Há tempos tenho tido a impressão de que o ser humano sempre aceitou melhor o autoritarismo e as ditaduras que a democracia. Tentando embasar este pensamento, comecei a fuçar a internet. Encontrei alguns textos bem interessantes, mas achei melhor guardá-los apenas para mim, por serem muito longos, quase dissertativos. Entretanto, ao ler uma notícia de deixar qualquer um pasmo, resolvi que talvez fosse interessante publicar pelo menos um desses "textões".
A notícia que me surpreendeu foi a seguinte: Durante o discurso de posse, o prefeito reempossado de uma cidade do sul do país disse as seguintes palavras:
"Eu quero que nesta tribuna e nas 6 mil casas legislativas municipais e no Congresso Nacional que um parlamentar ou qualquer um do povo que diga 'eu defendo a ditadura', ele não pode ser processado por isso, porque isso é liberdade de expressão".Mas eu também quero que aquele que defende o comunismo, o socialismo, que diz que não acredita na democracia liberal, ele não pode ser processado, porque isso é liberdade de expressão".
A maior parte da história da humanidade foi marcada por regimes autoritários ou autocráticos, como monarquias absolutas, impérios e ditaduras. Democracias são, relativamente, uma novidade: só começaram a se consolidar em larga escala no final do século XVIII, com a Revolução Americana e a Revolução Francesa.
Regimes autoritários frequentemente são percebidos como mais naturais em contextos de escassez ou insegurança. Eles oferecem a promessa de ordem e estabilidade, que pode ser atrativa em tempos de crise.
Por outro lado, a democracia requer participação ativa, debate público e convivência com diferenças, o que pode ser percebido como mais trabalhoso e menos eficiente.
Estudos clássicos em psicologia, como o experimento de Milgram, mostram que as pessoas têm uma tendência significativa a obedecer figuras de autoridade, mesmo quando isso entra em conflito com seus princípios morais. Esse comportamento pode ser uma explicação de por que regimes autoritários conseguem apoio, mesmo quando impõem sofrimento ou limitações.
Em momentos de crise econômica, social ou política, regimes autoritários costumam se apresentar como uma solução rápida e direta para os problemas, enquanto democracias frequentemente são vistas como lentas ou ineficazes.
Exemplo: Após a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão, regimes autoritários como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha ganharam apoio popular.
A promessa de segurança e ordem pode ser mais sedutora do que os ideais abstratos de liberdade e participação.
Sociedades sem uma tradição democrática longa e estável têm maior dificuldade em sustentar democracias. Isso ocorre porque a cultura política democrática — como o respeito às instituições, o valor da liberdade de expressão e a aceitação do pluralismo — leva tempo para se enraizar.
Exemplo: Após a descolonização na África e na Ásia, muitos países experimentaram democracias que rapidamente deram lugar a ditaduras ou regimes autoritários.
A democracia frequentemente é criticada por:
Produzir líderes medíocres devido à lógica eleitoral.
Ser vulnerável à manipulação por populistas e demagogos.
Demandar sacrifícios coletivos que podem parecer abstratos para a população.
Essas percepções podem levar as pessoas a aceitar governos autoritários que prometem eficiência e resultados, mesmo à custa de liberdades.
Apesar dessas observações, a democracia moderna tem se expandido nas últimas décadas. Em períodos de estabilidade e desenvolvimento econômico, muitas populações preferem democracias por causa dos direitos, liberdades e garantias individuais que oferecem. Mesmo assim, a aceitação de regimes autoritários em tempos de crise continua sendo uma realidade que desafia essa tendência.