Texto originalmente publicado em 22/08/2014 (nem me lembrava mais dele, mas acho que ficou legal)..
Outro dia me ocorreu uma imagem meio bizarra
para representar a vida de uma pessoa (esse assunto de novo!). Eu sei, tenho
alguns pensamentos recorrentes, recorrentes até demais. Mas, antes de
apresentar essa ideia, preciso contar uma pequena história que tem tudo a ver
com o assunto:
Quando meu cunhado voltou do Iraque depois de
lá permanecer por três anos, alguém perguntou o que ele havia notado de
diferente nas pessoas. Ele respondeu ter se surpreendido com as mudanças
observadas nas crianças e nos idosos. Em relação aos demais, não havia
alteração significativa.
Traduzindo, os processos de crescimento das
crianças e envelhecimento dos idosos eram significativamente mais acelerados e
perceptíveis do que as mudanças nos adultos jovens. Naquela época, meados da
década de 1980, achei essa observação curiosa, mas não passou disso – afinal,
eu estava entre os que não haviam sofrido grandes transformações.
Depois de fazer cinquenta anos, no entanto, comecei
a notar em mim que os sinais de envelhecimento manifestavam-se de forma mais
acentuada do que ocorria quando era mais jovem (e ainda tem gente que chama
essa faixa etária de “melhor idade”! Leviandade e hipocrisia ou retardo
mental). Também, até aí nada de mais.
Outro dia, porém, enquanto trabalhava duro
para arranjar alguma coisa para passar o tempo, ao me lembrar da observação
feita anos atrás por meu cunhado, fiquei imaginando como isso ficaria em um
gráfico (já sei, “o hábito do cachimbo...”). Mas, para não entediar (mais
ainda) o eventual leitor desta maluquice, diria apenas que o formato do gráfico
seria muito semelhante ao perfil do "Tobogã da Avenida do Contorno", em BH (no sentido “subida”),
correspondendo as duas rampas às fases inicial e final da vida.
A primeira “rampa” corresponderia ao período
de zero até os 19 anos (para ficar coerente com a faixa “teen”). A famigerada fase da
“melhor idade” (melhor idade é a puta que o pariu!) corresponderia à segunda
ladeira. Finalmente, a parte plana entre as rampas representaria a faixa etária
compreendida entre os 20 e os 50 anos, de acordo com a observação feita por meu
cunhado (bela analogia!).
Mas a coisa não para por aí. Quando visualizei
esse gráfico, lembrei-me na hora de um gráfico parecido, visto centenas
de anos atrás no curso de engenharia civil, em alguma sala do velho “AS”
(Álvaro da Silveira).
Esse gráfico atende pelo singelo nome de “diagrama de tensão versus deformação”,
que seria o registro de dados de um teste de tração (vamos chamar de “esticamento”)
de uma amostra de barra de ferro usada em construção. Mas ninguém precisa se
assustar, pois eu fui um péssimo e relapso aluno. Além do mais, minha memória
(ou o que resta dela) é mais visual do que qualquer outra coisa. E, afinal, o velho e bom Guga (Google, pô!) está aí para ajudar, não é mesmo? E olha a elegância:
“Caracteriza-se
a resistência do aço pela sua resistência máxima à tração. O valor de tensão
considerado como limite de resistência é o da Tensão de Escoamento ou Limite de
Escoamento”.
Chama-se de escoamento o fenômeno observado
em alguns metais, nos quais ocorre acréscimo de deformação sem acréscimo de
tensão. (...) Ocorre tensão de escoamento real quando no gráfico tensão versus
deformação temos patamar de escoamento.”
Isso significa que, submetido à
tração, o aço vai se deformando (“esticando”) à medida que a força aumenta. De
repente, ele continua a se deformar sem nenhum acréscimo de força (o tal “escoamento”).
A partir de determinado valor, volta à situação inicial – é necessário aumentar gradativamente a força de tração para
que ele continue a se deformar, até ocorrer o rompimento.
E aí é que entra o meu delírio: normalmente, vejo
por aí que o transcorrer da vida é sempre associado a caminhadas, estradas,
rios, essas coisas manjadas. A novidade dessa alegoria (ociologia pura!) é a
sua origem na engenharia – mais precisamente, na tecnologia de materiais de
construção.
Vejam bem, se fizermos uma correlação entre o
comportamento do aço em teste com as transformações que as pessoas sofrem ao
longo de sua existência (sendo o tal “patamar de escoamento” a fase produtiva do
homem), teremos uma nova imagem para explicar (para um ET, lógico) como é o
transcorrer de uma vida humana.
Dá até para extrair algumas metáforas dessa
comparação. Por exemplo, a tensão crescente, correspondente ao avanço dos anos,
tem tudo a ver com a tensão diária da vida nas cidades. Outra equivalência: a
deformação do aço, se metaforicamente alinhada às transformações sofridas
física e emocionalmente ao longo da vida, fica particularmente ideal para
descrever a terceira fase da vida – queda de cabelo e outras quedas, perda de
memória, o escambau. É tanta “deformação” que fica difícil assimilar tudo sem
espernear.
Finalizando, já que se falou
tanto em “escoamento”, nunca é demais
lembrar que, “ao fim e ao cabo”, tudo termina mesmo escoando para o ralo.
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