terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

MALDIÇÃO BÍBLICA



(Gen 2:16) Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; (Gen 2:17) mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (...)
(Gen 3:9) Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás? (Gen 3:10) Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me. (Gen 3:11) Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? (Gen 3:12) Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi. (Gen 3:13) Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi. (...)
(Gen 3:17) E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. (…)
 (Gen 3:19) Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás. (…)
 (Gen 3:21) E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu. (Gen 3:22) Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. (Gen 3:23) O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para lavrar a terra, de que fora tomado. (Gen 3:24) E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida.


Na época em que trabalhava em construtora, gostava de brincar com quem reclamava do excesso de serviço, que às vezes nos obrigava a trabalhar nos fins de semana ou de madrugada, dizendo: “ganharás o pão com o suor do teu rosto” Completava dizendo que essa era a maldição bíblica.
 
Meu interesse pela Bíblia e por assuntos religiosos vem da adolescência. Quando cursava o primeiro ano do segundo grau (ou científico, como se dizia na época) tive aulas de cultura religiosa com um padre italiano que detonou minhas crenças adquiridas na infância, em casa. O problema é que na minha sala tinha um protestante (como era costume dizer, na época) que se recusou a assistir as aulas dadas por um padre. Como eu era seu amigo e não tinha muita personalidade, deixei também de frequentar essas aulas.
 
Resumindo: as antigas crenças foram espanadas, varridas, mas nada foi colocado em seu lugar. A partir disso, lia tudo o q deue pintava na frente, sobre qualquer religião ou seita: budismo, umbandismo, esoterismo, teosofia, o escambau. Mas isso é assunto para outra hora. 
 
Por isso, voltando à Bíblia, já li alguns dos livros que a compõem. Recomendo o “Evangelho segundo São Mateus”, que tem belíssimas parábolas criadas por Jesus. Tentei ler o “Apocalipse”, mas não tive saco. É muita fantasia e alegoria. Já o primeiro de todos, o livro do “Gênesis”, é divertido se lido como romance. Aos olhos de quem nasceu no século XX, está mais para crônica policial do que para livro religioso, tal a sucessão de crimes, traições e assassinatos. Já o “Levítico”, pelo tipo de assunto abordado (dízimo, construção de templo e afins), imagino que deve ter sido o livro de cabeceira do "Edinho". Mas é no Gênesis que está o motivo deste texto. Esse o motivo da transcrição inicial.
 
Imagino a seguinte cena:
 
O Adão, já meio envelhecido e alquebrado pelo trabalho árduo, chega em casa ao final do dia e encontra a Eva também cansada, com dores na coluna ou coisa assim.
 
- E aí, minha filha? Tava lembrando hoje o dia em que fomos expulsos do Paraíso, e tudo por causa daquela fruta insossa. Ah!, se não a tivéssemos comido, até hoje a gente tava no bem-bom e eu nem teria tantos calos nas mãos...
 
A Eva - que sempre foi mais inteligente e esperta do que ele - retrucou:
 
- Já pensei muito sobre isso e acho que Deus, em Sua infinita sabedoria, foi muito carinhoso conosco, talvez por termos sido criados à sua imagem e semelhança. Lembra que Ele até fez umas roupas para nós? Pois é. Eu penso que quando Ele disse para ganharmos nosso sustento com o nosso suor ele estava na verdade nos protegendo de nós mesmos.
 
- Não estou te entendendo! Que maluquice é essa?
 
- Calma, que eu te conto. Quando nós comemos o fruto da árvore do conhecimento, nós descobrimos a diferença entre o Bem e o Mal, concorda? Hoje, para mim, o Bem é inclusive a capacidade que temos de sonhar em realizar coisas, se trabalharmos com afinco para isso. O Mal, pelo contrário, é saber que apesar de nossas conquistas, apesar das pessoas que nos amam e a quem amamos, um dia perderemos tudo isso, para voltar ao pó de onde viemos. Porque, antes de comermos o fruto do conhecimento, éramos como o boi e o leão, como o inseto e o elefante. Deus nos criou mortais, mas só nós temos consciência disso, uma consciência que só aumenta com o passar dos anos.
 
- Mas o que tem o trabalho com isso?
 
- Aí é que está a bondade de Deus. Como ele nos criou mortais, a única coisa que Ele podia fazer sem alterar Seus desígnios iniciais, era neutralizar esse conhecimento, fazendo-nos trabalhar a vida toda, para que não nos lembrássemos da certeza da morte – enquanto morríamos de tédio, sem nada para fazer.
 
Diante da cara apalermada de Adão, Eva continuou:
 
- Então, a verdadeira maldição não é (como você sempre achou) aquelas palavras duríssimas – “Do suor do teu rosto comerás o teu pão”...
 
- Não??
 
- Claro que não, aquelas eram palavras carinhosas. A verdadeira maldição é essa: “da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás".
 
- Eva, você é inteligentíssima, você é uma fera!!!!
 
E Eva, se fazendo de dengosa:
 
- Eu gostava é quando você ainda me chamava de gatinha... 


Texto originalmente publicado em 22/06/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...