Este é um texto-resposta a um comentário feito pelo leitor "Inominável Ser": "Estou em um
estado atual de tanto recusar a Religião quanto a Espiritualidade”.
Mesmo não tendo formação na área, penso e
acredito que uma das reações básicas que surgiram com a Vida foi a necessidade dos
seres vivos de proteger sua membrana celular, suas escamas, sua pele ou suas
penas. Resumindo, de se proteger dos predadores.
Parece claro que quanto maior o nível de
consciência mais efetiva ou rápida deveria ser a capacidade de reação.
Herbívoros na savana africana precisam ter fôlego e velocidade de atleta
olímpico para escapar de leões, guepardos e companhia limitada.
E a religião, onde entra nessa história? Bom,
deixando claro que esse é apenas meu pensamento, ela foi surgindo graças à
capacidade dos humanos de ter dúvidas, medos e fazer perguntas mais complexas que simplesmente relacionadas à obtenção de comida ou à defesa dos predadores
tradicionais. Doenças inexplicáveis, fenômenos naturais incontroláveis e
imprevisíveis, tudo isso foi entrando no "check list" dos medos dos humanos.
Quem ou o que mandou o raio que matou meu
irmão ou destruiu uma árvore? Quem ou o que criou esse frio insuportável, essa
fraqueza inexplicável, essas feridas purulentas, essa inundação destruidora?
Duvido que um urso tenha esse tipo de inquietação, mas os humanos tiveram. E se
não encontravam no mundo natural respostas para essas primeiras perguntas, a
solução era apelar para o sobrenatural.
A partir daí a “porta” foi se alargando e
todo tipo de coisa inexplicável potencialmente perigosa ou motivo de alegria
foi sendo jogada no colo das divindades imaginadas, pressentidas ou criadas.
Claro que nem todos os humanos sapiens reagiram ou reagem da mesma forma.
Imagino que existiram ateus desde a infância da humanidade; alguns puderam
viver tranquilamente com sua (des)crença, mas outros devem ter comido o pão que o
diabo não amassou.
E onde pessoas como eu entram nessa viagem? Li
em algum lugar sobre a existência de um “gene da religiosidade”. Não me lembro
mais se isso foi dito a título de piada ou se há uma suspeita sincera sobre
essa possibilidade. Não sei se há algum componente genético nessa história, só
sei que se o tal gene existe ele faz
parte de meu DNA. Porque sempre, desde a adolescência, minha inquietação
religiosa só fez aumentar.
Talvez a explicação para isso esteja bem
definida nesta frase de Teilhard de Chardin: “A religião é para aqueles que precisam de alguém que lhes diga o que
fazer e querem orientação. A Espiritualidade é para aqueles que prestam atenção
à sua voz interior”.
Eu era esse sujeito, o cara que pelas próprias inseguranças e medos precisava de Alguém que me amparasse, que me guiasse e mostrasse que eu não estava sozinho comigo mesmo. E ainda preciso, mesmo depois de ter lido o livro destruidor de crenças “Sapiens”, do Yuval Harari, pois se muita coisa mudou na minha cabeça, ainda sou uma espécie de "homo spiritualis", um homem espiritualizado ou, como cantou o Erasmo Carlos, “sou uma criança que não entende nada”.
Hoje, para mim, as religiões são uma espécie
de rocha sedimentar formada por camadas e mais camadas de crenças, fatos
históricos, interpretações, ignorância, rituais e até má fé que foram se
depositando ao longo do tempo. Apesar disso, não renego a experiência religiosa
– que pode ser má ou benéfica dependendo do uso que se faça dela. Mas a
espiritualidade – e por isso compartilhei o texto do padre jesuíta – não é boa
nem ruim, justamente por estar entranhada em maior ou menor grau na forma de
ver o mundo e a Vida que cada pessoa traz dentro de si.
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