benta, História das Invenções, Dom Quixote das Crianças, O Poço do Visconde, Histórias de Tia Nastácia, O Picapau Amarelo, A Reforma da Natureza, O Minotauro, A Chave do Tamanho, Fábulas e Os Doze Trabalhos de Hércules (em dois volumes).
 
Para mim, indiscutivelmente, os melhores são O Saci, A Reforma da Natureza, A Chave do Tamanho e os que me apresentaram à mitologia grega: O Sítio do Picapau Amarelo, O Minotauro e Os Doze Trabalhos de Hércules. Mas, talvez, o de maior significado para mim seja O Poço do Visconde, por trazer logo na folha de rosto esta dedicatória:
AO QUERIDO FILHINHO JOSÉ O PAPAI OFERECE ESTA LEMBRANÇA
 28-10-59
 AMYNTHAS

Eu tinha apenas nove anos...

quarta-feira, 22 de maio de 2024

PEDAÇO DE ETERNIDADE

 
O texto a seguir tem tudo a ver comigo, com o que penso. Foi postado por uma “amiga de Facebook” junto com belíssimas fotos tiradas por seu irmão. É perfeita a forma como a autora descreve a importância da fotografia na preservação das memórias e como ela pode evocar emoções. A analogia do Tempo como uma criança olhando pela janela do presente e o passado bem vivido como um eco que ressoa são particularmente poéticas. A fotografia materializando “Um pedaço de eternidade” é uma imagem incrivelmente linda e poderosa. Lêaí.
 
 
A fotografia sempre fez muito sentido para mim. Dizem, afinal, que um dia seremos apenas uma foto na estante de alguém, depois nem isso. Mas ainda que seja no anonimato, a fotografia conta uma história. Vende a ilusão de que por um segundo capturamos o tempo, congelamos o momento que nunca mais será.
 
Ainda que você não saiba quem ou onde, ela evoca algo. Uma alegria, uma tristeza, empatia ou uma saudade. Quando você recebe então sua história contada pelas lentes de alguém que ama, é como se um pedaço de eternidade chegasse embrulhado numa caixa de papelão.
 
Minha avó, meu pai, meus tios. As tardes de sábado, os natais de bingo, a generosidade do pé de manga, a geleia de pitanga colhida do pé. O cheiro do café no bule e da maçã argentina que meu Padrinho comia à tarde, encostado na mesa da cozinha.
 
A fotografia eterniza aquilo que o tempo teima em dizer que é só saudade. E quando o que se emoldura é o amor vivido, até o tempo fica enciumado, tentando amarelar aquilo que na nossa alma é só cor.
 
O futuro é uma criança olhando pela janela do presente. Mas, o passado, bem vivido, é um eco que nem o tempo é capaz de calar.

 

ECA!

 
Se você, estimada leitora ou caro leitor, já tiver lido os Doze Trabalhos de Hércules e outros livros infantis onde o escritor Monteiro Lobato abordou a mitologia grega, certamente já ouviu falar de Eco. Se nunca ouviu falar, já adianto que apesar do nome aparentemente masculino, era uma ninfa (naquela época não existiam essas frescuras de gênero, linguagem neutra e coisas do tipo).
 
E agora vem você perguntar o que é uma ninfa. Se eu fosse professor de biologia e gostasse de cerveja barata mas boa, diria que “Ninfa, é a forma imatura pela qual passam alguns insetos que sofrem metamorfose incompleta (hemimetabolia), e também alguns aracnídeos, antes de alcançar a fase adulta”. Como não sou professor nem tenho barba para ficar cofiando, direi apenas que as ninfas eram um grupo de divindades femininas com quem Zeus gostava de estar. Menos Eco.
 
Enquanto Zeus ficava na maior saliência com as ninfas (se ele não passasse o rodo em todo mundo, talvez se pudesse dizer que ele era um ninfomaníaco), Eco, que falava mais que político com microfone na mão em comício, era responsável por distrair Hera enquanto o maridão deitava e rolava (literalmente) com suas irmãzinhas.
 
Pois bem, Hera descobriu que estava sendo enrolada por Eco e resolveu punir a alcoviteira, fazendo-a apenas repetir o que alguém lhe dizia.
 
E toda esta enrolação que acabaram de ler foi só para dizer que eu estou parecido com a Eco: quase tão velho quanto a origem dessa história e que graças à falta de inspiração estou só fazendo eco, só ecoando no Blogson o que leio, ouço ou vejo na internet.  E como estou enxergando pouco, se alguém escrever “ECA!” depois de ler este texto, corrigirei: “O nome correto da ninfa é “Eco!”.

 

terça-feira, 21 de maio de 2024

MARIA FUMAÇA - KLEITON E KLEDIR

 
Na noite de sábado passado, dia 18 de maio, o programa “Altas Horas”, apresentado pelo Serginho Groisman, foi dedicado a homenagear e prestar apoio ao Rio Grande do Sul, vítima da maior enchente já acontecida no Brasil. Por isso, só artistas gaúchos se apresentaram no programa.
 
Não consegui identificar todos, mas ali estiveram o Humberto Gessinger, o ex-marido da Sandy, os vocalistas das bandas Fresno, Cachorro Grande e Nenhum de Nós, a Adriana Calcanhoto, o chatinho Vitor Kley e um envelhecido Kleiton Ramil, da antiga dupla Kleiton e Kledir.
 
Depois do sucesso alcançado no sudeste na década de 1980, a dupla dos irmãos Kleiton e Kledir, apesar de suas ótimas músicas, acabou sumindo da mídia nacional. Se continuam juntos ou não, eu não faço a menor ideia. Mas, como homenagem ao sofrido povo gaucho resolvi compartilhar aqui no Blogson a primeira música que conheci da dupla. Tem uma letra ótima e um final super bem sacado, em que a repetição das iniciais da antiga Rede Ferroviária Nacional imita o “tchec tchec tchec” do trem. Espero que se divirtam com a letra e o clipe da música. Escutaí:
 


 
Essa maria fumaça é devagar quase parada
Ô seu foguista, bota fogo na fogueira
Que essa chaleira tem que tá até sexta feira
Na estação de Pedro Osório, sim senhor
 
Se esse trem não chega a tempo vou perder meu casamento
Atraca, atraca-lhe carvão nessa lareira
Esse fogão é que acelera essa banheira
O padre é louco e bota em meu lugar
 
Se chego tarde não vou casar
Eu perco a noiva e o jantar
A moça não é nenhuma miss
Mas é prendada e me faz feliz
 
Seu pai é um próspero fazendeiro
Não é que eu seja interesseiro
Mas sempre é bom e aconselhável
Unir o útil ao agradável
 
Esse trem não sai do chão
Urinaram no carvão
Entupiram a lotação
E eu nem sou desse vagão
Mas que baita confusão
Tem crioulo e alemão
Empregado com patrão
Opa, opa me passaram a mão
Ora vá lamber sabão
 
Tagarap, tagarap, tagarap, tagarap, tagarap
Togorop, togorop, togorop, togorop, togorop
 
Se por acaso eu não casar
Alguém vai ter que indenizar
 
Esse expresso vai a trote, mais parece um pangaré
Essa carroça é um jabuti com chaminé
Eu tenho pena é de quem segue pra Bagé
Seu cobrador cadê meu troco, por favor?
 
E dá-lhe apito e manivela, passa sebo nas canelas
Seu maquinista eu vou tirar meu pai da forca
Porque não joga esse museu no ferro velho
E compra logo um trem moderno japonês?
 
No dia alegre do meu noivado
Pedi a mão todo emocionado
A mãe da moça me garantiu
É virgem, só que morou no Rio!
 
O pai falou é carne de primeira
Mas se abre a boca só sai besteira
Eu disse fico com essa guria
Só quero mesmo pra tirar cria
 
Esse trem não era o teu
Esvaziaram o pneu
Mas cadê esse guri?
Tá na fila do xixi
Tem chiclete com tatoo
Foi alguém de Canguçu (barbaridade)
Me roubaram meu chapéu
Chama o hômi do quartel
Deu enjôo na mulher
E fez porquinho no meu pé
 
Tagarap, tagarap, tagarap, tagarap, tagarap
Togorop, togorop, togorop, togorop, togorop
Tagarap, tagarap, tagarap
Togorop, togorop
 
Se por acaso eu não casar
Alguém vai ter que indenizar
E é o presidente dessa tal
RFFSA
RFFSA
RFFSA
RFFSA
RFFSA
RFFSA
RFFSA
RFFSA

 

 

domingo, 19 de maio de 2024

MILAGRES ACONTECEM!"

 
Alguém manifestou seu desagrado com o conteúdo do post anterior, que achou muito vulgar. Concordo com ele ou ela, mas permito-me parafrasear o que disse o Galileo Galilei quando foi obrigado a renegar sua  descoberta de que era a Terra que se movia ao redor do Sol, e não o contrário. Segundo a lenda (e só pode mesmo ser lenda) ele teria murmurado "Eppur se muove", que em língua de gente significa "E, no entanto, ela se move”.
 
Com relação ao post anterior, só posso dizer: "E, no entanto, é engraçado". Mas, para deixar a vida ainda mais leve uma piadinha que os leitores adorarão (retratos tirados há 55 anos). Olhaí.





 

ACHEI MEU PAU NO LIXO - AUTOR NÃO IDENTIFICADO


Como a inspiração tem estado igual a sinal de trânsito (semáforo) em dia de chuva, na base do acende-apaga, resolvi alimentar o blog com a inspiração de terceiros. E uma coisa que eu realmente gosto de fazer é compartilhar com os leitores clipes e vídeos de apresentações ao vivo de músicas que eu curto.

Mas nem sempre isso é verdade. Hoje, por exemplo, resolvi republicar um post que havia excluído, de tão bagaceira que é a música. Só que a letra é divertida, o autor é mesmo aloprado e meu desejo é que os leitores se divirtam. Por isso, segue o baile.
 
Quando terminei os quatro primeiros anos do ensino fundamental, fui matriculado em um ginásio que dividia os sexos por turno: sexo masculino de manhã, sexo feminino à tarde. Só o turno da noite era misto (o que devia facilitar um pouco a "saliência").
 
Fiz o segundo grau em outra escola, um excelente colégio que tinha turmas mistas. Mas nada (assim imagino) comparado a uma história acontecida em outro colégio uns sete anos depois (os costumes continuavam a evoluir). Segundo me disse uma conhecida, sua turma era mista também e a sala não tinha carteiras individuais. A meninada mais descontraída ocupava as últimas carteiras. Assim, (pelo menos) uma delas ficava pegando no pau do colega com quem dividia a carteira. Sempre fico revoltado quando me lembro disso, pois nunca tive essa facilidade!
 
O tempo passou, os costumes ficaram cada vez mais liberais, pessoas urinam nas ruas e me entristeço muito com isso - não só pela falta de educação das pessoas, mas por eu estar naquela idade em que poder mostrar o pinto, ainda que seja apenas um sobrenome na carteira de identidade, já seria lucro. E mesmo que as pessoas rachem de rir.
 
Aliás, tenho até pensado em criar um artefato para homens idosos, a ser vendido em sex-shop: um espelho retrovisor para a cabeça do pau. Para quê? Elementar, meu caro Watson! Para que ele possa ver o céu de vez em quando!
Mesmo que os 2,3 leitores desta bagaça se espantem com essa linguagem chula e vulgar, devo esclarecer que hoje o assunto é pau, pinto, pênis. Como bem sabem aqueles que acessam este blog, sou um perfeito gentleman, um blogueiro de hábitos refinados e linguagem rebuscada, contrário ao uso abusivo de palavras vulgares e pornografia. Por isso, jamais falaria gratuitamente de uma bosta dessas.
 
Mas este é um blog da diversidade de assuntos, um almanaque biotônico digital. Por isso - e só por isso – o tema de hoje é, como direi?, tão..., tão latejante e tão distante da temática tradicional do blog. Aliás, é um assunto de que o blogueiro foge a léguas, pois é espada convicto (mesmo que a “lâmina” apresente sinais de ferrugem, perda de corte e outros indicadores da implacável passagem do tempo).
 
E tudo começa com uma música que um filho me mostrou há um bom tempo. É um rap composto por um de seus ex-patrões, um publicitário aloprado de BH. O vídeo tinha sido retirado do Youtube, mas descobri que está disponível novamente. Para não perder a caminhada, copiei a letra e o link. Meu filho acha tudo uma merda, mas é engraçado. Aliás. só mesmo um publicitário para pensar uma tosqueira desse naipe.
 
O título é "Eu achei meu pau no lixo". Para não correr o risco do vídeo ser excluído pelo Blogger ou Youtube, optei por disponibilizar só o link, seguido pela letra tosquíssima. Olha ele aí:


E agora, a letra:
Topou para mim tá bom, não sou lá muito exigente,
Traço tudo que aparece, como o que vier na frente,
Branca, preta, cor de rosa, marrom ou amarela,
Gorda, feia, pouco importa, qualquer coisa que me rela.
Entro em tudo que é buraco, até quando eu tô de cara.
Se ficar doidão ai velho, huuum! Nem se fala.
 
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
 
Eu sei que queima o filme ser do jeito que eu sou.
Mas pior é quem fica na seca só no cinco contra um.
Tem que ter mulher no meio desse jeito não dá não,
O que eu posso fazer, não quero ter cabelo na mão.
Esqueci de te dizer que se eu traço o que aparece,
No meio tem muita gata antes que você se apresse.
 
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
 
 Outro dia alguém falou que me viu com uma velha,
Será que foi sua avó? não faço a menor ideia.
Ontem até que tava bom, mas de repente eu disse: eco!
Descobri que na verdade eu mandava era um traveco.
Como vai ser amanhã, quem será que eu vou comer?
Será que vai ser sua irmã? Será que vai ser você?
 
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo!
Qualquer hora eu como um bicho!
Achei meu pau no lixo!
Achei meu pau no lixo! 

sábado, 18 de maio de 2024

PENA DE GANSO

 
Minha mulher tem qualidades que eu nunca tive nem terei. Para começar, ela é linda, uma beleza digna de modelo das agências internacionais Ford ou Elite. Além disso é extremamente criativa, entusiasmada, proativa, generosa e solidária. Já foi capaz de pedir para parar o carro só para consolar uma criança de uniforme,  que aparentemente não tinha conseguido pegar o ônibus escolar que a levaria de  volta para casa. Ou seja, em tudo diferente de mim.
 
E sem falar no TOC bastante acentuado que tem, o que a faz guardar as suas e as nossas roupas separadas por tamanho, estilo, modelo e cor, deixando-me louco quando reclama que guardei uma de minhas roupas fora do lugar correto.
 
Esse preciosismo aliado à criatividade e a um entusiasmo pela celebração da vida fizeram com que ela tivesse um comportamento muito interessante nos aniversários de 50, 60 e 80 anos de suas irmãs e da mãe. Como presente a ser guardado com muito carinho, ela resolveu criar cadernos de recordações para a pessoa que estivesse aniversariando.
 
A primeira coisa foi encomendar capas duras, forradas com imitação de couro e personalizadas com o nome da homenageada escrito em letras douradas. As folhas do caderno, de várias cores, deveriam ser utilizadas para que parentes, amigos e convidados presentes à festança escrevessem o que quisessem sobre e para a aniversariante - sentimentos, lembranças, mensagens, desenhos, o escambau. Além disso, saía à cata de fotos antigas em casas de parentes e amigos, que mandava copiar e ampliar para depois espalhar em ordem cronológica pelas paredes do local da festa. Obviamente, todas impressas em papel couchê no formato A4, para que a aniversariante as guardasse (se quisesse).
 
Então, em 2002, no aniversário de 50 anos de uma de suas irmãs, ela fez um desses cadernos, a que deu o título de “A Festa de Bebeth”, numa divertida referência ao filme “A Festa de Babette”.
 
Para encurtar a conversa, ela resolveu escrever sua mensagem à irmã contando as lembranças de sua infância e juventude, tempo compartilhado e vivido com a aniversariante e com o restante da família e amigos.
 
Graças à sua prodigiosa memória escreveu dezessete páginas em papel ofício onde recordou pessoas falecidas, brincadeiras de infância, roupas utilizadas, lugares visitados, amigos, guloseimas prediletas e desaparecidas, antigos vizinhos e casos engraçados.
 
No recente Dia das Mães essa irmã fez um almoço para irmãos, sobrinhos e cunhado. Papo vai, papo vem, lembrei-me do caderno e o pedi emprestado, pois queria digitar a mensagem escrita por minha mulher em 2002.
 
Na verdade, depois de ter descoberto uma ferramenta existente nos celulares, que transforma uma mensagem de voz em texto escrito – e esta é a dica que me fez escrever este texto – o que eu queria mesmo era testar esse aplicativo. Se funcionasse, bastaria copiar a mensagem recebida, colar no Word, acrescentar vírgulas e outros sinais gráficos, corrigir e formatar o texto. Trabalhinho mamão com açúcar, muito melhor que digitar 17 páginas manuscritas em papel ofício.
 
E funcionou! Com minha voz de locutor de rádio de zona, durante três dias ditei o texto de 2002 calma e pausadamente. Foi emocionante perceber que muitas dessas lembranças eram como flashes que iam se sucedendo e iluminando uma época e uma história de vida. Adorei a experiência, que resultou em seis páginas em formato A4, fonte Arial 12. Gostei tanto que repeti a experiência com este post, pois fiquem sabendo que 80% do que vocês estão lendo é uma mensagem de voz convertida para texto.
 
O caminho das pedras é o seguinte:
Você acessa o whatsapp e escolhe alguém para enviar uma mensagem. Ao clicar em "Mensagem" aparecem as opções de mandar por escrito ou gravar um áudio. Mas o caminho das pedras é logo abaixo (ou do lado): aparece um pequeno microfone, menor que o ícone do microfone normal que está na tela. Ou seja, na mesma tela ficam visíveis dois microfones. Clique no menor e aparecerá uma mensagem tipo: "comece a ditar". E o texto começará a surgir na tela à medida que for falando. Clique de novo no microfoninho para encerrar a gravação. O passo seguinte é enviar a mensagem para alguém. Eu fiz isso, usando para ditar o celular da minha mulher, e o meu, para receber o texto escrito. Olha imagem do meu celular aí.



Ficamos assim então: eu sei que isso não deve ser novidade para os jovens, mas para gente que talvez ainda use pena de ganso para escrever os textos que transcreve para o computador e depois publica em seu blog, esta é uma dica de ouro. Se você pegar o celular de sua mulher (por exemplo), e mandar através dele uma mensagem para o seu celular utilizando essa técnica, acabou! Você terá um texto escrito, pronto para ser revisto e corrigido, obtido numa rapidez absurda. Ou seja, você vai sair da Idade da Pedra para a modernidade. Mas não se esqueça de apagar as putarias transformadas em texto no celular da patroa, pois essa ferramenta não é o caretão ChatGPT. Se não tem ponto nem vírgula, também não tem censura. “Dale, Marreta!”

sexta-feira, 17 de maio de 2024

NÓIS É JECA MAIS É JÓIA - XANGAI

 
Desde que o Blogson Crusoe foi criado eu tentei compartlhar com os internautas que esbarrassem por aqui os links de músicas que fizeram e fazem minha cabeça. E nunca me prendi a estilos fixos. Tango, bolero, música erudita, rock de vários estilos, samba, bossa nova, MPB, jazz, música pop internacional, já rolou de (quase) tudo nos mais de 150 posts dedicados ao prazer de ouvir uma música deitado em uma rede, sentado em um sofá ao entardecer ou com o som no talo.
 
Pode ser pretensão da minha parte, mas eu realmente gostaria que os dois ou três leitores deste blog acessassem o marcador "Música Maestro!" e dessem uma olhadinha no seu conteúdo. Por exemplo, no post da música "Lígia", veriam a letra original escrita apenas pelo Tom Jobim e a que foi gravada, alterada pelo Chico Buarque.
 
Infelizmente, alguns links foram removidos, mas essas músicas são fáceis de ser encontradas no Youtube. E hoje mais um estilo é incorporado ao blog, graças a uma música divertida que um dos filhos me apresentou.
 
Sugestão: escutar a música lendo a letra.




 
Se farinha fosse americana
mandioca importada
banquete de bacana
era farinhada
 
Andam falando qui nóis é caipira
qui a nossa onda é montar a cavalo
qui a nossa calça é amarrada com imbira
qui a nossa valsa é briga de galo
 
Andam falando que nóis é butina
mais nóis num gosta de tramóia
nóis gosta é das menina
nóis é jéca mais é jóia
 
mais nóis num gosta de jibóia
nóis gosta é das menina
nóis é jéca mais é jóia
 
Se farinha fosse...
 
Andam falando qui nóis é caipira
qui nóis tem cara de milho de pipoca
qui o nosso roque é dançar catira
qui nossa flauta é feita de tabóca
 
nóis gosta de pescar traíra
ver as bichinha gemendo na vara
nóis num gosta de mentira
nóis tem vergonha na cara
 
ver as bichinha chorando na vara
nóis num gosta de mentira
nóis tem vergonha na cara
 
Se farinha fosse...
 
Andam falando que nóis é caipora
qui nóis tem qui aprender ingrês
qui nóis tem qui fazê xuxéxu fóra
deixe de bestáge
nóis nem sabe o portuguêis
 
nóis somo é caipira pop
nóis entra na chuva e nem móia
meu ailóviú
nóis é jéca mais é jóia
 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4