Este post é dedicado aos meus amigos virtuais Scant e Ozymandias Realista, fissurados em HQ e a Blue Hammer, cuja ajuda generosa tornou viável este post.
Fui alfabetizado quando tinha sete anos,
na base do beabá, juntando letras e formando sílabas. Como nasci em junho, isso
deve ter acontecido no segundo semestre de 1957 ou primeiro de 1958. Que foi,
assustou-se com o eco do rugido de algum dinossauro? Pois é...
Minhas primeiras leituras foram as revistinhas do Pato Donald e do Mickey. Lembro-me de que diziam que criança acostumada a ler gibi não se acostumaria a ler livros, uma prova de que existem pessoas que levam muito a sério seus preconceitos.
O fato é que eu adorava ler aquelas HQs e sempre procurava algum exemplar nas casas que visitávamos. Na casa de uma das irmãs de meu pai um dia encontrei um Mickey todo comido de cupim, impossível de ler. Fiquei na maior dor de corno e nunca descobri qual era a história devorada. Deixando as reminiscências um pouco de lado, descobri já mais velho que as histórias que mais me fascinaram pelo enredo, cenários e humor foram criadas pelo Carl Barks.
Uma das que mais fez minha cabeça é “Perdidos nos Andes”, em que Donald aparece como faxineiro ou auxiliar de museu. Ao espanar pequenos cubos de pedra trazidos do Peru, deixa cair um deles e descobre que aqueles cubos sem expressão eram na verdade ovos de alguma ave desconhecida. A descoberta alvoroça os sábios do museu e provoca uma expedição para encontrar o lugar de onde saíram aqueles inacreditáveis ovos. Durante a viagem de navio, o líder da expedição pede uma omelete. É muito engraçada a transmissão do pedido, pois cada um dos cientistas vai ordenando a seu subordinado imediato que providencie a omelete. E essas ordens em cascata chegam ao funcionário mais subalterno, justamente o Donald.
Ao tentar fazer a omelete descobre não haver ovos. Resolve então usar aqueles em forma de cubo. Faz a omelete, prova, vê que o sabor é horroroso mas mesmo assim a entrega a seu superior - que tira uma lasquinha antes de passar ao próximo escalão, que também prova um pedacinho, e isso vai até que todos os puxa-sacos tenham provado a omelete centenária. Todos passam mal e sobra para o pato e seus sobrinhos desvendar aquele mistério. A história é cheia de situações hilárias, mas o que me fez desejar relê-la é o desenho de um galo em forma de cubo, no momento em que “dá uma de galo”, ou seja, solta aquele cocoricó.
Tempos atrás, quando vi o desenho de um galo “cocoricando” feito por Pablo Picasso, a imagem do galo do Carl Barks surgiu na minha mente. Pois bem graças à extrema gentileza de “Blue Hammer”, um(a) dos leitores(as) do blog de meu amigo virtual Ozymandias, que pesquisou e publicou em seu artigo “Os quadrinhos Disney mudaram minha vida”, consegui a imagem do galo que eu buscava. Fiz uma montagem jotabélica (sinônimo de “tosca”) dos dois galos, que pode ser vista abaixo. A primeira versão mostra as imagens em seu formato original. Na segunda, só por diversão, estiquei o galo da HQ para ficar com o mesmo tamanho do galo do Picasso.
Há muito deixei de ler as histórias Disney. Aliás, depois que meu primeiro filho nasceu, precisei “crescer” e fui parando de ler e de comprar as revistinhas do pato e do rato, pois as mais recentes me pareciam muito infantis e sem graça, além de não curtir o traço da maioria dos desenhistas que continuaram a fazer essas histórias (mesmo que não saiba quem são). A mesma falta de paciência aconteceu com os super-heróis criados pelo Stan Lee, com o Fantasma, Mandrake e outros personagens que fizeram minha cabeça. Com o tempo, fui optando por ler HQs de humor tipo Fradim, do Henfil, Chiclete com Banana, do Angeli e qualquer coisa do Robert Crumb.
Hoje, estou mais ou menos como o cara que
tentou pular uma cerca e ficou enganchado no arame farpado, ou seja, não tenho
mais saco para desenhos hiper-realistas e enredos que fazem a HQ ser uma
espécie de “banco de sangue encadernado”,
como cantado na música tropicalista “Parque
Industrial”. As HQs que leio hoje são as que eu mesmo imagino e publico no Blogson (e que são uma
merda!). Para concluir, faço minhas as palavras de alguém que disse esta joia: “a realidade me basta”.
Que texto! Magnífico, do início ao fim. Leia os clássicos do Carl Barks que deixei para você lá no blog, tente resgatar o espírito de leitor Disney,hoje estão fáceis de encontrar esses scans, na " a gibiteca" principalmente. Fico feliz em ter proporcionado essa lembrança. Um abraço!
ResponderExcluirE... Começo a crer que os quadrinhos Disney mudam a vida de todos.
Bom que tenha gostado!
Excluir" “Perdidos nos Andes” - foi republicado a pouco tempo
ResponderExcluirótimo post
abs!
Obrigado!
Excluir