quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

CULTURA DA BOLHA

Recentemente tomei conhecimento de um novo modismo surgido das entranhas das redes sociais. Por velhice acelerada e falta de paciência ascendente, custei um pouco a entender o que é “cultura do cancelamento”. Bela merda!  (Pelo menos, ninguém poderá dizer que este é um país sem cultura)

Trocentos mil idiotas resolvem seguir alguém no Instagram ou Twitter. O “seguido” começa a ganhar grana com publicidade, a ser convidado para programas de TV, a aparecer em publicações lixo e a coisa vira um moto contínuo, uma coisa meio parecida com corrente, em que um indica dois, etc. Mas a “cultura do cancelamento” lembra aquelas torres feitas com cartas de baralho, basta que uma saia do lugar para que o resto despenque. Ou aquelas brincadeiras com dominós enfileirados.
 
E isso acontece quando o “seguido” faz ou fala alguma coisa que desagrada seus seguidores. Bastou essa justa (ou injusta, pouco importa!) pisada no tomate para que o “influencer” (lindo!) despenque de sua corrente. O que se deduz disso é que os seguidores são na verdade tutores, proprietários de bichinhos de estimação e que o “seguido” é seu pet do momento. De novo, bela merda!
 
Imagino que uma coisa dessas nunca acontecerá com este blog. E nem é por causa de não ter seguidores, pois o velho Blogson, além dos onze amigos virtuais possui milhares, centenas de milhares de seguidores apaixonados (platonicamente, que fique bem claro) entre os robôs do Google. A vacina contra cancelamento do blog da solidão ampliada é o fato de seu profeta estar sempre a falar mal de si mesmo (enquanto cuida de não deixar nenhuma pedra solta nas proximidades. Sei lá, né?, vai que...).
 
Pois bem, refletindo durante vários segundos sobre esse modismo e mesmo não sendo químico ou farmacêutico, este blogueiro acredita ter encontrado uma solução (além da tradicionalíssima solução de toddy com leite gelado). Para combater a nefanda cultura do cancelamento , Jotabé propõe a "cultura da bolha" (só ideia genial!).
 
Eu sei que os algoritmos bisbilhoteiros do facebook já fazem algo parecido, ao encaminhar para um perfil feicibucado as postagens que identificaram como de interesse dessx sujeitx (adoro esta idiotice!). Mas esse procedimento exige que alguém seja minimamente monitorado para que os algoritmos enxeridos comecem a se mexer (assim imagino). O método jotabélico se antecipa a isso. Mal comparado, é como a diferença entre tomar vacina ou cloroquina - uma previne e a outra tenta curar (só tenta).
 
Para adoção da cultura da bolha bastaria que as redes sociais calibrassem e ajustassem suas malhas, com a aplicação de pesquisa (tão obrigatória quanto uma vacina contra Covid) a ser respondida quando alguém resolvesse criar um perfil nessas redes (o problema é que todo mundo já as utiliza. Até mesmo presidentes!). E o segredo do sucesso seria uma pesquisa criteriosa. Nada de preocupação com sexo, gênero (o sexo poderia acontecer depois do match entre participantes da mesma bolha, independente do gênero), pois esse assunto de foro e de furo íntimo provavelmente  interessa mais a fábricas de colchões de mola, motéis, pensões baratas perto das rodoviárias, etc.
 
Partindo-se da premissa de que há zilhares de bolhas, a pesquisa proposta teria questões antropo-sócio-psicológicas (nem eu mesmo sei o que quis dizer com isso!) do tipo:
"Você acredita em Deus?" (ou Você é ateu?). Qualquer das duas respostas já eliminaria 50% das bolhas.
Outra pergunta para a hipótese da crença:
"Você é cristão ou de outra religião?" (mais uma porrada de bolhas sendo descartadas).
A pesquisa iria sendo cada vez mais refinada. Para a hipótese do sujeito ser cristão, haveria perguntas para excluir os católicos, os ortodoxos, os "crentes", etc. E a quantidade de bolhas só diminuindo!
 
É óbvio que seria necessário um software bacana para tratar esses dados, pois usei a religião apenas como exemplo, já que uma pesquisa ampla necessariamente teria perguntas sobre política, ideologia, cosmologia, preferências culturais, musicais, sobre reality shows, e todo tipo de assunto que direcionasse o jovem, o senhor, a senhora, a senhorita, a vagaba, o cafetão e outros para a “sua” bolha particular. Algo assim como esses softwares de relacionamento. Cumprido esse rito de entrada, quando todos estivessem "instalados" em suas respectivas bolhas a felicidade seria geral e a paz voltaria a reinar nos campos do Senhor.
 
Minha bolha, por exemplo, reuniria pessoas que gostam de bossa nova, rock, Clube da Esquina, música americana das décadas de 1930 e 1940. Em termos de política, odiaria e desprezaria todo tipo de radicalismo, sentiria náusea ao ouvir um Cavalão relinchar, seria darwinista, a favor da Ciência e nunca duvidaria que a Terra é redonda. Minha "tchurma" diria "Adoro!", beberia leite com Toddy (item não obrigatório), apreciaria ler poesia, riria do humor non sense do Mel Brooks e seria leitor assíduo do Blogson Crusoe (item obrigatório!). Fazendo uma estimativa pessimista, minha bolha teria pelo menos dois integrantes.
 
Claro que com o passar do tempo essa paz de criança dormindo acabaria cansando um pouco. A solução seria criar um perfil falso, um fake profile, só para azucrinar e incomodar os participantes de outras bolhas. Com o fake perfil já daria para chegar ofendendo todo mundo ao dizer "Vocês são uns bolhas!" E a diversão estaria garantida.

15 comentários:

  1. É a famosa vontade de apedrejamento que inflama nossos mortais corações.

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    1. Você deve ter lido sobre isso. Um judeu resolveu viver durante um ano segundo as leis e normas estabelecidas no Torá e na Bíblia cristã. Uma das leis que tinha que obedecer era o apedrejamento da mulher adúltera. A solução encontrada foi pegar algumas pedrinhas do tamanho daquelas usadas em aquários e atirar (delicadamente) nas amigas que estavam pulando a cerca. Mas apedrejamento com pedras preciosas não é ruim (para os familiares do/a apedrejado/a, pelo menos).

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    2. É exatamente isso. O ser humano sempre adorou um linchamento. Agora, virtual, sem precisar sujar literalmente as mão de sangue. É uma forma de linchamento ainda mais covarde que o "presencial".

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    3. "O ser humano é um equívoco da Natureza", não é mesmo?

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    4. Da natureza? Acredita mesmo que somos um produto natural da evolução?

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    5. É esse tipo de discussão que estou procurando!

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    6. Olha, Marreta, vou fazer uma comparação com um retângulo de terreno não pavimentado aqui em casa. Resolvemos um dia gramar esse pedaço. Nosso filho nos deu de presente as placas de grama. Por algum tempo ficou super bonito e agradável. Um dia apareceram os primeiros sinais de "tiririca", com sementes talvez trazidas pelos passarinhos (pardais, etc.) Resumindo: aquele mato ou capim alastrou-se de tal forma e com tanto vigor que acabou cobrindo e sufocando toda a bela grama que existia. Acho que a espécie humana é a tiririca de outras espécies e até dela mesmo. Evolução natural, mas um puta equívoco.

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    7. Pois quando tomarmos a tão aguardada e adiada cerveja, será um dos nossos assuntos de pauta, caro GRF. Respondendo à pergunta que fiz ao Jotabê, eu digo que não, que nossa espécie não é um produto natural da evolução, cada vez mais tenho certeza que não.

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  2. Essa "cultura do cancelamento" FERVE dentre as pessoas da minha idade. Uma palavra dita a mais ou a menos e pronto: você já "tá fora do rolê" Kkkkkkk

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    1. Eu vivi isso na adolescência, mas não tinha esse nome. Sabe aquele cara que você evita ser visto andando com ele (ou aquela menina) para não queimar o filme? Eu fui um pouco esse cara.

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    2. HAEUAEHUH e por quais motivos, Jotabê??????????

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    3. Engraçado, eu ia complementar omeu comentário com a resposta á pergunta que você fez.Lembra-se do medo de que falei? Pois é, em determinado momento ele foi tão paralizante que eu não conseguia conversar com as meninas que eu desejava namorar sem meter os pés pelas mãos, sem me comportar como aquele clássico garoto caxias, tímido e bundão. A meu favor, a unica coisa que eu não fazia era ser caxias. Eu ficava ruborizado facilmente, coisas assim.

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    4. E claro, não conseguia pegar nem coronavírus.

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    5. Por que mudou o título?
      em tempo : a sua "encomenda" (Brincadeira de criança, Como é bom, como é bom, Guardo ainda na lembrança, Como é bom, como é bom) está para sair; mais um ou dois dias, a depender dos meus afazerers e porfazeres profissionais (para os quais eu estou cagando) e domésticos (os quais igualmente me exaurem, mas tenho prazer em realizar.

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    6. Eu não sou exatamente um modelo de normalidade. Quando a ideia do texto surgiu o título logo imaginado seria "A cultura da bolha", pois a intenção inicial era ironizar essa conversa de "cancelamento" surgida recentemente. Ou seja era (e ainda é) um texto abrigado no marcador "Sem noção". Mas eu tenho um espírito de marqueteiro de carrinho de hot-dog e imaginei que o título original não daria muito ibope. Para atiçar os eventuais leitores, resolvi mudar para "Cultura do cancelamento", que efetivamente provocou vários comentários, mas sempre falando de "cancelamento" e de forma mais séria, o que fugia da minha intenção de fazer blague com o assunto. Como imagino que ninguém mais acessará este post, resolvi voltar ao título original (prostituição pura).

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