Estava quieto no meu canto, entretido com um
texto tardio sobre carnaval, não pensava em publicar nada hoje e resolvi
dar uma paradinha para beber um gole d'água. Foi quando fiquei sabendo da crítica
que algum ignorante fez a blocos caricatos da cidade só porque os integrantes
desses blocos pintam seus rostos de preto, o que, no raciocínio do boçal
caracterizaria uma prova de "racismo estrutural". Aí eu me
enfureci. Ninguém contesta a existência de racismo no Brasil e quero acreditar que
boa parte da população considera odioso esse comportamento. Mas acho idiotice
atribuir racismo a essa prática adotada por todos os blocos caricatos de BH.
Digo idiotice e completo com "ignorante", pois a pintura do rosto dos
batuqueiros tem ou tinha várias padronagens e cores: rosto todo verde, rosto
todo preto, rosto todo preto com bocas brancas, só prateado ou uma mescla de
azul e amarelo, ou metade preto metade branco, ou ainda amarelo, verde e preto,
só amarelo e preto, etc. Eram e são caricatos por terem um jeitão de palhaços
de circo (minha opinião).
Mas não é só isso a se lembrar. No Carnaval
homens se vestem de bebês (com fraldas e chupetas), garotinhos exibem bigodes e
costeletas, mulheres se vestem de homem, homens usam as roupas velhas das mães,
irmãs ou esposas para cair na farra, velhos se fingem de moços, moços se
arrastam como velhos, tudo na maior zona. Para mim, o Carnaval é a última
grande celebração pagã, a última orgia institucionalizada. Volto a dizer: claro
que há machismo, homofobia, racismo, transfobia, misoginia e todo tipo de preconceito
explícito e escancarado ou disfarçado na sociedade brasileira (e eu sou
radicalmente contra tudo isso), mas vejo o carnaval de rua como um momento, um
instante, uma pausa para alongar o corpo, respirar fundo e chutar o balde da
seriedade, do moralismo, do preconceito, do bom mocismo, da vergonha e da
timidez. Mas o pensamento politicamente correto aliado ao desconhecimento ou
ignorância do tema e talvez até mesmo à aversão pela muvuca carnavalesca parece
querer uma festa pasteurizada, esterilizada, asséptica. Este ano não teve
carnaval - e foi corretíssimo não ter -, mas espero que em 2021 muitos baldes
possam ser chutados e que todos possam ter uma jaca para enfiar o pé. Um
só, não. Os dois.
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Os que fazem esse tipo de "crítica social" são verdadeiros desocupados querendo ter os seus 15 minutos de fama sem ter talento algum para isso. Enquanto essa canalhada do mi-mi-mi fica se apegando a besteiras feito essas, como proibir certas fantasias e marchinhas, os verdadeiros atos de racismo, homofobia etc passam despercebidos.
ResponderExcluirEscrevi sobre isso no carnaval do ano passado, por conta de uma rajada politicamente correta sofrida pela bela e apetitosa Alessandra Negrini que, veja só o crime, fantasiou-se de índia.
https://amarretadoazarao.blogspot.com/2020/02/alessandra-negrini-ceci-que-todo-peri.html
https://amarretadoazarao.blogspot.com/2020/02/as-fantasias-proibidas-de-alessandra.html
Você tem razão.
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