quarta-feira, 12 de maio de 2021

GENIOLOGIA

Eu acredito já ter falado sobre isso aqui no Blogson pelo menos umas duas vezes. E o “isso” é a preservação da memória de pessoas falecidas. As pessoas comuns, aquelas que nunca serão famosas, que nunca se distinguiram em nada, que nunca foram protagonistas de grandes momentos históricos, aquelas anônimas que representam mais de 99% da população mundial nunca serão lembradas em livros de história, não terão bustos em praça pública nem discos gravados ou filmes guardados em cinematecas.
 
Infelizmente, por mais simpáticas, inteligentes, divertidas que sejam essas pessoas, seu destino é ser rapidamente esquecidas, virar “poeira de estrelas” depois de morrer, o que venhamos e convenhamos é uma puta injustiça, ainda mais se lembrarmos de que existem babacas que são incensados e adorados por multidões mesmo sem ter nenhuma qualidade para que isso aconteça.
 
Não há cloroquina ou panaceia que cure essa caminhada rumo ao esquecimento mais absoluto. Mas há uma forma de se obter uma “sobrevida” (fiquei tentado a escrever “sobremorte”): você continuará “vivo” enquanto alguém lembrar-se de seu nome, guardar algum retrato seu ou souber contar algum episódio ou caso acontecido com você. Quando ninguém mais der notícias suas, do que foi ou que fez, de suas pequenas vitórias, derrotas ou perdas, aí você entrará para o grupo dos bilhões de anônimos que passaram pela Terra e que viraram apenas átomos e alguns ossos. Bom este é meu pensamento.
 
Isso explica por que gosto tanto de ouvir e de contar casos, de registrar minhas lembranças. Não só pensando nas pessoas com quem convivi, mas em mim também. Curto retratos antigos, certidões de nascimento manuscritas e quase ilegíveis, cartas, bilhetes, anotações, enfim, qualquer coisa que me conecte mentalmente com quem já morreu. Preciso lembrar que não acredito em espiritismo, reencarnação e baratos afins. Minha praia é uma viagem puramente emocional.
 
Justamente por isso eu pirei quando um de meus filhos me mandou um link de pesquisa genealógica .da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Eu já tinha ouvido falar da obsessão dos mórmons por coletar, digitalizar e armazenar zilhões de documentos, fotos, nomes e datas de pessoas já falecidas em um depósito subterrâneo à prova de bomba atômica que construiram em Salt Lake City. E o motivo é no mínimo curioso.
 
Para os seguidores do Joseph Smith, “as famílias são eternas. Os relacionamentos não terminam com a morte. Todo mundo vai morrer, mas todos vão ressuscitar e viver para sempre. E quem for merecedor viverá para sempre como família". O bizarro dessa história é o batismo “post mortem” – ETs de Varginha, incas venusianos, índios europeus, pigmeus Bandar (do Fantasma), mutantes da Marvel Comics, tanto faz, passou morto na reta deles, já sabe, é batizado e “convertido” (não é bem assim, mas esta é só uma "licença poética" jotabélica).
 
Tirando essa bizarrice, os mórmons fazem um trabalho incrível de preservação da memória dos bilhões de anônimos já citados. E isso é obtido com a varredura dos arquivos de cartórios de registro civil, arquivos de batismo em igrejas católicas, cadastro de pessoas enterradas nos cemitérios, registros de escravos, o escambau. Aqui vale um parêntese: há pessoas que são radicalmente contra religião, qualquer uma delas. Em muitos aspectos elas têm razão, mas uma coisa é certa: sem a crença religiosa milhares de monumentos, melodias lindíssimas, estátuas e pinturas de fazer cair o queixo, igrejas magníficas jamais teriam sido construídas ou criadas. O mesmo se dá com esse mega arquivo.
 
Muito bem, repetindo o que disse, eu literalmente pirei com o link enviado por meu filho. Tenho me divertido tanto tentando encontrar meus parentes e os de minha mulher que nem estou me lembrando de acessar o Blogson e os blogs de meus amigos virtuais. Mas é trabalhoso e às vezes frustrante pesquisar um nome nesse site. A título de exemplo, encontrei quatro registros diferentes da mãe biológica de minha sogra, cada um com um pouquinho de informação. O ideal seria unificar os quatro em um só, mas ainda não descobri como se faz ou se é possível fazer. Mesmo assim, talvez hoje eu saiba mais da mãe de minha sogra do que ela própria jamais soube, pois a perdeu quando tinha apenas quatro anos.
 
Então é isso. Se alguém quiser “velejar (velejei) no mar do Senhor” (verso da lindíssima música “Paixão e Fé” gravada pelo Milton Nascimento), o link é este: https://www.familysearch.org/pt/
 
E para terminar, uma informação preciosa: dá-se o nome de Geniologia ao estudo dos registros familiares do Einstein, do Stephen Hawking, da cambada do Mensa e, claro, de Jotabê também. Gênio!

4 comentários:

  1. Vou dar uma olhada nesse link; embora nunca tenha ligado muito, aliás, nada, para as minhas "raízes".

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    1. Rapaz, ontem eu fiquei quase o dia todo procurando pessoas já falecidas que conheci - irmãos do meu pai, meus avós, tios da minha mulher e por aí vai. Esse é o tipo de assunto que faz minha cabeça.

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    2. Calma, Jotabê, logo, logo, você vai se encontrar com eles... pessoalmente. Pãããããta...

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    3. AHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!! Muito boa!

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