terça-feira, 16 de agosto de 2022

PRIMITIVISMO

Eu sempre me espanto com as atitudes e reações infantis – mesmo sem ser inofensivas ou menos preocupantes – de amigos e conhecidos que se comportam como ou se declaram abertamente apoiadores irrestritos de nosso atual presidente. Vestem-se de verde e amarelo em manifestações públicas, são agressivos nas redes sociais, compartilham notícias e informações falsas sem nenhum pudor, etc.

 

Essas reações apaixonadas sempre me surpreendem – como já me surpreenderam também as atitudes de apaixonados pelo ex-presidente Lula, capazes até de acampar perto do lugar onde esteve preso um tempo. Sinceramente, não consigo entender que alguém mereça essa devoção, esse “amor”. Por isso, de vez em quando me pego perguntando o que leva algumas pessoas a esse tipo de comportamento. Dias atrás, o site da BBC News publicou dois artigos (longos) muito interessantes sobre o que é bolsonarismo e lulismo ou petismo.

 

Desses artigos eu extraí um texto que foi publicado no Estadão em 2014 e escrito pelo jurista e professor da USP Conrado Hübner. Esse texto seria a introdução de um artigo intitulado “Reféns do Bolsonarismo” e começa assim:

 

O Brasil tem assistido a surtos agudos de primitivismo político. O fenômeno não é de direita nem de esquerda, não é de oposição nem de situação, não é conservador nem progressista. Merece outro adjetivo porque não aceita, por princípio, a política democrática e as regras do jogo constitucional. Esforça-se em corroê-las o tanto quanto pode. Não está disposto a discutir ideias e propostas à luz de fatos e evidências, mas a desqualificar sumariamente a integridade do seu adversário (e, assim, escapar do ônus de discutir propostas e fatos). Cheio de convicções, é surdo a outros pontos de vista e alérgico ao debate. Não argumenta, agride. Dúvidas seriam sinais de fraqueza, e o primitivo quer ser tudo menos um fraco. Suas incertezas ficam enrustidas no fundo da alma.

 

Bom, como só conheço essa parte do artigo, a conclusão a que cheguei (e que pode não ser a opinião do autor) é que bolsonaristas e petistas raiz ou, em outras palavras, radicais de qualquer ideologia, são politicamente primitivos, “cheios de convicções” e avessos a repensar ou discutir sua visão de mundo. Minha conclusão serve para alguma coisa? Não, mas gostei de ter chegado a ela.


4 comentários:

  1. É uma reflexão interessante. Discordo dela? Sem dúvida. Vejo como vulgar as comparações entre Lula e Bolsonaro. Por razões simples. E antes que eu seja acusado de algo, me acuso antes. No primeiro turno votarei no PCB (Sofia Manzano, 21). No segundo, se houver, no Lula, caso seja contra o Bostô. Voltando ao assunto. As comparações me parecem equivocadas por uma simples verificação do que se encontra na experiência política (na práxis). Entre inúmeras outras coisas, temos as seguintes diferenças: Bolsonaro vive atacando a dita "democracia" e até mesmo representantes de outras nações, gerando mal estar entre países (vide o absurdo de falas sobre a China, nossa maior parceira econômica); Lula não, era conhecido no mundo como um líder absoluto (vide relações com américa do sul e países asiáticos). Bolsonaro elevou a inflação, Lula não (considere a inflação como algo planejado, pois é o instrumento burguês de concentração de renda); Bolsonaro não desenvolveu programas sociais e sempre atacou os existentes; Lula fez o contrário, ainda que possam questionar tais programas, mas fez. Lula desenvolveu o SUS, Bolsonaro o destruiu. Lula criou um dos maiores programas de vacinação do mundo, já Bolsonaro, não preciso dizer. Lula desenvolveu o ProUni, foi o maior criador de universidades federais e também deixou o caixa do país no azul, com a criação do banco do BRICS e estoques em dólar (veja a evolução de quanto dinheiro o Brasil tinha em caixa antes e depois do Lula); E Bolstonoro? Destruiu faculdades, impediu o desenvolvimento do Brics e do Mercosul e torrou a reserva de grãos.
    Enfim... do meu ponto de vista, essa fiada "polarização" não existe. Não há semelhanças tão acentuadas quanto as diferenças. E política sem "extremos" é o quê? Extremo-centro? Nem direita nem esquerda? Foguete então?!

    E isso que não sou petista. Pois acho que o PT é moderado demais e esse discurso social desenvolvimentista está atrasando possíveis revoluções proletárias. Mas não é comparável ao projeto de destruição do Bolsonero. Ainda que não seja estranho ele ter ganhado a eleição passada, já que o Estado é o simples instrumento burguês de mediação de conflitos de classe, a favor da classe dominante, claro. E não surpreende que os veículos de comunicação voltem a fazer campanha (ainda que velada) a favor do dito cujo.
    (Novamente, minha opinião; é sempre bom ver argumentações em contrário). Abraçaço.

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    1. Meu caro GRF, bom te ver por aqui! Já aviso que terei imensa dificuldade em responder ao seu comentário, por não ter seu conhecimento sobre esse assunto indigesto que é a política e também por insistir que o equilíbrio sempre será para mim a melhor opção (vide post “Triângulo Isósceles). Tudo o que você falou sobre o “Cavalão” eu endosso e até aumento. Mas sobre o Lula e o PT eu tenho severas restrições de natureza pessoal.
      Sabe aquela piada do sujeito que vira para o pintor e diz ele para segurar na brocha pois vai tirar a escada? Pois é, é assim que eu me sinto depois do fundo de previdência privada a que estou associado ter sido assaltado com as bênçãos e incentivos do Lula/PT para que os fundos de empresas públicas investissem nas empresas “campeãs nacionais” (dentre elas, as do Eike Batista), mesmo sem o respaldo de estudos técnicos que indicassem ser esses investimentos uma opção confiável. O resultado, além da roubalheira promovida pelos dirigentes “abeçoados”, foi um rombo bilionário nas finanças desses fundos.
      No meu caso, para solucionar esse rombo, criaram uma contribuição mensal para todos os empregados e ex-empregados, verdadeira contribuição caracu, pois até o fim da minha vida terei um desconto mensal MÍNIMO de mil reais. Ou doze mil em um ano ou cento e vinte mil em dez anos. Acha isso justo? Este é o meu motivo para odiar o Lula /PT. Mas a Gleisi merece um abono a mais de ódio.
      Quanto ao radicalismo que parece não te incomodar, posso dizer que meu sonho irrealizável de consumo seria termos um Barack Obama como presidente. Ou um Nelson Mandela. Ou um FHC (de novo), gente que conseguisse extrair o melhor de cada lado ideológico. “You may say I’m a dreamer”, como disse o Joleno. Abraços.

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    2. Sendo algo mais "particular", chego a compreender melhor. E até a concordar que não se dê com o partido, claro. Mas ainda acho a comparação um tanto injusta.

      Sobre o Obama, seria um baita pesadelo. Acho no mínimo trágico um tipo daquele receber um prêmio da paz depois de ter promovido tantas guerras ao redor do mundo e incentivado a perseguição política na China e na Rússia. Fora os golpes de Estado promovidos na América do Sul. Entre o Obama e o nosso "querido" capetão bozo, fica até difícil saber quem é pior. Quiçá, o maluco foi pior do que o Bush e toda a família.

      Mandela sim, um caso de se exaltar com respaldo na realidade.

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    3. Eu sou apenas um ignorante em política, mas parece que os EUA são intervencionistas desde sei lá quando, sempre para defender seus interesses (e eu não ligo para isso). Apesar disso sempre admirei o perfil moderado (assim me parece) e sereno do Obama, o tipo do sujeito de quem deve ser bom ser amigo, colega ou vizinho. O oposto do Trump, do Lula, do Bozo, do Malafala e de todo tipo de gente que se altera fácil, que cisma que é dono da verdade, etc. Não tenho saco para esse tipo de gente. Colorindo a resposta, detesto quem se veste de vermelho ou de verde e amarelo, sinal de paixão em excesso.

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