segunda-feira, 31 de maio de 2021

MÁSCARA PARA PINÓQUIOS

 
Na história do Pinóquio era assim: todas as vezes em que o boneco de madeira mentia, seu nariz de pau começava a crescer, só voltando ao normal quando ele dizia a verdade.  Essa imagem acabou se transformando em advertência irônica para alguém que parece estar ou que está mesmo mentindo (“Olha o nariz crescendo!”; “Seu nariz vai crescer!”).
 
Hoje, há uma situação muito constrangedora na CPI da Covid, pois mesmo as pessoas convocadas como testemunhas, obrigadas a dizer a verdade, estão mentindo com a maior desfaçatez, às vezes só para acobertar alguém que jamais deveria ser chefe ou comandante de nada.
 
Por falar em acobertar, mesmo abrigado sob o cobertor de um habeas corpus preventivo um general que se recusa a ir para a reserva mentiu com a maior cara de pau. Ou melhor, não mentiu, apenas criou uma realidade alternativa, à moda da história de Alice no País das Maravilhas, onde nada é o que parece ser. Para mim, quem gosta tanto de cobertor e de acobertar deveria mais é vestir o pijama.
 
Mas, “deixando a profundidade de lado” (acabei de plagiar o Belchior!), resolvi ajudar os pinóquios da CPI a se sentir mais confortáveis. Para isso, imaginei um novo modelo de máscara, uma máscara retrátil, telescópica. Assim, se porventura o nariz crescer durante o depoimento, a máscara não deixará o rosto desprotegido.  Olhaí.



domingo, 30 de maio de 2021

É MUITO RADICALISMO!

 
Esta época está mesmo muito estranha. O que tem de radicalismo e polarização por aí não está no gibi. Até já disse aqui no blog que o prato mais lembrado hoje deve ser fígado acebolado, pois tem sempre alguém querendo comer o fígado do outro. Hoje, nem o Prometeu daria conta de tantas encomendas. Mas estou me afastando do tema principal.

A verdade é que hoje em dia a população está lembrando limalha de ferro perto de um imã, pois metade voa para um lado enquanto a outra se agarra no polo oposto. Uma loucura. Nas redes sociais então, nem se fala! É verde-amarelo pra cá, vermelho pra lá, sem direito a meio termo. E até a turma do deixa-disso deixou disso há muito tempo e saiu dando caneladas a torto e a direito, ou melhor, à esquerda e à direita.

Até eu, um sujeito radicalmente moderado, fui hoje contaminado pelo radicalismo polarizado mais insano (o que quer que isso signifique), pois  fui invadido pelo ódio mais destilado, mais cristalino que gim falsificado e fiquei puto da vida, putíssimo da vida. Onde já se viu uma coisa dessas? Pra cima de mim não, mané!

O pior de tudo é que não se tratava de nada ligado ao Bolsonaro ou ao Lula. Eu me tornei radicalmente contra mim mesmo! E o causador de toda essa merda é um tio que mora em Brasília. Não, ele não fez nada de errado, estava apenas fazendo um lanche, talvez tomando um “chá com bolinhos" em um shopping com duas de suas filhas. Pensando bem, não devia ser chá com bolinhos, justamente porque devemos evitar bolinhos e aglomerações nesta época pandêmica. Além do mais, ele e elas estavam usando as máscaras regulamentares.

A coisa só começou a desandar porque em duas das fotos tiradas por sua filha mais velha ele apareceu sem máscara. Fiquei meio em choque com sua aparência mas, para fazer gracinha, resolvi fazer uma selfie de mim mesmo (duh!), pois sempre me diziam que eu me pareço com ele. Quando vi meu retrato nem acreditei. Eu estava parecendo com o falecido ditador Sadam Hussein quando foi preso: barba grisalha, sobrancelhas com 1cm de espessura, cabelo grande (o que resta dele), cara espantada. O pior de tudo é que eu tinha me preparado para fazer a selfie! Troquei de camisa, penteei o cabelo, aprendi como se tira essas fotos no celular, encaminhei para mim mesmo por e-mail, recortei a imagem e (apesar do resultado obtido!) a enviei a título de comentário para sua filha (minha amiga de facebook), pedindo que ela mostrasse a foto para ele.

Parece normal? Tanto quanto serragem de madeira queimando: por cima, tudo ok, mas evite tentar espalhar a cinza com o pé, pois por baixo é brasa pura. E foi assim que eu me senti ao ver minha imagem tão laboriosamente obtida. Não podia demonstrar, mas fiquei putíssimo com meu tio, pois o filho da puta que fez 81 anos agora em abril continua parecendo mais novo que eu! Mandei minha foto, mas decidi que vou bloquear o perfil de sua filha só para não ver novas fotos desse meu tio. E, se bobear, ainda crio algumas fake news sobre ele. Não dá para ser moderado numa época dessas!

sábado, 29 de maio de 2021

A CULPA DESTE POST NÃO É MINHA, É DO SCANT!

 
Olha, meu caro Scant, você agora me deixou apertado! A palavra “animado” não está necessariamente relacionada às músicas que comentei aqui no blog. E um dos motivos é por gostar de ouvir música, ficar ligado na interpretação, no som. Eu só presto atenção na letra se eu gostar muito da música. Pra você ter uma ideia, eu gosto de shows ao vivo que têm cadeira numerada. Fico puto com o pessoal dançando na minha frente. Música para mim seria mais uma comunhão que uma celebração. Por isso, as músicas de que mais gostei sempre tiveram essa pegada de comunhão comigo mesmo, mesmo que o som fosse um rock pauleira. Para não me alongar muito, fiz um top ten com uma breve explicação.  Curiosamente, duas dessas músicas nunca mereceram um post exclusivo e nem estão relacionadas em minha lista (Stardust e She loves you).
 
Outra curiosidade: para mim, algumas melodias são tão absurdamente lindas que eu sempre digo que Deus devia estar fungando no cangote do compositor, dizendo para mudar esse ou aquele acorde, etc. Disse isso uma vez ao próprio compositor da música que abre a listinha (que recomendo demais):
 
- Paixão e Fé, gravada pelo Milton Nascimento (quando ainda tinha voz):
https://www.youtube.com/watch?v=3sQ7wXEQgdc
 
- Chove lá Fora, gravada ao vivo pelo Milton Nascimento, que a dedica a dois artistas brasileiros mortos em um desastre de avião:
https://www.youtube.com/watch?v=CtGPGaXprzw
 
- Nascente, também gravada pelo Milton Nascimento em dueto com o Flávio Venturini (que a compôs em parceria com Deus):
https://www.youtube.com/watch?v=V0_5HfjcGQc
 
- Tive Sim, música lindíssima do Cartola cantada pelo Luis Melodia em algum evento:
https://www.youtube.com/watch?v=eMowm9qiKaY
 
- Stardust, música do final da década de 1920 e gravada por trocentos intérpretes. A melhor gravação quem fez foi o Willie Nelson. Deus também participou dessa.
https://www.youtube.com/watch?v=Hf5UvKjCDUU
 
- She loves you. Gravada pelos Beatles, foi a música que me “aplicou” a Beatlemania:
https://www.youtube.com/watch?v=nGbWU8S3vzs
 
- Cry me a River, gravada ao vivo da forma mais ensandecida possível pelo Joe Cocker (provavelmente chapado). Vale a pena comparar com as gravações calmas e suaves de outros intérpretes.
https://www.youtube.com/watch?v=Tjs3zvvnDEY
 
30/10/17 - Rhapsody In Blue - George Gershwin. Aos 10 minutos e quarenta segundos  acontece uma “epifania”.
https://www.youtube.com/watch?v=cH2PH0auTUU
 
Mr. Sandman. Não consigo explicar minha atração por essa música, originalmente  gravada pelo grupo Chordettes em 1954. Para mim tem gosto de milk shake, paquerinha, sessão da tarde, cobertor a dois.
https://www.youtube.com/watch?v=eFvOCwPFhjA
 
Take The "A" Train (Rocksteady Version). Originalmente um clássico do jazz, traz um pistom (ou trompete) que é uma delícia, se me entende.
https://www.youtube.com/watch?v=KSll3BxRY84

E enquanto ia buscando os links para este post a que eu mais gostei de ouvir de novo foi "Tive Sim" (talvez pelo significado oculto).
 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

ORGASMO VIRTUAL

 
No dia 26 de maio o senador Flávio Bolsonaro postou no Twitter este inocente comentário: “Mesmo no auge da segunda onda de covid, Brasil consegue criar 120 mil novas vagas de emprego. De janeiro a abril o saldo positivo foi de quase 1 milhão de empregos com carteira assinada. Com a vacinação em massa engrenando, o cenário estará melhor a cada dia!”
 
Achei muita graça ao ler os comentários de alguns fanáticos que o seguem, mas não vale a pena gastar tempo com idiotas. O que me fez transcrever o tuite do filhão zero um é o fato de ter me lembrado de um caso grotesco que ouvi faz muito tempo e que tentarei reproduzir. Antecipadamente peço desculpas pelo palavreado chulo utilizado, bastante diferente do habitualmente encontrado no Blogson, mas o assunto a ser abordado assim pede.
 
Em algum momento do início do século XX, em algum grotão das Minas Gerais aconteceu de um velho endinheirado perder sua capacidade de manter relações sexuais com mulheres, com as prostitutas de que tanto gostava. Dizendo claramente, seu pau não subia mais, estava broxa. Mesmo assim, continuava a dirigir-se ao puteiro da cidade e ficava por ali dando mole (nesse caso, literalmente). Como em outras situações, muitas vezes os opostos se atraem. E os opostos nesse caso eram jovens sem dinheiro (duros também nesse caso).
 
Provavelmente por iniciativa do velho, começava a rolar uma conversa descontraída. Talvez o idoso perguntasse se o mais novo estava a fim de dar uma trepada, ouvindo como resposta um “não” devido à falta de grana. O velho prontamente dizia que se esse era o motivo então estava resolvido, pois ele lhe daria o dinheiro para pagamento da puta. Só havia uma condição (plenamente aceita): queria ver a “consumação do ato”. Parece que essa sociedade virou um “case de sucesso” local, cada vez mais divulgado, cada vez com mais “sócios”.
 
Feita e aceita a negociação, o velho instalava-se em uma cadeira talvez ligeiramente oculta por alguma cortina ou lençol e o “espetáculo” começava. Quem me contou essa bizarrice talvez tenha sido um desses atores (ou sócios), pois disse que o velho voyer tomado de grande entusiasmo às vezes intervia, exclamando coisas como “Mete nela o ferro!” ou “É disso que ela está precisando!”. Como se diz em Minas Gerais, naquele momento, naquele lugar, um velho sátiro estava querendo “gozar com o pau dos outros”.
 
A mesma coisa parece querer o filhão das rachadinhas ao fazer esse comentário extemporâneo de louvação aos efeitos benéficos da vacinação, uma espécie de orgasmo à distância, virtual. Por que não disse isso um ano atrás? Nada mais patético, nada mais ridículo, nada mais oportunista, concordam?

quinta-feira, 27 de maio de 2021

RECICLANDO AS EXCELÊNCIAS

 
Tenho acompanhado as sessões da CPI da Covid que a GloboNews transmite ao vivo. É muito educativo ver os senadores da República se estranhando. Outro dia o presidente da comissão reagiu à provocação de um dos integrantes da tropa de choque bolsonarista dizendo educadamente: “Vossa Excelência é um oportunista!” e outras (merecidas) delicadezas do gênero. Sinceramente falando, fico estarrecido com a desfaçatez que alguns senadores da "base aliada" exibem ao tentar defender o indefensável, E quando digo "indefensável" estou me referindo a uma pessoa de carne e osso, que poderia ser identificada com outros adjetivos de triste rima, tais como: condenavel, execrável, abominável, impalatável, imbroxável, etc.
 
Outra coisa que chama minha atenção é o fato de um ministro ser também chamado de “Excelência”. Entretanto, bastou ser demitido para se transformar em “Senhoria”. Fico pensando que se o próprio Einstein fosse inquirido numa comissão dessas seria chamado de Vossa Senhoria. Mas basta um zé mané, um pé rapado qualquer ser eleito que imediatamente se transforma em “Excelência”. Pensando na graça involuntária que essa idiotice carrega, resolvi reciclar um post originalmente feito em “homenagem” aos “paralamentares” que discutiam o impixo da Dilma, quando já era visível um pé se aproximando de sua bunda.
 
Como resolvi não mudar nem mesmo uma vírgula do post original, peço a atenção dos eventuais leitores ao fato de ter pela ex-presidente o mesmo apreço que tenho hoje pelo Bolsonaro, ou seja, nenhum.
 
 
Tenho acompanhado com interesse, atenção e cochiladas o desenrolar do processo de impeachment da Dilma no Congresso Nacional. Dessa falta absoluta do que fazer tirei algumas constatações básicas: quando os parlamentares que defendem a presidente falam, tenho sempre alguma ânsia de vômito e a tontura que venho sentindo ultimamente (essa é real) aumenta um pouco.
 
Outra observação que fiz é que, pelo menos na comissão da Câmara, os parlamentares dividiam-se ou apresentavam-se em “blocos”. Como não consegui entender o que isso significa, pensei em alguma coisa tipo bloco carnavalesco ou de axé, pois tem hora que a coisa lá na Côrte lembra mais um carnaval.
 
Finalmente, percebi que deputados e senadores são invariavelmente tratados por “Vossa Excelência”, mesmo que algum deles esteja sendo ofendido ou destratado por um interlocutor que manifesta o desejo explícito de arrancar sua cabeça na dentada. Como naquela sessão em que ao sentir-se ofendido, um deputado reagiu com extrema delicadeza ao dizer esta frase lapidar -“Fascista é a puta que pariu!” Acredito que o Zé de Abreu (quem é ele mesmo?) talvez não gostasse de que alguém cuspisse nele essa frase.
 
Com essa cultura toda invadindo minha mente como se fosse um bando do MST – Movimento dos Sem Toddy, resolvi arregaçar a manga (Mangifera indica) para propor novas formas de tratamento a usar no Congresso porque, se observar bem, nem todos que ali estão são tão “Excelência” assim. Para facilitar o entendimento, dividi os parlamentares em “blocos” extrapartidários distribuídos por estilo de atuação, sugerindo dez opções para cada um deles:
 
BLOCO DO ECTOPLASMA
(Formado pelo pessoal que ama ficar em qualquer lugar, menos onde são pagos para estar).
Vossa Abstinência, Vossa Ausência, Vossa Carência, Vossa Comparecência, Vossa Dependência, Vossa Indolência, Vossa Inexistência, Vossa Insuficiência, Vossa Infrequência, Vossa Repetência.
 
BLOCO DO FISIOLOGISMO
(Composto pelos adeptos da frase "Hay Gobierno? Siempre a favor").
Vossa Acedência, Vossa Anuência, Vossa Codelinquência, Vossa Complacência, Vossa Condescendência, Vossa Conivência, Vossa Impudência, Vossa Obediência, Vossa Subserviência, Vossa Tangência.
 
BLOCO DA FOTOSSÍNTESE
(Pessoal que entra mudo e sai calado, dorme em cima do saco ou lembra planta decorativa).
Vossa Arborescência, Vossa Bolorência, Vossa Decadência, Vossa Degenerescência, Vossa Dormência, Vossa Ensurdecência, Vossa Flatulência, Vossa Inapetência, Vossa Sonolência, Vossa Subconsciência,
 
BLOCO DEMORÔ
(Esse é só para os investigados da Lavajato e outros inquéritos ou para quem está com o cu na mão de medo de ser "achado" pela Polícia Federal e pelo Juiz Moro).
Vossa Ardência, Vossa Delinquência, Vossa Deprimência, Vossa Excrescência, Vossa Inconsciência, Vossa Inconsequência, Vossa Indecência, Vossa Maleficência, Vossa Pestilência, Vossa Putrescência.
 
BLOCO É NO GRITO QUE EU GANHO
(Bloco ideal para o pessoal mais radical, seja de esquerda ou direita).
Vossa Contundência, Vossa Corpulência, Vossa Desinteligência, Vossa Estridência, Vossa Impertinência, Vossa Indigência, Vossa Insolência, Vossa Maledicência, Vossa Repelência, Vossa Virulência.
 
BLOCO DA SERENIDADE
(Alguém precisa trabalhar corretamente neste país!)
Vossa Ascendência, Vossa Coerência, Vossa Consistência, Vossa Decência, Vossa Eficiência, Vossa Eloquência, Vossa Previdência, Vossa Prudência, Vossa Referência, Vossa Sapiência.
 
Eu só não consegui descobrir ainda em qual grupo ficaria um Vossa Eletroluminescência.

 

quarta-feira, 26 de maio de 2021

ENCICLOPÉDIA DIGITAL

Recentemente divulgaram os resultados de uma pesquisa realizada por alguma universidade. Creio o instituto que realizou essa pesquisa pertence ou está vinculado à UFMG. E por estar também com preguiça de ficar lendo textos mais longos na internet, fiz uma “leitura estática” das estatísticas (é uma prima da leitura dinâmica que pratico, pois você nem lê realmente nada, só presta alguma atenção nos trechos em destaque enquanto vai rolando o texto na tela, entendeu?). Já tentei encontrar essa matéria, mas por preguiça, desisti na primeira tentativa.
 
E um dos dados que mais chamou minha atenção é o fato da moçada da direita (com ênfase nos bolsonaristas e pessoal da terceira idade) informar-se preferencialmente pelas redes sociais, desprezando ou duvidando das notícias publicadas na grande mídia impressa. Tá explicada a origem da Terra plana!
 
Diante dessa descoberta acho razoável propor a criação de uma enciclopédia digital de direita, uma "Desciclopédia", uma Wikipédia nacional específica para atender a sede de saber, as crenças e as esperanças desse povo. Para começar, sugeriria a redação de alguns verbetes bastante chamativos: “Imbroxável”, “Imorrível”, ”Incomível”, “Golden Shower”, “Chupão na Barriga”, “Cloroquina”, “Capacho” e outras palavras do universo mítico. Qual seria o nome para uma enciclopédia assim, tão revolucionária (*) quanto foi a Encyclopedie de Diderot, D'Alembert e Cia. Ltda.? Ora, meu caro War(t)son, claro que seria Barsanaro!
 
(*) Pensando bem, talvez não seja de bom alvitre considerar “revolucionária” a nova enciclopédia proposta. Sei lá, tem tanto “cachorro louco” por aí que poderia acabar dando merda.



segunda-feira, 24 de maio de 2021

PARÁGRAFOS PESSOAIS - O EX-ESTRANHO

 
Tenho andado meio descarado ultimamente. Presto pouca atenção ao que as pessoas tentam me dizer e falo coisas que as deixam horrorizadas ou constrangidas. Além disso, mesmo não sendo cleptomaníaco pego coisas de outras pessoas sem pedir licença. Mas não são coisas físicas, objetos. São coisas que vivem no plano intelectual, são palavras, expressões, frases e até textos inteiros, como é o caso deste post. E o que me impulsiona a fazer isso é a identificação, é a admiração e o prazer que sua leitura me proporcionam.
 
Este é o motivo de ter dito tantas abobrinhas até agora, pois descaradamente, sem pedir licença, invadi o blog de um amigo virtual e copiei integralmente o texto transcrito logo abaixo. E o motivo para esse descaramento é uma identificação quase total com os sentimentos e sensações nele descritas pelo autor. Mas creio que é um texto ficcional, não retrata sua realidade. E digo isso pela repetição no início de cada parágrafo da frase “eu ando meio cabisbaixo”. Mesmo assim, é um texto elegante (como, aliás, é seu blog – clean, limpo, belas imagens, ótimos textos). E gostei tanto que comentei considerar o autor meu filho espiritual. Mas sem direito a mesada ou herança! Olhaí.
 
 
Eu ando meio cabisbaixo. Desanimado com tudo. Certamente impulsionado pelo estado caótico de nossa sociedade? Certamente. Mas vai um pouco além. Talvez por uma questão de "tanto faz". Nunca me importei com dinheiro, não tenho crenças religiosas, não pretendo ter uma família, não tenho 'desejos' e sonhos a serem realizados, não gosto de multidões, não tenho times para torcer, não sou fanático por ideologias, não gosto de carros ou motos, não sou o melhor em nenhum esporte, enfim.
 
Eu ando meio cabisbaixo. Não em um estado depressivo, que se diga. Não em um estado de dar dó. Não também em aparência, pois quem me vê, diz que nunca estive melhor. Elogiam meu desenvolvimento intelectual (como sempre), mas, em verdade, sou um bom sofista, tão somente. Alguém que sabe brincar com as palavras e convencer a muitos em diversos assuntos e temáticas. Não me reconheço como 'inteligente', talvez sim como explorador. Gosto de vasculhar os cantos, de descobrir o óbvio, o que estava escancarado e ninguém notou. Elogiam, também, minha calma para escutar. Mas sou um péssimo ouvinte. Novamente, sei analisar bem as situações e entender os motivos de ocorrência de x ou y comportamento. Sou psicólogo. E sei que dos bons. Mas me importo? Tão raramente. Escuto, atentamente, mas com um vazio apreciativo. Escuto as vozes como escuto o som das ruas e o mugir da vaca. Escuto pois falam. Talvez seja algo da profissão, se envolver demais com os casos, retira o poder de compreensão de um observador. Talvez seja só uma desculpa que inventei agora.
 
Eu ando meio cabisbaixo. Estar enclausurado nunca foi um problema, desde que fosse opcional. Por motivos adicionais, me causa desgaste. Eu gosto de estar só, mas não gosto da solidão. Eu gosto do silêncio, mas não gosto do zumbido confuso que me devora. Me vejo um rato num laboratório experimental, eu mesmo sou o experimentador, eu mesmo sou o rato, eu mesmo sou a caixa. Vez ou outra me distraio com coisa qualquer. Mas é suficiente?
 
Eu ando meio cabisbaixo. E me sinto novo demais pra ser tão velho. Tenho o que me faz sorrir, claro.  Meu contrabaixo, minha gaita, meus gatos, alguns amigos e amigas, o gosto do café, as plantas no quintal, um bom churrasco, entre outras coisas mais. Conforme os meses passam, sei que se trata de uma fase, de um momento ruim, de uma situação que, como todas, é passageira.
 
Mas eu ando meio cabisbaixo. Tenho sentido com mais intensidade o que me invade o íntimo. E eu choro. E eu me perco olhando para o além. E não sei se isto é mesmo ruim. Por muito não me permiti sentir seja lá o que fosse. Normalmente, eu me embrutecia com quem demonstrasse algo de afeto. E me manipulava a ponto de distorcer meu próprio sentir. Talvez por isso sempre escrevi poesia. Um modo de despejar de modo codificado os meus segredos e enredos. Hoje, me deixo sentir. Costuma machucar. Mas ainda que meio cabisbaixo, é como se de alguma forma, eu estivesse um pouco mais vivo. Ninguém enxerga a própria sombra no escuro completo. Eu a vejo. E ela quer domar a luz, mas sabe que sem a luz, inexiste.

sábado, 22 de maio de 2021

NA BIGORNA DE EXATAS

Apesar de ter dois irmãos que eram bastante chegados a esses lances esotéricos que atraem tanta gente, eu nunca me liguei muito nessas coisas. Não sei, talvez por sempre ter sido malhado na bigorna de Exatas, eu tenha bastante resistência em acreditar no poder de certas terapias e procedimentos alternativos. Florais são um exemplo disso. Para mim, o efeito calmante de um floral está mais relacionado à concentração e atenção necessárias para contar a quantidade de gotas prescritas pelo terapeuta. Só isso já faz a pessoa esquecer seus problemas por um ou dois minutos. 

Runas eu prefiro nem comentar. Agora, aromaterapia pode funcionar bastante - desde que o sujeito possa aspirar de perto o perfume delicadamente aspergido no pescoço de uma bela mulher. Traduzindo, desde que ele possa cheirar o cangote da gostosa. Pesquisas revelam que esse procedimento cura ou reduz sensivelmente a inapetência sexual de quem o pratica.

Outra coisa que eu tenho dificuldade de fazer é meditação. E não estou brincando, pois é uma prática que me faz morrer de inveja de quem tem essa manha. Todas as vezes que tentei meditar seguindo orientações do Doutor Google eu quebrei a cara. Na primeira vez, fiquei meditando tanto na minha situação financeira que precisei depois tomar leite com Toddy para relaxar. Na segunda, graças ao esforço consciente de paralisar o cérebro (não foi tão difícil...), acabei dormindo igual a um filhadaputa. Mas não desisti. Ainda vou conseguir fazer essa merda, nem que tenha de tomar florais de Bach antes ou depois! E como não tenho esses produtos aqui em casa, penso que ouvir a música de Bach no Youtube talvez funcione igual ou melhor.

Mas o que mais me intriga mesmo são essas coisas do Oriente, romances astrais. A minha alucinação é suportar o dia a dia, o meu delírio é a experiência com coisas reais (porra, acho que acabei de plagiar o Belchior!). E a mais estranha para mim é a reflexologia podal. Para quem não sabe, algum sábio, astrólogo ou vidente do Oriente descobriu que uma massagenzinha nos pés tinha reflexo em vários órgãos do corpo humano. E nem pense que estou me referindo a nós dois numa banheira de espuma, el cuerpo caliente, um dolce far niente sem culpa nenhuma (porra, acho que acabei de plagiar a Rita Lee!), pois o papo aqui é sério.

A reflexologia baseia-se na teoria de que algumas regiões da planta dos pés estão conectadas a certos órgãos e sistemas do corpo. Assim, a aplicação de diferentes quantidades de pressão nesses pontos pode restaurar o fluxo de energia por todo o corpo. Pelo que entendi, parece que a reflexologia podal é uma espécie de wi fi energética.

Mas, por ter surgido no Egito há 2.500 anos, algum erro de tradução pode ter acontecido, pois se você comparar duas, três ou mais imagens da localização dos pontos a massagear verá que há divergências. Por exemplo (real!), o ponto da coluna em uma imagem pode estar localizado no calcanhar enquanto outra imagem mostra a coluna perto dos dedos. Aparentemente (vá saber!), faltou algum tipo de GPS energético para definir de forma inequívoca onde apertar o quê.

Independente dos problemas de localização, o que me grila mesmo é o efeito que situações banais podem provocar. Por exemplo, já pensou o que pode acontecer se pegar um bicho de pé no ponto do ouvido? Uma teleconsulta médica seria quase impraticável. Como explicar ao doutor que está com um bicho de pé no ouvido? Complicado! Mas, pior mesmo seria um espinho entrar no seu pé justo no ponto do coração. O que poderia acontecer? A pessoa cairia dura no chão, vítima de um vodu podal?

Estava matutando sobre essas terapias quando me ocorreu que também se poderia usar uma imagem do corpo humano para situar de forma alegórica algumas emoções e comportamentos. Saca só o desenho a seguir: Razão, Emoção e Paixão são quase autoexplicativas. A Crença e a Ideologia precisam de uma explicaçãozinha. Relacionei a Crença aos joelhos justamente pelo fato de muitas vezes a pessoa se ajoelhar para fazer uma prece, por crer no divino, na divindade. A explicação da Ideologia é mais prosaica. Foi localizada na bunda porque quem coloca sua visão ideológica acima do bem estar e da saúde de toda uma população só pode pensar com a bunda!





quinta-feira, 20 de maio de 2021

TIOZÃO DO CHURRASCO

 

O telefone toca e alguém atende:

- Alô?

 - Alôôôuu!!!

- Rapaz, é você mesmo? Quanto tempo, até pensei que já tinha morrido!

- Que nada, estou mais firme que prego na gelatina!

- Isso é que é estabilidade! Por que não liga mais?

- Ah, esse negócio de conversar po telefone é meio sacal. E video-chamada é pior ainda. Você, por exemplo, que já tem cara de idiota ficaria ainda mais feio.

- Vá à merda, mané! Você ligou só para me ofender?

- Tá bom, mas que você tem feito?

- Ah, com a necessidade de isolamento, tenho lido muito. Estou lendo agora sobre mitologia grega.

- Olha a erudição do cara!

- Sabe como é, né? Mito por mito prefiro os mitos gregos!

- Ahah! Boa!

- E você, continua sem noção como sempre?

- Nada, amadureci muito com esse isolamento forçado. Agora estou esquematizando um negócio para acontecer depois da pandemia.

- Sério? E o que vai rolar? Fábrica de vento engarrafado? Reciclagem de camisinha?

- É sério, velho! Estou pensando em abrir um boteco temático.

- Explica.

- É um boteco que serve apenas um tipo de prato, mas uma coisa top, que todo bebum gosta.

- Bacana a ideia! E qual seria esse prato?

- Fígado acebolado. No Mercado Central é o maior sucesso!

- Não é isso que eu chamaria de "top", mas então já tenho até um nome para seu boteco: “Birosca do Prometeu”.

- Porra, que nome escroto!

- Calma, pois a publicidade seria muito chique: “Venha comer o fígado do Prometeu. Horário de funcionamento: abutre das 10 da manhã até a meia noite”

- Se eu soubesse latim, diria que você está que nem o Catilina, por "abutrere patientia nostra"!

- Ô burro, não é "abutrere", é "abutere"!

- Eu sei, cuzão, ou você pensa que é o único que sabe fazer piada de tiozão do churrasco?



terça-feira, 18 de maio de 2021

GRR!!!

 
Algumas coisas me deixam tão perplexo que eu preciso registrá-las, falar sobre elas, mesmo que não tenha esperança de entendê-las. Calma, que eu explico: um dia desses recebi pelo uatizapi de um dos filhos uma imagem do Luis Fernando Veríssimo (meu ídolo) com estas frases que teriam sido ditas à Folha de São Paulo em entrevista ocorrida no mês de novembro de 2018:
 
“Já fui muito elogiado pelo que nunca escrevi”. “Há uma maneira de detectar se o texto é falso ou não: se o Luiz da assinatura for com Z, o texto não é meu. Se for contra o Bolsonaro, é.”
 
Depois de cancelar meus vínculos de "amizade de facebook" com os bolsonaristas mais exaltados, creio ter me tornado um pária dessa rede (ou a culpa é da "maioria silenciosa"), pois ninguém curte ou comenta mais nada do que posto (qualquer semelhança com o blog é mera coincidência). Mesmo assim, por achar divertidas as frases, copiei e colei a imagem no meu perfil de facebook. Esta imagem provocou duas(!) reações - uma de minha mulher (que curtiu) e outra de um primo de quem gosto muito. Mas ele não curtiu nem digitou “kkk”. Pelo contrário, escolheu o emoji que expressa raiva! Agora, cá pra nós, raiva de quê?
 
Essa “raiva” me deixou perplexo e eu precisei buscar no passado uma possível explicação para isso. Eu venho de uma família de gente conservadora. Conservadora e católica. Conservadora, católica e caipira. Quando eu digo caipira não estou me referindo à imagem do Jeca Tatu, do caipira dos antigos filmes do Mazzaropi. O caipira a que me refiro é o sujeito que nasceu no interior do interior, em fazenda, sítio ou povoado e que se mudou para a cidade grande trazendo consigo os modos, crenças e costumes do lugar de onde nasceu. Simples mas não simplório. Matreiro, desconfiado, ladino.
 
Ao contrário da família de meu pai, onde todos fizeram faculdade, só um irmão de minha mãe completou o terceiro grau. Os demais exerceram profissões dignas mas modestas – vendedores, escriturária, secretária, mecânico, donas de casa. Isso prova alguma coisa? Prova. Prova que curso superior não é vacina para depressão nem aditivo para realizações profissionais ou para a alegria de viver e bom humor. Nesses quesitos meus tios maternos ganharam de goleada dos depressivos parentes paternos.
 
Mas uma coisa os unia: o conservadorismo e a alergia a tudo que lembrasse “comunismo”. Todos eram católicos fervorosos, todos foram a favor do golpe de 1964 (embora talvez morressem de medo de ser confundidos com quem tinha sido contra). Escrevi no passado porque, estatisticamente falando, a maioria já morreu. Mas creio que esses valores foram passados para todos os filhos, alguns até com excesso. Caso de um primo (já contei esta história aqui) que quando jovem participou da TFP – Tradição, Família e Propriedade e que um dia, no início da década de 1970, vi perfilado com outros jovens na avenida central de BH empunhando estandartes vermelhos com letras douradas e gritando slogans patrióticos. Contra quem mesmo? Quase me esquecia! Contra o “comunismo ateu”, lógico.
 
Mas esse fundamentalismo não parecia se aplicar ao outro primo, o meu “amigo de facebook”. Creio que foi no velório de minha mãe que fiquei sabendo que ele tinha se curado de um câncer mega agressivo e esse era o motivo de publicar tantas orações, imagens religiosas e coisas do gênero. Depois dessa provação - segundo ele suportada em grande parte com as orações que os diversos “times religiosos” fizeram por sua cura -, qualquer coisa que recebesse ou visse no feicibuque era imediatamente compartilhada. Então, até aí nenhuma novidade para um sujeito de família católica tradicional.
 
O problema todo começou depois da posse “dele”, “daquele”, do “coiso”, do “anta”, do mito. Sem que eu me importasse muito com isso, comecei a ver posts que louvavam coisas como a inauguração de meio metro de meio-fio, imagens diversas com aquele mantra “isso a Globo não mostra” e algumas fake news. Eu checava por conta própria algumas imagens ou notícias com cheiro de armação bolsonarista e avisava para ele, que agradecia e removia o post. Só que aí começou a pandemia, trazendo como efeito colateral a exibição despudorada de todo o absurdo preconceito, crenças equivocadas, desprezo e negação da Ciência, total falta de sensibilidade, compaixão e solidariedade de um basbaque diante das mortes pela Covid.
 
Para mim, as mortes que poderiam ter sido evitadas foram um ponto de ruptura, pois parei de torcer pelo sucesso do mito, desabilitei o modo ideológico e decidi que em 2022 votarei em qualquer pessoa que dispute o segundo turno com o Bozo. Tanto faz se esse candidato for de esquerda, direita, de centro, monge budista, o ET de Varginha, o Tiririca ou o Véio da Havan. Se disputar com o Bozo terá meu voto mais decidido.
 
E é nessa linha que eu ri das frases atribuídas ao meu ídolo Luis Fernando Veríssimo. E que fiquei perplexo com a carinha de raiva clicada por meu primo. Eu odeio o Lula e o PT, mas será possível que meu primo odeie ainda mais que eu ao ponto de anestesiar a mente e se esquecer das milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas se o escroto que admira tivesse deixado de lado suas convicções delirantes e equivocadas e pensasse mais na população do país?
 
Cara, foi muita decepção! Perceber que pessoas como meu primo gente boa aceitam, toleram ou se recusam a ver que milhares de mortes tenham acontecido e ainda aconteçam por culpa de um boçal só porque odeiam o “comunismo” e são contra a corrupção (que continua a existir), é motivo de desalento, decepção e imensa tristeza para mim (antes de arrematar este texto mal alinhavado, queria dizer que pelo menos no Brasil é a extrema direita que faz de tudo para ressuscitar essa coisa anacrônica que é o comunismo. Quanto mais verde oliva-amarelo é alguém, mais entusiasmado estará em rotular de "comuna" quem apenas discorda de suas convicções). Mas, só para sacanear, acho que vou retaliar meu primo com as mesmas “armas” que usou: agora, se ele postar uma oração, frase do Chico Xavier, uma imagem de inspiração religiosa ou de auto ajuda, meto-lhe nas fuças um emoji fazendo “Grr” e quero ver. Reage agora, primo!



domingo, 16 de maio de 2021

FREUD, POR FAVOR, VOCÊ EXPLICA ETC., ETC. (CONTINUANDO)

 
Como talvez se lembrem os leitores mais antigos do Blogson, eu já contei que quando jovem, fiz dois anos de psicanálise de grupo e pude conviver com pessoas absolutamente normais, cujo único traço era algum tipo de medo, fobia ou neurose que fez com que procurassem ajuda profissional. Só um dos companheiros de terapia era diferente. Depois de abandonar uma sessão pelo meio dizendo que ia se suicidar, o psiquiatra que nos atendia disse que ele era psicótico, por isso a estranheza que causava em todos. Esse cara também era normal, aparentemente normal na maioria do tempo, mas tinha reações muito impulsivas. E não se suicidou.
 
Uma das minhas opções na época do vestibular era cursar psicologia, mas acabei estudando engenharia, profissão em que 2 + 2 = 5 pode ser uma possibilidade perfeitamente normal (taí o Petrolão, o Mensalão, as rachadinhas e todo tipo de sacanagem e putaria com o minguado dinheiro público). Mas nunca deixei de curtir e valorizar a turma do Freud e suas teorias. Justamente por isso resolvi ampliar um pouco o post anterior. Como já tinha sido publicado, a solução era postar mais um, que é este.
 
A propósito dos trechos da reportagem de capa da revista Isto É, eu penso que mesmo sendo feita por um psiquiatra ou psicólogo, poderia parecer suspeita uma avaliação de insanidade do Bozo feita à distância. Mas eu não vejo assim. Na verdade, eu não o vejo como louco, eu apenas acredito em um comportamento diferente da maioria das pessoas. E é essa informação que a revista aborda.
 
O que quero dizer com isso é que mesmo não sendo da área, mesmo não acreditando em uma teoria da conspiração contra o Bolsonaro, eu creio que o mito possa ser portador de alguma coisa do espectro de doenças psicanalíticas. Não sei o nome, mas duvido que não tenha. Outro que levaria esse carimbo seria o Carluchinho, que não parece nada normal (também sem ser louco). Pode ser psicopata? Pode. Pode ser sociopata? Idem. Pode até ser equilibrista, mas equilibrado não parece ser.
 
E penso assim por ter recebido há muito tempo um teste que avalia se um sujeito pode ser um sociopata (muito antes de saber da existência de um deputado do baixo clero, de outro estado e que se chamava Jair Bolsonaro). Quando recebi, pensei imediatamente em um parente próximo  que hoje,  coincidentemente, só “por acaso”, é um bolsonarista jumentado, ou melhor, juramentado). Questão de identificação, talvez.
 
Honestamente, eu tenho a crença de que um profissional decente, íntegro,  dessa ou de qualquer outra área, jamais iria queimar o próprio  filme ao forçar a barra em cima de uma situação passível de análise só por não estar no mesmo alinhamento ideológico de quem ou o que se propõe a avaliar. Exceções existem? Claro, mas não são maioria. É o mesmo que imaginar um professor de geografia ensinando que a Terra é plana ou um professor de biologia falar de Adão e Eva. Repetindo: existe gente assim? Claro que existe, mas só um tolo pode pensar que esse é o comportamento da maioria dos profissionais.
 
Pensando nisso e como complemento do post anterior, resolvi tentar achar o “quiz do sociopata” (eu guardo uma tranqueira imensa!) E achei. Não é exatamente um teste, mas pode ser convertido em um. Agora, façam uma avaliação da forma menos preconceituosa possível e imaginem se nosso presidente não veste bem essa roupa. Eu acho que veste! Olhaí:
 
 
Abaixo, listamos algumas características típicas do transtorno que vão ajudar você a identificar um possível sociopata dentre as pessoas que você conhece.
Veja como identificar um sociopata:
 
1. Mentiras constantes
Uma das principais características de um sociopata são as mentiras constantes para encobrir a verdade sobre seu comportamento, seu passado, suas ações e assim por diante.
Pessoas assim criam uma mentira convincente e conseguem prender as pessoas e manter a lealdade delas por meio dessa estratégia.
 
2. Ausência de remorso, culpa ou vergonha
Um sociopata, normalmente, não tem muita sensibilidade para lidar com outras pessoas e não costuma sentir culpa, vergonha ou remorso, mesmo que seu comportamento cause grande sofrimento.
Quem tem o transtorno também costuma jogar a culpa em outras pessoas, sem contar a capacidade que tem de machucar e passar por cima de qualquer um que possa atrapalhar seus objetivos.
 
3. Falta de empatia
O olhar frio é uma das características mais marcantes de um sociopata. Ele também não reage emocionalmente a situações perigosas ou assustadoras.
Um sociopata sempre parece distante e indiferente às pessoas pela falta de empatia, ou seja, pela incapacidade de se colocar no lugar do outro.
 
4. Habilidade em manipular
Por ser uma pessoa inteligente, atraente e até simpática quando quer, o sociopata tem uma grande habilidade em manipular as pessoas. Por meio da fachada de mentiras que ele cria, conquista pessoas e boas oportunidades por meio da manipulação.
Quando um sociopata é pego na mentira, por exemplo, aí é que seu poder de manipulação aflora. Normalmente esse tipo de pessoa é mestre em fazer declarações de arrependimento (mentirosas) extremamente convincentes.
 
5. Comportamento explosivo
Devido à falta de empatia, quem conta com o transtorno costuma se preocupar somente com suas necessidades. A consequência disso é que a pessoa tende a ficar nervosa e até violenta quando não consegue o que quer. Comportamento volátil e propensão a explosões emocionais, como acessos de raiva, também são características marcantes.
Na infância, por exemplo, esse tipo de comportamento pode se manifestar na crueldade contra animais e pessoas indefesas. Na vida adulta, por outro lado, ele também pode ser cruel com pessoas e animais, mas suas práticas mais comuns são os abusos mentais e emocionais.
Comportamentos violentos, em momentos de raiva, como socar a parede, jogar objetos no chão e assim por diante também fazem parte do comportamento de um sociopata.
 
6. Egocentrismo
Uma das características marcantes de um sociopata é a percepção exagerada que ele tem de si mesmo. Ele costuma ser narcisista e tem um enorme sentimento de merecimento, além de se julgar a melhor pessoa do mundo.
Quem sofre com o transtorno também não costuma ligar para críticas e ama falar sobre si mesmo.
 
7. Falta de vínculos
Apesar de ser carismático, um sociopata não cria vínculos emocionais com as pessoas. Seus amigos são mantidos por perto para satisfazer suas necessidades e, normalmente, são pessoas que acatam ordens.
Com relação à família, o sociopata também se mantém distante, até porque é comum que ele tenha tido uma infância marcada por abusos físicos, emocionais, entre outros traumas.
 
8. Desrespeito pelas leis, regras e costumes sociais
Outra “marca” de um sociopata é o ódio às regras, leis e convenções sociais. E isso costuma se manifestar desde a infância ou, pelo menos, a partir do início da adolescência.
Em alguns casos, é comum que sociopatas acabem se envolvendo em atos criminosos e violentos devido ao desrespeito às leis e regras.
 
9. Impulsividade e irresponsabilidade
Sociopatas agem impulsivamente e buscam gratificação imediata de suas necessidades. Eles, basicamente, não toleram frustrações.
Eles podem até ouvir a sensatez por um tempo, mas a inquietação e a impulsividade faz com que eles revelem sua verdadeira natureza de uma hora para outra, acumulando dívidas, abandonando suas famílias, desperdiçando dinheiro e até mesmo cometendo crimes.
 
10. Desrespeito à segurança alheia
Um sociopata costuma ser extremamente irresponsável e imprudente quando o assunto é a segurança alheia. Esse tipo de comportamento pode ser percebido pela forma como dirigem, por exemplo, normalmente em alta velocidade, embriagado ou provocando acidentes.
Quem sofre com o transtorno também pode se engajar em algum tipo de comportamento sexual ou de uso de substâncias de alto risco sem pensar nas consequências, bem como negligenciar os cuidados com um filho.

E então, depois de conferir essa lista, você consegue pensar em algum possível sociopata que você conheça? Pense bem, é possível que pessoas próximas, MUITO próximas de você sofram com o transtorno sem saber!
 


FREUD, POR FAVOR, VOCÊ EXPLICA PRA GENTE AQUELE SUJEITO ALI?

 
Tirando o título do post de hoje e estas frases iniciais, o texto a seguir é a transcrição literal de trechos da reportagem de capa da revista Isto É desta semana. Só para que fique claro: como bem devem meus leitores mais antigos se lembrar, meu comportamento em relação ao atual governo é semelhante ao que eu tinha em relação aos governos petistas, aos quais só malhava. E falar mal de um e de outro só é possível por eles merecerem meu total desprezo e por eu ser radicalmente moderado, de centro (mas nunca do Centrão).
 
 
Uma gestão insana
Bolsonaro reage com raiva e desequilíbrio ao avanço da CPI da Covid. Juristas, parlamentares e até aliados apontam falta de condições psicológicas para continuar no cargo.
 

Sua ex-apoiadora, Joice Hasselmann aponta sua “gigantesca mania de perseguição” e o “narcisismo exagerado”. Ela diz que é procurada por psiquiatras há meses para traçar o perfil do mandatário. Por isso, propôs uma PEC da Insanidade destinada a destituir qualquer presidente por “incapacidade mental”. É inspirada na 25ª Emenda da Constituição dos EUA, que prevê a transferência de poder para o vice-presidente no caso de doença física ou mental. 
 

Juristas e parlamentares há muito tempo apontam a incapacidade do mandatário para lidar com situações complexas. O psiquiatra forense Guido Palomba, ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, vai ainda mais longe e associa o presidente claramente, por diversas evidências, à psicopatia. Esse transtorno de personalidade, na opinião do especialista, descreve vários comportamentos do mandatário. O mais gritante é a falta de empatia, estampada pelas inúmeras manifestações em que mostrou indiferença pelas vítimas da tragédia, chocando o País. Outro aspecto é a vaidade exagerada, que faz o portador desse desvio de comportamento não tolerar contrariedades. Outra característica é a agressividade, que o torna mal-educado e provocador. A “inteligência limítrofe” faz o psicopata praticar atos bizarros, por teimosia. Também não reconhece erros. Se volta atrás, é por estratégia momentânea. Na opinião do psiquiatra, o psicopata não distingue o certo do errado quando ocupa cargo público. Só lhe interessa o poder, daí o fato de tornar-se tirano. Já em funções militares, desobedece e desacata a autoridade. É rancoroso e vingativo. Conforme os manuais, não se preocupa nem demonstra responsabilidade com o futuro daqueles a quem deve cuidar.


Juristas e professores pedem ao STF que Bolsonaro seja submetido a exames psiquiátricos
Um grupo de juristas entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira (13) pedindo o afastamento do presidente Jair Bolsonaro por “incapacidade”. As informações são do colunista Chico Alves, do Uol.
“Não o acusamos de crimes, sequer o acusamos. Estamos observando apenas que ele não pode exercer, e de fato não está exercendo devidamente, o cargo no qual foi empossado”, diz o texto assinado pelos professores Renato Janine Ribeiro, da USP, Roberto Romano, da UNICAMP, Pedro Dallari, da USP, José Geraldo de Sousa Jr, da UNB, e pelos advogados Alberto Toron, Fábio Gaspar e Alfredo Attié, presidente da Academia Paulista de Direito.
Na ação, o grupo alega que a ausência de exercício da Presidência “denota incapacidade, passível de ser investigada por meio de processo de natureza civil – portanto, não criminal nem de responsabilidade -, que tem o nome de interdição”.




sexta-feira, 14 de maio de 2021

OUVIDOS MOUCOS

 
A velhice é parecida com o carro velho que um conhecido meu possuía. Segundo ele, a furreca lembrava muito um kinder ovo, “pois sempre tinha uma surpresinha desagradável”. Velhice é mais ou menos assim. Quando você já está se acostumando com alguma restrição provocada pela idade, surge outra. E a coisa não para, tem sempre uma novidade para assimilar.
 
Por exemplo, a minha visão para perto que era uma beleza - mesmo que fosse só do olho esquerdo – começou a pifar, exigindo óculos com graus cada vez maiores. E assim eu fui apresentado à presbiopia, “vista cansada”, “doença de velho”. Hoje eu não leio quase nada se não estiver com óculos para leitura (dois graus e meio no olho “bom” e cinco no preguiçoso). Às vezes brinco que meu próximo passo será aprender Braille.
 
Mas não pensem que a coisa parou por aí.  Devagarinho, sem que eu a princípio percebesse, a audição foi piorando cada vez mais. Por exemplo, por já estarmos vacinados, no recente Dia das Mães nossos filhos vieram almoçar aqui em casa e ainda trouxeram as netinhas. Foi um dia magnífico. A única coisa que pegou foi quando eles começavam a conversar entre si. Pai amoroso, doido para interagir, eu me aproximava de onde estavam mas só ouvia "gloglogloontem, blobloblofoda!", não entendia porra nenhuma do que estavam dizendo!  Bom, pelo menos eu posso fazer uma piadinha ao dizer que o atual nível de surdez chegou silenciosamente. Mas é sério. 
 
Hoje em dia, quando eu e minha mulher conversamos (e ela está escutando tanto ou até menos que eu), frequentemente o constrangimento e a surpresa surgem, pois nosso filho responde o que eu iria ainda perguntar a ele. Mas ele está a uns cinco metros de distância pelo menos, em outro aposento! Nessas horas eu exclamo que ele tem “ouvido de leproso”, por ouvir demais. Para ser sincero, nunca tive a mínima ideia da origem dessa expressão pra lá de ridícula e incorreta. Mas hoje resolvi pesquisar na internet. E o que achei foi isto:
 
“Pelo fato da tuberculose ser uma doença letal e muito contagiosa, por vários anos os seus portadores buscavam o sigilo absoluto sobre o assunto. Por receio de ouvir comentários suspeitos de pessoas próximas, criou-se a ideia de que os tuberculosos estão sempre atentos aos cochichos e conversas alheias.
Por este motivo é comum falar que os fofoqueiros - pessoas intrometidas e que ficam constantemente atentas às conversas das outras pessoas - têm ouvido de tuberculoso.
Outra explicação é que o tuberculoso era muito discriminado. Quando se descobria que alguém tinha tuberculose, sussurrava-se às escondidas do doente e o tuberculoso, desconfiado de que estavam falando dele, tentava escutar tudo e todos para poder defender-se”. Que maldade!
 
Por esta explicação, deduzo que ouvido de leproso e ouvido de tuberculoso têm o mesmo sentido e um ponto de contato na microbiologia – tuberculose e lepra são causadas por bacilos. Mas esta é uma piada dispensável e totalmente incorreta, um verdadeiro vacilo meu, pois tenho o máximo respeito e um sentimento verdadeiro de compaixão pelas pessoas com algum tipo de deficiência, de qualquer tipo.
 
Por isso, vou contar um caso real que tive oportunidade de conhecer. Trabalhei em uma empresa pública que empregava em uma de suas unidades umas noventa pessoas com algum grau de perda auditiva, desde os totalmente surdos até os que conseguiam ouvir alguma coisa (chamados carinhosamente de “surdinhos do Paraguai”). Havia supervisores que conheciam Libras e a coisa fluía normalmente.
 
O que me encantava mesmo acontecia na hora do almoço. Vários deles juntavam-se em grupos de quatro ao redor de uma mesa e jogavam baralho com o auxílio de um cubo de madeira numerado. Nunca soube que tipo de jogo era aquele, mas achava interessantíssimo ver a movimentação. Que tinha até palpiteiro!
 
Outra coisa que chamava minha atenção era vê-los conversando. Por serem muitos, havia vários grupos no maior bate papo. E o que mais me fascinava era imaginar que havia rolado uma piada ou maledicência ao vê-los rindo muito. Nessas horas eu sempre pensava que não poderia haver segredos entre eles, pois mesmo a quinze metros de distância um grupo saberia o que o outro conversava.
 
Hoje, graças à minha progressiva perda de audição nossos filhos ficam me zoando, seja me comparando à velha surda do programa “A praça é nossa” (“Apolônio!”) ou lembrando uma propaganda de aparelho auditivo que dizia “Para você que escuta, mas não entende bem as palavras”. Tudo filho da puta! Para não ficar muito por baixo, retruco dizendo que vou aprender Libras, só para segredar alguma coisa à minha mulher (que precisaria também aprender), mas ela não acha graça nenhuma nisso.
 
Há um caso hilariante (já contado aqui no blog) que aconteceu com minha sogra. Uma de suas cunhadas convidou-a para um chá em sua casa e disse para levar “as meninas”. Nessa época, minha sogra então com mais de noventa anos já não ouvia quase nada e tinha também grande dificuldade para andar. Para evitar degraus e encurtar a distância a percorrer, entrei com o carro na garagem do prédio onde morava sua amiga. Minha mulher e suas irmãs a ajudaram a caminhar até o elevador e voltei para casa. Mais tarde, minha mulher ligou avisando que poderia buscá-las. Mesmo procedimento: entrei na garagem, esperei que fosse acomodada no banco da frente e fomos embora. Na volta, perguntei a ela pela reunião, se tinha gostado, se tinha conversado muito, etc. Foi aí que eu tive de segurar o riso (que queria explodir), pois me deu esta resposta:
- Ah, Zé, eu não tenho muito assunto e fiquei só escutando”.
Como assim? Ela não escutava porra nenhuma! Eu conversava com ela quase gritando, de tão surda estava! Aí fiquei imaginando minha sogra como se fosse uma planta decorativa ali na reunião, com alguém dizendo para por “o vaso ali naquele canto”. Sacanagem!
 
Antes de terminar este post preciso louvar os órgãos e empresas públicas por dar real oportunidade de trabalho para pessoas com restrições físicas de todo tipo. Pode ser exigência legal ou o que for, mas que é um procedimento bonito, comovente, necessário e justo, não se discute.
 
E agora o caso final: tenho uma nora que é fodésima, inteligentíssima e que já foi aprovada em três concursos públicos. Quando ainda estava trabalhando no órgão público do segundo concurso, teve oportunidade de conviver com dois irmãos deficientes auditivos. Um deles não escutava nem falava absolutamente nada e só se comunicava por sinais. O outro ouvia alguma coisa e devia ser pessimamente mal, pois falava pior ainda. Mas talvez se sentisse muito superior ao irmão, pois às vezes, apontando para ele, fazia o seguinte comentário com um sorriso maroto no rosto:
- Esse aí não “cutcha” nada!
 
  

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