quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

ARTIGO DO FUNDO: AMIGOS, AMIGOS... - VÃO GOGO


Estive relendo o livro “Chatô”, do Fernando Moraes (eu tenho a mania de reler livros de que gostei). Lá pelo meio do livro, falando da revista “O Cruzeiro” e de Freddy Chateaubriand, sobrinho de Assis Chateaubriand e responsável pelo seu sucesso, o livro descreve assim o início da vida profissional de meu ídolo Millôr Fernandes:

Foi Freddy “quem descobriu a faísca do gênio num garoto que desde 1938 trabalhava na redação colando letras. Quando não tinha o que fazer, o menino matava o tempo fazendo o que Freddy chamava de "rabiscar bonequinhos" em restos de papel. Um dia faltou uma reportagem de duas páginas na hora do fechamento da revista e ele resolveu, irresponsavelmente, recorrer ao menino:
- Ô seu sacaninha! Você não gosta de desenhar? Então encha essas duas páginas aí com o que você quiser, enquanto nós vamos almoçar.
Quando voltou do almoço Freddy se espantou ao ver as duas páginas (que o garoto batizara de "Poste escrito") cobertas por desenhos de um humor surpreendentemente criativo para alguém que tinha pouco mais de catorze anos. Estava nascendo Emanuel Vão Gogo, pseudônimo sob o qual logo depois Millôr Fernandes criaria uma das marcas permanentes da história da revista, a seção humorística "O pif-paf".

Mesmo que eu não quisesse “esquecer de tudo, das dores do mundo”, o humor sempre foi meu enfoque ou estilo preferencial, analgésico e antiácido, por ajudar a neutralizar o sabor frequentemente amargo da minha vida. Justamente por isso o Millôr é meu ídolo. Afinal, um sujeito que ganhou a vida escrevendo e produzindo humor de altíssima qualidade até morrer merece todo o meu respeito. E pela sua condição de ídolo para mim, resolvi postar um texto escrito por ele e publicado na revista O Cruzeiro em 07 de julho de 1945. Deu um pouquinho de trabalho, pois tive de digitar tudo, já que a imagem contida no livro era muito pequena para usar o OCR. Talvez não seja dos mais brilhantes, mas ele tinha apenas 21 anos. Olhaí.

AMIGOS, AMIGOS...
 Antigamente sim. A coisa era muitíssimo diferente. Um fio de barba valia por todas as folhas corridas, carteiras de identidade e contratos com firmas reconhecidas.
Um indivíduo, possuidor de uma bela barba, podia fazer negócios até ficar de cara limpa. Isso não quer dizer, porém, que os imberbes não tivessem crédito. Em absoluto. Bastava-lhes jurar “Pelas barbas de meu avô!” em como cumpririam o prometido e o negócio era imediatamente selado.
Mas, pouco a pouco, as barbas foram perdendo prestígio. Cada um tratou de por as suas de molho. E com a invenção das modernas giletes as barbas perderam definitivamente o prestígio que desfrutaram durante tanto tempo.
Hoje de nada valem barbas, cabeleiras e bigodeiras pomposas. Ou as coisas se decidem no preto sobre branco ou nada é resolvido. Pois na época em que vivemos, não podemos, em absoluto, confiar em quem quer que seja. Devemos agir sempre como o gato da legenda e ficar de pé atrás, esperando a hora do salto da onça.
E se não podemos confiar em ninguém, de um modo geral, muito particularmente devemos desconfiar das pessoas que nos dão “a sua palavra de honra”. Elas provam, com isso, que todas as palavras que empregam usualmente são completamente desonradas.”



2 comentários:

  1. boas lembranças

    acho que usei os quadrinhos por muito tempo para escapar da realidade
    humor tb ajudava
    feliz 2021!
    ah, quando vc coloca imagens em um post, aumenta a chance das pessoas o lerem
    sempre uso alguma imagem do https://www.pexels.com/pt-br/
    pq é gratuito e livre
    claro qye vou continuar lendo seus posts mesmo sem imagens, mas ajuda na leitura, não sei pq.

    abs cara!

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    Respostas
    1. Oi, Scant, você é o cara! Vou tentar seguir seu conselho e colocar algumas imagens nos próximos posts. Aproveito para retribuir os votos de ano novo. Que 2021 seja realmente o início de uma boa década, com vacina para todo mundo e consequente retomada da economia. Abraços.

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