terça-feira, 4 de maio de 2021

BOMBA DE NÊUTRONS

 
Em 1945, quando o Enola Gay liberou a Little Boy para cair sobre Hiroshima, liberou também o “anjo exterminador” que ela transportava. O resultado disso foi a destruição quase total da cidade e a morte de 90 a 166 mil pessoas - 50% desse número só no dia da explosão. Em Nagasaki o “vetor” de outro exterminador foi a bomba Fat Man, que provocou a morte de 60 a 80 mil pessoas. Na melhor hipótese, 150 mil pessoas perderam a vida com as explosões. Na pior hipótese, 246 mil vítimas fatais. Segundo o governo japonês, 192.719 pessoas sobreviveram a essa hecatombe. Assim, o total de atingidos varia entre 342.000 e 438.000 pessoas.
 
Há outros dados interessantes para nos levar a uma reflexão. Em 15/08/20 a indústria farmacêutica Pfizer fez uma oferta ao governo brasileiro para fornecer 70 milhões de doses de vacina contra a Covid-19, com entrega prevista a partir de dezembro do mesmo ano. A proposta foi recusada.
 
A primeira campanha de vacinação contra Covid no mundo começou no Reino Unido no dia 08/12/20. Até o dia 16/01/21 mais 55 países já tinham começado suas campanhas de vacinação. Só em 17/01/21 foi vacinada a primeira pessoa no Brasil. Hoje, dia 02/05/21, o Brasil contabiliza 406.000 mortes pela Covid-19. Esse número é 1,6 a 2,7 vezes maior que o total de mortos pelas explosões atômicas no Japão.
 
Para não fugir à realidade do país, se compararmos a população de três cidades brasileiras (segundo dados de 2020) com o total de mortes pela Covid chegaremos a estes resultados: 406.000 mortes significaria acabar com 70% da população de Juiz de Fora (MG) ou 79% dos moradores de Niterói (RJ) ou 87% dos habitantes de São José do Rio Preto (SP).
 
Pensem bem, 70%, 79% ou 87% da população de três grandes cidades brasileiras! Mas, ao contrário das cidades japonesas, as construções, indústrias, pontes e estradas dessas cidades continuariam de pé, como se tivessem sido atingidas por bombas de nêutrons (que acabam com a vida mas preservam as estruturas e prédios das cidades).
 
Agora vamos juntar esses dados em um único raciocínio. Quando a vacina Coronavac começou a ser aplicada na população brasileira o país já contava com 210.000 mortos pelo coronavírus. Não preciso discutir a possibilidade desse número ser menor se o incentivo ao isolamento social, ao uso de máscara e à desinfecção de mãos e compras diversas com álcool 70º GL tivesse sido mais efetivo, principalmente  pelo exemplo de quem deveria agir assim. 

O que sei é que desde 17/01/21, quando a primeira dose foi aplicada em uma enfermeira de São Paulo ocorreram mais 196 mil mortes (406 – 210). Sem entrar no mérito da necessidade de uma análise matemática ou estatística mais aprofundada, vou chutar (estimar) que 50% dessas novas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse uma vontade política de correr atrás de vacinas, corrida de velocista olímpico, corrida de Usain Bolt. Mas, infelizmente o Brasil “queimou a largada”, resolveu correr no sentido contrário da raia e foi "desclassificado".
 
Voltando aos números coletados, 50% de 196.000 falecimentos em decorrência da Covid correspondem a 98.000 mortes, mortes que poderiam ter sido evitadas, número de vidas perdidas tão elevado quanto em Hiroshima e Nagasaki. E a culpa dessas 98.000 mortes é de quem? De uma "bomba de nêutrons" que assumiu a presidência, de um homem que resolveu manter-se neutro enquanto as pessoas iam morrendo por não ter sido vacinadas a tempo. Aliás, neutro não, alheio, indiferente à tragédia que ocorria e ocorre no país onde grande parte da população o elegeu para ter uma vida melhor e sem corrupção mas não para engolir suas crenças e preconceitos.
 
Ele poderá não ser condenado a nada, não sofrer impeachment e até ser reeleito em 2022. Seus seguidores podem continuar a endeusá-lo, a mitificá-lo, a justificar, ignorar ou desculpar suas inúmeras burradas, mas ele nunca ficará livre das 98.000 mortes que poderia ter evitado.  Esse é um número exagerado, superestimado? Ok, vamos reduzi-lo para 10 mil (ou 5 mil ou até mesmo 3 mil). O número real é irrelevante, pois são vidas que poderiam ter sido poupadas. E isso não se perdoa nunca.

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