sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NÉ? SEI...

 
Há tempos tenho tido a impressão de que o ser humano sempre aceitou melhor o autoritarismo e as ditaduras que a democracia. Tentando embasar este pensamento, comecei a fuçar a internet. Encontrei alguns textos bem interessantes, mas achei melhor guardá-los apenas para mim, por serem muito longos, quase dissertativos. Entretanto, ao ler uma notícia de deixar qualquer um pasmo, resolvi que talvez fosse interessante publicar pelo menos um desses "textões".
 
A notícia que me surpreendeu foi a seguinte: Durante o discurso de posse, o prefeito reempossado de uma cidade do sul do país disse as seguintes palavras:
"Eu quero que nesta tribuna e nas 6 mil casas legislativas municipais e no Congresso Nacional que um parlamentar ou qualquer um do povo que diga 'eu defendo a ditadura', ele não pode ser processado por isso, porque isso é liberdade de expressão".Mas eu também quero que aquele que defende o comunismo, o socialismo, que diz que não acredita na democracia liberal, ele não pode ser processado, porque isso é liberdade de expressão".
 
Acredito que ele não disse nada demais. Apenas defendeu o direito de alguém falar o que lhe der na telha, de expressar suas opiniões, mesmo que controversas (ainda que nem tudo, de fato, deva ser dito sem consequências), mas poderia ter ressaltado que a liberdade de expressão é uma característica essencial de regimes democráticos, não de ditaduras, sejam elas de esquerda ou direita.
 
Por isso, o primeiro texto que decidi publicar aborda justamente a democracia e o seu surgimento. Bora lá:
 
“Há evidências que mostram que, ao longo da história, o autoritarismo e as ditaduras frequentemente encontraram maior aceitação ou até apoio popular do que os regimes democráticos. Alguns pontos que sustentam essa ideia são:
 
1. História das Formas de Governo
A maior parte da história da humanidade foi marcada por regimes autoritários ou autocráticos, como monarquias absolutas, impérios e ditaduras. Democracias são, relativamente, uma novidade: só começaram a se consolidar em larga escala no final do século XVIII, com a Revolução Americana e a Revolução Francesa.
Regimes autoritários frequentemente são percebidos como mais naturais em contextos de escassez ou insegurança. Eles oferecem a promessa de ordem e estabilidade, que pode ser atrativa em tempos de crise.
Por outro lado, a democracia requer participação ativa, debate público e convivência com diferenças, o que pode ser percebido como mais trabalhoso e menos eficiente.
 
2. Psicologia Social e Obediência à Autoridade
Estudos clássicos em psicologia, como o experimento de Milgram, mostram que as pessoas têm uma tendência significativa a obedecer figuras de autoridade, mesmo quando isso entra em conflito com seus princípios morais. Esse comportamento pode ser uma explicação de por que regimes autoritários conseguem apoio, mesmo quando impõem sofrimento ou limitações.
 
3. Populismo e Apelo à Segurança
Em momentos de crise econômica, social ou política, regimes autoritários costumam se apresentar como uma solução rápida e direta para os problemas, enquanto democracias frequentemente são vistas como lentas ou ineficazes.
Exemplo: Após a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão, regimes autoritários como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha ganharam apoio popular.
A promessa de segurança e ordem pode ser mais sedutora do que os ideais abstratos de liberdade e participação.
 
4. Falta de Experiência Democrática
Sociedades sem uma tradição democrática longa e estável têm maior dificuldade em sustentar democracias. Isso ocorre porque a cultura política democrática — como o respeito às instituições, o valor da liberdade de expressão e a aceitação do pluralismo — leva tempo para se enraizar.
Exemplo: Após a descolonização na África e na Ásia, muitos países experimentaram democracias que rapidamente deram lugar a ditaduras ou regimes autoritários.
 
5. Críticas à Democracia
A democracia frequentemente é criticada por:
Produzir líderes medíocres devido à lógica eleitoral.
Ser vulnerável à manipulação por populistas e demagogos.
Demandar sacrifícios coletivos que podem parecer abstratos para a população.
Essas percepções podem levar as pessoas a aceitar governos autoritários que prometem eficiência e resultados, mesmo à custa de liberdades.
 
Evidências Contrárias
Apesar dessas observações, a democracia moderna tem se expandido nas últimas décadas. Em períodos de estabilidade e desenvolvimento econômico, muitas populações preferem democracias por causa dos direitos, liberdades e garantias individuais que oferecem. Mesmo assim, a aceitação de regimes autoritários em tempos de crise continua sendo uma realidade que desafia essa tendência.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

PERTO DA TÁBUA DA BEIRADA

 
Fim de ano é uma época meio estranha, época em que as pessoas trocam votos de feliz ano novo mesmo sabendo que nada mudará muito em relação ao ano que se encerra. As esperanças que quase nunca se concretizam são acompanhadas de orações de todo tipo e superstições do tipo pular ondinha. Alguns simplesmente utilizam as comemorações para comer feito um frade, encher a cara com tonéis de cerveja, soltar irritantes foguetes ou colocar o som na altura em que os astronautas em órbita consigam escutar. Resumindo, é uma época de excessos. 

Eu sempre fui do time do garfo, mas ultimamente tenho ficado meio borocoxô, melancólico ou, como dizia meu falecido amigo Pintão, “melanchólico”. Essa melancolia parece ter-se acentuado com o avanço ou chegada da velhice trazendo sua “caixa de inutilidades”. Por isso, o exame da lista dos famosos que morreram durante o ano, que era fruto apenas da curiosidade mórbida que sente boa parte da população, passou a ter também – por eu já estar perto da “tábua da beirada” – um gostinho de masoquismo. Pouco importa.

Só sei que a análise da faixa etária dos 110 famosos falecidos em 2024 traz a seguinte situação: quatorze deles estavam na faixa de 27 a 50 anos; vinte na faixa de 51 a 70; vinte e nove na faixa de 71 a 80 anos (a minha!); vinte e sete na faixa de 81 a 90 e 20 falecimentos na faixa de 91 a 108 anos. A morte mais recente é de Olívia Hussey, atriz que na juventude protagonizou o filme Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli. Eu não sei se tinha mais inveja do ator por ter abraçado e beijado aquela delícia de menina ou se ficava puto por ele arrancar suspiros de todas as adolescentes que viram o filme, pois ele era bonito pra kawaka, ou melhor, bonito pra caralho.
 
E por que estou divagando sobre a morte dos famosos? Porque pelo menos trinta e nove deles faziam parte do mosaico da minha memória, uns mais importantes e significativos, outros menos relevantes. Senti mais a morte do jogador alemão Beckenbauer que do Zagallo, mais do Washington Olivetto que do Silvio Santos, e por aí, mas cada peça que se descola ou se perde, por menor que seja, me deixa sempre um pouco triste, “desacorçoado”, cada um deles serve como marcador de um momento, de uma época da minha vida. E sua morte me faz lembrar destes versos do Belchior (ele também uma perda que eu lamento muito): 
"Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho: blackbird, o que se faz? Blackbird me responde: tudo já ficou pra trás, assum preto me responde, o passado nunca mais".

Se quiser saber quem são as trinta e nove personalidades que se desprenderam do meu mosaico, a lista é esta:
 
Abilio Diniz (87 anos) - Empresário
Adriano Falabella (70 anos) - Apresentador de BH, especialista em rock
Affonso Celso Pastore (84 anos) - Economista, ex-presidente do BC
Agnaldo Rayol (86 anos) - Cantor
Alain Delon (88 anos) - Ator
Alberto Fujimori (86 anos) - Ex-presidente do Peru
Anderson Leonardo (51 anos) - Cantor (Molejo)
Antonio Cicero (79 anos) - Escritor e compositor
Antônio Delfim Netto (96 anos) - Ex-ministro e economista
Arthur Moreira Lima (84 anos) - Músico
Caçulinha (86 anos) - Músico
Chrystian (67 anos) - Cantor
Cid Moreira (97 anos) - Jornalista
Dalton Trevisan (99 anos) - Escritor
Emiliano Queiroz (88 anos) - Ator
Françoise Hardy (80 anos) - Cantora
Franz Beckenbauer (78 anos) - Ex-jogador de futebol
Ibrahim Eris (80 anos) - Economista, ex-presidente do BC
Iran lima (88 anos) - Ator e diretor
Jacqueline Laurence (91 anos) - Atriz
Jimmy Carter (100 anos) - Ex-presidente dos EUA
José Santa Cruz (95 anos) - Ator, dublador, radialista e humorista
Maggie Smith (89 anos) - Atriz
Maguila (66 anos) - Lutador de boxe
Maria da Conceição Tavares (94 anos) - Ex-deputada e economista
Ney Latorraca (80 anos) - Ator e diretor
O.J. Simpson (76 anos) - Ex-jogador de futebol americano
Olivia Hussey (73 anos) – Atriz
Paulo César Pereio (83 anos) - Ator
Quincy Jones (91 anos) - Produtor musical
Roberto Frota (85 anos) - Ator, diretor e produtor teatral
Sérgio Cabral (87 anos) - Jornalista
Sergio Mendes (83 anos) - Músico
Shelley Duvall (75 anos) - Atriz (O Iluminado)
Silvio Luiz (89 anos) - Narrador esportivo
Silvio Santos (93 anos) - Apresentador de TV
Washington Olivetto (73 anos) - Publicitário
Wilson Fittipaldi (80 anos) - Ex-piloto da Fórmula 1
Zagallo (92 anos) - Ex-jogador e ex-técnico
Ziraldo (91 anos) - Desenhista e escritor
 
 
 

 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

NÃO TE RENDAS! - ANÔNIMO


Recebi este poema de meu amigo Fernando Caramuru, ele também um ótimo poeta. Um presente assim merece ser partilhado com os amigos e quem mais quiser, pois é como uma oração que nos aquece o peito e renova nossa esperança em nós mesmos e nos outros. Emocione-se sem medo.
 

Poema publicado no livro “Entre los poetas míos,,,” de Mario Benedetti.
 
Não te rendas, ainda é tempo
De se ter objetivos e começar de novo,
Aceitar tuas sombras,
Enterrar teus medos
Soltar o lastro,
Retomar o voo.
 
Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem,
Perseguir teus sonhos,
Destravar o tempo,
Correr os escombros
E destapar o céu.
 
Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda que o sol se esconda,
E o vento se cale,
Ainda existe fogo na tua alma.
Ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o tens querido e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não existem feridas que o tempo não cure.
Abrir as portas,
Tirar as trancas,
Abandonar as muralhas que te protegeram,
Viver a vida e aceitar o desafio,
Recuperar o sorriso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo
Celebrar a vida e se apossar dos céus.
 
Não te rendas, por favor, não cedas,
Ainda que o frio te queime,
Ainda que o medo te morda,
Ainda que o sol ponha e se cale o vento,
Ainda existe fogo na tua alma,
Ainda existe vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e o melhor momento
Porque não estás sozinho, porque eu te amo.

ELE RESSUSCITOU!

 
O imperador absoluto do blog A Marreta do Azarão deixou este comentário aqui no velho Blogson:
 
Dê uma olhada, acho que pode lhe render uma postagem, eu estou sem inspiração.
https://www.paulopes.com.br/2024/12/catolicos-de-igreja-suica-se-confessam.html#gsc.tab=0
 
O link sugerido tem o seguinte título: Católicos de igreja suíça se confessam com Jesus IA. Ele pode perdoar?”
 
Se um mestre da ironia e do sarcasmo está sem inspiração para malhar uma idiotice dessa, imagine eu com as sinapses cada vez mais em curto!
 
Só me permito fazer um breve comentário antes de passar a bola para a frente. Sinceramente, acho essa coisa de holograma de um mau gosto lascado. Não faz muito tempo a banda que acompanhou o Elvis Presley veio ao Brasil e fez shows com imagens do rei do rock projetadas em telão, pouco à frente da banda. O público não via contornos do telão e aquelas pessoas que estivessem um pouco mais distante do palco, teriam a nítida impressão de que Elvis realmente estava no palco, cantando. Picaretagem total! E como a banda se apresentava ao vivo, acabaram fazendo para o Elvis uma versão “ao morto”, concordam?
 
Recentemente, no velório de meu cunhado apareceu um religioso holográfico falando abobrinhas. Agora, J. Cristo holográfico? Confesso nem saber o que dizer. Por isso pedi ajuda ao ChatGPT para escrever alguma coisa minimamente irônica e saiu isto:
 
- Gostaria que conhecesse o texto a seguir e fizesse uma crítica bem humorada à ideia de um Jesus Cristo IA.
 
E a resposta foi esta:
Uma ideia como a de um Jesus Cristo IA merece uma crítica que misture reflexão e bom humor. Afinal, há algo deliciosamente irônico e provocativo em imaginar um holograma perdoando pecados ou aconselhando almas perdidas na solidão da internet. Vamos lá:
 
Jesus IA: Perdoa porque o algoritmo quer!
A instalação suíça “Deus in Machina” é, sem dúvida, um espetáculo: um Jesus holográfico que, programado com textos teológicos, está ali para... conversar. Mas será que ele "perdoa"? Bem, talvez só com um "if" e um "else".
Primeiro, é interessante notar como a máquina toca diretamente no coração da burocracia celestial. Para ser perdoado, é preciso um corpo, emoções, e quem sabe até um toque de exasperação humana, como o padre que escuta seu quinto pecado mortal em uma manhã de domingo. Jesus IA, infelizmente, não tem isso. Ele é puro código, sem os caprichos do free will.
 
Agora, não podemos ignorar o potencial cômico aqui. Imagine a IA respondendo confissões:
 
Penitente: "Eu roubei uma maçã da feira."
Jesus IA: "Isso é equivalente a 0,0001 unidades de pecado grave. Faça uma doação online para sua paróquia local e recite o CAPTCHA 10 vezes."
 
Além disso, há um detalhe prático: a IA, recomendando que não revelemos informações pessoais, parece mais preocupada com o GDPR do que com a alma. Um Jesus preocupado com vazamento de dados? Talvez estejamos testemunhando o surgimento do primeiro Cristo Compliance.
 
Do ponto de vista teológico, é uma revolução divertida, mas cheia de riscos. Afinal, se em tempos medievais a confissão pública era a norma, hoje temos Jesus IA em potencial como testemunha de pecados digitalizados. Imagine o apocalipse: não com sete trombetas, mas com o sistema dizendo “404: perdão not found.”
 
E para encerrar, vale lembrar que o confessionário tradicional já teve sua dose de inovação: desde a tela separadora para evitar "pecados extras" até as salas de reconciliação onde se pode confessar cara a cara. Mas nada disso se compara a um Cristo Holográfico. Seria um futuro onde os fiéis pedem perdão enquanto um chatbot responde: "Eu absolvo você... mas só depois que você confirmar que leu os Termos de Serviço."
 
No final das contas, uma coisa é certa: se Jesus IA realmente viesse, ele diria: "Amai-vos uns aos outros... e mantenham seus dados seguros." Amém?
 

 

LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NÉ? SEI...

  Há tempos tenho tido a impressão de que o ser humano sempre aceitou melhor o autoritarismo e as ditaduras que a democracia. Tentando embas...