A data original de publicação do texto a seguir é 11/12/2016. Por que resolvi republicá-lo? Primeiro porque na época de sua criação também foi postado no Facebook (que fez ontem a gentileza de me perguntar se queria compartilhar essa lembrança de quatro anos atrás). E o segundo motivo é o fato de não conseguir mais escrever nada parecido. Eu gostei de reler essa pequena viagem mental inspirada em uma fita cassete jogada na rua onde moro. Espero que eventuais leitoras e leitores também gostem.
Um dia chuvoso, uma rua e uma calçada vazias.
Espalhava-se ao longo da sarjeta, indo e vindo como se lamentasse ter sido
tirada de seu estojo, uma tira de fita cassete, extraída, subtraída do cartucho
onde esteve antes abrigada e protegida, impedida definitivamente de reproduzir
sons, vozes e melodias gravadas por alguém que tivesse perdido o interesse em
preservá-las em formato tão em desuso.
Enquanto descia a rua e me afastava daquela
frágil tira de plástico magnetizado, fiquei
tentando imaginar por que teria sido jogado fora. Quem a teria arrancado de sua
embalagem original? Seria alguém que sentiu desprezo pelo anacronismo do objeto
e das vozes ou músicas ali registradas? Ou, quem sabe, alguém incomodado ou
ferido pelas lembranças que aquela gravação evocava?
Continuei a andar, pensando que talvez a Vida
seja assim como essa fita espalhada pela rua: podemos até tentar recolocá-la no
cartucho, mas com as alterações e efeitos causados pela passagem do tempo não
conseguiremos ouvi-la de novo tal como soou um dia.
eu tenho umas quarenta fitas cassetes; todas gravadas ou de LPs emprestados, ou, a maioria delas, música a música, direto das FMs, um trabalho de tocaia e de garimpo.
ResponderExcluirOuvi uma delas tempos atrás e o som realmente não soou como nos velhos tempos, mas acredito que a culpa não seja da fita, prováveis oxidações do metal (lembra das de cromo?)ou desmagnetizações. A principal causa da queda de qualidade do som é o nosso envelhecimento, JB, não da fita, principalmente o arrefecer de nossos ânimos. Não vivemos mais no contexto em que as gravamos, não somos mais tão jovens nem temos todo o tempo do mundo.