Nosso presidente é mesmo um espanto, pois
consegue despertar o que há de pior em quem fica sabendo de suas crenças, declarações
ou decisões, seja alguém que faz parte de seus apoiadores ou que pertença ao
grupo (a maioria da população) que o odeia ou critica. Aqueles que o apoiam fazem carreatas, passeatas, acreditam
ser seu monopólio o uso da bandeira brasileira, desprezam o isolamento social, usam máscara no queixo ou agridem verbalmente quem critica seu mito.
Já aqueles que odeiam desprezam ou criticam nosso
presidente fazem exatamente isso - odeiam desprezam ou criticam seus rompantes,
sua truculência, seus maus modos e sua recusa em aceitar o que vai contra suas
convicções primitivas (pouco importando a se a Ciência fundamenta essas crenças).
É horrível ver pessoas morrendo de Covid e nosso presidente chamar de canalha “aquele que é
contra o tratamento precoce”. E ainda ter coragem de perguntar “Por que é contra?” Talvez devessem
dizer a ele que aparentemente seu atual ministro da Saúde também é “canalha”. Mas creio que isso não é um problema
tão grande, pois imagino que em um dicionário particular, só seu, “canalha” seja sinônimo de “médico”,
“infectologista”, “epidemiologista” e assemelhados.
É também horrível e, mais
ainda, assustador ler sobre suas ameaças nem tão veladas assim ao STF, aos
governadores e prefeitos que querem fazer lockdown
em seus estados e municípios ao dizer que “Nas
ruas já se começa a pedir que o governo baixe um decreto. Se eu baixar um
decreto, ele vai ser cumprido, não será contestado por nenhum tribunal”. Alma e sonhos de
ditador!
“Queremos
a liberdade de cultos, queremos a liberdade para poder trabalhar, queremos o
nosso direito de ir e vir, ninguém pode contestar isso. Se esse decreto eu
baixar, repito, [ele] será cumprido”, disse ainda o fodão.
Essas tristes e preocupantes declarações juntaram-se à notícia da morte do divertidíssimo ator Paulo
Gustavo e à divulgação do atual número de 414 mil(!) mortes pela Covid. Um
sujeito radicalmente moderado como eu
não tem estrutura emocional para suportar calado tudo isso, toda essa tragédia.
Foi aí que entrei no
Facebook e vi algumas postagens pró-Bolsonaro et “intervenção militar” divulgadas por “amigos de facebook”. E
ainda li algumas bobagens fundamentalistas sobre religião. Realmente eu não conseguiria ficar
calado! Por isso, escrevi e publiquei os dois comentários transcritos a seguir, destinados originalmente a esses "amigos de facebook" (que, como era previsível, não curtiram nem comentaram nada). Claro que não foram disparados nem contra o pessoal da Direita moderada nem da Esquerda moderada. Mas são comentários "censura livre", servem para todas as idades, vanidades,
boçalidades, comorbidades, adversidades, sanidades e até santidades.
Quando
vejo pessoas dizendo coisas como "Deus acima de tudo" eu fico
perplexo, pois como ficam os ateus nessa história? Ou os hinduístas com seus
deuses tão distintos uns dos outros? Eu nem me prendo a nenhuma vertente do
Cristianismo. Eu penso isso em relação a qualquer religião, inclusive as não
cristãs - judaísmo, islamismo, umbandismo ou até mesmo o ateísmo. Todos podem acreditar no que quiserem, só não podem esperar ou exigir que as demais pessoas
tenham as mesmas convicções ou crenças. Outro dia eu brinquei com um amigo ao
dizer que sou um católico ateu ou um ateu católico, justamente porque minhas
crenças são passíveis de mudança, ou seja, eu creio em tudo e não creio em
nada. Não tenho certeza de nada, pois não há como provar nada. A fé parte de
dentro de cada um, concorda?
Desde
17/01/2021, dia em que a primeira vacina foi aplicada no Brasil, mais de 200
mil brasileiros morreram em consequência da Covid-19. Anônimos, famosos,
jovens, idosos, homens, mulheres, crianças, médicos, enfermeiros, a ninguém o
coronavírus poupou.
Se o
governo tivesse comprado as 70 milhões de vacinas oferecidas pela Pfizer e as
tivesse recebido e aplicado a partir de dezembro de 2020 a vida de uma
porcentagem imensa dessas duzentas mil mortes poderia ter sido evitada.
Quantas? 50.000? 20.000? 10.000?
Mas não
foram, por culpa de uma pessoa que não conseguiu entender a gravidade da
situação, que recusou a proposta da Pfizer, que ridicularizou o uso de máscara,
que criticou o isolamento social e que propagandeou o uso de medicamentos que a
comunidade científica mundial declarou ineficazes para tratamento da Covid.
Se você
sabe de tudo isso e ainda assim sai às ruas para apoiar quem age dessa forma,
pode acreditar, você está com o cérebro anestesiado ou é muito pior que ele.
Pois eu, caro Jotabê, um sujeito radicalmente radical, construi ao longo de toda minha vida uma estrutura (ainda que cambaleante, lembra do "balança mas não cai"?)para não me surpreender com nada de ruim ou nefasto que partisse do tal do ser humano; sobretudo do ser humano eleito em governante.
ResponderExcluirTriste, tudo isso? Mas normal... normal... Mais que normal : humano!
Eu sei que você é radical, mas tem a inteligência e o ateismo como atenuantes, como vacinas que te protegem das manadas da Esquerda e da Direita. E não se trata de não se surpreender com o ruim e nefasto que "mina" do ser humano. O problema é o risco de relativizar o ruim e o nefasto apenas por se identificar mais com esse ou aquele. Eu sempre me lembro de uma senhora humilde que vi na televisão defendendo o filho, um sujeito cruel, assassino e traficante, ao dizer para o reporter "Ah, ele é muito bom para mim!" Esse é que é o risco.
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