Assim
como existe o culto, o culto e o cult, há também a cultura, a erudição e a
cultura inútil.
Depois de ler esta frase talvez você tenha
pensado que se idiotice pagasse imposto o Blogson estaria literalmente
quebrado, sem condições de honrar seus compromissos com o fisco. Mas eu
explico.
Como todos os evangélicos sabem, o
substantivo Culto é sinônimo de “Homenagem
prestada ao que é considerado sagrado ou divino, é a maneira através da qual
uma divindade é adorada” (obrigado, Google!).
O
adjetivo Culto serve
para qualificar uma pessoa que tem cultura, que é instruída, que tem
conhecimento sobre vários assuntos.
Já a palavra Cult é uma frescura de surgimento mais
recente e que serve para classificar pessoas e estilos mais descolados,
alternativos, menos corriqueiros ou populares. Um filme em preto e branco e com
legenda tem grande chance de receber o rótulo de Cult. Ou, por exemplo, um
disco de vinil da Tetê Spindola...
Por outro lado, Cultura, Erudição e Cultura Inútil são faces da mesma moeda – mesmo que não existam
moedas de três faces.
Há milhares de anos li ou
ouvi alguém ensinar a diferença entre cultura e erudição. Cultura, segundo esse
luminar, seria o conhecimento que se utiliza, enquanto erudição seria a
anabolização da cultura, o extravazamento do conhecimento ou, como diria minha
mãe, a cultura que “supita”, mais ou
menos como a água que sai pelo vertedouro de uma barragem. Ou seja, seria o
excesso de conhecimento, nem sempre ou quase nunca utilizado.
E cultura inútil, a mais
simpática das formas de cultura, seria uma espécie de versão tuite do
conhecimento, ideal para ser usada em conversas informais, mesas de botequins
ou até em blogs sem assunto, pois não precisa ser extensa nem ter qualquer
serventia; basta que seja interessante e que estimule a imaginação. Saber, por
exemplo, para que lado gira a água que desce pelo ralo de um lavatório no
hemisfério sul é de utilidade zero, mesmo sabendo que no hemisfério norte gira
no sentido contrário. Eu já soube, mas esqueci.
Um dia um leitor mais severo
corrigiu-me dizendo que não há cultura que seja inútil. Imediatamente concordei
com sua opinião, pois cultura, inútil ou não, é tudo de bom.
Na adolescência eu morria de
inveja de meu irmão por ele ter estudado espanhol e latim no colégio. Quando
chegou a minha vez, só havia sobrado francês e inglês. Imagino que ele não
aprendeu ou reteve nada dessas duas línguas tão simpáticas, mas me contou a
origem do nome das notas musicais, aprendida na aula de latim.
Na aula de latim, o professor ensinou esta oração (eu me
lembrava apenas dos versos Mira gestorum e Famuli tuorum, mas o Google me ajudou no
resto):
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
Um monge chegado em música
teria usado a primeira sílaba de cada verso para identificar as notas; e a
coisa pegou, com alteração da nota Ut,
transformada em Do. Mas não me
perguntem como surgiu o Si, pois aí
já nem é mais cultura inútil, é erudição inútil.
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