segunda-feira, 6 de setembro de 2021

CADÊ O PERMAFROST?

Eu poderia dizer que este post é um brinde ou um presente para para meus amigos virtuais fissurados em histórias em quadrinhos, gente como o imperador do blog Ozymandias Realista, mas estaria mentindo. Pelo menos um pouco. Imagino que os fanáticos por HQ gostarão de ler (com alguma dificuldade, diga-se) uma história sci-fi criada por Gore, pseudônimo do premiado Richard Corben (muito prazer, nunca ouvi falar) e publicada em 1971 ou 1972 pela revista Grilo em seu almanaque Underground. E o motivo de ter-me lembrado e tido o trabalho de escanear página por página dessa história tão antiga é este:
 
Outro dia fui tomado por grande angústia, tristeza e preocupação. E põe angústia nisso! Mas engana-se quem pensa que o motivo de sentir-me assim são as constantes e cada vez mais frequentes ameaças à democracia feitas pelo imbroxável. Seguindo seu exemplo, estou cagando para ele, sua prole e seguidores. O que me derrubou mesmo foram notícias vindas de fora, dando conta de que em vez de neve, “o ponto mais alto do manto de gelo da Groenlândia registrou chuva pela primeira vez na história”. Essa não era definitivamente uma notícia a se celebrar. Comecei a pensar nas crianças de hoje - que parecem não ter um futuro muito agradável - e em que tipo de mundo elas viverão. A angústia aumentou e tentei achar notícias menos preocupantes. Em vez disso, tomei outro muro na cara ao ler estas manchetes e notícias:
 
- Derretimento de gelo na Groenlândia atingiu ponto irreversível, diz estudo
As camadas de gelo da Groenlândia encolheram a um ponto irreversível, segundo dados publicados nesta semana na revista científica Nature Communications Earth & Environment.
- A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão, e o canário já está praticamente morto neste momento", afirmou um dos autores do estudo, o glaciologista Ian Howat, da Ohio State University, fazendo referência ao uso de pássaros em minas para indicar os níveis de oxigênio.
 
Depois disso, como não  pensar  no  futuro  das  Auroras,  dos  Paulinhos,  das  Catarinas,  dos  Toninhos,  das  Beatrizes,  Betinhos,  Letícias,  Raulzinhos,  Luizas,  Gustavos,  Filipes,  Carolinas  e  tantos  outros  meninos  e  meninas  na  faixa  de  um  a  onze,  doze  anos,  dos  recém  nascidos,  enfim,  das  crianças  do  mundo  todo.  Em  que  mundo  desgraçado  essas  crianças  terão  de  (sobre)viver?
 
Mesmo não sendo fundamentalista ou xiita na defesa do meio ambiente, sempre critiquei a descrença, a ignorância, a irresponsabilidade, o imediatismo e o descaso com que as autoridades e grande parte da população trataram esse assunto ou refletiram sobre isso, deixando consciente ou inconscientemente o pepino para outras gerações. Só que o futuro hipotético e distante já está batendo na porta, chamando pelo interfone, tocando a campainha. Senão, que tal essas notícias?
 
- Pantanal perdeu 74% da água desde 1985, diz estudo;
- Papel da influência humana no aquecimento do planeta é inequívoco e inquestionável;
- Todas as regiões do globo já são afetadas por eventos extremos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais provocadas pelo aquecimento global;
- Mudanças recentes no clima causadas pelo homem não têm precedentes, aponta relatório da ONU
- Algumas das mudanças - como o aumento contínuo do nível do mar - são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos.
- Canadá: onda de calor cozinhou moluscos vivos em praia
- Floresta amazônica já emite mais gás carbônico do que absorve
- Mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07º na temperatura do planeta, aponta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira. Nas primeiras páginas, o documento utiliza o adjetivo "inequívoca" para se referir à influência humana nas mudanças climáticas. A ciência já considera que as provas da influência humana nas mudanças climáticas são irrefutáveis.
Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, explica que o documento "mudou a linguagem" e acrescentou esse grau de certeza, sem margem para "contestação"
"A gente não está mais discutindo se o homem foi um fator ou se é o fator preponderante nas mudanças climáticas. Não se discute o 'se', mas o 'quanto'. É inequívoca a influência humana no clima da Terra e eles [IPCC] agora mostram quanto conseguem estimar em graus de temperatura".

E se quiser continuar se horrorizando ou pensando em tragédias próximas ou futuras, dou mais uma ajudinha - descongelamento do permafrost, desmatamento e queimadas na Amazônia, venda de madeira extraída ilegalmente, aquecimento global, chuvas torrenciais, inundações, desertificação, extinção de espécies ("mais de 300 espécies de tubarões, raias e botos estão ameaçadas de extinção"), etc.

Cabe aqui um comentário sobre o descongelamento do permafrost. Para quem não sabe (eu nem nunca tinha ouvido falar sobre isso), o permafrost é uma camada permanentemente congelada na superfície da Terra ou sob ela. Consiste em solo, cascalho e areia, geralmente unidos por gelo. O permafrost geralmente permanece em ou abaixo de 0 ° C (32ºF) por pelo menos dois anos.
A espessura do permafrost pode variar de um metro (cerca de três pés) a mais de 1.000 metros (cerca de 3.281 pés). O permafrost cobre aproximadamente 22,8 milhões de quilômetros quadrados (cerca de 8,8 milhões de milhas quadradas) no hemisfério norte da Terra.

Os cientistas que estudam o permafrost são capazes de compreender as mudanças no clima da Terra observando as mudanças no permafrost. Estudos mostram que o permafrost da Terra aqueceu 6ºC durante o século XX. Os cientistas prevêem o degelo generalizado do permafrost em 2100. 
O degelo do permafrost pode aumentar os níveis de água nos oceanos da Terra e aumentar a erosão. A erosão ocorre quando o permafrost descongela porque o solo e os sedimentos são facilmente arrastados sem o gelo os unindo.
 
Permafrost pra cá, permafrost pra lá, acabei pensando que os únicos pesquisadores que estão “delirando” com o derretimento desse ambiente são os palentólogos, pois o degelo acelerado tem exibido fósseis de espécies extintas em ótimo estado, como a cabeça de 32.000 anos de um lobo gigante que ilustra este post (ela mede 40 cm, enquanto nos lobos atuais a mesma medição não atinge mais que 28 cm) . Em compensação, esse degelo em níveis relativamente rápidos é (mais) um indício das constantes mudanças climáticas que estão ocorrendo nos últimos tempos.
 




Segundo li, a degradação do permafrost já afeta fatores hidrológicos do platô tibetano. Além disso, por se tratarem de solos antigos eles contem uma grande quantidade de vestígios da vida antiga que por sua vez, preservam no seu interior também grandes quantidades de gases como o dióxido de carbono e o metano.
 
Conseguiu agora entender a extensão da minha angústia? Em que mundo minhas netinhas e outras crianças serão obrigadas a (sobre)viver? E tem gente que se preocupa com a cor das bandeiras, com a defesa de suas próprias bandeiras (reeleição em 2022, por exemplo), quando no fim de tudo só há uma bandeira a ser defendida, a do planeta Terra. Aliás, uma bandeira do planeta Terra é o único lugar onde a terra é plana (piada muito ruim, mas precisava dela para falar da HQ do Gore).

Como acabou o “tempo”, a história sairá no próximo post. A titulo de prêmio de consolação, fica um link bacana para saber alguma coisa da extinta revista Grilo (de que, modéstia às favas, eu tenho todos os números). Olhaí (mas minha ansiedade continua alta. Por isso, eu te peço: não trate com descaso ou descrença a responsabilidade humana nas mudanças climáticas). E por falar em título, uma pergunta do Marreta foi transformada no título deste post.  

https://universohq.com/museu-dos-quadrinhos/grilo-um-importante-momento-dos-quadrinhos-no-brasil/ 

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