Meu caro sobrinho,
Você é incrivelmente novo, o mais novo dos
netos da Dona Lia e do Seu Amintas. Não repare a informalidade com que trato meus
pais, pois sei que eles gostavam muito do meu jeito avacalhado de chamá-los.
Pela timidez excessiva que deve tê-lo privado de muitas diversões, creio que
era "Seu Amintas" quem mais gostava de ver que eu tinha abandonado o tratamento
convencional de “papai” ou “pai”.
Moramos em cidades próximas, mas nunca ou
raramente nos encontramos desde a morte de sua avó. Uma das explicações para
isso é a esquisitice que pareço ter herdado da família de meu pai, gente
reclusa, tímida, arredia. Porque gosto demais de sua família (seu pai, minha
irmã e você). Acredite, gosto demais também de seu tio (com quem nunca mais
falarei). Mas estou desviando a conversa.
Voltando à sua juventude invejável - uma fase que nem todo o ouro do mundo substitui, espero sinceramente que não se enclausure, que não ceda à timidez que massacrou seu avô materno e também a mim. Pelo contrário, espero que siga e pratique plena e diariamente o conselho romano Carpe diem. Apesar disso – e por mais paradoxal que possa parecer – te faço o convite para conviver com os mortos.
Calma, eu sou normal! Não se trata de uma sugestão para frequentar algum centro espírita nem um convite gótico para fazer piquenique nos cemitérios. O convite é para “brincar de detetive” e tentar descobrir até onde for possível seus antepassados através do site da Igreja Mórmon. Posso te dizer que para um católico quase ateu como hoje me considero, o que menos importa para mim é o caráter religioso da busca e registro dos antepassados.
O grande barato dessa pesquisa é tentar
descobrir informações perdidas até por quem deveria tê-las. A título de exemplo
cito o caso de minha sogra. Sua mãe biológica morreu quando ela tinha apenas
quatro anos. Com a mãe morreram também duas crianças gêmeas. Essa era a
informação conhecida por meus cunhados.
Pois bem, empenhado em resgatar mais informações sobre essas pessoas, entrei no site e fui pesquisando pelos sobrenomes conhecidos do pai e da mãe biológica. Acredite, descobri que não eram apenas duas crianças, eram três, todas mais novas que minha sogra. Descobri o nome dos avós maternos, dos avós paternos e mais uma penca de informações que minha sogra - criada como filha pela segunda esposa de seu pai – desconhecia totalmente.
Depois disso mergulhei no site tentando descobrir minha própria árvore genealógica; bisbilhotei informações sobre irmãos de meu avô materno, parentes e cunhados de minha mãe. Para chegar nesses resultados precisei pesquisar nomes semelhantes surgidos graças a grafias erradas, com inclusão, alteração ou supressão de letras ou sobrenomes, o que acabou sendo uma diversão infernal (sem precisar pesquisar os arquivos do capetão).
E é isso que eu queria te contar. Pesquisar
essas lembranças, esses nomes antigos, essas informações esquecidas encaixa-se
no meu pensamento, de que as pessoas comuns, desconhecidas, aquelas que não têm
livros publicados, nomes em escolas, viadutos ou ruas, aquelas com que ninguém se
importa nem desconfia de terem existido, essas pessoas só permanecerão “vivas”
enquanto alguém conhecer um caso, uma data, um retrato, um nome que possa
identificá-las. Depois disso serão definitivamente transformadas em poeira da
história. Voltando à minha sogra, o único retrato conhecido
que ela possuia da mãe biológica (carinhosamente guardado para ela pela mãe de criação) foi perdido em algum momento. Talvez minha sogra se lembrasse
de suas feições, mas só ela viu esse retrato. E ela faleceu há três anos.
Por isso, refaço o convite: no dia que não
tiver programa melhor para fazer (e eu espero que sempre tenha) embarque nesse
divertido “jogo da árvore genealógica” (que é viciante). Ah, quase ia me esquecendo: o site é este: https://www.familysearch.org/pt/ Abraços.
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