terça-feira, 28 de setembro de 2021

NO DOS OUTROS, OZÔNIO É TERAPIA

Uma das melhores frases que criei (desculpem-me, não sou nem um pouco modesto) é esta: O que se pode dizer daqueles para quem "os fins justificam os meios"? Que não têm princípios, lógico.
 
Não quero ser leviano nem tomar um processo na cara, mas parece que o desrespeito à verdade tornado público recentemente poderia se enquadrar nessa primorosa definição.
 
Refiro-me à provável adulteração feita por um plano de saúde nos registros da causa mortis de várias pessoas vitimadas pela Covid. E uma dessas seria a mãe do “Véio da Havan”.
 
A versão digital do jornal Extra divulgou esta notícia: A sua certidão de óbito, a que o GLOBO também teve acesso, cita pneumonia e acidente vascular cerebral, mas não faz menção a Covid.
 
E segundo notícia publicada em 22/09/2021 no portal R7, a mãe de Hang teria feito ‘tratamento precoce’ antes de morrer de covid:
 
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 recebeu informações de que Regina Modesti Hang, mãe do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, teria feito uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid, como cloroquina, antes de morrer em decorrência de complicações da doença. Ela ficou internada em um hospital da operadora de saúde Prevent Senior, alvo de investigações da CPI, e teria começado a usar os remédios preventivos durante a internação na unidade da operadora, em São Paulo.
A informação diverge do que foi divulgado por Luciano Hang na época da morte da mãe, aos 82 anos, em fevereiro deste ano (grifo meu). Na ocasião, o empresário fez um vídeo defendendo o chamado "tratamento preventivo" e refletindo sobre o que mais poderia ter feito por sua mãe. Segundo ele,  Regina Hang foi levada ao hospital quando já estava com quase 95% do pulmão comprometido. "Ela estava assintomática e quando nós pegamos foi muito tarde. Eu me questiono: será que se eu tivesse feito o tratamento preventivo eu não teria salvado a minha mãe?", questionou.
Regina foi internada em 31 de dezembro do ano passado já com diagnóstico confirmado para covid. De acordo com o prontuário recebido pela comissão, ela teria feito uso dos medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina ainda no início dos sintomas, no dia 23 de dezembro, antes da internação em um hospital da Prevent Senior. A mãe de Luciano Hang teria recebido ainda ivermectina durante a internação, segundo informações que chegaram à CPI, além da ozonioterapia retal (aplicação de mistura à base de ozônio).
(...)
Em vídeos divulgados, Luciano Hang havia informado que sua mãe era cardíaca, tinha sobrepeso, tomava mais de 20 comprimidos por dia e sofria de diabetes e insuficiência renal. "Por isso, baseado nas informações que circulam, a gente pensou: 'não vamos colocar mais remédio nela. Agora, o questionamento que eu faço todos os dias agora. Poxa, e se eu tivesse feito o preventivo? Será que não tinha a salvado?", questionou à época.
 
Como síntese de todas essas (des)informações, está circulando nas redes sociais um meme engraçadíssimo e é sua divulgação no blog a causa desta longa introdução (o texto, não o ozônio). Olhaí:
 



segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O PRÓDIGO

 
Este texto é um plágio (ou reciclagem) do poema “Caminhante noturno” que publiquei em 05/03/2020 (quando um cara resolve plagiar a si mesmo é porque a coisa está feia mesmo!). Por que resolvi fazer isso? Porque os sentimentos daquela época ficaram ainda mais apurados, mais concentrados (mesmo que a qualidade “literária” atual seja inferior).

Como disse meu amigo Marreta no excelente poema “Eu, papel carbono”:
"Antes eu simplesmente escrevia (e como e com que prazer, eu escrevia)”!


Hoje eu sei que deixei minha vida passar
E ela era boa – ou não tão ruim
Mas eu era irresponsável, ingênuo e displicente
Como um bêbado que adormece no ponto de ônibus

Que quando acorda e dá conta de si
Percebe que ele já passou
– E aquela era a única viagem, a última viagem!

Só lhe resta cambalear pelo caminho, enfrentando a noite sem estrelas
Maldizendo a imprevidência que aproveita o silêncio
Da madrugada para gritar dentro de sua cabeça

Assim sou eu
O pródigo das oportunidades desperdiçadas
Dos sonhos não buscados
Da felicidade não reconhecida, da juventude perdida

domingo, 26 de setembro de 2021

EU NÃO DIGO NADA!

 
NORMAL
O presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson em Nova Iorque, durante a recente Assembleia Geral da ONU. Até aí tudo normal (apesar do mico pago ao dizer que não tomou vacina).
 
A merda aconteceu ao dizer em sua live (dois ou três dias depois) que Boris Johnson lhe pediu um acordo de "emergência" para fornecer um alimento que está em falta no Reino Unido. A Embaixada do Reino Unido em Brasília negou o relato e disse que a declaração do presidente brasileiro não correspondia ao registro da conversa feita pelo lado britânico.
 
Que se pode dizer de uma coisa dessas? Que nosso presidente às vezes delira (96% do tempo)? Mente sem perceber ou vive em uma realidade virtual? Eu não digo nada, diga você se quiser!


HORÓSCOPO
Você já deve ter ouvido falar de horóscopo chinês, mas aposto que nunca pensou em “horóscopo clichês”, um lance de astrologia à base de clichês. Olhaí dois exemplos:
 
Libra
Se você tomou um pé na bunda de pessoa nascida entre 23/09 e 22/10, não se desespere. Diga para todo mundo ouvir que seu coração está fechado para Balança.
 
Virgem
- Ela disse que ainda é virgem, mas isso é conversa da boca pra fora!
- Não seria mais correto dizer “da boca pra dentro”?

sábado, 25 de setembro de 2021

MOSAICO DO TEMPO

Passei hoje em frente a uma casa antiga, muito simples e muito antiga, que alguns pintores tentavam remoçar. Ao passar novamente pelo mesmo local percebi que eles estavam prestes a cobrir de tinta um muro que apresentava uma verdadeira policromia, resultado de muitas camadas sobrepostas de tinta barata, que foram se soltando de forma irregular com o passar dos anos. 

Olhando com atenção, achei lindo o efeito da passagem do tempo, fazendo pensar em pinturas rupestres. Por isso, tirei duas fotos com o celular (estou adorando essa experiência!). Ao passar pela terceira vez tudo já estava monotonamente pintado de verde suave.
 
Tenho mania de associar coisas banais com a passagem do tempo. Por isso, olhando as imagens no celular fiquei pensando que a vida tem alguma semelhança com esse muro velho: nossa vida é um mosaico irregular de camadas e cores diversas que fomos recebendo ao longo do tempo. Cada mosaico com sua história, seu significado e, talvez, sua beleza, mas sempre único.




sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ZÉ! ONDE ESTÁ VOCÊ, ZÉ?

Existem belas músicas que (sabe-se lá por qual motivo) são injustamente esquecidas, o que é uma pena. É o caso de “Onde está você?”, composta na década de 1960 e regravada pelo Jessé.  Lembrando-me hoje de seus versos, resolvi escutá-la novamente. E fiquei decepcionado pelo registro muito “Jessé” (excessivo, over) da música.
 
O Jessé possuia uma voz magnífica mas tinha uma atração por músicas e interpretações que não me agradavam, talvez pelo excesso de “pirotecnia vocal”. Para mim, ele continuará a ser o maravilhoso intérprete de “Porto Solidão”. Mas não é esse o tema deste post. O tema, na verdade, são os sentimentos registrados na letra de “Onde está você?”. Duvido que alguém se interesse, mas o link do post original com a regravação do Jessé é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2019/10/onde-esta-voce-oscar-castro-neves-e.html

Este texto está meio confuso, meio atrapalhado? OK, está de acordo com minha vida e meus pensamentos atuais. Por isso, sem nenhum pudor, resolvi sugerir novamente a audição dessa melodia, agora na interpretação suave de Alaíde Costa (talvez a primeira gravação dessa música). Mas não vou novamente transcrever a letra. Para mim, basta esta frase: “hoje a noite não tem luar”, pois assim é minha vida atualmente - sem luar, nem alvorecer, só uma vida triste e vazia. O que me leva a perguntar:

- Zé, eu não sei mais onde te encontrar! Onde estão seus sonhos? Onde está você, Zé?




quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ATROCIDADES MÉDICAS NA GUERRA E NO CONSULTÓRIO – CARLOS ORSI

 

Um de meus filhos enviou-me o link de um artigo interessantíssimo publicado em 18/09/2021 na revista “Questão de Ciência” - que eu não conhecia.
( https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/).
Imagino que talvez seja também o caso de alguns dos escassos leitores do blog. Por isso, resolvi transcrevê-lo na íntegra, tal como o que recebi - sem revisão de ortografia nem nada. Mesmo que possa trazer certo incômodo para alguns, é uma boa leitura. E a razão está nas informações históricas relatadas (que eu desconhecia).
 
À medida que vêm à tona, as atrocidades médicas e sanitárias cometidas durante a pandemia no Brasil, tanto por agentes públicos quanto por agentes privados mancomunados com o governo federal, começam a ser comparadas aos experimentos conduzidos por médicos nazistas nos campos de concentração e de extermínio da 2ª Guerra Mundial.
O paralelo é talvez inevitável, mas há uma importante diferença: os prisioneiros nos campos nazistas, em geral, tinham alguma ideia do que estava acontecendo; testemunhavam a ignomínia a que eram submetidos, e muitas vezes sentiam seus efeitos imediatos, como as vítimas expostas a radiação por Horst Schumann (1906–1983) em seus “estudos” de Auschwitz sobre fertilidade humana, que culminavam com a remoção dos ovários e testículos dos “pacientes” – daqueles que não sofriam queimaduras graves por radiação. Esses últimos, descartados, eram mandados para as câmaras de gás.
No Brasil, ao contrário, tudo indica que as vítimas dos experimentos sequer sabiam que eram “voluntários involuntários” em algum esquema de pesquisa incompetente e megalomaníaco. Nesse aspecto, se formos estabelecer um paralelo com algo que ocorreu dentro da mais recente conflagração global, o melhor talvez seja a Unidade 731 do exército japonês, ativa na China a partir de 1937.
Além de conduzir experimentos dantescos em prisioneiros de guerra, essa unidade, sob o comando do médico Shiro Ishii (1892–1951) também atacou populações civis, espalhando deliberadamente agentes patogênicos na água e no ar. Segundo a enciclopédia “Human Medical Experimentation”, editada pela psiquiatra e pesquisadora Frances R. Frankenburg, as operações bacteriológicas conduzidas pela 731 causaram em torno de 400 mil mortes – coincidentemente, estimativa idêntica à do total de óbitos por Covid-19 que poderiam ter sido evitados no Brasil.
Diferentemente dos médicos que atuaram nos campos nazistas, muitos dos quais ou caíram na clandestinidade ou foram julgados – e os condenados, presos ou executados –, Shiro Ishii e outros responsáveis pelos crimes da Unidade 731 viveram suas vidas no pós-guerra com impunidade; alguns desenvolveram carreiras de sucesso.
 
Guerra Fria
Mas talvez a 2ª Guerra Mundial não ofereça o melhor paralelo para o que se passa no Brasil. Na história da (falta de) ética médica, o momento brasileiro atual talvez se assemelhe mais ao clima de paranoia e vale-tudo que predominava nos Estados Unidos nas décadas iniciais da Guerra Fria. Período, aliás, onde a mentalidade do presente governo e de seus apoiadores mais rábidos parece congelada.
Pode-se argumentar que, embora a disseminação deliberada de microrganismos nocivos num ambiente onde eles antes não estavam presentes (o método da Unidade 731) e a sabotagem deliberada de medidas de prevenção e contenção num ambiente pandêmico (a atitude geral do governo Bolsonaro) sejam, na prática, equivalentes, há uma diferença fundamental entre usar armas contra um inimigo que se deseja eliminar e pôr em risco parcelas do próprio povo, em nome do “bem maior da nação”. Um exemplo que vem à mente são os ataques simulados de armas biológicas conduzidos em populações americanas (todos “voluntários involuntários”) pelas forças armadas dos Estados Unidos entre 1949 e 1969. Foram mais de 200 “ataques”, em 80 dos quais utilizaram-se bactérias vivas. Casos pitorescos incluem a liberação de bactérias inócuas (Bacillus subtilis) nos túneis do metrô de Nova York em 1966.
Mas o mais famoso foi a lançamento, em setembro de 1950, pela Marinha americana, de bactérias dos gêneros Bacillus sp e Serratia sp nos céus de San Francisco, uma cidade então de 775 mil habitantes. As bactérias haviam sido escolhidas por serem, supostamente, inócuas – o objetivo do experimento era rastrear sua dispersão – mas alguns dias depois, 12 pessoas foram hospitalizadas, e uma morreu, com suspeita de infecção rara por Serratia marcescens.
Quando os experimentos foram expostos pela mídia, nos anos 70, as forças armadas negaram responsabilidade pelos casos de doença e morte em San Francisco, atribuindo-os a infecção hospitalar.
Mas nem todos os experimentos conduzidos em grupos populacionais – sem que os envolvidos fossem informados ou dessem consentimento – no pós-guerra tiveram o cuidado de, ao menos, tentar garantir que a intervenção fosse inofensiva. No Canadá, estudos nutricionais conduzidos entre 1942 e 1952 entre populações indígenas (incluindo centenas de crianças) mantiveram parte dos envolvidos deliberadamente subnutridos, para que servissem de “controles”. Nenhum participante, adulto, criança ou pai, foi informado de que havia uma pesquisa em andamento ou deu autorização.
 
Ética
A produção de leis e normas éticas explícitas sobre experimentação médica em seres humanos precede a 2ª Guerra Mundial. Em 1900, por exemplo, o governo da Prússia (Estado europeu que depois viria a ser parte da Alemanha) emitiu regras determinando que experimentos não poderiam ser conduzidos em populações vulneráveis, ou sem o consentimento dos envolvidos. Mas foi o choque dos crimes de guerra nazistas que levou às normas hoje mais conhecidas, o Código de Nuremberg de 1947 e seu herdeiro espiritual, a Declaração de Helsinque, originalmente de 1964, atualizada várias vezes desde então.
Consentimento informado e minimização dos riscos impostos aos voluntários envolvidos são princípios fundamentais. A qualidade do estudo e a transparência dos resultados também são preocupações, além de técnicas, éticas: não é correto expor seres humanos aos riscos, mesmo que mínimos, inerentes a um teste de tratamento se o teste não tiver uma chance robusta de gerar dados úteis, relevantes, confiáveis e que ficarão disponíveis para a comunidade científica.
O Código de Nuremberg, por exemplo, dispõe que “o experimento [em seres humanos] deve ser tal que gere resultados frutíferos para o bem da sociedade, que não seriam obtidos por outros métodos ou meios de estudo, e jamais de natureza aleatória ou desnecessária”. Já a Declaração de Helsinque determina que “os pesquisadores têm o dever de tornar públicos os resultados de suas pesquisas em seres humanos e serão responsabilizados pela precisão e integralidade de seus relatórios”. E também: “a pesquisa médica envolvendo sujeitos humanos deve ser (...) baseada num conhecimento minucioso da literatura científica e de outras fontes relevantes de informação”.
Mesmo com esses princípios gerais publicados, e a despeito das várias legislações nacionais estabelecidas a partir deles, uma minoria significativa de médicos, no entanto, sempre pareceu acreditar quer seus insights terapêuticos e suas curiosidades idiossincráticas estariam acima da mera “burocracia”; e que paciente existe para ser passivo, senão teria outro nome.
A primeira grande denúncia a respeito veio na Inglaterra em 1967, com a publicação do livro “Human Guinea Pigs” (“Cobaias Humanas”), do médico e professor de Medicina Maurice Pappworth (1910–1994), descrevendo mais de 200 experimentos realizados sem consentimento dos pacientes, muitas vezes testes de novas tecnologias, como cateteres, por meio de procedimentos, do ponto de vista da saúde do paciente, desnecessários e, ocasionalmente, danosos.
Pappworth notou que os periódicos científicos da área médica de sua época aceitavam, sem muitos escrúpulos, publicar os resultados desses experimentos, e comparou a complacência dos médicos que toleravam os colegas que cometiam procedimentos antiéticos à do povo alemão diante das atrocidades nazistas. Segundo Frances Frankenburg, a reação da comunidade médica britânica foi de indignação – com o livro. Como Pappworth “ousava” criticar o que outros médicos faziam, assim, em público? E compará-los a nazistas? Absurdo!
Muita coisa mudou, e para melhor, nas últimas décadas, mas a pandemia revelou que bolsões da insensibilidade autoritária diagnosticada na Inglaterra em 1967 seguem existindo, e muito bem, obrigado, aqui no Brasil – onde, para piorar, esse autoritarismo assume ares de patriotada messiânica.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

CADA VEZ MAIS

 
A dupla Ivan Lins e Vitor Martins já produziu melodias e letras memoráveis. Algumas dessas merecem um destaque especial, pois parecem registrar os efeitos da separação de Lucinha Lins e Ivan idem, trocado pelo ator e bailarino Cláudio Tovar. Essas músicas foram gravadas no primeiro disco lançado após a separação e tem letras bastante inspiradas (como sempre) e que pegam o clima da época, como esta: 
Bilhete (“Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto, bebi teu licor”)
Ou esta: 
Começar de novo (“Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido”)
E a melhor de todas: 
Saindo de mim “(Você foi saindo de mim com palavras tão leves, de uma forma tão branda de quem partiu alegre”)
 
Mas engana-se quem acredita que o tema de hoje é música de corno - sofisticada mas inequivocamente de corno. O tema hoje é um pouco diferente, mesmo que amparado na letra linda de uma dessas músicas lindas.
 
Meu relacionamento com o blog sempre foi intenso, uma coisa de pai zeloso e filho - ou como em um casamento. Mas tenho notado que isso está mudando aos poucos, principalmente depois de começar a tomar ansiolítico e de aceitar as sugestões para espaçar mais as postagens. Sinceramente continuo achando estranho o espaçamento entre as postagens, mas não tenho mais a menor vontade de me submeter à voragem desse buraco negro que me consumiu nos últimos anos, em um frenesi diário sempre à cata de novos assuntos e velhas lembranças.
 
Ao contrário do Caetano Veloso, hoje o que eu quero mesmo são “tardes mornais, normais”. Em outras palavras, estou aos poucos me desapegando do velho e cada vez mais desimportante Blogson Crusoe. E quando eu pensei em comentar sobre isso, a primeira coisa que me veio à mente foram estes versos do Vitor Martins: 
 
Você foi saindo de mim
Devagar e pra sempre
De uma forma sincera
Definitivamente
Você foi saindo de mim
Por todos os meus poros
E ainda está saindo
Nas vezes em que choro
 
Se alguém não conhece essa música (precisa conhecer!), aí vai o link de uma versão ao vivo e a cores, com o auxílio luxuoso do Paulinho da Viola no solo de cavaquinho, ele também especialista em música de corno (que o diga o álbum "Nervos de Aço", lançado após uma separação):



 

 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

MARMITEXAS

 
Sabe aquele momento em que alguém paga um mico internacional? Pois é. Talvez a consequência pudesse ser algo assim:


At the end of dinner, the waiter asks the customer:
 
- Would you like a dessert?
 
- No thanks, I'm satisfied. You can bring the bill, but first I need you to do me a favor.

- I’ll try to do my best, sir!
 
- Could you make a marmitex so I can take what's left?
 
- "More me Texas"Sorry, sir, but I don't know what you're talking about.
 
- Not familiar with marmitex? Okay, but “Quentinha” do you know?
 
- I never heard of it! I do not understand what you said.
 
- Let me explain: I need something like a lunch box. I want to take the rest of the meal to my dad. He's just eating pizza as he's not allowed in here because he doesn't want to be vaccinated.

- Good grief! What does he think of life?
 
- He doesn't need to think, he's the president of a South American country
 
- Got ya! I'll add some bananas to the wrapping.
 
- Thanks a lot!
 
- Give my regards to your daddy (dumb ass!)



segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A HUMANIDADE NÃO DEU CERTO - JORGE ABRAHÃO


Recebi de meu filho um artigo publicado, se não me engano, no jornal Folha de São Paulo. Como não sou assinante, o máximo que consigo ver na internet são as manchetes do dia. Por isso, imaginando que a maioria das pessoas que acessam este blog roto e mal costurado talvez seja como eu, resolvi divulgá-lo aqui no Blogson com os devidos créditos, vênias e loas ao autor desse excelente artigo. Que mais? Nada, exceto dizer que eu me vi integralmente no texto, muito mais agora que em qualquer época anterior. Sem mais delongas, entristeçam-se com o fabuloso artigo do Jorge Abrahão.


Foi um projeto interessante esse de humanidade. Começou há uns 6 milhões de anos e, no decorrer do tempo, teve avanços significativos, culminando há uns 70 mil anos com um “curto circuito” cognitivo, de origem ainda desconhecida, que turbinou o sincronismo de neurônios e aprimorou o inusitado encontro da razão com a emoção. A combinação do acaso com os fenômenos físicos, químicos e biológicos nos favorecia e tudo levava a crer que a partir daí toda a luta pela sobrevivência seria recompensada: doce ilusão.

O trajeto percorrido foi um perrengue, cheio de pedras no meio do caminho, como viria a dizer o poeta um tempo depois: a sacada de andarmos eretos sobre duas pernas (para liberar as mãos e enxergar mais longe); o aumento do volume do cérebro; a criação de ferramentas de pedra; o domínio do fogo; e o trabalho coletivo como mecanismo de sobrevivência diante de um ambiente inóspito e agressivo, foram processos fundamentais que nos levaram em tempo recorde ao topo da cadeia alimentar.

Sem o devido tempo para trabalhar nossos medos e ansiedades, pouco maduros, passamos a bater no peito e a gritar mais alto, como se fossemos donos do mundo. E fomos nos isolando de tudo, especialmente da natureza e da comunidade de vida que nos gerou. É aí que mora o perigo.

Corta!

Mais recentemente, nos últimos cem anos, dobramos a expectativa de vida, criamos aparelhos tecnológicos que nos iludem e fascinam, bombas nucleares, transcendemos os limites do planeta chegando a Lua e acabamos de construir brinquedinhos para navegar no espaço pilotados por dois ou três bilionários que acham graça em posar de super-heróis da extravagância.

Seria mais barato, mais útil e profundo ouvir "Terra", do Caetano, que nos faz viajar ao espaço sem precisar embarcar nestas geringonças fálicas. A questão de fundo, como nos alertaram os cientistas, é que desenvolvemos muito a habilidade do fazer e pouco a capacidade de compreender. Compreender o impacto de nossas descobertas. Compreender a essência desta raríssima oportunidade de experimentar vida e preservá-la para que as futuras gerações tenham também sua chance.

O que não dava para imaginar é que nossas fragilidades emocionais fossem preponderar e ditar o futuro sem a mediação do bom senso, tornando-nos reféns de um modo de vida excludente, depredador e violento. Promovemos guerras que mataram dezenas de milhões de pessoas e geraram um grande trauma. E seguimos usando esse recurso no século 21, mesmo sabendo que é pouco efetivo e gerador de injustiças (vide Afeganistão, Iraque e Líbia). Coisa dos humanos autodenominados sapiens.

Teimosos que somos, não demorou muito para nos encontrarmos com as crises produzidas por um modelo de vida que se tornou refém do mercado e que não vê limites para a expansão de consumo em um planeta com recursos naturais finitos.

Hoje, estamos diante de uma crise climática que coloca em risco a sobrevivência da espécie humana e a ficha não cai mesmo diante de enchentes inusitadas, secas alucinógenas, incêndios estratosféricos e crise hídrica amedrontadora. O negacionismo e os mecanismos de escape dão de goleada na ciência e os filósofos da abundância - que justificam o modelo pelos ganhos proporcionados - têm mais espaço do que os da escassez, que apontam os riscos dos impactos do modelo.

Do ponto de vista social, desde que há 10 mil anos deixamos de viver perambulando como nômades caçadores-coletores e decidimos parar em lugares que depois viemos chamar de cidades, fomos incapazes de resolver problemas como a pobreza e a desigualdade. Mesmo com toda a riqueza e a tecnologia geradas, a maioria da população mundial ainda é pobre. O que, além de inconcebível, é a prova de nosso fracasso coletivo. Dedicamos recursos e energia a temas supérfluos e deixamos de lado o que é essência. O que só evidencia que nossos desafios ainda são mais analógicos do que digital, mais políticos do que tecnológicos.

Até que nos encontramos com um vírus que nem enxergamos e que nos deixa presos e amedrontados: a crise sanitária não deixa dúvida de nossa insensatez. Enquanto nos países ricos aproximadamente 60% da população está vacinada com duas doses e começam a aplicar a terceira dose, na África, onde vivem 1,2 bilhão de pessoas, somente 3% receberam as duas doses, ou seja, 20 vezes menos.

Isso mesmo sabendo que a pandemia não será resolvida se as variantes continuarem surgindo, seja onde for. O olhar individual prepondera. Somos incapazes de pensar coletivamente. Diante dessa incoerência a OMS (Organização Mundial da Saúde) faz apelos que unem argumentos moral e técnico, mas não é ouvida pelos tomadores de decisão mais preocupados em responder para as suas bases e a interesses imediatos.

Tudo leva a crer que, superada a crise sanitária, voltaremos ao mesmo modo de vida que gerou a pandemia, sem perceber que estamos em uma espiral de crises sucessivas, cada vez mais graves. O certo é que o modelo hegemônico nos dias de hoje nos reduziu e está nos levando a uma encruzilhada. O que no início tinha um potencial espetacular ruiu, se desfez em pedaços e fez com que ficássemos reduzidos ao nosso quadrado, pensando no curto prazo e apartados da natureza. O que poderia ter sido, não foi.

Não que não haja tempo para mudar. Tempo há, mas o retrospecto, as tendências, a limitação das lideranças, a inteligência artificial, a internet das coisas e as viagens espaciais evidenciam que somos muito apegados ao insignificante e pouco ao relevante. E que resolvemos abandonar o enorme potencial que nos caiu de bandeja na roleta da evolução para submergirmos em pequenas intrigas, ao dia a dia, ao olhar individual e ao interesse de pequenos grupos.
É uma pena.

domingo, 19 de setembro de 2021

INFERNAL

 
Eu tenho algumas obsessões que volta e meia cismam em dar as caras. Com isso, sempre fico tentado a registrar a “última versão”. Isso nunca foi um grande problema, pois eu sempre me lembrava do que já tinha escrito. Ultimamente, graças à pulverização da minha memória recente, não estava conseguindo me lembrar se já havia publicado algo parecido ao tema de hoje em um dos mais de 2.200 posts que podem ser encontrados no velho Blogson (falando sério é post para dar com pau!).
 
Pois bem, depois de muita pesquisa, descobri que já publiquei um texto sobre o tema “Inferno”. Aliás, cabotinismo às favas, depois de relido achei que é um ótimo texto. A visão aloprada de um ex-chefe sobre o assunto é hilária. E se alguém quiser conferir, o link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2019/12/o-inferno-de-cada-um.html
 
Mas voltando às obsessões, outro dia pensei de novo em qual seria a melhor definição de “inferno”, independente de acreditar ou não em sua existência. E a inspiração surgiu de um sofrimento infernal a que muitas pessoas são submetidas. Antes de abordar essa nova visão – e para suavizar a leitura – preciso dar um pulinho na infância.
 
Creio que foi nos livros infantis do hoje execrado Monteiro Lobato que fiquei sabendo da existência do mitológico barqueiro Caronte, cuja função era transportar as almas dos mortos até os domínios de Hades ou Plutão, mediante o pagamento de um mísero óbolo, uma moedinha que seria enfiada na boca do defunto. Pensem bem, para fazer seu último passeio de barco o sujeito pagava uma merreca! Hoje, numa prova do efeito da inflação ao longo do tempo, paga-se o olho da cara para ver o Cara em um cruzeiro geriátrico. Muita grana nova para ouvir música antiga!
 
Eu, certamente, não pagaria nem meio óbolo. Aliás, nem mesmo pro Caronte. E a explicação é simples, um estratagema para continuar atazanando a vida de alguns. Segundo li na Wikipédia, aqueles que não tinham condições de pagar a quantia ao barqueiro - ou aqueles cujos corpos não haviam sido enterrados -, tinham de vagar pelas margens do Aqueronte por cem anos (mesmo que isso talvez deixasse o Hades plutão da vida).
 
Mas deixemos as abobrinhas de lado pois o assunto é um pouquinho mais sombrio. Segundo o filósofo francês Jean Paul Sartre, “o inferno são os outros”. Não consigo acrescentar mais nada a essa frase, pois nunca li nenhuma de suas obras. Mas é uma afirmação instigante, apropriada para o que se lerá a seguir.
 
Outro dia, ao saber da mais nova rusga das milhares já acontecidas entre um casal de conhecidos, fiquei pensando que o inferno (imaginado ou real) não tem nada da magnificência das labaredas a queimar, a gratinar as almas dos infelizes que fizeram por merecê-las. O inferno pode simplesmente ser a dor, o desconforto, a tristeza e o desalento constantes, sem trégua, sem descanso, movidos, espicaçados por um rancor que não diminui, que não se acaba, que não se esquece.
 
Esse casal que motivou minha nova visão de inferno está junto há muito tempo, aparentemente se gosta, mas os erros do passado de um - provavelmente superavaliados pelo parceiro - frequentemente envenenam o dia a dia dos dois, pois o baú das lembranças de vinte, trinta anos atrás é sempre reaberto e revolvidas as cinzas para que o fogo do rancor queime novamente. Esse embate permanente, frequente, azeda e envenena os dias desse casal de amigos, fazendo-me lembrar de uma frase do escritor Pedro Nava, que disse algo assim: “Não tenho ódio, eu tenho é memória”.
 
E essa é minha nova releitura do inferno: não um lugar, mas uma vida de desconforto, tristeza ou desespero de ser obrigado a relembrar e ser cobrado quase diariamente por coisas acontecidas no passado distante como se fossem fatos ocorridos agora. Ou seja, o inferno de alguém é ser obrigado a ouvir as mesmas recriminações dia após dia, uma tortura psicológica que abala até a vontade de viver.
 
Sinceramente, acho que este texto (como os mais recentes que escrevi) está muito ruim, mas quis deixar registrado o insight que me ocorreu. E a vontade que eu tenho é (apesar da pandemia) é abraçar os dois e dizer-lhes que o céu já está garantido, pois não precisam de nenhum inferno melhor que aquele em que vivem.

 

sábado, 18 de setembro de 2021

SINAIS GRÁFICOS

Mais uma piadinha jotabélica, originalmente publicada no Facebook há dois anos. Não sei se també a aproveitei no Blogson. Em todo caso, se alguém já viu isso aqui no blog, peço que me avise para que eu o exclua. Porque piada ruim contada duas vezes é uma merda! Aliás, este post serve apenas para arquivo na "blogoteca", pois ultimamente meu estado de espírito está assim : (






sexta-feira, 17 de setembro de 2021

QUEM É TATSUYA TANAKA?

 
Alguém compartilhou no Facebook um pequeno vídeo com imagens tão surpreendentes que eu achei que deveria divulgá-las para mais pessoas (umas doze a mais...). Para isso, copiei uma dessas imagens e fiz uma pesquisa na internet. E descobri que seu autor é Tatsuya Tanaka, diretor de arte, fotógrafo e... gênio (que tal nuvens feitas com arroz cozido?). Um gênio! E para mim isso basta. Se alguém quiser saber mais, já sabe: Internet. Agora, arranje um babador e babe à vontade.









quinta-feira, 16 de setembro de 2021

FITA CASSETE

A data original de publicação do texto a seguir é 11/12/2016. Por que resolvi republicá-lo? Primeiro porque na época de sua criação também foi postado no Facebook (que fez ontem a gentileza de me perguntar se queria compartilhar essa lembrança de quatro anos atrás). E o segundo motivo é o fato de não conseguir mais escrever nada parecido. Eu gostei de reler essa pequena viagem mental inspirada em uma fita cassete jogada na rua onde moro. Espero que eventuais leitoras e leitores também gostem.


Um dia chuvoso, uma rua e uma calçada vazias. Espalhava-se ao longo da sarjeta, indo e vindo como se lamentasse ter sido tirada de seu estojo, uma tira de fita cassete, extraída, subtraída do cartucho onde esteve antes abrigada e protegida, impedida definitivamente de reproduzir sons, vozes e melodias gravadas por alguém que tivesse perdido o interesse em preservá-las em formato tão em desuso.

Enquanto descia a rua e me afastava daquela frágil tira de plástico magnetizado, fiquei tentando imaginar por que teria sido jogado fora. Quem a teria arrancado de sua embalagem original? Seria alguém que sentiu desprezo pelo anacronismo do objeto e das vozes ou músicas ali registradas? Ou, quem sabe, alguém incomodado ou ferido pelas lembranças que aquela gravação evocava?

Continuei a andar, pensando que talvez a Vida seja assim como essa fita espalhada pela rua: podemos até tentar recolocá-la no cartucho, mas com as alterações e efeitos causados pela passagem do tempo não conseguiremos ouvi-la de novo tal como soou um dia.


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

AUTO-AJUDA E OUTRAS AJUDAS

Já falei sobre isso mas vou falar de novo. Imagino que desde o momento em que os primeiros humanos olharam para o céu estrelado (que devia ser lindo naquela época!) e se perguntaram o que significavam aqueles zilhões de pontos luminosos pendurados na noite escura, ou sentiram medo de fenômenos naturais (um raio destruindo uma árvore, terremotos, trovões, relâmpagos, ciclones e o escambau), ou tristeza e dor pela perda de familiares abatidos por doenças que não entendiam, provavelmente concluíram que se as respostas não estavam entre eles certamente estariam em entidades ocultas ou invisíveis a seus olhos amedrontados, talvez morando em lugares desconhecidos, misteriosos, secretos ou inatingíveis.
 
Esta introdução é uma síntese de tudo o que li ou pensei sobre isso. Obviamente, se havia um poder tão destruidor assim provavelmente deveria haver o seu inverso, um poder regenerador, protetor, curativo. Para se beneficiar desse lado positivo - ou se precaver contra o lado negativo - nada como uma puxadinha de saco, uma barganha, uma troca, uma submissão total aos detentores dessa força. E a consequência imediata foram os amuletos, as oferendas, os sacrifícios e as pinturas em cavernas, logo seguidas por imagens, esculturas, altares e templos.
 
Um dos meus filhos é ateu convicto e às vezes conversamos sobre isso. Ao contrário dele, normalmente eu defendo o papel benéfico das crenças religiosas ao longo da história humana (não precisa me lembrar do papel danoso da religião em muitas ocasiões, ok?). E uma dessas “utilidades” é servir de refúgio, conforto e esperança quando tudo mais está ruindo à nossa volta.
 
No início da década de 1970, graças a um convênio da UFMG com alguns psicólogos e terapeutas, fiz dois anos de terapia individual (divã) e de grupo na linha freudiana (psicanálise), onde gastava meu salário mensal de estagiário para pagar as quatro sessões mensais (“baratinho”...). Um dia o psiquiatra (fodástico!) comentou sobre o papel terapêutico da oração e da confissão ao longo da história humana e antes do surgimento das teorias e práticas psicanalíticas. Achei fabulosa essa ideia de uma "proto-terapia" baseada na fé.
 
Hoje, matutando sobre isso, me ocorreu que além da confissão auricular católica ainda em uso e dos "milagres" que acontecem a rodo nas igrejas evangélicas, os manuais, livros e palestras de auto-ajuda são outra forma econômica de “terapia”.

Fazendo uma analogia com o mundo da moda, poderia dizer que os diversos tipos de psicoterapia criados por Freud, Jung, Lacan e companhia são uma espécie de "haute couture" para a compreensão e cura de problemas emocionais e existenciais. E custam caro pra burro. Já os livros, compêndios, palestras e receitas de auto-ajuda do tipo "Eu estou OK, você está OK", “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, “Como evitar preocupações e começar a viver”, “Quem mexeu no meu queijo?” seriam no máximo o "pret-a-porter" para a mesma finalidade. Ou, até mesmo, "modelitos" vendidos na 25 de março ou no Saara. Funcionam? Bem, pelo menos para quem os escreveu a resposta é “Sim”.
 
Mesmo que eu cumpra ordens e obedeça as leis, tenho alguma dificuldade em seguir normas, fruto talvez de uma espécie de descrença ou rebeldia congênita. O máximo que consigo é achar bacanas as receitas para alcançar esse ou aquele objetivo. É por isso que eu digo que a melhor auto ajuda que conheço é aquela a que se tem direito quando se contrata um seguro de "auto móvel". Carro enguiçou? Ligue para a seguradora e peça um reboque. Bateria arriou? Acione a seguradora e peça ajuda. Essa funciona!

 

domingo, 12 de setembro de 2021

COCADA

 
Como todos sabem, eu sou chegado em uma frase bem engendrada (“todos”, no caso, seriam três ou quatro amigxs virtuais que ainda têm saco de ler o que escrevo. E “saco” é usado apenas em sentido figurado – ou figurativo, vá saber!). Justamente por isso já povoei este blog meia boca com frases célebres e outras nem tanto assim, pois essa é uma forma barata de enrolar o leitor do Blogson. Por exemplo, quem nunca ouviu falar da frase “Até tu, Brutus?” Pode até pensar que é uma frase dita com irritada afetação por algum gay a seu bofe, mas que já ouviu, isso já!
 
Pois bem, há frases tão marcantes que são definidoras de uma época, pessoa, caráter, ou o que quer que se imagine – até mesmo a permanência em um emprego. Uma das frases de que mais gosto é "Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são", colocadas pelo Mário de Andrade na boca de seu personagem Macunaíma.
 
Há aquelas grandiloquentes, do tipo “Do alto dessas pirâmides quarenta séculos vos contemplam”, ditas por Napoleão Bonaparte. Algumas são revestidas da mais sombria dramaticidade: “Não tenho nada a oferecer a não ser sangue, trabalho, lágrimas e suor”, dita em 1940 por Sir Winston Churchill ao tomar posse como primeiro ministro (ele era muito foda!).
 
Há aquelas que servem para sinalizar que tipo de caráter tem quem as disse (“Foram quatro homens. A quinta eu dei uma fraquejada, e veio uma mulher”). Outras, de aparência inocente, podem até definir o futuro de alguém, como esta, de autor desconhecido: “Só vou por a cabecinha”.
 
Mas estou enrolando um pouco só para contar um caso hilário que uma conhecida uma vez presenciou. Enquanto ainda estava na faculdade, essa amiga trabalhou em uma clínica focada na realização de checkups de executivos de grandes empresas.
 
A equipe dessa clínica era formada por cardiologistas, clínicos e profissionais de outras especialidades médicas. O único urologista era um médico extremamente tímido, calado e discreto. Os relatórios que passava para minha amiga datilografar eram entregues com as anotações viradas para baixo, para não expor a qualquer um os dados dos exames de toque realizados.
 
Um dia, provavelmente perto do fim de ano, antes de ir a uma festa de confraternização dos funcionários da clínica, esse sujeito foi primeiro a encontro de conterrâneos (ele era do interior) ou ex-colegas e encheu a cara, como é normal acontecer. Ao chegar à clínica já estava chapadaço. Talvez, para sacanear, o cardiologista ficou a festa toda pedindo para que ele dissesse o porquê de seu apelido:
- “Diz ai pro Fulano por que seu apelido é 'Ronaldo' Cocada!” E o bêbado respondia na lata:
- Como cu e dou porrada!”
 
Depois da celebração e da ressaca curada o “Cocada” pediu demissão - por telefone! – e nunca mais ninguém o viu. E se você quiser saber o que eu penso disso, a única coisa que posso dizer é que ele jamais pôde ser acusado pelos colegas de divulgar propaganda enganosa.

 

 

ESTE POST É PARA VOCÊ, SCANT!

Que os demais leitores desta bagaça me perdoem, mas este post está sendo publicado com uma dedicatória específica a meu amigo virtual Scant. Um de meus filhos me enviou pelo zap o link a seguir. Comecei a ler o artigo e já fui pensando: "talvez o Scant goste disso". Lembrei-me de quando eu tinha uns vinte e poucos anos e às vezes lia a revista "Planeta". Que mais? Nada, só isso mesmo. Como existe a opção de compartilhar o arquivo no Blogger, é isso que estou fazendo. Boa leitura!

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

QUADRINHAS

 
Hoje pensando em algum modo de divertir minhas netinhas de três anos, lembrei-me de versinhos super antigos para ensinar a elas, tipo “batatinha quando nasce...”, mas a memória se recusou a ajudar e a coisa parou por aí. Resolvi então consultar a internet e descobri que esse tipo de poesia de quatro versos é conhecido por quadrinha. “conhecidas como poesias populares, as quadrinhas são trovas simples criadas pelo povo. Compostas por quatro versos (dai vem o nome) se caracterizam por possuir rimas muitas vezes imperfeitas(...)”.
 
Nessa altura do campeonato a diversão das netinhas já havia sido esquecida, pois encontrei uma ótima quadrinha que transcrevo a seguir:
 
Com jeito tudo se arranja,
De tudo o jeito é capaz,
A coisa é ajeitar o jeito,
E isso pouca gente faz.
 
Que poderia acontecer depois disso? Obviamente uma tentativa de fazer uma quadrinha jotabélica para postar no blog. Na hora de escolher o título, talvez por um ato falho qualquer (estou certo, GRF?), escrevi “quadrilhas”, mas corrigi a tempo. Olhaí:
 
Vou ser bastante sincero
Eu gosto tanto do Lula
Quanto do mito Bosonaro
Ou seja, zerozero zero

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

HASHTAG

 
Como não tenho perfil nem no Twitter nem no Instagram, esse negócio de hashtag é um mistério para mim. Não sei como funciona nem para que serve. Só recentemente fiquei sabendo que o Twitter tem um tal de trending topic. Aliás, só recentemente não, hoje! Às vezes ouvia o pessoal falar nisso na TV, mas, por ser mineiro, imaginava que diziam “trem de top”, talvez querendo dizer “um trem danado de bom”.
 
Só hoje, para escrever esta gororoba é que descobri na internet que “trendind topic” significa que uma palavra, frase ou tópico mencionado com mais frequência do que outros é considerado um "tópico de tendência" ou simplesmente uma "tendência" (obrigado, Wikipédia!). O que no frigir dos ovos tem alguma parecença com um “trem danado de bom”.
 
Pois bem, de saco bastante cheio desse duelo entre um bêbado e um desequilibrista, resolvi descobrir na internet quais são as hashtags criadas pela cambada da esquerda e pelo rebanho da direita. E são várias! Pelo jeito, boa parte serve para ofender o adversário. Mas nem vou identificar o que é de quem porque o entendimento é imediato.
 
 #esquerdista #esquerda #forabolsonaro #esquerdavalente #lula #bolsolixo #antibolsonaro #impeachmentbolsonaro #euavisei #elenao #bolsominionsarrependidos #mulheresunidascontrabolsonaro #comunismo #elenaomerepresenta #comunistas #desgovernobolsonaro #bolsominion #vazajato #tododiaumavergonhadiferente #umavergonhapordia #bolsominions #mulherescontrabolsonaro #bolsominionsecreto #fazarminhaquepassa #quemmatoumarielle #foramorogolpista #choramaisquetapouco #choramais
 
#bolsonaro #direita #o #brasil #conservadorismo #direitaconservadora #globolixo #jairbolsonaro #bolsonaropresidente #fechadocombolsonaro #jairmessiasbolsonaro #somostodosbolsonaro #ptnuncamais #conservadores #conservador #direitabrasil #politica #forapt #brasilacimadetudo #stfvergonhanacional #bolsomito #aliancapelobrasil #bolsonarotemrazao #lavajato #foramaia #bolsonarotemraz #olavotemraz #elesim
 
Aí resolvi entrar no jogo também. Creio que para resolver definitivamente essas disputas entre radicais da política ou das religiões - e mesmo sem ter perfil na rede do “olha o passarinho!” -, resolvi criar uma hashtag. Acho que tem potencial. Olha ela aí:

 

#vemasteroide

 

 

 

 

 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

QUE DIA!

Nesta altura do campeonato, o Marx (o Karl, não o Groucho) deve estar se revirando no túmulo de tanta alegria ao ver que os bolsonaristas e seu boiadeiro ressuscitaram o comunismo no país (logo eles!). E o Marx (o Groucho, não o Karl) deve estar se mijando de rir de tanta idiotice.



 

ISTO É HQ

Depois do desabafo no post anterior, apresento uma HQ antiga, que à vista do que se conhece hoje, parece bobinha e até ingênua. Mas foi nela que eu pensei quando estava cozinhando de angústia e preocupação com a barra que as crianças de hoje terão de encarar quando forem adultas. E a primeira imagem é a capa do almanaque de onde tirei a história. Olhaí, Ozy.




Mas









 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4