Meu caro Ozy, gostei muito
do seu comentário, gostei mesmo. Acho bacanérrima uma autocrítica serena (contando
de sua migração da esquerda radical para a direita), pois nem todos conseguem (ou
não querem) verbalizar um pouco do que sentem ou pensam. Por isso, na mesma
linha, vou fazer um comentário ao que disse, contando de minha migração da
direita para o centro (não confundir com Centrão).
Por ter sido criado em uma
família conservadora, ultra católica e de direita, desde sempre eu fui
anticomunista - mesmo que nem soubesse exatamente o que isso significava. Para
mim, “esquerda” era sempre sinônimo de “comunismo”. Apesar disso e graças aos
governos militares pós 1964, eu nunca me preocupei em rever esses conceitos,
justamente por não me interessar por política, um assunto que me orientaram a
nunca discutir com ninguém.
Só para registrar, em 31
de março de 1964 eu tinha apenas 13 anos. Aos poucos, muito devagar, fui
percebendo que os militares que tinham livrado
o país da ditadura do “comunismo ateu” apenas criaram outra forma de ditadura,
pois perseguiam, puniam e até torturavam quem se atrevia a manifestar-se contra
o governo.
Por conta disso e sem
entender nada do que estava acontecendo, comecei a ver militares ocupando cargos e
funções que nunca tinham ocupado antes, senti cheiro de gás lacrimogêneo
utilizado para dispersar manifestações, fiquei sabendo da prisão e exílio de
músicos, atores, jornalistas e todo tipo de gente que tinha a audácia de
escrever, compor músicas ou encenar peças que contivessem críticas aos
detentores do poder.
E eu lá, sempre
anticomunista, mas com o cu na mão. Pessoalmente eu não tinha nenhum motivo
para ter medo, mas tinha. Talvez eu tenha começado a perceber que dependendo do
nível de radicalismo, a direita pode ser tão cruel e nefasta quanto a esquerda.
Isso também significa reconhecer que pode haver moderação tanto na esquerda
quanto na direita, esquerda boa e direita boa. Talvez tenha sido a partir daí
que eu entendi ser a “pista do meio” o melhor lugar para mim. Daí, bem mais
tarde, surgiu minha “teoria do triângulo isósceles”.
Justamente por essa
descrença nas qualidades dos extremos é que passei a votar sempre tentando
imaginar qual candidato poderia ser melhor para o país, pois, pode acreditar,
eu nunca votei em ninguém de olho apenas em meu benefício pessoal. Justamente
por isso votei no Lula contra o Serra, votei no Alckmin contra o Lula, no Aécio
contra a Dilma e no Bolsonaro contra o Haddad.
Mas o Bolsonaro conseguiu
romper o meu equilíbrio emocional com suas decisões equivocadas durante a
pandemia de Covid 19. A partir daí, eu que sempre torci para que ele fizesse um
bom governo, passei a odiá-lo por ser o responsável direto pela morte de
milhares de pessoas que poderiam ter sido salvas se tivessem sido vacinadas a
tempo. A morte de amigos e pessoas próximas fez surgir em mim a certeza de que NUNCA
MAIS ele receberá meu voto.
Por isso, não consegui
assistir sua entrevista ao Jornal Nacional. E pelo ranço antigo de não me
interessar por política acabei também deixando de assistir as outras
entrevistas. Por isso, quando você diz que o Bonner “afagou” o Lula não tenho como contestar. Apenas lembro o que
escrevi no início do post que motivou este comentário gigantesco:
“A entrevista do
Bolsonaro na Rede Globo serviu para mostrar que ‘realidade’ é aquilo em que as
pessoas acreditam. Apesar da transmissão ter sido a mesma exibida em todos os
televisores de quem teve saco para assistir (eu dormi), para os bolsonaristas o
Mito estraçalhou o Bonner e sua colega. Para os não bolsonaristas ele é que foi
jantado”.
Para finalizar este comentário e só lembrando
que eu nunca deixei de ser um sonhador, meu voto (se eu me animar a votar) no
primeiro turno será dado para uma candidata que desconhecia e que graças à sua atuação na CPI da Covid passei a
admirar . Ela passará para o segundo turno? Respondo usando uma imagem bíblica: será
mais fácil fazer “um camelo passar pelo buraco
de uma agulha”. Pouco importa, meu voto será o registro eletrônico do meu
sonho e do meu desejo. Abraços.
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