sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SUPEREGO

Um dos meus filhos disse recentemente que minha geração “é mais largada". Segundo suas palavras “o que estranha não é uma pessoa mais velha fora do padrão sério/sisudo, mesmo porque a sua geração é mais largada. O que eu não entendo é uma pessoa querer se comportar como se pertencesse a uma geração que não a sua. E isso vale até para o que já se convencionou chamar de ‘adultescentes’.".

Achei graça, mas protestei veementemente, pois até hoje padeço de falta de traquejo social, pois ou fico travado (como ficava antes de começar a namorar minha mulher) ou fico muito "relaxado" tal como aprendi a ficar, convivendo com meus cunhados. Além disso, não pertenço a essa turma. Não quero parecer mais novo do que sou. Sou idoso, preferencial, mas não da "melhor" idade, porque isso é hipocrisia (melhor porra nenhuma!). Eu pertenço à turma da "gravidade", aquela onde tudo cai, está caindo ou já caiu (por enquanto, estou me referindo apenas à pele, dentes, cabelo e audição, pô!). Quanto ao resto, só o tempo dirá, mas imagino que o futuro seja meio tenebroso (a força "gravitacional" tende a ficar mais "intensa"...).

Mas, parece que a coisa funciona desse jeito: depois que a pessoa envelhece, o superego fica meio relaxado, como me disse outro filho. Então, os idosos, por conta do superego “frouxo”, talvez se sintam meio soltinhos, assim “como o arrozinho da mamãe” (adoro essa expressão). Não sei, talvez um psicólogo possa validar essa impressão. Ou não.

Tem mais, pode ser - como disse meu filho - que algum velhinho ou velhinha (principalmente) queira parecer mais novo do que efetivamente é (no Facebook, um conhecido registrou ter nascido em 1950. Nada mudou com isso, pois continuou o mesmo merda que sempre foi. A diferença é que  "rejuvenesceu" uns quatro anos, pelo menos).

O que quero dizer é que dentro de mim (nada sei dos demais) ainda vive uma parte do menino, uma parte do adolescente, uma parte do jovem adulto. E esse Frankenstein mental às vezes pede atitudes de acordo com a idade que estiver mandando na hora. Mas aí, eu tenho que segurar ao máximo para não parecer retardado ou senil. Essa é a prisão dos idosos tidos como saudáveis, uma prisão feita de normas de conduta e convenções sociais.

Mas há prisões piores. Recentemente eu registrei a imensa pena que sinto quando vejo pessoas severamente limitadas fisicamente desde que nasceram. Eu sempre vejo essas pessoas como prisioneiras de si mesmas, pois dentro de um corpo cheio de limitações há alguém que talvez pense igual a mim, que pode ter sonhos como todo mundo tem, mas está ali, presa, imobilizada. Triste demais. Esse tipo de aprisionamento dentro de si mesmo nem de longe se assemelha à prisão social da velhice. Comparadas, uma é solitária perpétua enquanto a outra é cadeia para mensaleiros.


2 comentários:

  1. Eu sei perfeitamente como você se sente. Eu também tenho alguns comportamentos que não condizem muito com a minha idade, mas não me importo. Se você é feliz desta forma, não há porque querer ser de outro jeito. Talvez você se lembre de Shirley Temple, que ficou famosa fazendo filmes quando menina, na década de 30. Ela uma vez disse o seguinte: "14 anos foi quando estive mais velha. Desde então, eu tenho ficado mais jovem".

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