domingo, 19 de janeiro de 2025

UMA FOLHA EM BRANCO

Creio que foi na década de 1980, quando a jornalista Leda Nagle ainda apresentava um telejornal da Globo aos sábados, que fiquei sabendo da existência de Lair Ribeiro. Eu sempre digo que engenheiro faz qualquer coisa para ganhar dinheiro. E o Dr. Lair Ribeiro é o equivalente na área médica do engenheiro, pois além de cardiologista de formação, é também “escritor de livros de autoajuda, nutrólogo e palestrante”. Mas naquela época eu só fiquei sabendo que era um cardiologista explicando os mecanismos e sutilezas do cérebro humano.
 
Segundo ele, o cérebro humano "trabalha" de forma distinta as metas e os sonhos. Sonhos expressam desejos que não têm prazo para acontecer, não têm quantidades, são pensamentos oníricos, sem conexão clara com a realidade. Quando alguém diz que morre de vontade de viajar para a Europa provavelmente morrerá antes de atingir esse objetivo. Já uma meta, segundo o médico, é algo que prepara o cérebro para a ação, pois envolve prazos e objetivos claros.
 
Nesse ponto a jornalista disse que desejava ganhar muito dinheiro no próximo ano e perguntou se isso era uma meta. O médico disse que para o cérebro "muito dinheiro" pode ser apenas um dólar a mais do que foi ganho no ano anterior (ele só falava em dólar). E que seria necessário ser mais explícita.
 
Voltando ao desejo de viajar para a Europa detalhou o que seria uma meta: Em que período do ano se pretende viajar; quais ou qual país se deseja conhecer; quantos dias imagina-se a duração da viagem; quantos dólares será preciso levar; onde se pretende hospedar, e assim por diante. E foi detalhando minuciosamente a meta.
 
Finalizando a entrevista, sugeriu que a jornalista e os ouvintes pegassem uma folha de "papel almaço" e anotassem metas de curto, médio e longo prazo, detalhando cada uma, para que o cérebro se preparasse para atingi-las. Confesso que fiquei vivamente impressionado com a entrevista e com a sensatez dos ensinamentos.
 
Tempos depois eu descobri que ele era um cardiologista que se desgarrou de sua formação profissional para vender livros e cursos motivacionais e de autoajuda, além de fascículos colecionáveis em bancas de revista. Vou me abster de dizer se considero picaretagem esse tipo de atividade, mas uma coisa precisa ser dita: nunca duvidei das orientações dadas durante aquela entrevista, pois pouco tempo depois, ainda entusiasmado com o que tinha ouvido e aprendido,  peguei uma folha de papel para escrever algumas metas e desejos. O primeiro e mais importante item seria criar uma empresa de engenharia, uma construtora.
 
Sentado à mesa da sala de jantar, caneta na mão, fiquei ali olhando a folha em branco, pronta para receber as anotações necessárias. Que nunca foram feitas.  Descobri naquele momento que se eu anotasse o meu desejo de ser dono de uma construtora, mesmo que fosse uma microconstrutora, precisaria começar a tomar providências para torná-lo realidade. E descobri que esse sonho por tanto tempo acalentado era apenas isso, um sonho.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Ryk@rdo, eu também gosto muito de ler seus belos e inspirados poemas.

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