Segundo a Professora Sandra Maia Farias Vasconcelos, para a Psicologia, resiliência “é
a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do
individuo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física,
mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo,
do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente para seu
retorno à vida”.
Embora eu ache bacana
essa definição e não tenha nenhuma formação nessa área, creio que falta a ela
um complemento que é mostrado a seguir.
Eu ganhei uma revista de bordo
da TAP. Uma de suas reportagens fala da escritora Dulce Maria Cardoso,
portuguesa nascida em Angola, que, em consequência da guerra civil, mudou-se
para Portugal (onde estranhou tudo, inclusive o frio). Essa experiência a
inspirou a escrever o livro "O
Retorno", cujo protagonista é um jovem também nascido em Angola, etc.
Segundo ela, não é um livro autobiográfico, mas "um romance sobre a
perda".
Feita essa introdução, transcrevo um
comentário da autora, que caiu como uma bomba em minha cabeça, pois externou
muito do que eu sentia ou pressentia sobre a barra de enfrentar grandes perdas
(de qualquer natureza) e seguir em frente (o grifo é meu). Vamos lá:
"(...) um sobrevivente
precisa de uma dose muito grande de determinação, mas também precisa de
outra de indiferença. As pessoas falam sempre é da história do vencedor...
Mas é preciso ser muito indiferente para não sucumbir e continuar. Eu sou essa
pessoa, sou uma sobrevivente".
Pra ser sincero, esse texto da revista da TAP
me chamou a atenção por causa de uma senhora que conheço. Ela sofreu imensas
perdas ao longo de sua vida e sobreviveu (bem) a todas, talvez por uma
sabedoria intuitiva, o que também a fez melhorar com a passagem do tempo. Ela,
sim, seguiu bastante bem a sugestão "carpe
diem".
As perdas a que me referi são as seguintes:
-
Perda
da mãe biológica e dos dois irmãos (menores que ela), aos quatro anos de idade.
- Descoberta,
aos 15 anos, que a senhora a quem ela amava e chamava de mãe era apenas sua
madrasta.
-
Perda
dos vínculos familiares com a mudança de Niterói para BH
-
Perda
do pai
-
Perda
da mãe (madrasta)
-
Perda
do marido
-
Perda
dos três irmãos, mais novos que ela e nascidos do segundo casamento de
seu pai.
Ou seja, embora algumas fossem previsíveis, é
muita perda, decepção e sofrimento para uma só pessoa. Eu ficava admirado como
ela tinha conseguido sobreviver a tudo isso sem cair na depressão (pelo
contrário, sempre demonstrando uma enorme vontade e alegria de viver, coisa a
que os filhos nunca conseguiram se equiparar). E eu pressentia que essa
capacidade de superação estava intrinsecamente associada à pouca absorção da
dor ou, na melhor hipótese, a um rápido processamento dessa mesma dor, como se
houvesse uma blindagem contra o sofrimento prolongado. Aí, quando eu li a
declaração da escritora, aquilo se encaixou na minha mente como duas peças de lego.
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