Hoje descobri uma palavra que me deixou muito
aliviado. Alexitimia é o nome. Mas não se trata de uma “timia” do Alex. Alexitimia
é a incapacidade de se expressar verbalmente sobre sentimentos e emoções. Olha
este texto que explica melhor o assunto:
Alexithymia
é uma palavra com raízes gregas: a partícula a tem um sentido de negação, de
“falta ou ausência”; lex, significa “palavra”; e thymos é “emoção ou
sentimento”. Literalmente, alexitimia pode ser traduzida como sem palavras para
sentimento. Quando trabalhavam em Boston, no Harvard Medical School, na década
de 60, os psiquiatras John Nemiah e Peter Sifneos perceberam que alguns
pacientes psicossomáticos mostravam grande dificuldade para falar sobre suas
emoções e sentimentos, dando a impressão de não compreenderem o significado
dessas palavras. Sifneos criou então a palavra alexitimia para explicar
esse comportamento. Alexitimia é um construto que envolve três principais
componentes: (a) uma grande dificuldade para usar uma linguagem apropriada para
expressar e descrever sentimentos e diferenciá-los de sensações corporais; (b)
uma capacidade de fantasiar e imaginar extremamente pobre; e (c) um estilo
cognitivo utilitário, baseado no concreto e orientado externamente, também
conhecido como pensamento operacional”. O link do texto integral é este:
https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n1/a03v26n1.pdf)
https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n1/a03v26n1.pdf)
Mas porque um neurótico assumido como eu está
preocupado com a turma do Alex? Justamente por ser neurótico, claro! Depois de minha
mulher criar um perfil para mim no Facebook, virei um usuário quase fanático
dessa rede (captou a neurose? Pois é...). Escrevia comentários, postava
dezénhos, poemas, piadinhas infames (as minhas) e outras nem tanto assim
(produzidas por terceiros). Os amigos elogiavam, comentavam e eu estava me
divertindo horrores. Mas comecei a notar que havia um grupo restrito (ainda
bem) que só escolhia o ícone do polegar para cima. Eu podia falar e fazer o que
quisesse, colocar as coisas mais sensacionais (feitas por terceiros), links das
músicas mais lindas, as mais hilariantes piadas (de terceiros, obviamente), que
só via o polegar voltado para cima, nenhum comentário, nenhum emoji diferente
(ainda bem que o Facebook nunca quis adotar o polegar para baixo! Se tivesse
adotado eu me sentiria na arena do Coliseu).
Mas o fato é que o sentimento inicial de
perplexidade, de estranhamento foi dando lugar a um pensamento meio neurótico:
e se meus amigos silenciosos forem psicopatas enrustidos? Um em especial
começou a me deixar mais preocupado, pois em uma festa quando todos estão até
relinchando de tanto rir de alguma coisa, ele mal consegue abrir a boca num sorriso. Se o caso
merece sorrisos, percebe-se nele uma ligeira elevação em um dos cantos dos
lábios. Lembra a hiena do desenho animado, que não conseguia rir.
E o olhar, meu Deus! E a expressão? Sabe
quando naqueles filmes de suspense alguém já desapareceu ou foi encontrado
morto dentro da cristaleira de porta empenada que a vovó deixou de herança e batem na porta de um vizinho de
comportamento arredio, reservado, ele abre a porta e exibe um sorrisinho
solícito, mas os olhos (pelo menos para mim) exibem uma expressão meio
congelada, meio demoníaca, como se estivesse a ponto de matar alguém com o cortador de unhas?
Pois é, esse “amigo de facebook” é bem assim.
Mas agora estou tranquilo, posso chegar perto
dele em uma festa sem medo de ter o coração ou a orelha mastigados pois sei
que ele deve sofrer de alexitimia. Só para compensar o medo que já me causou,
agora, quando nos encontrarmos novamente, vou bater em seu ombro e
cumprimentá-lo dizendo “E aí, Alex, tudo
beleza?” (o nome dele não é Alex). Entretanto, pelo sim, pelo não, se ele olhar fixamente para mim com aquele olhar congelado e levantar o
dedo polegar como se estivesse curtindo alguma coisa, talvez seja bom eu me afastar rapidinho e procurar um lugar mais seguro. Sei lá, né?
publicação original: 22/09/2020
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