quinta-feira, 11 de agosto de 2022

QUANDO O ASSUNTO É MÚSICA

 
Uma das coisas mais irritantes é perder um texto inteiro graças à distração diante da mensagem “Deseja salvar as alterações do Documento 2?” O clique distraído que fiz no “Não” provocou exatamente isso, perda total do que iria postar no blog. Repetindo a piada de um antigo colega, “até Jesus salva, só o Botelho que não”. Foda!!!!!!!!!!!
 
Não era um grande texto, era até bastante sofrível, mas já estava pronto! Como “eu sou brasileiro e não desisto nunca” (de mentir, naturalmente), tentarei refazer o texto original. Pensando bem, vou manter a ideia central e reescrever o resto.
 
O lance é o seguinte: nós, brasileiros, sempre fomos consumidores de música estrangeira. Diria mesmo ávidos consumidores. Nada contra isso, pois música boa teoricamente não tem nacionalidade. Mas não levemos esta observação às últimas consequências, pois pelo menos eu teria dificuldade de ouvir música chinesa, japonesa ou cantada em alguma outra língua cuja sonoridade seja totalmente estranha para mim.
 
Eu sempre gostei de ouvir músicas em inglês. Pode ser complexo de vira-lata ou porque gosto de rock desde quando ouvi esse ritmo pela primeira vez. Ouvir músicas brasileiras mais sofisticadas e elaboradas foi uma espécie de upgrade musical. Milton Nascimento, por exemplo, eu precisei primeiro desejar ouvir suas melodias e letras “estranhas” para só depois conseguir gostar delas.
 
Hoje eu continuo tentando me manter atualizado em relação à música que é produzida no Brasil, tarefa difícil, pois sertanejo, funk e pagode são os estilos predominantes atualmente. Por isso, o Youtube é para mim a porta de entrada para canções e intérpretes desconhecidos.
 
Estou falando muito sem conseguir me aproximar do que realmente desejo dizer. Como havia dito, somos consumidores de música estrangeira, majoritariamente cantada em inglês. Por isso, quando vejo o inverso disso acontecer a primeira reação é de espanto, perplexidade. Talvez o motivo disso seja explicado pela frase do Millôr Fernandes: “Ser brasileiro me deixa sempre um pouco subdesenvolvido”.
 
E essa é a questão: esse sentimento de inferioridade balança quando descubro que são os gringos – mais até que os brasileiros – que amam e valorizam a boa música composta nesta Terra de Santa Cruz. E nem estou falando dos medalhões que têm ou tiveram público nas estranjas, tipo Tom Jobim, Milton Nascimento, Ivan Lins, Roberto Carlos e outros.
 
O que me deixou chapado foi descobrir um grupo de jovens na faixa etária onde imagino que estão onze dos doze amigos e amigas virtuais do blog, gente na faixa dos vinte a trinta e cinco anos, por aí. Esse pessoal curte música brasileira antiga! Curte, toca e canta músicas que eu duvido que a maioria dos jovens brasileiros conheça.
 
Que você pensaria se eu dissesse que alguns desse grupo de jovens músicos da Catalunha já gravaram “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa? Já ouviu falar de Noel Rosa? Parabéns! E “Carinhoso”, de Pixinguinha, conhece também? Não? Eles conhecem.
 
Que você diria ao saber que uma jovem cantora e instrumentista (trombone) de vinte e poucos anos apresentou-se na França cantando e tocando “Doce de Coco”, um choro maravilhoso de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho? Não conhece a música? Nem mesmo os compositores? Tudo bem, pois o caso mais bizarro eu conto agora:
 
Quatro jovens, quatro meninas apresentaram-se em algum festival da Espanha cantando “Baião de Quatro Toques”, de José Miguel Wisnik e Luiz Tatit. Eu nunca tinha ouvido falar nessa música! E as quatro lá, cantando em português! Muita humilhação para mim.
 
Então é este o recado: somos um pouco subdesenvolvidos em relação à nossa própria música, pois o que desconhecemos ou deixamos de apreciar é filé para músicos estrangeiros. E com o agravante de às vezes serem jovens, muito jovens.
 
Para encerrar este texto que ficou totalmente diferente do que foi deletado, transcrevo a letra da música “Doce de Coco” lindamente interpretada pela jovem catalã Rita Payés
 
Venho implorar
Pra você repensar em nós dois,
Não demolir o que ainda restou pra depois.
Sabes que a língua do povo
É contumaz traiçoeira
Quer incendiar desordeira, atear fogo ao fogo.
Tu sabes bem quantas portas tem meu coração
E dos punhais cravados pela ingratidão;
Sabes também quanto é passageira essa desavença.
Não destrates o amor!
 
Se o problema é pedir, implorar
Vem aqui, fica aqui!
Pisa aqui neste meu coração
Que é só teu, todinho teu!
O escorraça e faz dele de gato e sapato
E o inferniza e o ameaça
 Pisando, ofendendo, desconsiderando
Descomposturando com todo vigor.
 
Mas se tal não bastar
O remédio é tocar
 Esse barco do jeito que está
Sem duas vezes se cogitar.
Doce de coco, meu bom-bocado,
 Meu mau pedaço
De fato és um esparadrapo
Que não desgrudou de mim.
 
 

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