segunda-feira, 14 de agosto de 2023

DA TURMA DO ALEX

Hoje descobri uma palavra que me deixou muito aliviado. Alexitimia é o nome. Mas não se trata de uma “timia” do Alex. Alexitimia é a incapacidade de se expressar verbalmente sobre sentimentos e emoções. Olha este texto que explica melhor o assunto:

Alexithymia é uma palavra com raízes gregas: a partícula a tem um sentido de negação, de “falta ou ausência”; lex, significa “palavra”; e thymos é “emoção ou sentimento”. Literalmente, alexitimia pode ser traduzida como sem palavras para sentimento. Quando trabalhavam em Boston, no Harvard Medical School, na década de 60, os psiquiatras John Nemiah e Peter Sifneos perceberam que alguns pacientes psicossomáticos mostravam grande dificuldade para falar sobre suas emoções e sentimentos, dando a impressão de não compreenderem o significado dessas palavras. Sifneos criou então a palavra alexitimia para explicar esse comportamento. Alexitimia é um construto que envolve três principais componentes: (a) uma grande dificuldade para usar uma linguagem apropriada para expressar e descrever sentimentos e diferenciá-los de sensações corporais; (b) uma capacidade de fantasiar e imaginar extremamente pobre; e (c) um estilo cognitivo utilitário, baseado no concreto e orientado externamente, também conhecido como pensamento operacional”. link do texto integral é este:
 https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n1/a03v26n1.pdf)

Mas porque um neurótico assumido como eu está preocupado com a turma do Alex? Justamente por ser neurótico, claro! Depois de minha mulher criar um perfil para mim no Facebook, virei um usuário quase fanático dessa rede (captou a neurose? Pois é...). Escrevia comentários, postava dezénhos, poemas, piadinhas infames (as minhas) e outras nem tanto assim (produzidas por terceiros). Os amigos elogiavam, comentavam e eu estava me divertindo horrores. Mas comecei a notar que havia um grupo restrito (ainda bem) que só escolhia o ícone do polegar para cima. Eu podia falar e fazer o que quisesse, colocar as coisas mais sensacionais (feitas por terceiros), links das músicas mais lindas, as mais hilariantes piadas (de terceiros, obviamente), que só via o polegar voltado para cima, nenhum comentário, nenhum emoji diferente (ainda bem que o Facebook nunca quis adotar o polegar para baixo! Se tivesse adotado eu me sentiria na arena do Coliseu).

Mas o fato é que o sentimento inicial de perplexidade, de estranhamento foi dando lugar a um pensamento meio neurótico: e se meus amigos silenciosos forem psicopatas enrustidos? Um em especial começou a me deixar mais preocupado, pois em uma festa quando todos estão até relinchando de tanto rir de alguma coisa, ele mal consegue abrir a boca num sorriso. Se o caso merece sorrisos, percebe-se nele uma ligeira elevação em um dos cantos dos lábios. Lembra a hiena do desenho animado, que não conseguia rir.

E o olhar, meu Deus! E a expressão? Sabe quando naqueles filmes de suspense alguém já desapareceu ou foi encontrado morto dentro da cristaleira de porta empenada que a vovó deixou de herança e batem na porta de um vizinho de comportamento arredio, reservado, ele abre a porta e exibe um sorrisinho solícito, mas os olhos (pelo menos para mim) exibem uma expressão meio congelada, meio demoníaca, como se estivesse a ponto de matar alguém com o cortador de unhas? Pois é, esse “amigo de facebook” é bem assim.

Mas agora estou tranquilo, posso chegar perto dele em uma festa sem medo de ter o coração ou a orelha mastigados pois sei que ele deve sofrer de alexitimia. Só para compensar o medo que já me causou, agora, quando nos encontrarmos novamente, vou bater em seu ombro e cumprimentá-lo dizendo “E aí, Alex, tudo beleza?” (o nome dele não é Alex). Entretanto, pelo sim, pelo não, se ele olhar fixamente para mim com aquele olhar congelado e levantar o dedo polegar como se estivesse curtindo alguma coisa, talvez seja bom eu me afastar rapidinho e procurar um lugar mais seguro. Sei lá, né?

publicação original: 22/09/2020

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