Você fez uma boa análise do que sou ou
aparento ser. Realmente, eu sou “o” cortês, o atencioso (mesmo que falsamente), o gente fina, o inofensivo. Por
isso mesmo, o predileto de dez entre dez velhinhas e velhinhos (já fui mais).
Hoje, quando visito minha sogra (96 anos, surda como uma porta, presa a uma
cama, mas espantosamente lúcida), ela beija minha mão, manda beijos quando me
despeço, etc. Eu fui educado para ser isso, para ser assim. E me treinei para ser mais ainda! Uma hiena sempre
sorridente e gentil. Então, sou mesmo contido, pois mantenho acorrentado e
sedado o ogro que vive em mim.
Para compensar, tento manter minha cabeça
livre, sempre acreditando em tudo e em nada, sempre disposto a repensar o que
pensava antes. Mas sou um especialista em sobrevivência, pois não entro em bola dividida nem em briga de torcidas. Quando quero
perguntar alguma coisa para alguém, começo perguntando se posso perguntar. Já
quase fui chamado de gênio por esse comportamento. Mas não sei brigar, não sei
defender meu ponto de vista. Na prática, ajo como o Galileu Galilei, que teria
murmurado “Eppur si muove” ao ser
obrigado a renegar a teoria de que a Terra gira em torno do Sol e não o
contrário.
Esse estilo e temperamento manifestam-se em
qualquer área e a qualquer momento Isso explica o fato de odiar os petistas e
desprezar os bolsonaristas mais inflamados (creio que quase todos são), pois,
para mim não há certezas absolutas em nada e deploro o fato de existirem
pessoas pensando o contrário.
No primeiro turno das eleições votei no
Meirelles, mesmo sabendo que iria dançar. No segundo turno, instalou-se uma
verdadeira “Escolha de Sofia”. Para
mim, a materialização do ditado “se
correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. E fiquei muito inquieto por
ter de escolher entre duas pessoas que nada representavam para mim. Ou melhor,
representavam o que mais critico e deploro.
Mas não tenho paranoia sobre o que podem ou
poderiam fazer, não tenho medo que instalem uma venezuela de direita no Brasil.
Acho esse tipo de alarmismo uma coisa muito doentia, seja ele de direita ou de
esquerda. Por isso, respeitados os critérios "competência" e
"honestidade", por mim o Bolsonaro pode indicar quem quiser. Apenas
percebo que ele é um sujeito muito limitado quando se trata de fazer essas
escolhas.
Veja bem, a população brasileira com idade
entre 25 e 64 anos representa um universo de mais de cem milhões de pessoas. O
efetivo das Forças Armadas não ultrapassa 500.000 integrantes. Por isso, as
nomeações feitas até agora dizem mais do presidente que dos escolhidos. É como
se ele só conhecesse a rua onde mora, sem nem sonhar com o que existe em sua cidade.
Mas isso não me faz temer um retorno aos
"anos de chumbo". Você pode
estranhar meus comentários por ser um sujeito visivelmente de direita. E eu não
sou. Também não sou de esquerda (lembra do "triângulo isósceles"?). O que eu realmente sou é de centro -
talvez centro-direita. Por isso, não votei no Bozo, deploro, critico e ironizo as sandices que faz ou diz. Da
mesma forma que fazia com o Lula ou a "Dirma". Ou seja, eu tenho
aversão a toupeiras e antas. Mas torço sinceramente para que ele faça um bom governo, sem muitos recuos, sem muitas burradas, sem muita intransigência, sem radicalismos e falsos moralismos. Enfim, que seja bom para a população.
Para
mim, alguns assuntos funcionam como cometas, volta e meia
retornam à minha
mente. E um deles é “régua ideológica”. Por isso, os seus e os meus comentários fizeram com que eu resolvesse
desenhar um novo modelo, só para indicar graficamente minha posição nessa
história.
Mas, antes da imagem, preciso passar a régua em um assunto: o
jornalista Sérgio Cabral foi um dos fundadores do Pasquim e biógrafo de várias personalidades da
MPB. Creio que nunca surgiu nada contra ele, sempre me pareceu um sujeito decente,
honesto, probo. Tem também a sorte de estar com Alzheimer, pois, infelizmente
(para ele), é pai do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho. E
sua sorte é acreditar que o filho morreu.
Agora, vejamos o caso do Flávio, filhão do presidente: se eu fosse o
Bolsonaro, tentava me descolar desse pimpolho,
mandava escarafunchar a história do assessor e metia o ferro se houvesse culpa
no cartório (tudo indica que há), mesmo que fosse o meu filhão do coração. E ele precisa fazer isso, pois a esquerda
inteira está com vontade de morder sua garganta, comer seu fígado (para não
baixar o nível), de ver sua desgraça. Ou seja, ele está como a história da
mulher de César: não basta a ele ser honesto, ele precisa parecer ser. Mas ele
poderá objetar, dizendo "Eu sou macho, pô! Não sou
a mulher de César, eu sou é espada"! E, no caso dele, isso é verdade.
Só não pode querer usar.
E agora, a régua:
Nenhum comentário:
Postar um comentário