quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RESILIÊNCIA

Segundo a Professora Sandra Maia Farias Vasconcelos, para a Psicologia, resiliência “é a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do individuo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física, mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida”.

Embora eu ache bacana essa definição e não tenha nenhuma formação nessa área, creio que falta a ela um complemento que é mostrado a seguir.

Eu ganhei uma revista de bordo da TAP. Uma de suas reportagens fala da escritora Dulce Maria Cardoso, portuguesa nascida em Angola, que, em consequência da guerra civil, mudou-se para Portugal (onde estranhou tudo, inclusive o frio). Essa experiência a inspirou a escrever o livro "O Retorno", cujo protagonista é um jovem também nascido em Angola, etc. Segundo ela, não é um livro autobiográfico, mas "um romance sobre a perda".

Feita essa introdução, transcrevo um comentário da autora, que caiu como uma bomba em minha cabeça, pois externou muito do que eu sentia ou pressentia sobre a barra de enfrentar grandes perdas (de qualquer natureza) e seguir em frente (o grifo é meu). Vamos lá:

"(...) um sobrevivente precisa de uma dose muito grande de determinação, mas também precisa de outra de indiferença. As pessoas falam sempre é da história do vencedor... Mas é preciso ser muito indiferente para não sucumbir e continuar. Eu sou essa pessoa, sou uma sobrevivente".

Pra ser sincero, esse texto da revista da TAP me chamou a atenção por causa de uma senhora que conheço. Ela sofreu imensas perdas ao longo de sua vida e sobreviveu (bem) a todas, talvez por uma sabedoria intuitiva, o que também a fez melhorar com a passagem do tempo. Ela, sim, seguiu bastante bem a sugestão "carpe diem".

As perdas a que me referi são as seguintes:
-     Perda da mãe biológica e dos dois irmãos (menores que ela), aos quatro anos de idade.
-    Descoberta, aos 15 anos, que a senhora a quem ela amava e chamava de mãe era apenas sua madrasta.
-     Perda dos vínculos familiares com a mudança de Niterói para BH
-     Perda do pai
-     Perda da mãe (madrasta)
-     Perda do marido
-     Perda dos três irmãos, mais novos que ela e  nascidos do segundo casamento de seu pai.

Ou seja, embora algumas fossem previsíveis, é muita perda, decepção e sofrimento para uma só pessoa. Eu ficava admirado como ela tinha conseguido sobreviver a tudo isso sem cair na depressão (pelo contrário, sempre demonstrando uma enorme vontade e alegria de viver, coisa a que os filhos nunca conseguiram se equiparar). E eu pressentia que essa capacidade de superação estava intrinsecamente associada à pouca absorção da dor ou, na melhor hipótese, a um rápido processamento dessa mesma dor, como se houvesse uma blindagem contra o sofrimento prolongado. Aí, quando eu li a declaração da escritora, aquilo se encaixou na minha mente como duas peças de lego.

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