segunda-feira, 29 de agosto de 2022

MEU CARO OZY...

 
Meu caro Ozy, gostei muito do seu comentário, gostei mesmo. Acho bacanérrima uma autocrítica serena (contando de sua migração da esquerda radical para a direita), pois nem todos conseguem (ou não querem) verbalizar um pouco do que sentem ou pensam. Por isso, na mesma linha, vou fazer um comentário ao que disse, contando de minha migração da direita para o centro (não confundir com Centrão).
 
Por ter sido criado em uma família conservadora, ultra católica e de direita, desde sempre eu fui anticomunista - mesmo que nem soubesse exatamente o que isso significava. Para mim, “esquerda” era sempre sinônimo de “comunismo”. Apesar disso e graças aos governos militares pós 1964, eu nunca me preocupei em rever esses conceitos, justamente por não me interessar por política, um assunto que me orientaram a nunca discutir com ninguém.
 
Só para registrar, em 31 de março de 1964 eu tinha apenas 13 anos. Aos poucos, muito devagar, fui percebendo que os militares que tinham livrado o país da ditadura do “comunismo ateu” apenas criaram outra forma de ditadura, pois perseguiam, puniam e até torturavam quem se atrevia a manifestar-se contra o governo. 
 
Por conta disso e sem entender nada do que estava acontecendo,  comecei a ver militares ocupando cargos e funções que nunca tinham ocupado antes, senti cheiro de gás lacrimogêneo utilizado para dispersar manifestações, fiquei sabendo da prisão e exílio de músicos, atores, jornalistas e todo tipo de gente que tinha a audácia de escrever, compor músicas ou encenar peças que contivessem críticas aos detentores do poder.
 
E eu lá, sempre anticomunista, mas com o cu na mão. Pessoalmente eu não tinha nenhum motivo para ter medo, mas tinha. Talvez eu tenha começado a perceber que dependendo do nível de radicalismo, a direita pode ser tão cruel e nefasta quanto a esquerda. Isso também significa reconhecer que pode haver moderação tanto na esquerda quanto na direita, esquerda boa e direita boa. Talvez tenha sido a partir daí que eu entendi ser a “pista do meio” o melhor lugar para mim. Daí, bem mais tarde, surgiu minha “teoria do triângulo isósceles”.
 
Justamente por essa descrença nas qualidades dos extremos é que passei a votar sempre tentando imaginar qual candidato poderia ser melhor para o país, pois, pode acreditar, eu nunca votei em ninguém de olho apenas em meu benefício pessoal. Justamente por isso votei no Lula contra o Serra, votei no Alckmin contra o Lula, no Aécio contra a Dilma e no Bolsonaro contra o Haddad.
 
Mas o Bolsonaro conseguiu romper o meu equilíbrio emocional com suas decisões equivocadas durante a pandemia de Covid 19. A partir daí, eu que sempre torci para que ele fizesse um bom governo, passei a odiá-lo por ser o responsável direto pela morte de milhares de pessoas que poderiam ter sido salvas se tivessem sido vacinadas a tempo. A morte de amigos e pessoas próximas fez surgir em mim a certeza de que NUNCA MAIS ele receberá meu voto.
 
Por isso, não consegui assistir sua entrevista ao Jornal Nacional. E pelo ranço antigo de não me interessar por política acabei também deixando de assistir as outras entrevistas. Por isso, quando você diz que o Bonner “afagou” o Lula não tenho como contestar. Apenas lembro o que escrevi no início do post que motivou este comentário gigantesco:
 
A entrevista do Bolsonaro na Rede Globo serviu para mostrar que ‘realidade’ é aquilo em que as pessoas acreditam. Apesar da transmissão ter sido a mesma exibida em todos os televisores de quem teve saco para assistir (eu dormi), para os bolsonaristas o Mito estraçalhou o Bonner e sua colega. Para os não bolsonaristas ele é que foi jantado”.
 
Para finalizar este comentário e só lembrando que eu nunca deixei de ser um sonhador, meu voto (se eu me animar a votar) no primeiro turno será dado para uma candidata que desconhecia e que graças à sua atuação na CPI da Covid passei a admirar . Ela passará para o segundo turno? Respondo usando uma imagem bíblica: será mais fácil fazer “um camelo passar pelo buraco de uma agulha”. Pouco importa, meu voto será o registro eletrônico do meu sonho e do meu desejo. Abraços.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...