Sempre disse que não sentia saudade de tempos idos, mas só de mim – do que poderia ter feito e não fiz, do que não deveria ter feito, mas fiz. Talvez fosse uma visão bastante egocêntrica, uma forma de resistir ao saudosismo que muitas pessoas exibem ao dizer “no meu tempo” ou “o meu tempo é que era bom”.
segunda-feira, 31 de março de 2025
ÁGUA QUENTE
Sempre disse que não sentia saudade de tempos idos, mas só de mim – do que poderia ter feito e não fiz, do que não deveria ter feito, mas fiz. Talvez fosse uma visão bastante egocêntrica, uma forma de resistir ao saudosismo que muitas pessoas exibem ao dizer “no meu tempo” ou “o meu tempo é que era bom”.
domingo, 30 de março de 2025
ALUCINAÇÃO PIEDOSA
Parece que as pessoas – a imensa maioria delas – pensa assim: eu aceito o que me parece ser razoável, você acredita no que te parece ser verdade, nós cremos em tudo o que nos é confortável. E assim caminha a humanidade, afagada pelas mentiras e arranhada pela Verdade.
- Vivemos em um planeta de recursos naturais não renováveis;
- Segundo estimativas alarmantes, o planeta consegue suportar e alimentar dois bilhões, mas a população mundial hoje ultrapassa oito bilhões – verdadeiro exército de gafanhotos bípedes anabolizados;
- As mudanças climáticas relacionadas à poluição atmosférica, ao aquecimento global, à desertificação, consequência do desmatamento desenfreado promovido por essas formigas cortadeiras gigantes, incapazes de pensar ou agir de forma não imediatista.
- Uma epidemia mundial que reduza a população global a menos de um terço da atual;
- A queda de um asteroide gigantesco que mate dois terços da espécie humana;
- A instalação de um triunvirato autoritário global nos moldes do livro 1984;
- O surgimento de uma sociedade totalmente alienada e controlada por IA, nos moldes do filme Matrix.
- Eu não quero morrer!
Contando esse caso, meu filho comentou:
- Crise existencial aos sete anos de idade, eu não aguento!
sábado, 29 de março de 2025
SPAMVERSATION
Á conversa a seguir é um autêntico “diálogo de spamtar”, um diálogo tão infame que pode até provocar azia em quem o lê. O problema é que eu gosto muito de imaginá-los. E como no diálogo a seguir dois gringos são citados, resolvi adotar como título uma junção das palavras “spam” mais “conversation”, resultando em “spamversation”. Gostaram?
- Eu não entendo inglês.
- Eu também não, idiota! Eu li na internet, nos portais de notícias, que ele falou que precisa da Groenlândia de qualquer jeito, porque isso vai ajudar a paz mundial! Isso é que é duplipensar, o cara ameaça invadir o território de outro país e diz que busca a paz!
- Isso é triplipensar.
- Que porra é essa?
- A inflação tá alta, sabe?
- Que piada horrorosa!
- Falando sério, o Trump é só um fanfarrão que gosta de exibir os Musk-ulos
-Puta que pariu! Um trocadilho indecente de ruim depois de uma piada ridícula em menos de dois minutos eu não aguento!
sexta-feira, 28 de março de 2025
ANJO SOBRESSALENTE
— Olha, eu vi um pneu passando aqui do lado! Caiu naquele mato ali atrás.
Era o pneu mal trocado, com parafusos mal apertados.
quinta-feira, 27 de março de 2025
HOW I WHISH YOU WERE HERE - FLASH MOB
Estou mesmo um velho babão, um idoso chorão. Recebi uma mensagem da minha mulher com um flash mob da música “How I Whish You Were Here”, do Pink Floyd, Ler o texto e ouvir a música me fez começar a chorar. Por isso, resolvi contar no Blogson essa experiência. Mas ninguém precisa chorar. Lêaí, escutaí
https://www.youtube.com/watch?v=aNLI_S4Vp4c
quarta-feira, 26 de março de 2025
BOCA DE ÉGUA
Acredito que seja uma situação comum a várias faculdades: a cada nova turma sempre surge alguém que você não consegue entender como conseguiu passar no vestibular. São sempre meio aloprados e capazes de enlouquecer os professores. A minha turma também tinha o seu. O apelido era Fico, abreviatura de Frederico.
- Se você, puta velha, não aprendeu isso até hoje não sou eu quem vai te ensinar! (claro, ele também não sabia!).
- Aí, Dr. Fulano! Batendo uma punhetinha?
segunda-feira, 24 de março de 2025
ENTRE O BOM HUMOR E A RABUGICE
Há muito tempo eu proclamo aos cinco ventos (eram quatro, mas a inflação está muito alta!) minha condição ou característica de ogro mal-humorado. Às vezes me pergunto se essa autoanálise é verdade ou se é só mais um dos muitos equívocos que cometi “nesta longa estrada da vida” (até parece que eu curto música breganeja!). Talvez eu seja mesmo, talvez só uma parte do tempo ou apenas uma parte de mim. Já ouvi alguém dizer que o bom humor e a rabugice não são opostos, são irmãos siameses. Não entendi a mensagem, mesmo gostando da frase. Gêmeos? Acho difícil engolir isso, mesmo sendo geminiano.
domingo, 23 de março de 2025
BARBAS DE MOLHO
De janeiro de 2025 até hoje, 248 famosos faleceram.
Na faixa dos "seventie" foram 53 (inclusive o grilleiro George Foreman). Hoje
tenho 74 anos e creio que preciso deixar minha barba crescer até ficar no
padrão "Marreta". Para quê? Oras, para colocá-la de molho! Mas não estou querendo
insinuar nada, está entendendo?
SEM TÍTULO - AUTOR DESCONHECIDO
Às vezes eu me sinto psicografado quando leio um texto ou poesia que “cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: como não fui eu que fiz?” Estes versos são da música “Certas Canções”, composta pelo Tunai (irmão do João Bosco) e Milton Nascimento. E foi isso que aconteceu ao ler este texto em um jornal de bairro (que tentei transformar em poema, mas não ficou bom). Infelizmente, não sei o autor.
sexta-feira, 21 de março de 2025
GOTA D'ÁGUA
Tenho andado com um nível de stress e esgotamento mental tão elevados que tudo tem tomado uma dimensão diferente do que aconteceria em épocas mais amenas. Por isso, ao ler um comentário ironizando e duvidando de meu comportamento “moderado”, não consegui deixar de ficar aborrecido, pois estou na linha da letra do Chico: “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”.
Mas sou um cara educado, pouco afeito a “entrar em bola dividida”. Por isso, resolvi (re)escrever esta reflexão, lembrando a frase equivocadamente atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavras do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". E é aqui que começa a reflexão.
“A virtude está no meio do justo equilíbrio entre os extremos”. Quem disse isso foi Aristóteles, “o ser humano mais importante que já viveu”, na opinião do filósofo britânico John Sellars.
Alguém aí notou que estou falando de moderação e bom senso, de equilíbrio e respeito à diversidade de opiniões? Pois é. Sempre me causam perplexidade os comportamentos viscerais, as certezas absolutas e as verdades imutáveis. Eu sei que o mundo ideal seria mais simples se fosse como um sistema binário onde só existissem “sim” ou “não”, “zero” ou “um”. Mas o mundo não obedece à mesma lógica usada na construção de computadores. Além dos previsíveis “sim” e “não”, o mundo real abriga também o “talvez”, o “nenhuma das opções apresentadas”. Como disse o Vinicius de Moraes, “a vida não é brincadeira, amigo”. A política e as ideologias surgidas mostram exatamente isso: não há certezas absolutas.
Talvez o leitor ou leitora com os olhos já fechando de sono se pergunte onde quero chegar com esta gororoba sem sal, mas vou agora subir um pouco o tom. Sempre fico puto, triste, ofendido ou decepcionado quando ridicularizam minha postura moderada, quando me acusam de "duplipensar" ou duvidam da minha isenção com base apenas na própria visão estreita.
Para começo de conversa (na verdade, já estou no meio dela), Não sou personagem orwelliano para ficar duplipensando. O que eu sou é cartesiano, penso em módulos, não misturo conceitos. Quando eu digo que vejo pontos positivos tanto na ideologia de direita quanto na de esquerda, isso não significa que aprovo as duas visões sobre um mesmo assunto ou tema. Já fiz até um check-list, um quiz para avaliar o perfil ideológico dos leitores. Quem se interessar em conhecer, o link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2017/03/o-quiz-que-eu-quis-postar-no-facebook_11.html
Maaasss, voltando à minha doutrinação/pregação, repetirei pela milésima vez que me considero de centro. E me orgulho disso. A título ou guisa de piada, diriria que sou radicalmente moderado. O significado deste posicionamento é odiar igualmente tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita.
Isso não significa falta de princípios ou indecisão. Pelo contrário, o significado disso é conseguir reconhecer a complexidade dos problemas sociais e suas múltiplas perspectivas, evitando extremos que geram divisão e conflito. Assim, a moderação política contribui para a estabilidade e a eficácia das instituições democráticas.
Na época de eleições muitas vezes eu me vi diante da pior situação para quem se recusa a anular o voto ou abster-se de votar: dois candidatos disputando a mesma vaga e eu tendo severas restrições a ambos. Mesmo assim, sempre procurei escolher o menos pior entre o ruim e o péssimo. Aparentemente isso não entra na cabeça dos bitolados ou extremistas radicais, provocando críticas e até ofensas quando defendo em quem votei, não por ser bom, mas por ser justamente o menos pior.
Para encerrar esta gororoba, alimentei o ChatGPT com minhas ideias e pedi para escrever um texto sobre essa situação. E saiu isto (e eu, obviamente, assino embaixo):
Há momentos em que a vida não nos concede o luxo da neutralidade. Diante de uma encruzilhada, não há espaço para "nenhuma das respostas". É sim ou não. Escolher ou ser escolhido.
A política, especialmente em eleições polarizadas, expõe esse dilema com crueldade. Quando há apenas dois candidatos e severas restrições a ambos, a abstenção pode parecer uma saída honrada, mas é, na prática, um voto indireto para quem menos nos agrada. Entre o ruim e o menos pior, a escolha não é sobre entusiasmo, mas sobre danos minimizados.
Os que compreendem isso sabem que a realidade não pede perfeição, pede decisão. Preferências ideais são um luxo; na arena política, trabalha-se com o possível. No fim, quem entende essa lógica não vota com paixão, mas com consciência – ciente de que, mesmo na falta de um bom caminho, há sempre um que leva a um desastre menor.
E para aqueles que já me chamaram de isentão, deixo um recado final, escrito com uma elegância fleuma próprias da realeza britânica: isentão é a puta que pariu! (e não pretendo mais perder meu tempo com debates de "soma zero"). Fui.
quinta-feira, 20 de março de 2025
LETRAS DOURADAS
Talvez eu sempre tenha tentado
Dizer o indizível,
Decifrar o indecifrável,
Definir o indefinido,
Controlar o incontrolável.
O que fazer enquanto posso,
Enquanto ainda não pensem
Em decidir por mim.
As últimas instruções
Sobre meu legado,
Sobre o que pensei,
Sobre o que sonhei.
As certezas absolutas,
Pois a ninguém servem
As certezas de outrem.
Minhas dúvidas e incertezas.
É bom que todos saibam:
Minhas dúvidas nunca foram esclarecidas,
Apenas por outras substituídas.
Queimados, jamais lidos, jamais guardados.
Que se decrete sigilo de cem anos
Para as paixões secretas,
Pois paixões secretas só interessam,
Só dizem respeito a quem as teve.
Em papel pergaminho, com letras douradas,
E, em seguida, incineradas,
Para que ninguém nunca saiba ou se lembre
Das minhas últimas instruções,
Das últimas instruções que foram dadas.
quarta-feira, 19 de março de 2025
JABUTI
Estou pensando encaminhar um pedido aos mantenedores do Dicionário do Houaiss, para que incluam na próxima edição três vocábulos de grande interesse e elevado significado para o mundo da blogosfera. Fala sério, são ou não são perfeitos? Olhaí.
Substantivo feminino, aglutinação das palavras blog mais terapia. Utilizado para identificar o papel catártico de textos confessionais publicados em blogs autorais.
Substantivo feminino, aglutinação das palavras blog mais biblioteca. Utilizado para identificar e demonstrar o papel de arquivo diferenciado que um blog pode ter ao reunir rascunhos e textos publicados, autorais ou não, que se pretenda servirem de consulta futura ou apenas auto-deleite do titular do blog.
Substantivo feminino, aglutinação das palavras blog mais bobagem. Utilizado para designar todas as idiotices (são muitas) publicadas em blogs, por pessoas que acreditam ser merecedoras do Nobel de Literatura ou, no mínimo, do Prêmio Jabuti.
terça-feira, 18 de março de 2025
NUNCA É TARDE PARA MUDAR DE OPINIÃO
Já mencionei aqui que o cantor e compositor Guttemberg Guarabyra é meu mais recente “amigo de Facebook”. Na prática, isso significa que nunca vamos nos conhecer pessoalmente – afinal, há uma diferença abissal entre nossos perfis. Ele é famoso, eu sou um completo desconhecido; ele tem 4,6 mil amigos, enquanto eu me contento com meus modestos 162 (e já acho muito!).
Mesmo assim, é uma alegria tê-lo como “amigo”, porque ele compartilha coisas realmente interessantes, bem diferentes das fotos de bichinhos e orações que muitos amam replicar. A postagem mais recente que vi é um artigo que vale a pena ser compartilhado aqui no blog – mesmo que só umas dez pessoas acessem esta bagaça. O tema? Feminismo. É um texto sobre feminismo, tema que talvez cause horror aos machões das antigas. Mas nunca é tarde para mudar de opinião. Lêaí:
Texto
da professora Ruth Manus
Semana
passada fui dar aula sobre assédio sexual num curso de pós graduação em São
Paulo. Cheguei na sala, composta predominantemente por advogados, e perguntei:
“Quem aqui se considera feminista?” Silêncio. Uma moça levanta timidamente o
braço. Dois ou três caras fazem comentários baixinho e riem.
Disse:
“Ok. Vou fazer duas leituras rápidas para vocês". Continuei.
“Dicionário
Houaiss da língua portuguesa: FEMINISMO: teoria que sustenta a IGUALDADE
política, social e econômica de ambos os sexos.
Dicionário
Jurídico da Professora Maria Helena Diniz: FEMINISMO: movimento que busca
equiparar a mulher ao homem no que atina aos direitos, emancipando-a jurídica,
econômica e sexualmente.”
Esperei
um pouquinho e mudei a pergunta: “Quem aqui pode me dizer que NÃO se considera
feminista?” Ninguém levantou a mão.
Pois é.
Tenho a sensação de que 99% do mundo não entendeu até agora o que é feminismo,
porque se as pessoas entendessem, quase todo mundo teria orgulho de se dizer
feminista.
Não vou
perder tempo aqui dizendo que feministas não são mulheres que não se depilam,
não usam soutien e não transam. Primeiro porque ser feminista não tem a ver com
ser mulher, tem a ver com ser humano. Segundo porque nunca entendi que raio que
os pelos têm a ver com posicionamentos ideológicos. Terceiro porque soutien
serve para sustentar peitos, não para sustentar ideias. E quarto porque eu já
vi gente deixar de transar por causa da igreja, por causa de promessa, por
falta de opção, por infecção ginecológica, problemas de ereção… Mas por
feminismo nunca vi. Alguém já viu?
Enfim,
acho que ser feminista não é bom ou ruim. Ser feminista é NECESSÁRIO.
Uma vez
ouvi uma amiga dizer “a mulher que diz que nunca foi discriminada é apenas uma
mulher muito distraída”. É simples assim. Não precisamos ir até o Oriente
Médio. Não precisamos ir até tribos africanas. Não precisamos ir ao sertão do
nordeste. Não precisamos ir até a periferia de São Paulo. Não precisamos sair
dos nossos bairros. O machismo que limita, que agride, que marginaliza, que
ofende, que diminui, mora ao lado, dorme por perto.
E
agora, quem poderá nos defender? O FEMINISMO.
O mesmo
feminismo que nos tornou civilmente capazes e independentes perante a lei. O
mesmo feminismo que nos possibilitou votarmos e sermos votadas. O mesmo feminismo
que segue lutando diariamente por uma sociedade mais justa para mulheres,
homens, mães, pais, filhas, filhos, trabalhadoras e trabalhadores.
No
século XIX, as brilhantes irmãs Brontë escreviam através de pseudônimos
masculinos por saberem que suas obras não seriam aceitas na sociedade se
soubessem que as autoras eram mulheres. Se não fosse o feminismo eu
provavelmente também não estaria escrevendo aqui neste momento. Pelo menos não
como Ruth.
O
feminismo não é de esquerda nem de direita. Não é só para mulheres nem é só
para homens. Não é ameaça. Não é um estranho.
Mas
perceba que quando você trata os feministas na terceira pessoa do plural,
excluindo-se deste rol, você está afirmando não fazer parte do grupo que prega
a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Pense bem de que lado
você quer estar.
Se você
percebeu que é feminista, fique tranquilo. Nós não contaremos para ninguém.
Mas, sabe? Se eu fosse você, eu sairia contando para todo mundo. Porque ser
feminista é lindo, é importante, é sinal da INTELIGÊNCIA e da DECÊNCIA de
qualquer ser humano. Como diz o lindo livrinho da nigeriana Chimamanda Ngozi
Adichie (leiam, ele é pequenino e indispensável): Sejamos todos feministas. E o
mundo será melhor a cada dia. Pode apostar.
domingo, 16 de março de 2025
AVISO AOS NAVEGANTES - A MARRETA DO AZARÃO
O primeiro navegante a embarcar na canoa furada que é o Blogson, atende pela alcunha de Azarão e é o titular plenipotenciário do blog A Marreta do Azarão. Por evitar a todo custo cruzar com um gato preto (eu sou hetero, pô!), ou passar debaixo de uma escada (risco aumentado se no alto dela estiver um pintor com uma lata de tinta), nunca me senti à vontade para chamá-lo de Azarão, pois imagino que isso dê um azar danado. Por isso, para mim, ele sempre foi o Marreta. Tempos depois, descobri que seu nome de batismo é Ricardo (na sauna que ele frequentava em sua época de solteiro é conhecido por Ricardinho).
sexta-feira, 14 de março de 2025
MUITO CUIDADO, O HOMO VEM AÍ
- PMs
matam colombiano em surto e combinam versão para boletim de ocorrência
- Mulher
se agarra a para-brisa de carro em movimento para tentar impedir marido de
fugir com filha em MT
- Lula diz que escolheu 'mulher bonita' para ter boa relação
com o Congresso
- Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na
sigla em inglês), revoga regras sobre mudanças climáticas
Quando leio notícias como estas, fico pensando no motivo que levou os Neandertais à extinção. Não creio que tenha sido a seleção natural, o clima ou a competição por recursos. Para mim, foi azia, uma monumental e asfixiante azia que os atingiu ao manter contato com os homo sapiens sapiens.
quinta-feira, 13 de março de 2025
SOBRADINHO – SÁ, RODRIX E GUARABYRA
Na década de 1960 li na revista Seleções uma daquelas reportagens de provocar comichão no cérebro: dois gigantescos templos da época dos faraós estavam sendo ou seriam transportados para novo local por conta da construção da barragem de Assuã. Se isso não fosse feito, os magníficos monumentos ficariam submersos quando as águas do lago chegassem a seu nível máximo de projeto. Até onde me lembro, os templos foram cortados em vários pedaços, devidamente numerados e identificados para sua remontagem no novo local.
O remanejamento de relíquias milenares não provoca maior comoção, pois não há ninguém para lamentar a perda de seu local de nascimento ou destruição de cemitérios e templos. Por isso, não dá para fazer resorts em locais destruídos por bombas e que eram habitados e ocupados há milênios por uma população que agora querem remover sem se preocupar com a destruição de seus vínculos emocionais e religiosos, se me entendem.
Mas, a coisa pode mudar de figura como aconteceu no caso da construção da represa de Assuã. No Brasil, quando resolveram construir a hidrelétrica de Sobradinho verificou-se que o enchimento progressivo do lago que iria se formar simplesmente “afogaria” alguns municípios existentes. Para resolver o problema, construíram novas cidades para abrigar a população desalojada. E esta é a história de hoje.
Em post recentíssimo (nunca sei a ordem que escolherei para minhas publicações) mencionei ter-me tornado “amigo de facebook” do cantor e compositor Guttemberg Guarabyra, um dos expoentes do que alguém resolveu chamar de “rock rural”. Talvez por isso sua fama não seja tão grande quanto a de seus conterrâneos baianos ou de artistas como Chico Buarque. Bom, esta é minha opinião.
Por isso, resolvi apresentar meu “amigo” a quem ainda não o conhece (embora existam no Blogson pelo menos duas de suas composições – a sofisticada “Margarida” e “Hoje ainda é dia de rock” – ambas excelentes.
A música de hoje é “Sobradinho”, gravada na época em que Guarabyra formava um trio com Luis Carlos Sá e o finado Zé Rodrix. Eu adoro essa música (e um dos motivos é porque consegui "tirá-la" no violão sem ajuda externa). Ela representa bem a marcha "inexorável" do progresso, pois fala da hidrelétrica de Sobradinho e das cidades inundadas durante a formação do lago da barragem.
Na época em que ouvi a música, achei curiosos os nomes dos municípios "afogados": Pilão Arcado, Remanso, Sento-Sé, Casa Nova e Sobradinho. Depois da barragem pronta, olhei o mapa e lá estavam aqueles nomes, identificando as cidades recriadas em outro lugar.
quarta-feira, 12 de março de 2025
CORRE, COELHO!
Ontem, às quatro da madrugada, levantei-me para lavar vasilhas. Por que fiz isso? Porque me sinto cada vez mais como o coelho de Alice no País das Maravilhas: sempre com pressa, sempre com uma sensação de urgência, sempre com a sensação de que não tenho mais tempo a perder – pois meu tempo está se acabando.
terça-feira, 11 de março de 2025
MEMÓRIAS JUVENIS DE TEMPOS SOMBRIOS - PARTE 2
Foi em 1969, quando estava fazendo curso preparatório para o vestibular da UFMG, que conheci o gás lacrimogêneo, ou melhor, os efeitos dele. O cursinho (que depois se transformou na maior empresa da área educacional do Brasil) funcionava em um sobrado antigo localizado nos limites da área central e a uma quadra da Faculdade de Direito da UFMG, outro “ninho” de manifestantes contra o regime. Para pegar o ônibus, eu precisava passar na região onde as manifestações eram mais exaltadas e barulhentas. E a reação da polícia mais intensa. Foi assim que senti o cheiro irritante (no sentido literal) de gás lacrimogêneo utilizado para dispersar manifestações.
- O DOPS
Para mim, o DOPS - Departamento de Ordem Política e Social era a única face conhecida dos órgãos de repressão policial, pois nem sonhava com a existência de endereços clandestinos onde os presos eram “moídos” por sádicos e psicopatas. Em BH, o prédio ficava dentro da área delimitada pela Avenida do Contorno, em um cruzamento de avenidas um pouco afastado do centro. A entrada ficava na principal avenida de BH. Quando, por qualquer motivo, tinha de passar perto daquele lugar sinistro de tantas histórias macabras já ouvidas, eu preferia atravessar a avenida e passar do outro lado, pois cagava de medo de alguém me abordar. Um desses casos escabrosos era sobre o interrogatório de um estudante universitário, que depois de negar dezenas de vezes a acusação de ser comunista, acabou se cansando e dizendo que era comunista.
- E por que você é comunista?
- Porque meu pai é comunista, meus vizinhos são comunistas, meu cachorro é comunista...
- Ah é? E se sua mãe fosse puta, o que você seria?
- Eu seria agente do DOPS.
Dizem que teria sido tão espancado que ficou retardado. Embora seja um bom retrato da época, duvido de sua veracidade. Quem teria tornado pública essa história? O preso? O policial? Ninguém?
Foi nessa época em que fiquei sabendo da prisão e exílio de músicos, atores, jornalistas e todo tipo de gente que tinha a audácia de escrever, compor músicas ou encenar peças que contivessem críticas aos detentores do poder.
- Convocação
Em 1970 aconteceu um caso engraçado. O presidente Medici pediu para que o Dario, artilheiro do Atlético mineiro, fosse convocado para a seleção que disputaria a copa do mundo no México. O técnico João Saldanha recusou, pois, apesar de goleador, o Dadá Maravilha era considerado perna de pau. Resultado: o Saldanha perdeu o posto de técnico da seleção e o Dario foi convocado. Mas como era reserva do Pelé, não jogou nem meio minuto.
- Jornaleco Filho da Puta!
O Pasquim era um jornalzinho semanal da imprensa alternativa, que chegou a vender mais de 200.000 exemplares por tiragem. Fazia oposição aberta à ditadura militar, mas usando o humor e o sarcasmo para driblar a censura. Suas sátiras políticas acabaram provocando a prisão no final de 1970 de praticamente todos os colabores. Apesar disso (e provável desgosto e irritação dos militares), continuou a ser vendido, tendo Millôr Fernandes como editor e a colaboração de artistas, cartunistas, escritores e intelectuais de todo tipo. Seu sucesso incomodou tanto o regime que grupos de extrema-direita partiram para a destruição de bancas de revistas que o vendiam, numa tentativa destemperada de quebrar financeiramente o jornal e de calar a oposição.
- Atentados a Bomba
Uma das coisas mais odiosas promovida pela ala mais radical da ditadura foi o uso de explosivos para silenciar os opositores do regime. Apesar da truculência própria dessa atitude, os atentados usavam métodos sofisticados. Um deles foi a utilização de cartas-bomba. Uma delas, endereçada ao presidente da OAB do Rio de Janeiro explodiu nas mãos de sua secretária, que veio a falecer.
- Queimando Bancas de Revista
Lá pela década de 1980, em uma das empresas onde trabalhei, fui colega de um senhor idoso, afável e muito simpático, tratado por todos como “Major”, sua última patente militar antes de ser reformado. Puxa-saco juramentado que sou, chamava-o de “Coronel”, patente adquirida automaticamente após a reforma.
Apesar da afabilidade e modos corteses, mantinha sobre sua mesa a guisa de peso de papeis, um protótipo de sua autoria (segundo ele!) para uma granada de mão – na prática, um cilindro de ferro oxidado de uns doze centímetros de altura e sete de diâmetro, oco por dentro, todo ranhurado externamente e com tampa de rosca – e pesado pra caramba. Buona gente, já se viu. Tinha trabalhado na área de inteligência do exército e foi ele que me contou esta história.
Com o objetivo de impedir a propagação de reportagens e artigos contra o regime, grupos radicais realizaram mais de 30 atentados contra bancas de jornal que vendiam publicações contra o regime. E as bancas, sem que ninguém soubesse como, começavam a pegar fogo e ficavam destruídas. Segundo o então major, ele foi designado com outras pessoas para descobrir o que estava acontecendo. Depois de algum tempo e provável interrogatório de prováveis autores, chegaram à conclusão de que o artefato incendiário (fabricado por quem entendia do assunto) era feito de alguma substância explosiva ao entrar em contato com o ar, envolta em cera de abelha. Colocadas sobre o telhado das bancas ou locais estratégicos, ficavam “hibernando” até que a cera fosse derretida pelo calor do sol. E o bicho então pegava. Infelizmente não me lembro dos detalhes corretos contados com um sorrisinho malicioso nos lábios, mas é algo assim.
- Inseguro
Em resumo, mesmo continuando anticomunista, mesmo sendo super inofensivo e inocente, mesmo podendo andar “em segurança” pelas ruas, eu me sentia como o protagonista do livro 1984, pois tinha mais medo da polícia que de eventuais bandidos.
Talvez tenha sido nessa época que comecei a perceber que se havia radicalismo extremado tanto na esquerda quanto na direita, também poderia existir moderação, uma "esquerda boa" e uma "direita boa". Talvez tenha sido a partir daí que eu entendi ser a “pista do meio” o melhor lugar para mim. E estas lembranças de tempos sombrios agora chegaram ao fim.
segunda-feira, 10 de março de 2025
MEMÓRIAS JUVENIS DE TEMPOS SOMBRIOS - PARTE 1
Há alguns dias tomei conhecimento de um diálogo entre duas senhoras idosas (provavelmente na minha faixa etária), em que uma delas, irritada com a excessiva badalação do filme, disse não ter havido tortura no Brasil, que isso não tinha acontecido. A amiga, puta da vida, reagiu asperamente:
- Fulana, como você pode mentir assim? Você deve se lembrar de que todos os dias nós duas passávamos ao lado do DOPS e muitas vezes ouvimos os gritos de presos sendo torturados! A quem você quer enganar?
E a amiga apenas abaixou a cabeça em silêncio.
Agora, voltando no tempo: nasci em junho de 1950, o que significa que tinha treze anos quando aconteceu o golpe militar (que minha família ultra católica apoiou, diga-se). Mesmo assim, apesar de favoráveis ao pé na bunda do Jango, ninguém ficou vacilando. Lembro-me nitidamente de meu pai nos dizendo para nunca falarmos com estranhos nem para comentar nada sobre o momento político/policial em que vivíamos.
Por ter sido criado nessa família conservadora, ultra católica e de direita, desde sempre eu fui anticomunista - mesmo que nem soubesse exatamente o que isso significava. E, para que fique registrado, continuo sendo. Mas, naquela época e com toda aquela juventude, “Esquerda” para mim era sempre sinônimo de “comunismo”. Apesar disso e graças aos governos militares pós 1964, eu nunca me preocupei em rever esses conceitos, justamente por não me interessar por política, um assunto que me orientaram a nunca discutir com ninguém.
Talvez por isso, as lembranças que carrego daquela época não tenham densidade suficiente para um roteiro de filme ou história a ser contada. Mesmo assim tentarei resgatar o que minha mente de jovem alienado e medroso guardou. Para isso, darei títulos aos pedaços de memória que consegui recuperar.
- Caindo a Ficha
Uma das primeiras coisas que chamaram minha atenção foi o fato de que, de repente, os postos-chave de várias empresas e órgãos públicos eram agora ocupados por pessoas sempre com "tenente", "capitão", "major" e outras patentes antes do nome próprio. Teria sido sempre assim? Obviamente não, mas nunca gastei meu tempo tentando entender isso. Aos poucos, muito devagar, fui percebendo que os militares que tinham livrado o país da ditadura do “comunismo ateu” apenas criaram outra forma de ditadura, pois perseguiam, puniam e até torturavam quem se atrevia a manifestar-se contra o governo.
- Sete de Setembro de 1965
Um evento que até mereceu um post nesta bagaça foi a participação de TODOS os colégios de BH no glorioso desfile de sete de setembro de 1965. E o motivo do post foi eu ter esfolado os dedos dos pés em um par de sapatos usados e um número menor do que usava, descartado por um de meus primos ricos. Para quem se interessar, o título do post é “Prego no Sapato”.
- Grade Curricular
Uma coisa que encheu meu saco foi a inclusão de mais uma matéria à grade escolar: a chatíssima “Educação Moral e Cívica”, substituída depois pela igualmente chata “Organização Social e Política do Brasil” – que chamávamos de OSPB. À boca pequena, diziam que um dos professores era dedo-duro do DOPS.
- CCC
No início de 1966, ao ser aprovado em processo de seleção, comecei a estudar no Colégio de Aplicação, um colégio espetacular, que funcionava como laboratório de novas técnicas pedagógicas da FAFICH - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. A faculdade ocupava um prédio moderno ao lado do casarão antigo onde funcionava o Aplicação. Para chegar ao colégio, localizado na zona sul, eu tinha de pegar dois ônibus. Nesse trajeto comecei a ver muros pichados com a sigla CCC. Em alguns havia a explicação para essas letras: “Comando de Caça aos Comunistas”. Vendo aquelas pichações comecei a ficar com um pouco de medo, apesar de sempre anticomunista. Pessoalmente eu não tinha nenhum motivo para ter medo, mas tinha.
O Marechal Castelo Branco, primeiro presidente militar pós 1964, disse esta pérola de agudeza política: “Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar.” Segundo o dicionário, vivandeira é “Mulher que vende ou leva mantimentos, seguindo tropas em marcha". Mas o mesmo dicionário informa o sentido figurado da palavra (e talvez o mais usual). "Vivandeiras" "São políticos e empresários que tentam seduzir os militares para que enveredem nos descaminhos da aventura política”. E esses eram os descaminhos trilhados pelos radicais do CCC e de outros grupos de extrema direita.
- O Pau Comendo
Nos anos de 1966 e 1967 eu estudava no turno da manhã. Nessa época a FAFICH era frequente palco de manifestações contra o regime, motivando a presença da Polícia Militar para controlar os ânimos. Eu saia quietinho, sem dar nem um pio, recusando os panfletos que alguns alunos do colégio e da faculdade distribuíam. Pelo medo orgânico sempre sentido e pela total apatia política, jamais participei de manifestações, jamais gritei palavras de ordem contra ou a favor de nada.
Como este texto está muito grande, será publicado em duas vezes.
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