segunda-feira, 24 de maio de 2021

PARÁGRAFOS PESSOAIS - O EX-ESTRANHO

 
Tenho andado meio descarado ultimamente. Presto pouca atenção ao que as pessoas tentam me dizer e falo coisas que as deixam horrorizadas ou constrangidas. Além disso, mesmo não sendo cleptomaníaco pego coisas de outras pessoas sem pedir licença. Mas não são coisas físicas, objetos. São coisas que vivem no plano intelectual, são palavras, expressões, frases e até textos inteiros, como é o caso deste post. E o que me impulsiona a fazer isso é a identificação, é a admiração e o prazer que sua leitura me proporcionam.
 
Este é o motivo de ter dito tantas abobrinhas até agora, pois descaradamente, sem pedir licença, invadi o blog de um amigo virtual e copiei integralmente o texto transcrito logo abaixo. E o motivo para esse descaramento é uma identificação quase total com os sentimentos e sensações nele descritas pelo autor. Mas creio que é um texto ficcional, não retrata sua realidade. E digo isso pela repetição no início de cada parágrafo da frase “eu ando meio cabisbaixo”. Mesmo assim, é um texto elegante (como, aliás, é seu blog – clean, limpo, belas imagens, ótimos textos). E gostei tanto que comentei considerar o autor meu filho espiritual. Mas sem direito a mesada ou herança! Olhaí.
 
 
Eu ando meio cabisbaixo. Desanimado com tudo. Certamente impulsionado pelo estado caótico de nossa sociedade? Certamente. Mas vai um pouco além. Talvez por uma questão de "tanto faz". Nunca me importei com dinheiro, não tenho crenças religiosas, não pretendo ter uma família, não tenho 'desejos' e sonhos a serem realizados, não gosto de multidões, não tenho times para torcer, não sou fanático por ideologias, não gosto de carros ou motos, não sou o melhor em nenhum esporte, enfim.
 
Eu ando meio cabisbaixo. Não em um estado depressivo, que se diga. Não em um estado de dar dó. Não também em aparência, pois quem me vê, diz que nunca estive melhor. Elogiam meu desenvolvimento intelectual (como sempre), mas, em verdade, sou um bom sofista, tão somente. Alguém que sabe brincar com as palavras e convencer a muitos em diversos assuntos e temáticas. Não me reconheço como 'inteligente', talvez sim como explorador. Gosto de vasculhar os cantos, de descobrir o óbvio, o que estava escancarado e ninguém notou. Elogiam, também, minha calma para escutar. Mas sou um péssimo ouvinte. Novamente, sei analisar bem as situações e entender os motivos de ocorrência de x ou y comportamento. Sou psicólogo. E sei que dos bons. Mas me importo? Tão raramente. Escuto, atentamente, mas com um vazio apreciativo. Escuto as vozes como escuto o som das ruas e o mugir da vaca. Escuto pois falam. Talvez seja algo da profissão, se envolver demais com os casos, retira o poder de compreensão de um observador. Talvez seja só uma desculpa que inventei agora.
 
Eu ando meio cabisbaixo. Estar enclausurado nunca foi um problema, desde que fosse opcional. Por motivos adicionais, me causa desgaste. Eu gosto de estar só, mas não gosto da solidão. Eu gosto do silêncio, mas não gosto do zumbido confuso que me devora. Me vejo um rato num laboratório experimental, eu mesmo sou o experimentador, eu mesmo sou o rato, eu mesmo sou a caixa. Vez ou outra me distraio com coisa qualquer. Mas é suficiente?
 
Eu ando meio cabisbaixo. E me sinto novo demais pra ser tão velho. Tenho o que me faz sorrir, claro.  Meu contrabaixo, minha gaita, meus gatos, alguns amigos e amigas, o gosto do café, as plantas no quintal, um bom churrasco, entre outras coisas mais. Conforme os meses passam, sei que se trata de uma fase, de um momento ruim, de uma situação que, como todas, é passageira.
 
Mas eu ando meio cabisbaixo. Tenho sentido com mais intensidade o que me invade o íntimo. E eu choro. E eu me perco olhando para o além. E não sei se isto é mesmo ruim. Por muito não me permiti sentir seja lá o que fosse. Normalmente, eu me embrutecia com quem demonstrasse algo de afeto. E me manipulava a ponto de distorcer meu próprio sentir. Talvez por isso sempre escrevi poesia. Um modo de despejar de modo codificado os meus segredos e enredos. Hoje, me deixo sentir. Costuma machucar. Mas ainda que meio cabisbaixo, é como se de alguma forma, eu estivesse um pouco mais vivo. Ninguém enxerga a própria sombra no escuro completo. Eu a vejo. E ela quer domar a luz, mas sabe que sem a luz, inexiste.

8 comentários:

  1. Pois não há nem uma vírgula ficcional, se queres saber. Obrigado pela replicação e acréscimos nos parágrafos iniciais. Não sabia que se sentia deste modo, ou próximo disto.

    http://oexestranho.blogspot.com/

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    1. Deixando claro: eu não fiz nenhum acréscimo no seu texto, apenas (como sempre faço) escrevi uma introdução para explicar a transcrição. Outra coisa: foi por me sentir assim que disse ser você meu filho espiritual, um lance de DNA cósmico.

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    2. DNA cósmico? Pãããããããta.... Então, você tá devendo pensão pro GRF desde a encarnação passada!!!

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    3. Que nada! Minhas burras são à prova de de testes de paternidade.Por falar nisso, achei o maior barato uma de minha noras ter comprado um teste de DNA. Eu sempre quis fazer um, mas achava que devia ser caro pra caramba (talvez fosse mesmo), mas ela pagou uma merreca (creio que foi 190 pilas). Chegou pelo correio e é devolvido da mesma forma.

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    4. E para que serve esse teste de paternidade?

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    5. Desculpa, para que serve esse teste de DNA que sua nora comprou?

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    6. Mera curiosidade, a mesma que eu tenho em relação a minha própria “receita genética”. Sou doido para saber de onde vieram meus antepassados. Adoraria ter um pé na África.

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    7. E creio que não é um teste de paternidade, mas de ancestralidade.

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