segunda-feira, 22 de agosto de 2022

"JAMAIS VOLTAREMOS A ESTAR JUNTOS" - RUBEM BRAGA

 
Promessa feita, promessa paga. Como sabem algumas pessoas, estou relendo um livro de crônicas do meu ídolo máximo Rubem Braga. Muitas delas viraram posts do Blogson pelo puro encantamento que provocaram em mim. Hoje, continuando com a releitura, descobri um trecho que se encaixou como peça de Lego no que penso há muito tempo.

Quando amigos ou amores se separam, jamais conseguirão continuar como já foram um com o outro; não fazem mais parte do mesmo tronco, cresceram como galhos de uma mesma árvore, cada um apontando para sua própria direção.
 
Esse é o motivo por jamais ter tido vontade de participar de encontros de ex-colegas de faculdade. Para mim, além de lembranças de sacanagens e micos antigos, são encontros transformados apenas em desfiles de egos e exibição de prosperidade e sucesso profissional ou contabilidade dos que já morreram. E o Rubem Braga fala disso com muito mais elegância e sensibilidade. Por isso resolvi transformar em post apenas o trecho com que me identifiquei.
 
 
“Antigamente era fácil pensar que a vida era algo de muito móvel, e oferecia uma perspectiva infinita e nos sentíamos contentes achando que um belo dia estaríamos todos reunidos em volta de uma farta mesa e nos abraçaríamos e muitos se poriam a cantar e a beber e então tudo seria bom. Agora começamos a aprender o que há de irremissível nas separações.
 
Agora sabemos que jamais voltaremos a estar juntos; pois quando estivermos juntos perceberemos que já somos outros e estamos separados pelo tempo perdido na distância. Cada um de nós terá incorporado a si mesmo o tempo da ausência. Poderemos falar, falar, para nos correspondermos por cima dessa muralha dupla; mas não estaremos juntos; seremos duas outras pessoas, talvez por este motivo, melancólicas; talvez nem isso”.

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