Ontem, ouvindo no rádio do carro um bate papo
sobre a perda de memória em idosos e prevenção do Alzheimer (um dos meus
assuntos prediletos), alguém mencionou o jogo “sudôco”. Na hora, lembrei-me de uma senhorinha (já falecida) que
gostava de se gabar das atividades que desenvolvia e que mantinham sua mente
ocupada e lúcida aos noventa e sete anos. Uma dessas atividades era jogar “sodôco” (com "o") em um livro que um filho
tinha trazido para ela da Alemanha (outra coisa que ela gostava de fazer era
contar vantagem – da quantidade de filhos, de sua longevidade, da ...).
Eu ouvia seus comentários com o piloto
automático ligado e sorria amistosamente ou fazia cara de espanto quando
percebia mudanças na entonação da voz (sou bom nisso!). E ela, claro, ficava
feliz com aquela “atenção”. Mas não é da minha habilidade de cativar o pessoal
da terceira e quarta idade que quero falar. Meu negócio é falar de sudoku.
Descobri que esse jogo foi inventado por um
americano (salve, Google!) e levado para o Japão onde recebeu o nome pelo qual
é conhecido no Brasil. Então, a “prenúncia” correta é “sudokú”, dita, se possível, com aquela aspereza gutural própria da
língua japonesa.
Mas acredito que esse equívoco é causado pela
sílaba “cu” (ou "ku"). Já pensou se todas as oxítonas terminadas em “u” fossem
transformadas em paroxítonas? Creio que ficaria uma coisa muito bizarra. Por
exemplo, Caramuru seria transformado
em uma advertência do tipo “Cara, muro!" (POF!!!). Pacu soaria como “Paco”;
deixaria de ser um peixe para virar dançarino de flamenco. Caracu seria uma variante masculina da exclamação “Caraca!" Jacu lembraria uma piada do Ziraldo do tempo do Pasquim: dois
amigos sentados em uma mesa de bar quando passa uma gostosona. Aí um deles diz “Vôco” e o outro, sorrindo
vitoriosamente, retruca “Jaco”! E por
aí vamos. Surucucu passaria de cobra
a passarinho de relógio, etc.
Já sei, estou forçando a barra, mas esqueci o
que tinha pensado originalmente (acho que preciso fazer mais sudoku). Só sei
que “paroxitonar” uma palavra oxítona terminada em "ku" é burrice ou pudicícia equivocada. Mesmo
que seja um estrangeirismo. Porque, vejam bem, nem preciso mencionar as
múltiplas funções do cu (este é um blog que se dá ao respeito!). Apenas lembro
que faz parte da anatomia humana. E de forma tão indissociável que até inspirou
um clássico presente em todos os manuais de sobrevivência profissional. Qual?
Ora, a sabedoria contida na frase “Quem
tem cu tem medo”.
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