quinta-feira, 25 de agosto de 2022

TEMPO DE PLANTAR

 
Minha mulher tem um parente tranquilo, casado, bem resolvido financeiramente e que gosta de escrever mensagens longas no Facebook. A mais recente faz alusão às próximas eleições para presidente. Por ser tranquilo e moderado, nunca declarou explicitamente com qual dos dois principais candidatos se identifica, embora eu desconfie quem será merecedor do seu voto.
 
Por isso, ainda embalado pela leitura dinâmica que fiz das notícias sobre a entrevista (que não assisti) do inacreditável mito (ou melhor, do desacreditado mito. Como acreditar em alguém que disse uma mentira a cada três minutos?), fiz um comentário sobre o texto no próprio Facebook. Depois, resolvido a publicar minha resposta no blog (projeto memória, entende?), precisei pinçar algumas frases escritas por ele para dar sentido ao meu comentário.
 
“Há um tempo de plantar e um tempo de colher. A plantação você decide, a colheita é obrigatória”.
“Não importa qual é o candidato de sua preferência, não estou aqui para discutir e muito menos doutrinar”.
“A imprensa mais nos confunde do que elucida, na internet os veículos viraram torcida”. 
“Tanta mentira, tanto Photoshop, tanta edição, que a ética foi pro polo norte e só volta depois do segundo turno. E não há lado melhor que o outro, todos jogam sujo”.
“Um supremo que excede em seu poder e lamentavelmente não é bússola de mais nada”.
“Estamos precisando de alguém, enquanto não temos o futuro líder, que será eleito com gosto, pois de desgosto já estamos cheios”.
 
Depois de ler essas frases serenas e sensatas, resolvi enfiar o pé na jaca e saiu isto:
 
Prezado amigo “Afonsinho” (lembrou uma música do Gilberto Gil),
A “imprensa”, nenhuma imprensa, nunca foi, é ou será totalmente isenta, pois sua linha editorial sempre refletirá a visão de quem a escolheu e definiu. Para ser isenta ela precisaria ser apenas um relatório, uma lista, um check list de fatos e datas. Mesmo assim, os fatos poderiam ser ordenados de acordo com a preferência de quem os publica. Se você retroagir um pouco no tempo verá que o magnata das comunicações Assis Chateaubriand (33 jornais, 18 revistas, 24 emissoras de rádio, 18 emissoras de televisão e 2 agências de notícias  e publicidade) publicava e autorizava a publicação em seus jornais apenas o que ele aprovasse. Um dia chamou um de seus excelentes profissionais e deu aquela “escamada”: Se quiser ter opinião, monta um jornal só para você; na minha revista você defende a minha opinião”.
 
Quanto aos ministros do STF ou de qualquer outro tribunal sua “isenção” só será melhorada (mas nunca totalmente alcançada, pois são humanos) no dia em que o presidente da república não puder mais indicá-los, no dia em que os novos magistrados sejam escolhidos apenas pelo voto de seus pares, sem sabatina no Congresso, sem QI.
 
O escritor e historiador Capistrano de Abreu defendia uma reforma na Constituição, que teria apenas dois artigos:
Artigo 1º – Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo 2º – Revoguem-se as disposições em contrário.
 
Já Rui Barbosa, o “Cabeção de Haia”, escreveu este manjado e primoroso texto: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Impossível contestar.
 
Por isso, precisamos ter esperança, até mesmo para não nos desesperarmos pelo futuro que nossos filhos e netos enfrentarão. Mas, no momento atual, só posso dizer como os italianos: “Siamo tutti fotuti”. Abração.

 

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